10 discos essenciais: The Beatles



Por Sidney Falcão

Formada por volta de 1960, em Liverpool, Inglaterra, a banda The Beatles foi o maior fenômeno da música popular do século XX. Integrado por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, o quarteto inglês promoveu não só uma grande revolução estético musical no rock, como também ajudou na transformação dos costumes e do comportamento dos jovens a partir dos 1960. A fama dos Beatles começou na sua terra natal, espalhou-se pela Europa, conquistou os Estados Unidos, em 1964, e consequentemente o mundo.

Os Beatles chegaram ao fim em 1970, mas apesar do curto tempo de existência, deixaram um legado musical e cultural valiosíssimo. Mesmo depois de tanto tempo de extinta, banda inglesa ainda exerce influência sobre a música popular mundial.

Entre 1963 e 1970, o quarteto lançou 13 álbuns oficiais de estúdio. Através deles, percebe-se a evolução do grupo, indo da ingenuidade à maturidade, da música popular convencional ao experimentalismo complexo, explorando os mais diversos recursos técnicos de gravação de seu tempo. O blog Discos Essenciais traz 10 álbuns que julga serem essenciais para uma compreensão do tipo de música praticada por este que é considerado o mais popular conjunto musical de todos os tempos.

Please Please Me (Parlophone, 1963). Primeiro álbum da discografia dos Beatles, Please Please Me custou barato para a época: cerca de 400 libras para gravação. Dez das catorze faixas foram gravadas num só dia. As quatro outras já haviam sido lançadas como singles anteriormente. Please Please Me é o retrato musical dos Beatles no seu início de carreira: rocks constagiantes e canções de amor ingênuas. O álbum traz oito faixas compostas por Lennon e McCartney, e outras seis são covers de sucessos gravados por outros artistas: “Baby It’s You” e “Boys” (The Shirelles), “Anna (Go To Him)” (Arthur Alexander), “Chains” (The Cookies), “A Taste Of Honey” (Lenny Welch) e “Twist And Shout” (Isley Brothers). Esta última ganhou uma versão demolidora dos Beatles e se tornou um grande sucesso. “I Saw Her Standing There”, Love Me Do” e “Please Please Me”, foram os primeiros grandes sucessos da dupla Lennon-McCartney. É com Please Please Me que a beatlemania começa.


With The Beatles (Parlophone, 1963). Oito meses após o lançamento do primeiro álbum, os Beatles lançaram em novembro de 1963 o segundo trabalho, With The Beatles. Seguindo o mesmo esquema do álbum de estreia do quarteto inglês, With The Beatles traz canções próprias dos Beatles e covers. Dentre os covers, destaques para “Roll Over Beethoven”, um clássico de Chuck Berry, “Please Mister Postman”, sucesso das Marvelettes, e “You've Really Got A Hold On Me”, dos Miracles. As duas últimas canções citadas demonstram que os Beatles estavam atentos ao som produzido pela Motown, gravadora norte-americana que se notabilizou por dedicar-se exclusivamente à música pop negra. Dentre as canções próprias dos Beatles, destaque para “All My Loving”, “It Won't Be Long”, “ I Wanna Be Your Man” (composta por Lennon e McCartney para os Rolling Stones) e a primeira canção de George Harrison gravada pelos Beatles, “Don't Bother Me”.


A Hard Day’s Night (Parlophone, 1964). Em 1964, os Beatles haviam conquistado os Estados Unidos. Para disseminar mais facilmente a beatlemania em escala mundial, nada melhor do que um filme. Naquele ano, o quarteto de Liverpool lançava o seu primeiro filme, A Hard Day’s Night (Os Reis do Ié-Ié-Ié, no Brasil), dirigido por Richard Lester, e que retratou muito bem a vida agitada dos Beatles. A Hard Day’s Night, o álbum, traz canções que fizeram parte da trilha sonora do filme, como a faixa-título, “I Should Have Known Better”, “And I Love Her” e “Can't Buy Me Love”. Único álbum dos Beatles apenas com canções de Lennon-McCartney, A Hard Day’s Night foi 1º lugar no Reino Unido e nos Estados Unidos.


Help!(Parlophone, 1965). Na sequência de A Hard Day’s Night, os Beatles repetiram a parceria com o diretor Richard Lester com mais um filme, Help!, desta vez misturando ação e aventura, bem ao estilo dos filmes de 007, e com cenas filmadas na Inglaterra, Bahamas e Alpes suíços. Acompanhando o filme, foi lançado Help!, álbum que traz no lado 1 da versão LP, faixas que fizeram parte da trilha sonora do filme. Em seu quinto álbum, os Beatles começam a mostrar, ainda que sutilmente, as primeiras mudanças que alterariam o rumo da sua orientação musical, como letras com um enfoque mais existencialista, reflexo da influência de Bob Dylan, como em “You've Got To Hide Your Love Away”. Apesar de “Ticket To Ride” e “Help!” terem feito sucesso, nenhuma delas chegaram ao alcance de “Yesterday”, a principal faixa do álbum, e uma das canções mais populares do século XX.


