10 discos essenciais: The Rolling Stones


Por Sidney Falcão

Poucas bandas de rock foram tão longevas e ao mesmo tempo tão influentes ao longo de décadas como os Rolling Stones. Ao lado dos Beatles, os Rolling Stones lideraram a conhecida “Invasão Britânica”, movimento constituído por bandas britânicas de rock que “invadiram” as programações de rádio e TV dos Estados Unidos, e de lá, o tomaram conta do resto do planeta. Daquele momento em diante, o rock, que nasceu americano, nunca mais seria o mesmo com aqueles jovens britânicos. E os Stones, tiveram um papel fundamental nessa história.

A banda foi formada em abril 1962, em Londres, na Inglaterra, tendo em sua formação Mick Jagger (vocais), Keith Richards (guitarra solo), Brian Jones (1942-1969, guitarra base), Dick Taylor (baixo), Ian Stewart (1938-1985, piano) e Tony Chapman (bateria). O nome da banda foi retirado do título de uma antiga canção de uma velha lenda do blues americano Muddy Waters (1913-1983), “Rollin' Stone”, de 1950. A primeira apresentação ao vivo da banda, ocorreu em julho do mesmo ano, no Marquee Club, em Londres. Em janeiro de 1963, após algumas trocas de integrantes, a formação dos Rolling Stones se firmou com Jagger, Jones, Richards, e mais os recém-chegados, o baixista Bill Wyman e o baterista Charlie Watts (1941-2021).

As apresentações eletrizantes dos Rolling Stones, apoiadas num repertório formado por versões de clássicos do blues e do rock’n’roll americanos, chamaram a atenção de Andrew Oldham, que se tornou o empresário e produtor da banda. Para fazer um contraponto à imagem de “bons rapazes” dos Beatles, Oldham resolver investir na imagem de rebeldes que os Stones naturalmente já possuíam. Ian Stewart foi dispensado da banda por não se enquadrar a essa imagem de rebeldia, mas permaneceu trabalhando com os Stones como gerente de palco e como pianista nas gravações de estúdio até a sua morte, em 1985.

Depois de assinarem contrato com a gravadora Decca, ainda em 1963, os Rolling Stones lançaram naquele ano o primeiro single, “Come On”, uma regravação de uma canção de Chuck Berry (1926-2017). Sucederam-se lançamentos de outros singles, aparições em programas de TV e fizeram a primeira turnê pelo Reino Unido brindo os shows de Everly Brhothers e Bo Didley (1928-2008).

O primeiro e homônimo álbum veio em abril de 1964, e dois meses depois, os Rolling Stones partiram para a sua primeira turnê pelos Estados Unidos. Em 1965, os Stones alcançam o estrelato mundial com single de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, 1° lugar nos Estados Unidos e Reino Unido. Aftermath, álbum lançado em 1965, é o primeiro dos Stones a trazer apenas canções de autoria da dupla Jagger e Richards. Em 1967, a desatenção com os negócios da banda e o vício com as drogas levaram Andrew Oldham a ser demitido, e logo é substituído por Allen Klein (1931-2009); mal sabiam os Stones do problema que iriam ter com Klein. No final de 1967, os Stones fizearm uma incursão na psicodelia com o álbum Their Satanic Majesties Request, um trabalho que foi bastante criticado pela imprensa musical da época.

Com o álbum Beggar’s Banquet, de 1968, os Rolling Stones voltaram para a crueza do rhythm and blues e do rock’n’roll após a criticada aventura psicodélica do álbum anterior. Enquanto isso, o guitarrista Brian Jones se afunda nas drogas e perde gradativamente o posto de liderança do grupo para Mick Jagger, levando-o à sua demissão em junho de 1969. Em seu lugar entra o guitarrista Mick Taylor (ex- John Mayall’s Blues Breakers). Um mês depois, em circunstâncias pouco esclarecidas, Jones é encontrado morto na piscina de sua casa. No final de 1969, durante um concerto dos Rolling Stones ao ar livre, em Altamont, Califórnia, nos Estados Unidos, um jovem negro foi assassinado brutalmente por um dos integrantes dos Hell’s Angels, a famosa gangue de motoqueiros, que naquela ocasião foi contratada para fazer a segurança daquele evento.

