“SLA 2 Be Sample” (EMI, 1992), Fernanda Abreu


Por Sidney Falcão

Fernanda Abreu estreou a carreira solo em grande estilo em 1990 com o seu primeiro e elogiado álbum solo, o SLA Radical Dance Disco Club. O álbum trouxe uma Fernanda Abreu que nada tinha a ver com seu passado new wave da sua antiga banda, a Blitz, e apresentou ao grande público uma cantora pop, inclinada para a dance music, R&B, o funk e a disco music, as suas reais referências musicais. SLA Radical Dance Disco Club foi aclamado pelo público e pela crítica, teve um bom desempenho comercial (vendeu mais de 260 mil cópias) e emplacou as faixas “A Noite” e “Você Pra Mim” nas paradas radiofônicas brasileiras. Nas eleições de melhores do ano de 1990 da revista Bizz, Fernanda Abreu foi eleita pelos leitores da publicação a “Revelação do Ano – Nacional”. A cantora ainda fez uma bem sucedida turnê, a SLA Tour, entre 1990 e 1991.

Depois de uma elogiada estreia solo, o público aguardou com expectativa pelo segundo álbum solo da cantora carioca. E não era para menos, afinal de contas, além do primeiro álbum solo ser muito bom, cantoras inclinadas para a dance music no Brasil como Fernanda eram um artigo raro na música pop brasileira.

Foi então que em setembro de 1992, chegava às lojas o segundo álbum solo de Fernanda Abreu, o SLA 2 Be Sample. O álbum seguiu a mesma linha musical do álbum anterior. Assim como em SLA Radical Dance Disco Club, em SLA 2 Be Sample houve um emprego demasiado do sampler, instrumento musical eletrônico que foi a grande sensação na música pop mundial na virada dos anos 1980 para os anos 1990. No entanto, o sampler neste segundo álbum da cantora carioca foi usado de maneira mais aprimorada. Em alguns trechos do álbum, há vinhetas entre uma faixa e outra que são completamente dispensáveis.

Para concepção para o seu tão esperado segundo álbum, Fernanda Abreu contou com o apoio de figuras importantes como o produtor Liminha e do tecladista Fábio Fonseca na produção de SLA 2 Be Sample.

Fernanda Abreu durante a turnê SLA Tour, em 1990.

O álbum começa com uma releitura bem pessoal de Fernanda Abreu para um clássico do repertório de Jorge Ben, “Jorge da Capadócia”. A música foi gravada por Jorge Ben em 1975 para o álbum Solta O Pavão. A música começa com uma camada de teclados fazendo pano de fundo para Fernanda cantar os primeiros versos desta canção em forma de oração, escrita por Jorge Ben para Jorge da Capadócia, mais conhecido como São Jorge, santo católico do qual o autor é devoto. Em seguida, a música segue num ritmo dançante e sedutor, e com uma linha de baixo pulsante executada por Liminha.

A faixa é seguida por uma curtíssima vinheta que antecede “O Céu Pode Esperar”, uma música de ritmo dançante com os vocais de rap de Fernanda Abreu recitando versos sobre a brevidade da vida, e que cada momento vivido deve ser aproveitado da melhor maneira possível: “Só que ainda estou aqui, ainda vivo com pressa / os filhos, os amigos, o amor é o que interessa / se a vida é muito curta, eu quero aproveitar / e é por isso que eu digo: o céu pode esperar”. A música conta com a participação especial dos rappers Nino Rap e Eddy MC.

“O Estado das Coisas” incorpora o espírito da disco music, chegando a trazer “colagens” de hits da disco music como “Bad Girl”, de Donna Summer, os arranjos tem toda uma linguagem pop contemporânea. Na balada pop “Hello Baby”, os amantes apaixonados trocam declarações de amor por vias eletrônicas da época (telefone e secretária eletrônica) numa era pré-internet, e no final da canção, Fernanda toma emprestado versos da canção “Telefone”, da Gang 90 & Absurdettes.

