10 discos essenciais: new wave brasileira
A new wave era
uma espécie de versão mais “palatável” e “domesticada” do punk rock. Punk e new wave tinham em
comum a simplicidade, a prática de músicas curtas e urgentes. Porém, a new wave se permitia flertar
com outras vertentes musicais como a disco music, reggae, soul, música eletrônica,
dando a ela uma vocação pop, comercial e festiva, diferente da sisudez e do radicalismo do punk.
O termo "new wave foi criado pelos executivos de
gravadoras nos anos 1970 para poder enquadrar aqueles artistas e bandas oriundos
da cena punk, mas que faziam uma linha menos “selvagem”. E foi aí que
bandas e artistas ingleses e americanos, outrora alternativos como Blondie,
Cars, B-52’s, Elvis Costello, The Police entre outros, conquistaram o gosto do grande público
e começaram a empilhar discos de ouro e platina, caindo assim nas graças do
mainstream.
No Brasil, a
new wave aportou no começo dos anos 1980, e ao lado do punk rock, foi
responsável por revigorar e impulsionar o rock brasileiro, revelando novas
bandas e abrindo um mercado para o rock e profissionalizando a indústria do show business no Brasil. Assim como no exterior, as gravadoras enxergaram
a new wave como um filão mercadológico pop a ser explorado, alguns até vendo
nela uma “nova Jovem Guarda”. E de uma certa forma, era uma versão anos 1980 da Jovem Guarda, só que com mais malícia.
Abaixo,
seguem dez álbuns que se tornaram clássicos do rock brasileiro e dão uma boa
mostra do que era a new wave brasileira.
As
Aventuras Da Blitz (EMI, 1982), Blitz
Com uma
proposta estético-musical inspirada nos quadrinhos, cinema, teatro e humor non-sense, a Blitz foi a grande sensação
na música brasileira em 1982 com o hit “Você Não Soube Me Amar”, cujo single
foi o passaporte para a banda carioca lançar o seu primeiro álbum, As
Aventuras Da Blitz. Nem a ação tosca da Censura que fez as cópias do
disco saírem arranhadas de fábrica nas faixas "Cruel Cruel
Esquizofrenético Blues" e "Ela Quer Morar Comigo Na Lua" impediu
que o sucesso do álbum acendesse o estopim e fazer explodir o rock brasileiro
dos anos 1980. Além de “Você Não Soube Me Amar”, o álbum inclui outros hits
como “Mais Uma de Amor(Geme, Geme)” e "O Beijo da Mulher Aranha".
Apesar da carreira iniciada nos anos 1970, Lulu Santos deslanchou nos anos 1980 com o novo cenário do rock brasileiro. Revelou-se não só um músico talentoso como também um hitmaker de mão cheia. Seu segundo álbum, O Ritmo Do Momento traz sucessos memoráveis como "Um Certo Alguém", "Como Uma Onda (Zen-Surfismo)" e "Adivinha o Quê" com os quais Lulu comprovava já naquela época que é possível ter apelo popular e em alto nível.
Voo De Coração (CBS, 1983), Ritchie
O ano de 1983 viu despontar no cenário pop brasileiro um sujeito com sotaque inglês cantando em português sobre uma tal “Menina Veneno”. Era Ritchie, ex-parceiro de Lulu Santos e Lobão dos tempos da banda Vímana, nos anos 1970. Seu primeiro álbum, Voo De Coração, traz uma linguagem baseada em sintetizadores, muito inspirada no synthpop britânico, remetendo ao futurismo de Gary Numan. O pop sofisticado do álbum alcançou uma imensa popularidade chegando a quase 800 mil cópias graças a hits como a própria “Menina Veneno”, "A Vida Tem Dessas Coisas", “Casanova”, “Pelo Telefone” e a faixa-título que traz os solos de guitarra de Steve Hackett, ex-Genesis.
Essa Tal De Gang 90 & As Absurdettes (RCA, 1983), Gang 90 & Absurdettes. Precursora da new wave no Brasil, a Gang 90 & Absurdettes apareceu para a grande mídia em 1981, quando participou do Festival MPB-Shell, onde defendeu a música “Perdidos na Selva”. Não ganhou o festival, mas estourou no rádio através do compacto “Perdidos na Selva”, e deu o sinal do que estava por vir no cenário do rock brasileiro a partir de 1982 com a Blitz. Em 1983, a Gang 90 lançou o primeiro álbum, Essa Tal De Gang 90 & As Absurdettes, que trouxe hits como “Nosso Louco Amor” (tema da novela “Louco Amor”, da Globo), “Telefone” e “Noite e Dia”(regravada mais tarde por Lobão). A banda tinha tudo para alçar voos mais altos, não fosse a morte de seu mentor, o guitarrista e vocalista Júlio Barroso, que morreu tragicamente aos 30 anos, após cair da janela do prédio onde morava, em São Paulo.
O
Passo Do Lui (EMI, 1984), Os Paralamas do Sucesso
Em O
Passo Do Lui, seu segundo álbum, os Paralamas mantiveram a receita
musical aplicada no primeiro álbum regada a rock, punk, reggae e ska, tudo
inspirado em bandas inglesas como The Beat, Specials, e principalmente, The
Police. A diferença é que em O Passo Do Lui a banda teve mais
autonomia para o que gravar e como gravar. O álbum foi um tremendo sucesso em
vendas e quase todas as faixas viraram hits. "Óculos", "Meu
Erro", "Ska", "Assaltaram A Gramática", "Fui
Eu" e "Romance Ideal” tocaram bastante no rádio. O sucesso de O
Passo Do Lui garantiu os Paralamas na primeira edição do Rock in Rio,
em 1985.
