10 discos essenciais: Roberto Carlos



Por Sidney Falcão

Nenhum outro cantor na história da música popular brasileira alcançou um nível de popularidade tão imensa, tão longeva, e que ultrapassasse as fronteiras brasileiras do que Roberto Carlos. Com uma carreira muito bem construída ao longo de seis décadas, Roberto Carlos criou o padrão de cantor romântico que foi seguido por gerações posteriores de cantores do estilo romântico.

Embora nascido em Cachoeiro do Itapemirim, no estado do Espírito Santo, em 19 de abril de 1941, Roberto mudou-se com a família para o Rio de Janeiro na adolescência. Lá, Roberto descobriu o rock’n’roll, e em 1958, conhece Erasmo Carlos e Tim Maia, que com mais outros amigos, formaram o conjunto The Sputniks. No ano seguinte, Roberto lançou um disco de 78 rpm, com duas canções em estilo bossa-nova,“João e Maria” e “Foram do Tom”, e em ambas, Roberto canta imitando João Gilberto.

Mas foi no rock’n’roll que Roberto encontrou o seu caminho, e em 1961, lançou o seu primeiro álbum de estúdio, Louco Por Você, que não causou repercussão. Os primeiros sucessos vieram com o segundo álbum Splish Splash, em 1963, que emplacou o cover “Splish Splash” (versão em português de um sucesso de Bobby Darin) e “Parei na Contramão”, parceria de Roberto com Erasmo Carlos. Em 1964, emplaca outro grande sucesso, “O Calhambeque”, versão de “Road Hog”, presente no álbum É Proibido Fumar.

Um ano depois, em 1965, estreia como apresentador do programa Jovem Guarda, ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa, na TV  Record. O programa se torna um fenômeno de audiência, revoluciona os costumes da juventude brasileira e, de atração televisiva, acaba virando um movimento musical. Roberto Carlos vira um astro do rock brasileiro, bate recordes de vendas de discos. Em 1966, estreia nas telas de cinema com o filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventura. Roberto faria ainda mais dois filmes, Roberto Carlos E O Diamante Cor-de-Rosa (1970) e Roberto Carlos A 300 Quilômetros Por Hora (1971).

Em 1968, Roberto Carlos deixa o comando do programa Jovem Guarda, e decide se concentra na sua carreira musical. No mesmo ano, vence o Festival de San Remo, na Itália, com a música “Canzone Per Te, de Sergio Endrigo e Sergio Bardotti. Ainda em 1968, o álbum O Inimitável inicia a fase em que Roberto Carlos experimenta a soul music e o funk, fase essa que vai durar até o começo dos anos 1970.

Ao mesmo tempo que experimenta a música negra americana, Roberto inicia um processo de transição para a música romântica, através do seu autointitulado álbum lançado em 1969. A partir desse álbum, todos os álbuns posteriores passam a trazer apenas o nome do cantor. Com o seu álbum de 1971, que traz a canção “Detalhes”, Roberto Carlos se consolida como cantor romântico, e ao longo das décadas seguintes, se consagra como o cantor mais bem sucedido da música brasileira.

Apesar da quantidade se sucessos que emplaca no decorrer dos anos e dos milhões discos vendidos, seus álbuns vão se tornando repetitivos e as canções vão perdendo em qualidade artística. Roberto Carlos é, de longe, o cantor brasileiro que mais vendeu discos em todos os tempos, cerca de 140 milhões de cópias. Contudo, o melhor da sua extensa discografia se concentra entre meados dos anos 1960 e a segunda metade dos anos 1970.

Abaixo, confira dez álbuns que ajudaram construir a carreira e o mito Roberto Carlos.


Jovem Guarda (CBS, 1965). Em agosto de 1965, o programa Jovem Guarda estreava na TV Record, de São Paulo, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Três meses depois, Roberto lançava o seu quinto álbum batizado com o mesmo nome do programa apresentado por ele e seus amigos na TV. Jovem Guarda, o álbum, foi responsável por impulsionar não só programa de TV como também a própria carreira de Roberto Carlos, transformando-o num astro do rock e “Rei da Jovem Guarda”. A faixa “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” chocou os católicos conservadores da época, mas fez um sucesso estrondoso no rádio, e se tornou um clássico do rock brasileiro. “Escreva Uma Carta Meu Amor”, “Mexericos da Candinha” e “Lobo Mau” (versão em português para “The Wanders”, de Dion & The Belmonts) também fizeram sucesso.

