“Revoluções Por Minuto" (1985), RPM
O ano de 1985 foi o ano da virada do rock paulista sobre o
rock carioca. Até então, desde o renascimento do rock brasileiro com a Blitz,
em 1982, o rock carioca nadava de braçadas no mainstream do rock nacional. A
maioria dos astros era carioca: Kid Abelha, Lulu Santos, Herva Doce, Ritchie
(inglês, radicado no Rio), Barão Vermelho e Lobão & Os Ronaldos. Eram
sucesso de vendas e de execução em rádio e TV. Não foi à toa que toda a ala
roqueira nacional da primeira edição do Rock in Rio foi carioca, apesar de
achar que os paulistas do Rádio Táxi, cheio de hits no rádio naquele momento,
mereciam estar no festival.
Mas na virada de 1984 para 1985, a coisa começou a mudar a
favor dos paulistas. Os primeiros nomes da cena underground do rock paulista
começaram conquistar espaço no mainstream do rock nacional com Magazine, Titãs
e Metrô. Em 1985, outras bandas engrossavam a "invasão paulista" no
mainstream com Ira!, Ultraje a Rigor, Zero e mais outras bandas. Dentro dessa
virada paulista estava o RPM.
Lembro-me como hoje quando o RPM surgiu com o hit
"Louras Geladas", no começo de 1985. Eu tinha visto, numa edição de
janeiro de 1985 da "Veja" emprestada de um colega de escola, uma
matéria especial sobre o Rock in Rio e a "febre" do rock nacional. Na matéria, uma integrante da banda Sempre Livre afirmava que o RPM iria se tornar um
grande sucesso do rock brasileiro, um fenômeno. Não demorou muito para aquilo acontecer.
Naquele mesmo primeiro semestre, o RPM lançava o single de "Louras
Geladas"que logo ganhou as rádios. Poucos meses depois, saía o álbum de
estreia, Revoluções Por Minuto, em maio de 1985.
RPM em 1985 |
Acho o Revoluções Por Minuto um dos
melhores debutes da história do rock nacional. O RPM já se mostrava nesse
disco, uma banda muito segura e madura, tanto nas letras quanto nos arranjos. A
banda transitava livremente entre o rock progressivo, o synthpop e a new wave.
A experiência londrina de Paulo Ricardo como correspondente da revista “Som
Três” foi fundamental para que o RPM tivesse uma bagagem musical comparável à
de bandas top europeias como Duran Duran e Simple Minds na época. Ainda sobre o
perfil musical da banda, os dois lados do álbum refletem muito bem o que era o
RPM naquele momento. Se no lado A, as canções têm um apelo mais pop e
radiofônico, no lado B, o RPM mostrava o seu lado mais denso e virtuoso, puxado
para o rock progressivo e para o pós-punk.
O que chamava mais atenção na banda paulista eram os
teclados de Luiz Schiavon; o som dos seus sintetizadores se tornou uma marca do
RPM. A “cozinha” era competente com Paulo Pagni (recém-integrado
ao RPM) na bateria e Paulo Ricardo, que além de bom baixista, era um “front
man” carismático. Pra completar, o “guitar hero” Fernando Deluqui, responsável
por um dos maiores riffs de guitarra do rock nacional de todos os tempos, o de
“Rádio Pirata”, um dos hits do álbum. A faixa é a minha preferida do álbum, e é um verdadeiro tributo que o RPM prestava àquela nova geração do rock nacional - da qual também fazia parte - que saía dos porões do underground para conquistar a cena musical brasileira.
Se por um lado, a faixa título foi censurada por causa do verso "aqui na esquina cheiram cola", “Olhar 43” e “A Cruz E A Espada” foram outras faixas que viraram hits e ajudaram o disco a vender mais de 300 mil cópias em
poucos meses. O sucesso do álbum faz o RPM entrar em turnê com uma superprodução
pouco vista no show business brasileiro, o que resultaria no multi-platinado
álbum “Rádio Pirata/Ao Vivo”, de 1986. Mas isso, é uma outra
história.
Faixas:
Lado A
- "Rádio Pirata"
- "Olhar 43"
- "A Cruz e a Espada"
- "Estação do Inferno"
- "A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade"
- "Louras Geladas"
Lado B
- "Liberdade/Guerra Fria"
- "Sob a Luz do Sol"
- "Juvenília"
- "Pr'esse Vício"
- "Revoluções por Minuto"
Todas as
faixas são de autoria de Luiz Schiavon - Paulo Ricardo, exceto as faixas 1 e 6
(Paulo Ricardo - Luiz Schiavon) e 8 (Fernando Deluqui - Luiz Schiavon - Paulo
Ricardo).
RPM: Paulo
Ricardo ( voz e baixo), Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra e
violão) e Paulo “P.A.” Pagni (bateria e percussão).
Ouça na íntegra o álbum Revoluções Por Minuto
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