Rubber Soul (Parlophone, 1965). Em seu sexto álbum, os Beatles iniciam o processo de experimentalismo e sofisticação que levaria a banda à maturidade musical. Através de Rubber Soul , o quarteto inglês flerta com o folk rock, a nascente psicodelia e a música barroca. Neste álbum, os Beatles fazem uso pela primeira vez da cítara indiana, em “Norwegian Wood”. Em “In My Life”, a rotação acelerada de um solo de piano simula um som de cravo. “Think For Yourself” traz uma distorção de baixo com efeito de fuzz, enquanto que “Nowhere Man” é marcada por uma caprichada harmonização vocal. A influência de Bob Dylan, presente em Help!, persiste em Rubber Soul através das letras de canções como a já citada “Norwegian Wood”, mais “I’m Looking Through You”, “You Won´t See Me” e “If I Needed Someone”. 


Revolver (Parlophone, 1966).  Rubber Soul (1965) foi o ponto de partida da aventura psicodélica dos Beatles, e Revolver, o álbum seguinte, foi o seu desdobramento. Nele, os Beatles se mostram mais ousados e conectados com as vanguardas artísticas, unindo o experimentalismo de John Cage e Kalheinz Stockhausen, cultura indiana, música pop e truques de gravação como como sons em sentido contrário e efeitos sonoros. A fantástica “Yellow Submarine”, o pop barroco “Eleanor Rigby” e a lisérgica “Tomorrow Never Knows”, foram os hits do album.



Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Parlophone, 1967). Revolver parecia ser um álbum insuperável, até mesmo para os seus próprios criadores, os Beatles. Mas, eis que o quarteto de Liverpool surpreende o mundo mais uma vez e lança em junho de 1967,  Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o seu mais ambicioso e transformador álbum. Se passando por uma banda fictícia, a de um tal Sargento Pimenta, os Beatles mergulharam de cabeça na fantasia e na criatividade, e não abriram mão de todos os recursos de gravação disponíveis na época para produzir um álbum tão inovador e diversificado. Orquestra sinfônica, música indiana, jazz, vaudeville, música circense, psicodelia, efeitos sonoros e uma arrojada superprodução gráfica da capa, todos esses elementos juntos tornaram Sgt. Pepper's… um dos mais revolucionários álbuns da história da indústria fonográfica. A faixa-titulo, "With A Little Help From My Friends", “Lucy In The sky With Diamonds” e "A Day In The Life" são os grandes momentos do álbum.


The Beatles (Apple Records, 1968). Mais conhecido como The White Album, é o primeiro e único álbum duplo de inéditas dos Beatles, e o primeiro lançamento do selo Apple Records. Foi gravado após o retiro espiritual dos Beatles na Índia com o guru Maharishi Mahesh Yogi. As sessões de gravação do álbum foram marcadas por muita tensão, egos inflados e desentendimentos, iniciando o começo do fim da banda. The Beatles, o álbum, mostra a banda redirecionando a sua música, deixando para trás os excessos e as “gorduras” dos três álbuns anteriores, dando adeus à psicodelia e indo em direção a um tipo de música mais enxuta e menos rebuscada. Apesar de todo o caos da produção, o resultado final foi positivo, trazendo faixas memoráveis como “"Back In The U.S.S.R.”, “While My Guitar Gently Weeps”, “Helter Skelter”, “Dear Prudence”, ‘Blackbird” dentre outras.


Abbey Road (Apple Records, 1969). Apesar de penúltimo álbum a ser lançado pelos Beatles, Abbey Road foi o último álbum gravado pelo quarteto inglês. Foi gravado logo após a banda ter "abortado" as gravações do projeto Get Back, no início de 1969. O material do tal projeto acabou resultando no álbum Let It Be, lançado em 1970. Engavetado o projeto Get Back, os Beatles começaram a gravar pouco depois Abbey Road , que apesar do momento tenso da banda, o resultado foi um álbum sublime, que consolida George Harrison como compositor graças à balada "Something" e ao folk rock "Here Comes The Sun". O álbum traz outros grandes momentos como "Come Together", "Oh! Darling", "Octopus's Garden", "I Want You (She's So Heavy)" e "Because". A capa de Abbey Road se tornou uma das mais icônicas da história da indústria fonográfica.


Let It Be (Apple Records, 1970). No começo de 1969, a partir de uma ideia de Paul McCartney, os Beatles estavam envolvidos no projeto Get Back, que consistia na gravação de um disco e de um filme, onde a banda voltaria ao som básico, simples, sem efeitos de estúdio como na fase psicodélica. Todo o processo de gravação seria filmado visando o lançamento de um longa metragem. Devido aos desentendimentos, todo o projeto foi “abortado”. Enquanto isso, os Beatles gravaram outro disco, Abbey Road, produzido e lançado em 1969. O material engavetato de Get Back foi remixado pelo produtor Phil Spector que pôs corais e orquestra, resultando no álbum Let It Be, que deixou McCartney irritado. Somente em 2003, foi lançado o material da maneira que Paul queria, o Let It Be...Naked, que era exatamente como deveria ter sido Get Back: sem os overdubs, corais e pompas sonoras incluídas por Spector, daí a expressão "naked" (nu, despido).


Referências:
Revista Beatles Documento – 1981, Editora Três
The Beatles – edição especial da revista General – 1994, Editora Acme
Bizz Especial – The Beatles – abril/2003, Editora Abril
Rolling Stone - Os 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos - 2014
Wikipedia

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