10 discos essenciais: Rush


Por Sidney Falcão 

O Rush nasceu em agosto de 1968, em Toronto, no Canadá, em meio a um cenário roqueiro ainda em formação, mas já com ambição e visão. A formação inicial era Alex Lifeson nas guitarras – já exibindo um estilo técnico e incisivo – ao lado de Jeff Jones no baixo e John Rutsey (1952-2008) na bateria, dois músicos com a pegada crua e direta que o som inicial do Rush pedia. No entanto, a história mudou rapidamente. Jones saiu de cena cedo, e foi substituído por Geddy Lee, que trouxe não só habilidade musical, mas uma presença vocal ímpar que redefiniu o som da banda. 

Mas a virada decisiva veio em 1974. Após o lançamento do álbum de estreia, Rutsey deixou o grupo, abrindo espaço para Neil Peart (1952-2020), que ajudou o Rush a encontrar o seu centro de gravidade. Peart trouxe um arsenal de percussão impecável e uma sensibilidade lírica afiada como letrista, misturando temas filosóficos, ficção científica e uma visão de mundo quase literária. O trio Lee, Lifeson e Peart criaria uma alquimia sonora e criativa que não só permaneceu firme por vários anos, mas que evoluiu constantemente, pavimentando um caminho singular no rock com técnica, experimentação e visão. 

Com o lançamento de álbuns emblemáticos como Fly by Night (1975), 2112 (1976), A Farewell to Kings (1977) e Hemispheres (1978), Rush consolidou seu som progressivo e ganhou uma base fiel de fãs ao explorar temas de ficção científica e filosofia. Em 1980, o álbum Permanent Waves inaugurou uma nova fase, marcada pelo uso de sintetizadores e uma sonoridade mais acessível, como evidenciado no sucesso “The Spirit of Radio.” Esta abordagem continuou em Moving Pictures (1981), um dos álbuns mais populares da banda, com clássicos como "Tom Sawyer" e "Limelight," e solidificou a posição do Rush no cenário global. Nos discos seguintes, incluindo Grace Under Pressure (1984) e Power Windows (1985), Rush caminhava ainda mais fundo no território dos sintetizadores, unindo a precisão instrumental a um som fresco e tecnologicamente orientado. 

Mesmo nos anos 1990, quando o rock se reinventava mais uma vez, o Rush provou-se maleável, ajustando-se ao grunge e ao hard rock direto de álbuns como Roll the Bones (1991) e Counterparts (1993). Mas, em 1997, a banda sofreu um golpe devastador: Neil Peart perdeu a filha e, logo depois, a esposa, levando o trio a um longo hiato. Quando retornaram com Vapor Trails (2002), era um Rush renovado e sombrio, como se cada nota carregasse o peso das perdas de Peart. 

Clockwork Angels (2012) marcou a última obra de estúdio, uma despedida majestosa que reforçava a essência da banda: complexa, pesada, cheia de narrativa e entrega técnica. E então veio o silêncio, quando Peart se aposentou em 2015 e, tragicamente, faleceu em 2020. Mas a chama do Rush continua a brilhar entre as legiões de fãs e músicos que, até hoje, reverenciam o trio canadense como um dos pilares imbatíveis do rock – intransigente, épico e eterno. 

Abaixo, confira dez álbuns que ajudam a compreender a carreira do Rush.

 

Rush (Moon Records/Mercury Records, 1974). Marcou a estreia da banda canadense Rush, lançado inicialmente pelo selo próprio da banda, a Moon Records, e mais tarde pela Mercury Records. Com influências de Led Zeppelin e Cream, o álbum apresenta um som hard rock típico da época. John Rutsey, o baterista original, tocou neste disco, mas deixou a banda devido a problemas de saúde e divergências musicais, sendo substituído por Neil Peart, que assumiria também a função de letrista. O álbum foi gravado com orçamento limitado e teve sessões em dois estúdios, buscando melhorias na qualidade sonora. "Working Man" se destacou nas rádios de Cleveland, levando ao sucesso e ao relançamento do álbum pela Mercury. 


