10 discos essenciais: Punk Rock
Por Sidney Falcão
Ao chegar à década de 1970, o rock havia evoluido tecnicamente e gerado novas ramificações, algumas delas primando pelo preciosismo técnico e o exibicionismo como o rock progressivo, onde as músicas eram “quilométricas” - chegando a ocupar um lado inteiro de um LP - arranjos exageradamente elaborados e as produções dos discos muito caras. Nascido como um instrumento de rebeldia aos padrões conservadores e moralistas nos anos 1950, o rock tornou-se duas décadas depois uma máquina lucrativa para as grandes gravadoras. Astros do rock como Led Zeppelin, Paul McCartney, Pink Floyd, Yes, Elton John, Peter Frampton, por exemplo, viraram celebridades milionárias, inacessíveis, quase que “semideuses”. Os concertos dos grandes astros do rock tornaram-se muito “pirotécnicos” e em palcos gigantescos. Todo esse exagero e imponência fizeram do rock um gênero musical “burocrático”, distante da rebeldia, da urgência e da espontaneidade das suas origens.
Ao chegar à década de 1970, o rock havia evoluido tecnicamente e gerado novas ramificações, algumas delas primando pelo preciosismo técnico e o exibicionismo como o rock progressivo, onde as músicas eram “quilométricas” - chegando a ocupar um lado inteiro de um LP - arranjos exageradamente elaborados e as produções dos discos muito caras. Nascido como um instrumento de rebeldia aos padrões conservadores e moralistas nos anos 1950, o rock tornou-se duas décadas depois uma máquina lucrativa para as grandes gravadoras. Astros do rock como Led Zeppelin, Paul McCartney, Pink Floyd, Yes, Elton John, Peter Frampton, por exemplo, viraram celebridades milionárias, inacessíveis, quase que “semideuses”. Os concertos dos grandes astros do rock tornaram-se muito “pirotécnicos” e em palcos gigantescos. Todo esse exagero e imponência fizeram do rock um gênero musical “burocrático”, distante da rebeldia, da urgência e da espontaneidade das suas origens.
O punk rock surge em
meados dos anos 1970 como um movimento estético musical em reação ao estado mercantilista
que havia chegado o rock. Chegava para trazer a simplicidade das suas origens de
volta, porém com um olhar crítico acentuado, e também, é claro, para execrar
toda a “realeza” do rock.
As caracteríticas
principais do punk como gênero musical são as músicas curtas e rápidas,
executadas em alto volume e com muita fúria, arranjos básicos, simples,
baseados em três acordes, intrumentos de segunda mão. Os temas são geralmente tratam
sobre política, guerras, violência urbana e luta de classes. Dentre as
influências que ajudaram a formatar a sonoridade do punk rock estão o rock de
garagem dos anos 1960, e bandas como MC5, The Stooges, The Kinks, The Who,
Velvet Underground e New York Dolls.
Ramones: pioneiros do punk rock. |
O punk começa a ser “germinado”
em Nova York quando uma cena alternativa roqueira estava em ebulição naquela
cidade, por volta de 1974. A casa noturna CBGB, em Nova York, era ponto central
dessa cena alternativa, promovendo shows de Ramones, Television, Blondie,
Talking Heads, Patti Smith, Richard Hell & The Voidoids, dentre outros
artistas.
Atento a tudo aquilo,
estava o inglês, Malcolm McLaren, que naquela época, morava em Nova York desde
1971 e era empresário dos New York Dolls, banda nova-iorquina de glam rock que
tinha laços de amizade com os artistas daquela cena alternativa de rock que se
propagava. Os New York Dolls, uma especie de cruzamento de Rolling Stones com
travestis, faziam um som tosco e pouco técnico, mas exerceu influência no som
punk nova-iorquino. Contudo, a banda financeiramente era um fracasso, e chegou
ao fim em 1974. Isso motivou McLaren a retornar para Londres, sua cidade natal,
e consigo levou as ideias do que viu em Nova York, sobretudo, o visual
desleichado de Richard Hell, vocal dos Voidoids.
Em Londres, Malcolm
McLaren e sua esposa, a estilista Vivienne Westwood, abriram a loja Sex, onde comercializavam roupas
inspiradas nos figurinos de Richard Hell: roupas rasgadas e com alfinetes, e
camisetas riscadas à mão. Esse figurino se tornaria a referência estética para
o punk inglês. Além disso, a Sex
vendia também trajes com inspiração sadomasoquista. A Sex era
frequentada por pessoas esquisitas e de caráter duvidoso. Dentre os
frequentadores da loja, estavam Steve Jones, Paul Cook, Glen Matlock e Johnny
Rotten, que formaram os Sex Pistols e tiveram Malcolm McLaren como empresário.