 

Roberto Carlos (CBS, 1966). Naquele ano de 1966, pela primeira vez (e talvez a única), a amizade entre Roberto e Erasmo Carlos estava estremecida, e a parceria dos dois esteve temporariamente suspensa. Para se ter uma ideia, das dez faixas deste sexto e autointitulado álbum de Roberto Carlos, apenas três são de autoria da dupla. Porém, isso não significou um fracasso comercial do álbum, ao contrário: oito das dez faixas tocaram no rádio, merecendo destaque “Eu Te Darei O Céu”, “Eu Estou Apaixonado Por Você” e “Querem Acabar Comigo”, as três da dupla Roberto-Erasmo, mais “Negro Gato” (de Getúlio Côrtes), “Nossa Canção” (de Luiz Ayrão) e “Namoradinha de Um Amigo Meu” (de Roberto Carlos). O álbum mais parece uma pequena coletânea de hits. A curiosidade é a capa, inspirada em With The Beatles, dos Beatles, de 1963.

 

Roberto Carlos Em Ritmo de Aventura (CBS, 1967). Considerado o melhor álbum de
Roberto Carlos durante a sua fase na Jovem Guarda,
Roberto Carlos Em Ritmo de Aventura é trilha sonora do filme homônimo dirigido por Roberto Farias e estrelado pelo próprio Roberto Carlos. O álbum traz um desfile de canções que se tornaram antológicas na carreira de Roberto bem como na história do rock brasileiro, destacando os rocks “Eu Sou Terrível”, “Quando”, “Por Isso Corro Demais” e baladas românticas “Só Vou Gostar de Quem Gosta de Mim” e “Como É Grande O Meu Amor Por Você”. Para a gravação desse disco, Roberto Carlos contou não só com a sua própria de apoio, a RC-&, mas também com a Renato & Seus Blue Caps e com o tecladista Lafayette, o mais requisitado pelos cantores da Jovem Guarda e que ficou famoso pelo seu estilo inconfundível em tocar o órgão Hammond.

 

O Inimitável (CBS, 1968). É o primeiro álbum de Roberto Carlos após deixar de ser apresentador do programa Jovem Guarda. O título do álbum era uma resposta às dezenas de cantores que estavam surgindo e imitavam o estilo de Roberto Carlos, como por exemplo, o cantor Paulo Sérgio. Em O Inimitável, Roberto Carlos inicia a fase em que ele experimenta referências da música negra americana como o soul, funk, blues e o gospel, e que vai se estender até o começo dos anos 1970. Tais referências podem ser percebidas em faixas como “Se Você Pensa”, “Ciúme de Você”, “As Canções Que Você Fez Pra Mim”, “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo” e “Não Há Dinheiro Que Pague”. Ao experimentar a musicalidade negra americana, chama a atenção como Roberto explora melhor o seu potencial vocal. O álbum marca o processo de transição em que Roberto Carlos sai do espírito juvenil roqueiro da Jovem Guarda e segue em direção a um tipo de música mais adulta e romântica.

 

Roberto Carlos (CBS, 1969). Um Roberto Carlos solitário e melancólico sentado na areia de uma praia deserta, estampa capa do álbum. Foi a partir deste disco que os trabalhos subsequentes passaram a levar apenas o nome do cantor. As faixas “Não Vou Ficar” (de Tim Maia), “Nada Vai Me Convencer” (de Paulo César Barros), “Sua Estupidez” e as “As Curvas da Estrada de Santos”, dão prosseguimento à experiência de Roberto Carlos com a soul music e o funk, iniciada no álbum O Inimitável. O álbum de 1969 de Roberto traz como curiosidade uma faixa instrumental - algo raríssimo na discografia de Roberto Carlos – que é a faixa “O Diamante Cor-de-Rosa”, em que Roberto toca gaita e é acompanhado de um violão e de um naipe de cordas.

 

Roberto Carlos (CBS, 1970). Este é o primeiro disco de Roberto a trazer uma música com orientação religiosa, que é “Jesus Cristo”, uma canção gospel contagiante e inspirada na opera rock hippie Jesus Cristo Super Star. Roberto mergulha mais a fundo na música romântica, como na faixa “120...150...200 Km Por Hora”, uma canção sobre dor de amor levada ao desespero. Na psicodélica “O Astronauta”, Roberto canta a desilusão com os acontecimentos do mundo, e quer partir para o espaço sideral numa nave espacial. Já na nostálgica “Meu Pequeno Cachoeiro”, Roberto faz uma viagem para o passado, direto para a cidade onde nasceu, Cachoeiro do Itapemirim, no estado do Espírito Santo.  