Fly By Night (Anthem/Mercury Records, 1975). Após o lançamento do álbum de estreia, o Rush enfrentou uma crise com o baterista John Rutsey, que deixou a banda devido a problemas de saúde e divergências musicais, preferindo o hard rock ao progressivo desejado por Geddy Lee e Alex Lifeson. Com sua saída, Neil Peart assumiu a bateria e se tornou o letrista principal, introduzindo temas literários e expandindo o som do grupo. O álbum Fly by Night, produzido com Terry Brown, marcou essa nova fase, combinando hard rock e progressivo, com letras inspiradas e temas como fantasia e ficção científica. Apesar das críticas mistas, o álbum vendeu bem e consolidou a evolução musical da banda, preparando-a para o sucesso futuro.

 

2112 (Anthem/Mercury Records, 1976). O fracasso comercial de Caress of Steel (1975) levou o Rush a sofrer uma pressão da gravadora Mercury Records para produzir um álbum mais comercial, sem experimentalismos e faixas longas. No entanto, a banda optou por manter seu estilo e lançou 2112 (1976), um álbum que mescla hard rock e rock progressivo, com uma faixa principal de 20 minutos inspirada na obra Anthem de Ayn Rand. O álbum superou expectativas, foi bem recebido pelo público e alavancou as vendas, garantindo ao Rush disco de ouro em 1977 e, anos depois, platina tripla nos EUA. Esse sucesso estabeleceu o trio canadense como um dos grandes nomes do rock, culminando em seu auge comercial com Moving Pictures (1981).

 

A Farewell To Kings (Anthem/Mercury Records, 1977). A Farewell To Kings, quinto álbum do Rush, lançado em 1977, consolidou o crescimento internacional da banda, entrando no Top 40 dos EUA e Reino Unido. Gravado no Rockfield Studios, no País de Gales, o álbum trouxe um som mais complexo, com uso ampliado de sintetizadores e múltiplos instrumentos. Destaque para as faixas "Xanadu" e "Closer to the Heart", que se tornaram favoritas ao vivo, e para o épico de ficção científica "Cygnus X-1", que continua no próximo álbum. O disco teve recepção positiva e foi promovido com uma longa turnê, ganhando uma edição remasterizada em 2017.

 

Hemispheres (Anthem/Mercury Records, 1978). O sexto álbum do Rush, "Hemispheres" foi um sucesso comercial, principalmente no Canadá e no Reino Unido. É conhecido por sua abertura épica de 18 minutos, "Cygnus X-1 Book II: Hemispheres", que conclui a história iniciada em "A Farewell to Kings". O álbum também apresenta o primeiro instrumental da banda, "La Villa Strangiato". Apesar da incerteza inicial durante o processo de composição, "Hemispheres" recebeu críticas positivas e ganhou popularidade por meio de singles como "Circumstances" e "The Trees". É considerado um álbum significativo na discografia do Rush e foi remasterizado várias vezes.

 

Permanent Waves (Anthem/Mercury Records, 1980). Misturando faixas mais curtas e acessíveis com ambição progressiva, Permanent Waves marcou um período renovado e inovador para o Rush. Escrito em uma cabana canadense e gravado no Le Studio, Quebec, este álbum de 1980 introduziu uma nova direção com músicas concisas como "The Spirit of Radio" adaptadas para o rádio, mantendo a musicalidade complexa do Rush. Embora Neil Peart inicialmente visasse outro épico, o material evoluiu para "Natural Science", uma longa faixa rica em seções experimentais. As seis faixas do álbum, especialmente “Jacob’s Ladder” e “Freewill”, mostram uma produção animada e dinâmica, impulsionada pela bateria de Peart e pela mixagem polida de Terry Brown. Apesar de sua brevidade, Permanent Waves captura a energia, a inovação e a intensidade punk do Rush, uma prévia do Moving Pictures que está por vir.