Johnny Rotten, vocalista dos Sex Pistols. |
No final dos
anos 1970, após o seu ápice, o movimento punk inglês se desdobrou em outras
tendências musicais que seguiram em frente empunhando a bandeira punk do “Faça
Você Mesmo”, como a Cold Wave, 2 Tone, Synthpop, No Wave, Psycobilly entre
outras. Todas elas comporam a era denominada Pós-Punk que adentrou os anos 1980
apontando novos caminhos para o rock e o pop.
O punk, como
gênero musical, seguiu em frente influenciando o rock nos anos posteriores,
inclusive o rock brasileiro dos anos 1980, bem como o de outros países.
Continuou exercendo influência nas tendências do rock alternativo e comercial
que surgiram ao longo dos anos como grunge, o punk pop e no revival do pós-punk
no começo dos anos 2000.
Abaixo, confira
dez discos essenciais do punk, não necessariamente uma lista dos dez melhores
do gênero em os todos os tempos (embora alguns dos álbuns presentes figurem nas
listas dos melhores de todos os tempos), mas álbuns que exerceram influência e
têm relelevância no punk rock.
Ramones
(Sire
Records, 1976), Ramones. Gravado praticamente em uma semana,
ao custo de pouco mais de US$ 6 mil e com instrumentos de segunda mão, os
Ramones tentavam em seu primeiro e homônimo álbum, traduzir de maneira furiosa
e tosca, todas as influências baseadas no que eles ouviam na adolescência nos
anos 1960 como surf music, rock de
garagem, bublegum (um pop fabricado e
“descartável” dos anos 1960) e o protopunk
de bandas como Stooges e MC5. Em seu álbum de estreia (e primeiro álbum de punk
rock da História), os Ramones passeiam por temas leves como romantismo (“I
Wanna Be Boy Friend”) até assuntos mais barra pesada como drogas (“Now I Wanna
Sniff Some Glue”), violência (“Chain Shaw” e “Beat On The Brat”) e prostituição
(“53rd & 3rd”). Destaque para a faixa “Blitzkrieg Bop” que traz o famoso
grito de guerra da banda: “Hey Ho! Let’s Go!”.
Blank
Generation (Sire
Records, 1977), Richard Hell & The Voidoids. Criativo ao
extremo, o papel do baixista e cantor Richard Hell no punk não limitou-se
apenas na música, mas também na moda. Os cabelos espetados e as roupas rasgadas
cheias de alfinetes que se tornaram a marca do figurino punk, partiram da mente
inquieta de Richard Hell. Após passar pelas bandas Television e Johnny Thunders
& Heartbreakers, Richard Hell formou em 1976 a banda The Voidoids, que
também ficou conhecida como Richard Hell & The Voidoids. O grupo foi um dos
mais importantes nomes da cena alternava de Nova York em meados do anos 1970. Blank
Generation, álbum de estreia dos Voidoids, é presença frequente nas
listas de melhores álbuns punks de todos os tempos. A curiosidade fica por
conta do baterista Marc Bell, que após deixar os Voidoids, entrou nos Ramones
em 1978, e passou a se chamar Marky Ramone.
The Clash (CBS, 1977), The Clash. Da “trinca de ouro” do
punk composta por Ramones, Sex Pistols e The Clash, sem sombra de dúvidas, o
Clash é de longe a mais politizada e engajada. O engajamento politico do Clash
já se manifesta neste seu primeiro e autointitulado álbum, em faixas como “I’m
So Bored With The USA” (uma crítica ao apoio dos Estados Unidos a ditaduras em
países pobres naquela época), “White Riot” (uma crítica ao racismo), “Hate
& War” (aborda a violência e intolerância), “Carrer Opportunities” (sobre
crise econômica e social). Ao mesmo tempo, o Clash demonstrava neste seu
primeiro álbum, a sua aproximação com o reggae, numa regravação de “Police
& Thieves”, do jamaicano Junior Murvin.
Never Mind The
Bollocks, Here's The Sex Pistols (Virgin,
1977), Sex Pistols. Foi com este álbum que o punk britânico foi detonado e
nada mais ficou de pé no rock do Reino Unido. O som, o título do álbum (“bollocks”
= “escrotos” em português) e a postura anárquica dos Sex Pistols, chocaram a
opinião pública, mas disseminou o punk rock no Reino Unido, provocando uma
renovação no cenário roqueiro britânico. Os Pistols descarregam a sua fúria,
sarcasmo e a desesperança no futuro em faixas que se tornaram clássicos do punk
como “God Save The Queen” (um ataque à Rainha Elizabeth II), “Anarchy In The
UK” (uma revolta contra a apatia no Reino Unido naquele momentoi), “Liar” (punk
rock sobre a falsidade) e “Bodies” (letra versa sobre aborto). A vida dos Sex
Pìstols pode ter sido curta, mas o seu legado através deste álbum parece
desconhecer a barreira do tempo.