Em 1970, Jagger demite Allen Klein ao descobrir que ele vinha roubando a banda. Isso se desdobraria depois num desgastante processo judicial entre as duas partes. Em meio à batalha judicial contra Klein, os Rolling Stones lançaram em 1970 a sua própria gravadora, a Rolling Stone Records. O primeiro lançamento da gravadora dos Stones foi o álbum Sticky Fingers. Mick Taylor deixa os Stones em 1974, logo depois do lançamento do disco It’s Only Rock’n’Roll, e é substituído por Ron Wood (ex-Faces).

Com o álbum Some Girls, em 1978, os Stones tentam se reinventar flertando com as novas tendências da época como a disco music e o punk rock. O single de “Start Me Up”, do álbum Tattoo You, leva os Stones para o 2° lugar da parada da Billboard Hot 100, nos Estados Unidos, em 1981. No mesmo ano, os Rolling Stones iniciam uma turnê americana de 81 shows, e a partir dela, a banda passa a fazer concertos com estruturas gigantes, para plateias de grandes estádios e arenas.

A partir de então, durante todo o resto da década de 1980, os Stones lançam discos irregulares e a relação entre os integrantes é marcada por desentendimentos, a tal ponto de gerar especulações de que a banda estaria chegando ao fim. O álbum Steel Wheels, de 1989, consegue recuperar o prestígio da banda, e inicia uma gigantesca turnê internacional da banda, que dura um ano, com 115 shows, e que passou pelos Estados Unidos, Europa e Japão. Em 1993, Bill Wyman deixa os Rolling Stones, e a banda passa ser apenas um quarteto.

Desde então, a carreira dos Rolling Stones é marcada por longas e lucrativas turnês internacionais e lançamento de álbuns medianos que em nada lembram os discos mais inspirados do passado. Uma dessas turnês, a do álbum Voodoo Lounge (1994), que passou por 27 países, trouxe pela primeira vez os Rolling Stones ao Brasil. Em fevereiro de 2006, os Rolling Stones se apresentaram na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para um público estimado em 2 milhões de pessoas, um show que fez parte da turnê mundial do álbum A Bigger Bang (2005), a mais longa da carreira, durando cerca de dois anos, de agosto de 2005 a agosto de 2007.

Em 2016, promoveram a America Latina Olé Tour, uma turnê que passou por alguns países da América Latina como Brasil, Argentina, México, Chile, Uruguai, Peru, Colômbia e Cuba. Em Havana, capital cubana, o show foi gratuito, e para um público estimado em 1,2 milhão de pessoas que assistiram à primeira apresentação da banda em Cuba.

Com a pandemia de Covid-19 assombrando o mundo, os Rolling Stones fizeram parte de um seleto grupo de artistas que participaram em 2020 do One World: Together At Home, evento transmitido por canais de TV e pela internet com o objetivo de conscientizar o público da gravidade da doença. As apresentações de cada artista e banda foram transmitidas a partir de lugares isolados por causa da pandemia.

Os Stones sofrem um duro golpe em agosto de 2021: o baterista Charlie Watts morre aos 80 anos, num hospital em Londres, na Inglaterra. Em junho de 2022, os Rolling Stones começaram a turnê Sixty, que celebra os 60 anos de carreira da banda britânica, e foi a primeira turnê do grupo após a morte de Watts. No mesmo ano, estreou no canal Epix o documentário My Life As A Rolling Stone, que conta a história do grupo.

Abaixo, confira dez discos essenciais para compreender a carreira dos Rolling Stones

The Rolling Stones (Decca Records, 1964). É o álbum de estreia dos Rolling Stones e que leva o nome da banda. A edição americana, no entanto, possui o subtítulo England’s Newest Hit Makers, e algumas pequenas diferenças na lista de faixas em relação à edição inglesa. Neste seu primeiro álbum, os Rolling Stones fazem releituras bem pessoais de clássicos do rhythm’n’blues e do rock americanos, como “I Just Want To Make Love To You” (de Willie Dixon), “Carol” (de Chuck Berry) e “Route 66” (de Bobby Troup). A única canção creditada à dupla Jagger-Richards presente no álbum é “Tell Me (You’re Coming Back)”. Porém, as canções “Now I’ve Got A Witness (Like Uncle Gene And Uncle Phil)” e “Little By Little” aparecem creditadas a Nanker Phelge, que era o pseudônimo coletivo usado pelos membros dos Rolling Stones para creditar algumas canções da banda entre 1963 e 1965.


