10 discos essenciais: AOR


Por Sidney Falcão

A origem do termo AOR assim como o seu significado são um tanto quanto confusos. Inicialmente, AOR era a abreviação de álbum oriented radio (“rádio orientado para álbuns”), um formato de programação de rádio FM criada nos Estados Unidos entre o final dos anos 1960 e começo dos anos 1970 que consistia em tocar na íntegra álbuns de rock, em sua maioria, de bandas e cantores de hard rock e rock progressivo, dois gêneros que estavam em ascensão. Esse formato de programação se contrapunha ao formato padrão de rádio comercial americano da época, baseado na seleção musical fixa, concentrada nas músicas que estavam nas paradas de sucesso e lançadas por meio de singles. Naquela época, os singles eram um formato bastante consumido pelo público.

Por outro lado, a sigla também passou a ser associada ao adult oriented rock (“rock orientado para adulto”), um formato de programação radiofônica destinada para um público mais adulto e que gostava de rock. Esse tipo de programação era associado a artistas e bandas que se encaixam no soft rock (“rock suave”), um subgênero do rock situado entre o pop e pop rock, calcado numa sonoridade agradável, radiofônica, que ganhou projeção a partir da segunda metade dos anos 1970 com a popularização das rádios FM, e que tinha Fleetwood Mac, Steely Dan, Christopher Cross, Bread, Paul McCartney e Doobie Brothers como referências para se ter uma ideia do que significa soft rock.  

Mas foi também na segunda metade dos anos 1970 que de formato programação de rádio, o AOR virou uma vertente musical do rock, e que alcançaria popularidade na década de 1980. Como gênero musical, o AOR começou a ganhar popularidade justamente num momento em que o rock progressivo estava em franca decadência, e o punk rock e a disco music estavam no auge no gosto musical do público jovem da época. O AOR se mostrava então como uma opção musical nova e comercial para quem não gosta de punk ou de disco music.

Basicamente, o AOR se caracteriza pela fusão entre a potência do hard rock com o virtuosismo do rock progressivo. Outras características do estilo AOR são os arranjos bem elaborados e melódicos, refrãos “grudentos”, vocais harmônicos, produção muito bem “polida”, canções com apelo comercial e com duração entre 3 e 4 minutos justamente para tocar nas programações de rádio.

À medida que o estilo foi evoluindo, foi agregando elementos de outros estilos no adentrar dos anos 1980, como o synthpop, new age, power pop, southern rock e até soul music. O apelo musical acessível, o som imponente e os concertos muito bem produzidos para grandes plateias em estádios e ginásios, fizeram o AOR ser chamado também de arena rock (“rock de arena”).

O primeiro e homônimo álbum da banda americana Boston, lançado em 1976, pode ser considerado o marco da ascensão do AOR como estilo musical. Todos os elementos básicos que caracterizam o AOR estão presentes naquele disco e serviram de guia para as outras bandas que adotariam o estilo a partir de então.

Entre a segunda metade dos anos 1970 e a primeira metade dos anos 1980, o AOR viveu o seu auge de popularidade. As canções de bandas de AOR se tornaram presença frequente nas paradas radiofônicas de todo o mundo, bem como em trilhas sonoras de filmes, o que só contribuiu para que bandas como Journey, Kansas e Foreigner vendessem milhões de discos e fizessem sucessivas turnês em escala mundial.

No Brasil, o estilo ganhou projeção no começo dos anos 1980 através dos comerciais de TV dos cigarros Hollywood, que mostravam cenas de esportes radicais e aventura, tendo como trilha sonora canções das bandas de AOR que faziam sucesso naquele momento.

Ao longo dos anos 1980, após o auge da primeira geração de AOR, outras bandas do gênero ganharam projeção como Red Rider, FM, Honeymoon Suite, Phenomena entre outros grupos. Na segunda metade dos anos 1980, o AOR ainda chegou a influenciar algumas bandas do chamado glam metal como Europe, Bon Jovi e Def Leppard, muito por conta das camadas sonoras de teclados. Nos anos 1990, com a chegada do grunge e do britpop, o AOR perdeu espaço nas paradas de rádio.

A partir dos anos 2000, uma parcela da imprensa musical passou a se referir ao AOR como melodic rock (“rock melódico”). Bandas contemporâneas como a suíça Gotthard, a finlandesa Brother Firetribee e a brasileira Tarmat, mantêm viva a chama do AOR.