A grande faixa do álbum é sem sombra de dúvidas “Rio 40 Graus”, uma pareceria de Fernanda Abreu e Fausto Fawcett. O balanço rítmico irresistível é proporcionado pelas programações eletrônicas, pelo baixo robusto de Liminha (que além de produzir o álbum, também atuou como músico nas gravações), pela guitarra funk de Fernando Vidal e pela percussão pop de Marco Suzano. Entre as “colagens” sonoras, há trechos de “Soy Loco Por Ti America”, antigo sucesso de Caetano Veloso de 1968, e “Aquele Abraço”, canção de despedida de Gilberto Gil rumo ao exílio, em 1969. A longa letra de “Rio 40 Graus” é de uma força impactante; ambos cariocas, Fernanda e Fawcett ressaltam as belezas e os valores da cidade do Rio de Janeiro, mas não eximem em abordar a crueza e a dura realidade social da cidade onde nasceram, destacando a violência urbana protagonizada pelos traficantes de drogas que dominam as favelas cariocas. “Rio 40 Graus” contém frases emblemáticas como “cidade maravilha purgatório da beleza e do caos”, que conjuga a beleza da cidade com a violência urbana, e “capital do sangue quente do melhor e do pior do Brasil”, uma frase que destaca o Rio de Janeiro como uma síntese do que é o Brasil. Autores da música, Fernanda Abreu e Fausto Fawcett dividem os vocais de “Rio 40 Graus”, e contam com a participação especial do DJ Malboro fazendo scratchs.

A faixa "Rio 40 Graus" retrata a beleza e a crueza social
da cidade do Rio de Janeiro.

Uma segunda vinheta cheia de falas antecipa a próxima faixa, “Sigla Latina do Amor (SLA2)”, um funk eletrônico cheio de scratchs e versos com apelo erótico. “Do Seu Olhar” é uma balada pop onde o eu lírico parece ter certeza dos seus sentimentos para com a pessoa que ama, mas demonstra dúvidas se existe uma reciprocidade de sentimentos: “Do seu amor / não sei o que esperar / do seu olhar / não sei o que esperar”.

“Uma Breve História do Tempo” é uma canção pop dançante que concilia numa mesma música, a guitarra funk com a guitarra de rock. Em “Be Sample”, Fernanda Abreu presta um tributo ao sampler. O álbum termina com “Boogie Oogie Ooogie (Disco Classics 2)”, uma releitura de Fernanda Abreu para “Boogie Oogie Ooogie”, um clássico da disco music do grupo A Taste Of Honey, e que fez muito sucesso em 1978.

A recepção de SLA 2 Be Sample foi razoável, embora a resenha da revista Bizz sobre o álbum, na edição de outubro de 1992, tenha sido negativa e jocosa. Comercialmente, SLA 2 Be Sample chegou à marca de 400 mil cópias vendidas. O álbum gerou quatro singles, “Jorge da Capadócia”, “Rio 40 Graus”, “Hello Baby” e “Do Seu Olhar”. Ainda em 1992, Fernanda Abreu iniciou a Turnê 40 Graus, que durou dois anos, e incluiu apresentação na oitava edição do Festival Hollywood Rock, em janeiro de 1994, tanto na etapa Rio de Janeiro quando na etapa São Paulo.

Embora SLA 2 Be Sample seguisse uma mesma receita musical de seu antecessor, o álbum já dava alguns sinais, através da faixa “Rio 40 Graus”, que o caminho que Fernanda Abreu trilharia no terceiro álbum seria de uma sonoridade que aliasse o funk, hip hop, as batidas eletrônicas com a musicalidade brasileira, o que acabou se confirmando com o aclamado Da Lata, lançado em 1995.

Faixas

  1. "Jorge de Capadócia" (Jorge Ben)
  2. "Vinheta I"
  3. "O Céu Pode Esperar" (Fernanda Abreu - Marcelo Lobato)
  4. "Hello Baby" (Fernanda Abreu - Luiz Stein - Carlos Laufer)
  5. "Rio 40 Graus" (Fernanda Abreu - Fausto Fawcett - Carlos Laufer)
  6. "Vinheta II"
  7. "Sigla Latina do Amor (SLA 2)" (Fernanda Abreu - Fausto Fawcett - Marcelo Lobato – Falcon)
  8. "Do Seu Olhar" (Fernanda Abreu - Fernando Vidal)
  9. "Uma Breve História do Tempo" (Fernanda Abreu - Alexandre Amorim - Fernando Vidal - Márcia Stein)
  10. "Vinheta III" 
  11. "Be Sample"  (Fernanda Abreu - Fábio Fonseca – Chacal)
  12. "Boogie Oogie Oogie (Disco Classics 2)" (Janice Johnson - Perry Kibble)

 

Referências:

Revista Bizz – outubro /1992 – Edição 87, Editora Azul, São Paulo, Brasil.

fernandaabreu.com.br

wikipedia.org

 

"Jorge de Capadócia"

"Vinheta I"

"O Céu Pode Esperar"


"Hello Baby"


"Rio 40 Graus"

"Vinheta II"

"Sigla Latina do Amor (SLA 2)"

"Do Seu Olhar"

"Uma Breve História do Tempo"

"Vinheta III" 

"Be Sample"

"Boogie Oogie Oogie (Disco Classics 2)"


"Rio 40 Graus" 
(videoclipe original, 1992)


"Jorge da Capadócia"
(videoclipe original, 1992)




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