Out Of Our Heads (London Records, 1965). Os Rolling Stones prosseguem neste álbum com as releituras de clássicos do blues, soul music e rhythm and blues americanos. Mas o álbum traz também três canções da dupla Jagger-Richards: “The Last Time”, “The Spider And The Fly” e “One More Try”. A versão americana do álbum inclui “(I Can’t Get No) Satisfaction”, canção com um dos riffs de guitarra mais icônicos da história do rock e que catapultou os Rolling Stones para o estrelato mundial. É o primeiro álbum dos Rolling Stones a alcançar o 1° lugar na parada da Billboard 200, nos Estados Unidos e 2° lugar no Reino Unido.


Aftermath (Decca Records, 1966). Este foi o primeiro álbum dos Rolling Stones a ter apenas canções da dupla Jagger-Richards. Em Aftermath, os Stones trafegam por outros estilos como a folk music e a country music, e de forma mais sutil, pelo pop barroco e a psicodelia. O disco ainda é marcado pelo experimentalismo e a versatilidade de Brian Jones como músico, que além de tocar o seu instrumento de ofício, a guitarra elétrica, ele tocou também cítara (em “Paint It, Black”, música presente na edição americana do álbum), marimbas e xilofone (em “Under My Thumb”) e appalachian dulcimer (em Lady Jane”).


Between The Buttons (Decca Records, 1967). Neste álbum, os Stones prosseguem com o experimentalismo iniciado no álbum anterior, com a incursão ao psicodelismo e ao pop barroco que seria acentuada no álbum seguinte, Their Satanic Majesties Request (1967), uma espécie de resposta a Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles. Brian Jones mais uma vez se destaca pela sua versatilidade como músico tocando vários instrumentos, além da própria guitarra elétrica. Os Stones vão além do blues e do rock’n’roll, e fundem folk music e jazz em “Something Happened To Me Yesterday”. “Please Go Home” é a faixa mais psicodélica do álbum, com guitarras e vocais recheados de efeitos. A versão americana do disco incluiu as faixas “Let’s Spend The Night Together” e “Ruby Tuesday”. Between The Buttons foi 3° lugar na parada britânica de álbuns e 2° lugar na parada da Billboard, nos Estados Unidos.


Beggars Banquet (Decca Records, 1968). Após a criticada aventura psicodélica de Their Satanic Majesties Request (1967), os Stones retornam às suas raízes em Beggars Banquet. A capa com a foto de um banheiro todo pichado foi rejeitada pela gravadora, que trocou por uma capa branca com o título do disco e ais iniciais “RSVP” (abreviaturas da frase francesa “Répondez, S’il Vous Plaît” = “Responda, Por favor). O disco traz clássicos dos Stones como “Street Fighting Man, inspirada nos movimentos estudantis de Paris em 1968, e a polêmica e temida “Sympathy For The Devil”, com uma percussão torta inspirada no samba e versos narrados na primeira pessoa, que seria o Diabo, descrevendo os momentos trágicos da História que teriam sido influenciados por ele.


Let It Bleed (Decca Records, 1969). Num espaço curto de tempo, as drogas destruíram o talento de Brian Jones e o fez perder a relevância dentro dos Rolling Stones, a tal ponto de ser dispensado da banda que ele ajudou a fundar. Sua irrelevância se refletiu na pouca participação em Let It Bleed, que foi mínima, até porque, além de afastado, Jones foi encontrado morto na piscina de sua casa, em junho de 1969, quando a banda ainda gravava este álbum. Ao mesmo tempo, Let It Bleed marca a estreia do guitarrista Mick Taylor no lugar de Jones quando este foi afastado. Destaques para “Gimme Shelter”, “Midnight Rambler”, “Country Honk” e “You Can’t Always Get What You Want”.  