Abaixo, confira 10 discos essenciais para quem quer adentrar no mundo do AOR.


Boston (Epic, 1976), Boston. Não seria exagero afirmar que este primeiro e homônimo álbum de estreia da banda Boston inaugurou o AOR como o estilo musical que conhecemos. Todos os elementos que caracterizam o estilo estão presentes no repertório deste álbum e serviram de padrão que foi seguido pelas bandas que decidiram entrar no AOR. Boston, o disco, foi um fenômeno em vendas, e alçou em curto espaço de tempo a banda do anonimato ao estrelato mundial. Recheado de hits como “More Than A Feeling”, “Peace Of Mind” e “Rock and Roll Band”, o álbum vendeu mais de 17 milhões de cópias nos Estados Unidos, e durante dez anos, foi o disco de estreia mais vendido na história da indústria fonográfica americana, sendo superado em 1987 por Appetite For Destruction, do Guns N’ Roses.   

Point Of Know Return (CBS, 1977), Kansas. Quando lançou Point Of Know Return, a banda Kansas vinha do sucesso do álbum Leftoverture (1976), disco que emplacou o megahit “Carry On Wayward Son”. Point Of Know Return traz dois dos maiores sucessos da carreira do Kansas, a faixa que dá nome ao disco e a balada icônica “Dust In The Wind”. Assim como o álbum anterior e os discos posteriores até o final dos anos 1970, Point Of Know Return traz o som do Kansas muito rico, pomposo, marcado por ecos do rock progressivo e hard rock. Contudo, depois de trocas de integrantes e a mudança na orientação musical da banda no começo dos anos 1980, o som do Kansas ficou mais “diluído”, se assemelhando ao que Journey e Foreigner estavam fazendo.

The Grand Illusion (A&M, 1977), Styx. Nos seus seis primeiros álbuns, o Styx transitava entre o hard rock e o rock progressivo. The Grand Illusion redefiniu o padrão musical do Styx, direcionado-o para uma musicalidade mais comercial, mais acessível, apoiado em um som mais melódico e pop, e apostando em baladas “melosas”, o que acabaria se tornando uma marca registrada do grupo. O álbum alcançou o 6° lugar nos EUA, onde vendeu mais de 3 milhões de cópias, e gerou dois singles: “Come Sail Away” e “Fooling Yourself”. 




Hi Infidelity (Epic, 1980), REO Speedwagon. Nono álbum de estúdio do REO Speedwagon, Hi Infidelity representou uma mudança na orientação musical da banda. Até então, o REO Speedwagon era uma mera banda de hard rock. Porém, a partir de Hi Infidelity, o conjunto direcionou a sua linha musical para algo mais “palatável” e melódico, dando ênfase às baladas. A faixa mais famosa de Hi Infidelity é justamente uma balada, “Keep On Loving You”, a primeira música do REO Speedwagon a alcançar o 1° lugar na Billboard Hot 100, nos Estados Unidos. Nessa mesma parada, a faixa “Take It On The Run” chegou ao 5°lugar. Hi Infidelity vendeu mais de 10 milhões de cópias nos Estados Unidos.


Escape (Columbia, 1981), Journey. Sétimo álbum de estúdio do Journey, o álbum representou a consagração da banda americana no cenário do rock mundial. E não era para menos, pois o álbum contém o megahit “Don’t Stop Believin’”, que para muitos, é o hino do AOR, a canção que melhor representa o estilo. Escape teve mais de 10 milhões de cópias, e viu outras faixas suas se tornarem sucesso, como “Who’s Crying Now”, “Still They Ride” e “Open Arms”.



Asia (Geffen Records, 1982), Journey. O supergrupo Asia foi um resultado do encontro de ex-integrantes das bandas de rock progressivo Yes, Emerson, Lake & Palmer e King Crimson, e mais um ex-membro do duo pop Buggles. Neste primeiro e homônimo álbum de estreia, os membros do Asia, “apararam” os exageros “barroco roqueiros” do Yes e do ELP, e resumiram tudo em canções enxutas e radiofônicas, embora mantivessem um pouco da imponência e virtuosismo de suas antigas bandas. Asia, o álbum, foi muito bem sucedido comercialmente, emplacou nas paradas as faixas “Heat Of The Moment” e “Only Time Will Tell”, e ainda serviu de inspiração para o Yes gravar o álbum 90125, lançado em 1983, e que trazia o hit “Owner of A Lonely Heart”.