Seu Espião (WEA, 1984), Kid Abelha
O clima adolescente e romântico de Seu Espião, álbum de estreia do Kid Abelha, resgata a ingenuidade da Jovem Guarda adaptada para a realidade dos anos 1980. A crítica não levou a sério o álbum, mas o público foi seduzido pela voz doce de Paula Toller e pelo sax onipresente de George Israel. Seu Espião é praticamente uma coletânea de hits: "Pintura Íntima", "Fixação", "Por Que Não Eu?", "Como Eu Quero" e "Alice (Não Me Escreva Aquela Carta De Amor)" viraram sucessos radiofônicos.
Ronaldo
Foi Pra Guerra (RCA, 1984), Lobão E Os Ronaldos
Após passar
pela Blitz e ter lançado o seu primeiro álbum solo, Lobão voltou a integrar em
1983 uma banda de rock, desta vez a Lobão E Os Ronaldos, quinteto carioca que
contava com outro ex-Blitz, Guto Barros (guitarra e vocais) e uma ex-Gang 90, a
holandesa Alice Pink Punk (teclados e vocais). O primeiro e único álbum do
grupo, Ronaldo Foi Pra Guerra, traz dois megahits que estão entre
os maiores da carreira de Lobão e se tornaram clássicos do rock brasileiro, “Corações
Psicodélicos” e “Me Chama”. Há faixas em que os vocais principais são de Guto
Barros, como “Não Tô Entendendo”, e de
Alice Pink Punk”, como “Bambina” e
“Inteligenzia”, essas duas últimas remetendo respectivamente a B-52’s e
Siouxsie & The Banshees. Em 1985, em pleno auge de sucesso do álbum e
pré-produção do segundo, Lobão foi expulso da banda por causa da vida
desregrada. Alice por sua vez, voltou para terra natal. A banda acabou
implodindo.
Revoluções
Por Minuto(CBS, 1985), RPM
O RPM era uma grande sensação na cena
alternativa do rock paulistano em 1984. Não foi à toa que quando a banda assinou
contrato com a gravadora CBS (hoje Sony Music), seu álbum de estreia foi
cercado de tanta expectativa. Revoluções Por Minuto traz a banda
em dois momentos. No lado A, uma banda com um som mais acessível e dançante, no
lado B, o RPM numa sonoridade mais densa, com um pé no rock progressivo.
Baseado na trinca new wave, synthpop e rock progressivo, Revoluções Por Minuto
ficou marcado pelas camadas de sintetizadores de Luiz Schiavon. “Rádio Pirata”,
“Olhar 43”, "A Cruz E A Espada", "Louras Geladas" e a
faixa-título puxaram as vendas do álbum e levaram o RPM do undeground para o
estrelato.
Olhar
(CBS, 1985), Metrô
O quinteto paulista formado por quatro marmanjos e uma
garota, a doce Virginie Adele, começou a carreira como uma banda de rock
progressivo no final dos anos 1970 sob o singelo nome A Gota Suspensa. Mas com
o despertar da nova cena roqueira no Brasil, em 1984 mudou o nome para Metrô, e
de estilo, trocando o progressivo por um som calcado na new wave e no synthpop.
Após o sucesso do single “Beat Acelerado”, ainda em 1984, o Metrô lançou no ano
seguinte Olhar que emplacou quase todas as faixas. "Cenas Obscenas", “Tudo Pode Mudar”, "Sândalo de Dândi" e “Ti Ti Ti” ganharam as rádios de todo o país. De quebra, o
álbum trouxe uma versão bossa-nova de “Beat Acelerado”.´
Sessão
Da Tarde (CBS, 1985), Léo Jaime.
Bem mais
coeso do que o seu álbum de estreia, o Phodas C (1984), Sessão Da Tarde, segundo álbum da carreira solo de Léo Jaime, foi responsável
por transformar o goiano num astro do rock brasileiro de primeira grandeza. Nele,
a new wave e a Jovem Guarda se encontram, muito por conta da influência de
Erasmo Carlos, um dos ídolos de Léo Jaime. O álbum carrega o espírito
adolescente e festivo em faixas como "A Fórmula do Amor" (dueto com
Kid Abelha) e as "As Sete Vampiras", dor de cotovelo em
"Só" e "A Vida Não Presta", alfineta veladamente a “recém-finada”
Ditadura Militar em "Abaixo A Depressão" e reserva espaço até para
uma versão em português de "So Lonely", do Police, que virou "Solange",
onde Léo conta com o apoio dos Paralamas do Sucesso na base instrumental.
Tem coias que trago comigo e penso ser único, como no caso de adorar Metrô!
ResponderExcluir:)
É nóis!
ExcluirNão és o único...👍
ResponderExcluirSe fosse fácil escolher o top 3 desses discos citados a minha lista seria:
ResponderExcluir1- Olhar - Metrô
2- RPM - RPM
3- Aventuras da Blitz - Blitz
mas poderia tbm colocar Paralamas - Ritchie e Léo Jaime...
Blitz era muito New Wave
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