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“Qualquer Coisa” (Philips, 1975), Caetano Veloso

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Por Sidney Falcão Em 1975, Caetano Veloso vivia um momento de transição em sua carreira, consolidando-se como uma das vozes mais inventivas da música brasileira. Após o experimental Araçá Azul (1973) – um álbum que dividiu opiniões e enfrentou um fracasso comercial retumbante –, Caetano decidiu explorar caminhos distintos em sua produção musical. Esse período de busca culminou em dois lançamentos simultâneos: Joia e Qualquer Coisa . Enquanto o primeiro apresentava uma abordagem minimalista e introspectiva, o segundo se destacava como um contraponto vibrante, repleto de diversidade estilística e abertura a referências externas.   O Brasil vivia intensamente os anos de chumbo da ditadura militar, e a música popular carregava tanto reflexões políticas quanto experimentações artísticas. Nesse cenário, Qualquer Coisa surge como um álbum de contraste: uma variedade sonora, marcada por regravações de clássicos dos Beatles e diálogos musicais com a tradição brasileira e hispano-ame...

“Hopes and Fears” (Island Records, 2004), Keane

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Por Sidney Falcão No início dos anos 2000, o rock alternativo britânico passava por um processo de revitalização após a "ressaca" da onda britpop , que nos anos 1990 fora capitaneada por Oasis e Blur. Uma nova geração de bandas britânicas, como Coldplay, Travis e Snow Patrol, começava a despontar, trazendo um novo sopro de vida ao britpop — ou ao que restou dele.   Foi por meio dessa geração que o Keane ganhou visibilidade, ainda como um trio. No entanto, a banda oferecia algo ligeiramente diferente: um som melódico e introspectivo, que se destacava pela ausência de guitarras elétricas, sendo guiado principalmente pelo piano e pelos sintetizadores. Esse diferencial foi fundamental para a identidade do Keane e para a receptividade positiva junto ao público e à crítica.   A história do Keane começou em 1995, quando os amigos de infância Tim Rice-Oxley (piano, teclados, baixo e vocais de apoio), Dominic Scott (guitarra) e Richard Hughes (bateria e vocais de apoio) formaram...

“A História Do Nordeste Na Voz De Luiz Gonzaga” (RCA Victor, 1955), Luiz Gonzaga

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Por Sidney Falcão   Até meados dos anos 1950, Luiz Gonzaga (1912-1989) vivia o auge de sua carreira artística, consolidando-se como o "Rei do Baião". Após o sucesso inicial no Rio de Janeiro, ele popularizou o baião, um gênero musical que até meados dos anos 1940, era pouco conhecido fora do Nordeste. O marco foi o lançamento da música "Baião", em parceria com Humberto Teixeira (1915-1979), em 1946, que abriu caminho para uma série de sucessos, como "Asa Branca" (1947) — sua canção mais emblemática — e outras, como "Juazeiro" e "Qui Nem Jiló".   A partir daí, Gonzaga tornou-se um fenômeno de vendas e uma presença constante nas rádios e nos palcos de todo o Brasil, com sua sanfona, seu chapéu de couro e suas vestimentas típicas do sertão. Durante os anos 1950, ele expandiu seu repertório, misturando baião, xote e xaxado em músicas que exaltavam a cultura nordestina e davam voz às dificuldades do sertanejo, em plena era de ouro do rád...

“Destiny” (Epic Records, 1978), The Jacksons

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Por Sidney Falcão   Em 1978, os Jacksons não eram mais os mesmos adolescentes que haviam conquistado o mundo com sucessos como “I Want You Back” e “ABC”. Após a ruptura com a Motown, em 1975, que marcou o fim da era “Jackson 5” e trouxe consigo uma nova identidade sob o selo Epic Records, a banda foi renomeada para The Jacksons e precisou enfrentar os desafios de se desvincular das imposições criativas que haviam definido sua trajetória inicial. Apesar do sucesso moderado dos dois primeiros álbuns pela Epic, The Jacksons (1976) e Goin’ Places (1977), ainda faltava um grande impacto que consolidasse a transição para uma fase mais madura e artisticamente autônoma.   Foi com o álbum Destiny (1978) que, pela primeira vez, os irmãos Jackson assumiram o controle total sobre sua música, desde a composição até a produção. Com isso, deixaram de ser apenas intérpretes de hits cuidadosamente moldados para se tornarem artistas completos. Essa mudança não apenas reenergizou a banda,...

“Duplo Sentido” (Warner, 1987), Camisa de Vênus

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Por Sidney Falcão   Entre 1986 e 1987, o Camisa de Vênus vivia o auge de sua popularidade. Com o álbum Correndo o Risco batendo a marca de 300 mil cópias vendidas e conquistando um disco de platina, a banda se consolidava como uma das mais emblemáticas do rock brasileiro. O sucesso nos palcos, no entanto, contrastava com o caos nos bastidores. Marcelo Nova, vocalista e principal motor criativo do grupo, encarava com crescente insatisfação o comportamento de seus companheiros de banda.   O impacto da fama e do dinheiro logo se traduziu em desrespeito mútuo, piadas agressivas e ofensas pessoais, criando um ambiente que, em vez de inspirar a criatividade, tornava-se cada vez mais tóxico. Um dos episódios mais marcantes dessa degradação envolveu o baterista Aldo Machado, que encontrou a maçaneta de seu quarto de hotel emporcalhada com um palito de picolé sujo de fezes. Em outra ocasião, o guitarrista Gustavo Mullem (1952-2024) foi deixado nu no corredor de um hotel, ainda bêb...