Toto IV (Columbia, 1982), Toto. O talento e a competência dos músicos do Toto não estavam sendo suficientes para conter a insatisfação da gravadora Columbia com as vendas do segundo e terceiro álbuns da banda que foram muito baixas. A pressão era grande: ou a banda entregaria um novo álbum com potencial de sucesso ou seria dispensada da gravadora. Toto IV salvou a cabeça da banda dentro da Columbia. O álbum trouxe dois grandes sucessos, “Africa” e “Rosanna”, e ainda fez o Toto faturar em 1983, seis prêmios Grammy, dentre os quais o de “Álbum do Ano” e “Gravação do Ano” (pela canção “Susanna”). Além de ter entregue para a gravadora um álbum comercialmente brilhante do jeito que ela queria, o Toto ainda teve tempo de contribuir na gravação de um disco que se tornaria o maior fenômeno em vendas na história da indústria fonográfica mundial: Thriller, de Michael Jackson. Nada mal para quem esteve com a cabeção a prêmio, não acha?

Eye of The Tiger (Scotti Bros., 1982), Survivor. Quando o Survivor recebeu a encomenda para compor e gravar a música tema do filme Rocky III, a banda sabia que aquela era uma oportunidade para ganhar visibilidade e se tornar mais conhecida. Só que a banda não imaginava que essa visibilidade seria tão gigantesca. “Eye os The Tiger”, tema do filme estrelado por Sylvester Stallone, estourou nas paradas de sucesso de todo planeta e catapultou a banda americana para a fama em escala mundial. O sucesso da música do filme rendeu ao Survivor o prêmio Grammy de “Melhor Performance de Rock por Duo ou Grupo com Vocal”, em 1983. O álbum Eye of The Tiger, o terceiro do Survivor, além de trazer a faixa-título, traz outros bons momentos como os hard rocks “Feels Like Love, “The One That Really Matters” e “Children of The Night”, e as baladas “Ever Since The World Began” e “Silver Girl”.

Agent Provocateur (Atlantic, 1984), Foreigner. A banda Foreigner vinha numa sequência espetacular de álbuns muito bem sucedidos comercialmente, iniciada com o trabalho de estreia, lançado em 1977 e que leva o nome do grupo. Com Agent Provocateur, o Foreigner manteve essa sequência. Quinto álbum de estúdio do Foreigner, Agent Provocateur foi o primeiro e único álbum de estúdio da banda a alcançar o 1° lugar no Reino Unido. Agent Provocateur alcançou o 4° lugar na parada da Billboard 200, nos Estados Unidos, onde vendeu mais de 3 milhões de cópias. O álbum contém a canção de maior sucesso da carreira do Foreigner, a balada “I Want To Know What Love Is”, cujo single vendeu mais de 1 milhão de cópias nos Estados Unidos. Agent Provocateur gerou outros quatro singles “That Was Yesterday”, “Reaction to Action”, “Down On Love” e “Growing Up The Hard”.

Indiscreet
(Portrait, 1986), FM.
Liderada pelos irmãos Steve Overland (vocalista e guitarrista) e Chris Overland (guitarrista solo), a banda britânica faz jus ao nome que possui, afinal, seu som é bastante radiofônico, voltado para tocar no rádio. E essa vocação radiofônica da banda já estava registrada neste seu primeiro álbum de estúdio, Indiscreet, um trabalho essencialmente comercial. O som pesado das guitarras, porém controlado na medida certa, se equilibra muito bem com as camadas de sintetizadores que povoam todo o disco, e fazem juntos o pano de fundo para os vocais dramáticos de Steve Overland. Os hits do álbum foram “Frozen Heart” e “That Girl”, esta última, regrava no mesmo ano pelo Iron Maiden. 


"More Than A Feeling" - Boston
(videoclipe original)


"Don't Stop Believin'" - Journey 
(áudio original)

"“Eye Of The Tiger” - Survivor 
(videoclipe original)

 “Africa” - Toto
(videoclipe original)

“Only Time Will Tell” - Asia
(videoclipe original)

“I Want To Know What Love Is” - Foreigner
(videoclipe original)





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