Damned,
Damned, Damned (Stiff
Records, 1977), The Damned. A banda The Damned foi duplamente
precoce dentro do punk rock inglês. Foi a primeira banda punk inglesa a lançar
um single, “New Rose”, em outubro de 1976, três meses depois que o grupo foi
formado, em Londres. A Damned foi também a primeira banda punk inglesa a lançar
um álbum, Damned, Damned, Damned, em fevereiro de 1977.
Another
Music In A Different Kitchen (United Artists, 1978), Buzzcocks. Enquanto as
outras bandas punks tratavam em suas canções sobre guerras, violência urbana,
conflitos sociais e política, os Buzzcocks focavam assuntos mais voltados aos
sentimentos humanos como a paixão, desilusões amorosas e amores conturbados.
Apesar do romantismo nas letras, o som dos Buzzcocks une fúria, velocidade,
melodia e uma dicreta inclinação pop. Todas essas caracteríticas estão
presentes em Another Music In A Different Kitchen, álbum de estreia do
quarteto inglês. Destaque para as faixas “I Don’t Mind”, “Fiction Romance”,
“Love Battery” e “I Need”.
Fresh
Fruit For Rotting Vegetables (Cherry Red Records, 1980), Dead Kennedys. Os
californianos Dead Kennedys se notabilizaram como pioneiros do hardcore e pelas
músicas cheias de críticas sarcásticas e corrosivas à classe política e
entidades religiosas. E é justamente isso que se encontra em Fresh
Fruit For Rotting Vegetables, álbum de estreia dos Dead Kennedys. Punk
rocks e hardcores velozes e afiados servem de base sonora para faixas
matadoras. “Kill The Poor” apresenta de maneira sarcástica, a solução da elite
para o fim da pobreza: exterminar os pobres com uma bomba de neutrons. “Holiday
In Cambodja” convida o jovem rico e hipócrita americano a passar um feriado na
ditadura exterminadora do Camboja.
Damaged
(SST Records,
1981), Black Flag. Outra banda que ajudou a difundir o
hardcore no mundo foi a banda Black Flag, californiana da cidade de Hermosa
Beach, nos Estados Unidos. Damazed, primeiro álbum da Back
flag, é um álbum de sonoridade crua, pesada, com faixas velozes e curtíssimas,
tendo Henry Rollins aos berros nos vocais. Em meio à massa sonora caótica, a
banda aborda temas como alienação e tédio. O álbum traz a música mais conhecida
da Black Flag, “Party TV”, uma crítica bem debochada sobre pessoas que passam o
dia todo vendo TV.
Rock
For Light (Passport
Records, 1983), Bad Brains. Formada em 1977, em Washington DC,
Estados Unidos, a banda Bad Brains marca a presença negra na história do punk
rock. Os músicos da banda tiveram formação musical no jazz fusion e no funk,
mas ao descobrir o som agressivo e politizado do punk rock, decidiram trilhar
um novo caminho. Rock For Light é o segundo álbum da banda e teve a produção de
Ric Ocasek, vocalista do The Cars. Assim como no primeiro álbum, lançado apenas
em fita cassete, Rock For Light concilia a fúria e crueza do punk e do hardcore
com a malemolência do reggae. Os Bad Brains não só adotaram o reggae na sua
mistura musical como também, alguns de seus membros converteram-se ao
rastafarianismo.
Dookie
(Reprise,
1994), Green Day. Em meados dos anos 1990, o punk tomou
um novo fôlego com o punk pop, tendência que combinava o ritmo veloz e contagiante
do punk rock tradicional acrescido de melodia, letras mais descontraídas e um
pouco de “polimento” na sonoridade. Com essa receita, o punk pop logo se tornou
uma mania, revelou dezenas de bandas e passou a frequenter as paradas de
sucesso, horrorizando os punk mais conservadores que tanto renegaram a grande
indústria fonográfica. Dookie é foi fruto daquela nova onda
punk e revelou para o mundo o power trio
norte-amereicano Green Day, um dos principais nomes do punk pop. O álbum bateu
a marca de 30 milhões de cópias e emplacou as faixas “Basket Case”, “Welcome To
Paradise”, “She” e “When I Come Around”. O álbum foi contemplado com um prêmio
Grammy de “Melhor Álbum de Música Alternativa”, em 1995.
Comentários
Postar um comentário