MovingPictures (Anthem/Mercury, 1981). O final dos anos 1970 viu uma profunda renovação no rock propagada pelo punk e a new wave. Com o rock progressivo em baixa, a banda canadense Rush foi uma das poucas do gênero que conseguiu não só se adaptar a essa nova ordem, como a lançar grandes álbuns dentro dessa nova realidade. A partir do álbum Permanent Waves (1980), o Rush começou a flertar com uma sonoridade mais pop e radiofônica, aproximando-se do reggae e da new wave, mas sem abrir mão da técnica e do preciosismo que se tornaram a marca da música do Rush. Moving Pictures dá prosseguimento a essa nova orientação da banda e é perceptível as novas referências musicais agregadas ao som do trio. “Tom Sawyer” se torna a música mais famosa do Rush, e no Brasil, serve de tema de abertura do seriado MacGyver. Merecem destaque a instrumental “YYZ”, “Red Barchetta”,“Limelight” e “Vital Signs”, esta última, com alguma influência de The Police.   

        

Signals (Anthem/Mercury Records, 1982). Signals viu o Rush abraçar influências new wave, com o estilo de percussão de Neil Peart mudando para uma abordagem centrada no chimbau e os sintetizadores de Geddy Lee assumindo um papel principal nos arranjos das músicas. O álbum surpreendeu os fãs com sua maior dependência de sintetizadores, mas rapidamente ganhou disco de platina, pois os ouvintes apreciaram seus ricos temas líricos sobre nostalgia, caráter e futurismo, principalmente em "Countdown", sobre o lançamento do ônibus espacial Columbia. Abandonando composições longas, Signals apresenta oito faixas concisas e marca o fim da era do produtor Terry Brown, pois ele e a banda divergiram sobre sua direção evolutiva orientada por sintetizadores. Apesar de seu foco em sintetizadores, o álbum permanece atemporal, ressoando de forma única na discografia do Rush.

 

Grace Under Pressure (Anthem/Mercury Records, 1984). Grace Under Pressure encontra o Rush se afastando ainda mais do calor de Signals para uma paisagem mais sombria e distópica, como capturado na arte da capa austera de Hugh Syme. Diante da orientação limitada de produção de Peter Henderson, a banda adotou uma abordagem autodirigida, resultando em um álbum que, embora desafiador de fazer, eles acharam artisticamente gratificante. A "batalha" de Alex Lifeson e Geddy Lee entre guitarra e sintetizadores é mais equilibrada aqui, com Neil Peart integrando bateria eletrônica. A apocalíptica "Distant Early Warning" se tornou uma faixa de destaque, e o álbum alcançou o status de platina, consolidando a capacidade do Rush de entregar um trabalho coeso e conceitualmente denso refletindo a luta do homem contra forças semelhantes a máquinas, ecoando Ghost in the Machine do The Police.

 

Roll The Bones (Anthem/Mercury Records, 1991). Décimo quarto álbum de estúdio do Rush, Roll the Bones marcou um novo renascimento do trio canadense, semelhante ao ocorrido com 2112 (1976) após Caress of Steel (1975). Depois do “morno” Presto, o Rush retornou em 1991 com Rupert Hine novamente como produtor, mas o conceito mais nítido do álbum e faixas envolventes como "Dreamline" e a faixa-título — completa com uma seção de rap polarizadora — o impulsionou ao sucesso de platina. A arte da capa do álbum vencedora do prêmio Juno pelo designer gráfico e diretor de arte Hugh Syme e as letras de Neil Peart enfatizam a tomada de riscos, semelhante ao jogo. Embora o Rush não tenha seguido a tendência grunge da época, Roll the Bones se tornou seu último álbum de platina certificado, solidificando seu status como uma potência de concertos, apesar das mudanças nos gostos da indústria. 


Referências:

Rush : album by album - Martin Popoff, Voyageur Press,2017, Minneapolis, Minnesota, Estados Unidos.

rush.com 


"Working Man" (ao vivo no Bandstand, 
Laura Secord Secondary School, 
St. Catharines,
Ontário, Canadá, abril de 1974)


"Fly by Night" (videoclipe oficial)


"A Passage to Bangkok" 
(vídeo com letra)


"Closer to the Heart" (videoclipe oficial)


"Circumstances" (videoclipe oficial)


"The Spirit of Radio" (videoclipe oficial)


"Tom Sawyer" (videoclipe oficial)


"Subdivisions" (videoclipe oficial)


"Distant Early Warning" 
(videoclipe oficial)


"Ghost of a Chance" (áudio)


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