 

Sticky Fingers (Rolling Stones Records, 1971). Primeiro álbum lançado pelo selo próprio dos Rolling Stones, Sticky Fingers consolida a sonoridade característica da banda, cujo processo de construção havia começado com Beggars Banquet. Foi em Sticky Fingers que os Rolling Stones apresentaram ao mundo pela primeira vez a famosa logo da língua. A capa icônica criada por Andy Warhol (1928-1987), trazia um zíper de verdade que abria a calça estampada na capa. É o álbum de canções memoráveis como “Brow Sugar”, “Sway”, “Wild Horses”, “Bitch” e “I Got The Blues”. Sticky Fingers foi o primeiro álbum dos Stones a atingir a marca de 3 milhões de cópias vendidas.


Exile On Main St. (Rolling Stones Records, 1972). Fugindo das cobranças de impostos na Inglaterra, os Rolling Stones se refugiaram num vilarejo próximo a Nice, sul da França, onde alugaram uma mansão, e num porão, improvisaram um estúdio. O local com estrutura precária para gravação, somado às farras regadas a muita bebida e drogas, dava a entender que dali não sairia nada. Porém, não só saiu alguma coisa, como saiu em fartura: um material que rendeu um álbum duplo. Exile on Main St. mostra os Stones inspirados no velho blues (“Sweet Black Angel”, “Shake Your Hips” e “Sweet Virginia”), na country music (“Torn And Frayed”), no gospel (“Tumbling Dice”) e mostrando as garras em rocks afiados (“Rocks Off” e “Happy”).


Some Girls (Rolling Stones Records, 1978). Após Keith Richards superar uma batalha judicial por porte de drogas no Canadá, em 1977, os Rolling Stones lançaram em 1978 Some Girls, um disco em que os Stones tentavam se adequar às novas tendências musicais da época, que eram o punk e a disco music. A banda inglesa flerta com ambos os estilos, como nas canções “Lies” e “Respectable” (punk rock) e “Miss You” (disco music). Neste álbum, os Stones tiveram tempo para fazer uma releitura de um clássico da soul music, “Just My Imagination” antigo sucesso dos Temptations. Em “Shattered”, os Stones tratam da decadência das ruas de Nova York naquele final da década de 1970, povoadas pela prostituição, usuário de droga e moradores de rua.


Tattoo You (Rolling Stones Records, 1981). Naquele começo de década de 1980, as relações entre os membros dos Rolling Stones estavam abaladas. Sem tempo para compor material novo, tiveram que recorrer às sobras de gravações dos álbuns anteriores, gravados entre 1973 e 1979. O resultado da “garimpagem” foi este álbum sensacional, Tattoo You, cuja faixa de abertura é a “arrasa-quarteirão” “Start Me Up”, um dos maiores sucessos da carreira dos Rolling Stones, e que se tornou indispensável nos shows da banda desde então. “Hang Fire” fala de crise econômica e desemprego na Inglaterra, enquanto que “Wailing On A Friend” celebra o valor da amizade. Tattoo You vendeu mais de 4 milhões de cópias, e assumiu o 1° lugar na parada de álbuns da Billboard 200, nos Estados Unidos, e ainda conquistou o prêmio Grammy, em 1982, na categoria “Melhor Capa de Álbum”.


“(I Can’t Get No) Satisfaction" (apresentação 

no The Ed Sullivan Show, em 1966)

“Under My Thumb”

“Let’s Spend The Night Together”

“Sympathy For The Devil” (apresentação no 

filme The Rolling Stones Rock and Roll Circus,1968)

"Gimme Shelter (ao vivo no programa especial de TV

Pop Go The Sixties, 1969)

“Brow Sugar” (ao vivo, Texas, 1972)

“Wild Horses” (videoclipe com letra)

“Tumbling Dice” (videoclipe com letra)

“Happy”(ao vivo, Texas, 1972)

“Miss You” (videoclipe oficial)

“Start Me Up” (videoclipe oficial)


Comentários

  1. Faz um review do disco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor de Marisa Monte

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