 

Roberto Carlos (CBS, 1971). Este é um dos álbuns mais significativos da discografia de Roberto Carlos. O álbum encerra a fase soul/funk de Roberto, iniciada com O Inimitável, e consolida o artista como padrão de cantor romântico no Brasil. As influências da música negra americana estão presentes em faixas como o funk “Todos Estão Surdos” (regravada nos anos 1990 por Chico Science & Nação Zumbi), o blues “Como Dois e Dois” (de Caetano Veloso), o soul “Eu Só Tenho Um Caminho” (de Getúlio Côrtes) e até e o blues rock “Você Não Sabe O Que Vai Perder” (de Renato Barros). Em “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, que por anos se imaginava ser uma canção de amor, Roberto presta uma homenagem velada a Caetano Veloso, que estava exilado no exterior por causa da ditadura militar; o fato só foi revelado na década de 1990. Mas o grande destaque do álbum é “Detalhes”, um dos maiores sucessos da carreira de Roberto Carlos. 

 

Roberto Carlos (CBS, 1972). Se a capa do álbum anterior é uma ilustração do rosto de Roberto Carlos com um olhar destemido em direção ao futuro, neste álbum de 1972, a capa mostra a imagem de um Roberto em preto e branco, e com uma expressão desolada, melancólica. O álbum começa com “A Janela”, canção que versa sobre os questionamentos e dilemas do jovem ao enfrentar a vida adulta. A religiosidade está presente neste disco através de “A Montanha”, em que Roberto faz seus agradecimentos a Deus. “Quando As Crianças Saírem de Férias” trata das dificuldades de um jovem casal em conciliar o relacionamento conjugal com a educação dos filhos. Na autobiográfica e triste “O Divã”, Roberto canta sobre o passado de dificuldades da sua família, a sua infância pobre, e até, de maneira sutil, sobre o grave acidente que sofreu quando era criança, um assunto que é um tabu e que Roberto raramente expôs ao público ao longo da sua carreira.

 

Roberto Carlos (CBS, 1977). Àquelas alturas dos anos 1970, Roberto Carlos já havia se consolidado com o cantor mais popular do Brasil. Seus discos, lançados anualmente, batiam recordes de vendas. Seu álbum de 1976, que contém sucessos como “Ilegal, Imoral ou Engorda”, “Os Seus Botões” e “O Progresso”, foi o primeiro da discografia de Roberto a alcançar a marca de 1 milhão de cópias vendidas. No entanto, Roberto conseguiu superar a sua própria marca com este álbum de 1977, que bateu a casa de 2 milhões de cópias. E não era para menos: o álbum contem canções de sucesso como a romântica erótica “Cavalgada”, as nostálgicas “Meu Pequeno Cachoeiro” e “Jovens Tardes de Domingo” (homenagem à Jovem Guarda) e a canção sobre a amizade, “Amigo”, dedicada ao “amigo-irmão-camarada” Erasmo Carlos. O álbum ainda traz outras canções que também ficaram famosas como “Pra Ser Só Minha Mulher” (de Ronnie Von), em que Roberto flerta discretamente com a disco music, e “Muito Romântico” (de Caetano Veloso).

 

Roberto Carlos
(CBS, 1981). Assim como nos álbuns anteriores, o romantismo continua sendo o foco principal de Roberto neste que é o seu vigésimo álbum de estúdio, através de faixas como “Tudo Para”, “Cama e Mesa” e “Eu Preciso de Você”. No entanto, há espaço para temas que passaram a fazer parte do repertório do cantor como religião e ecologia. Em “Ele Está Pra Chegar”, Roberto anuncia que a volta de Cristo está prestes a acontecer. “As Baleias” é uma denúncia à caça desenfreada de baleias pelo mundo e um alerta sobre uma possível extinção delas. Mas a grande atração do álbum é sem sombra de dúvidas “Emoções”, uma canção com um arranjo jazzístico impecável, e que remete aos áureos tempos de Frank Sinatra.

Comentários

  1. Sidney, o seu artigo ficou excelente com referência aos dez melhores e mais influentes discos lançados oficialmente pelo Roberto Carlos. A minha lista seria exatamente esta. Parabéns !!

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    1. Sidney, o seu artigo ficou excelente com referência aos dez melhores e mais influentes discos lançados oficialmente pelo Roberto Carlos. A minha lista seria exatamente esta. Parabéns !!

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    2. Muito obrigado pelo comentário e por ter gostado do texto, Antônio. Um abraço.

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  2. NAMORADINHA DE UM AMIGO MEU e QUEREM ACABAR COMIGO são composições só de Roberto, sem Erasmo. A dupla assina duas: EU TE DAREI O CÉU e EU ESTOU APAIXONADO POR VOCÊ.

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