10 discos essenciais: Heavy Metal
Por Sidney Falcão
O
heavy metal é uma das mais populares e longevas vertentes do rock. Seu
surgimento se deu entre o final dos anos 1960 e começo dos anos 1970, a partir
de uma evolução natural do hard rock, quando bandas do estilo buscavam
desenvolver um tipo de som ainda mais pesado e agressivo do que praticavam, como
a The Jimi Hendrix Experience, Cream, The Who, MC5, Blue Cheer, Iron Butterfly
e Vanilla Fudge. Mas foi a chamada “santíssima trindade do rock pesado”, formada
por Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, quem definiu o heavy metal como
gênero musical.
Contudo,
há um consenso entre os jornalistas musicais que o primeiro e homônimo álbum do
Black Sabbath, lançado em 1970, seria o “marco zero” do heavy metal, pelo fato
dele reunir todo os elementos que caracterizariam o estilo que estava nascendo:
guitarras distorcidas e amplificadas ao máximo, bateria pesada - heranças do
hard rock – mais a sonoridade soturna e densa. A receita do Sabbath seria
seguida por gerações de bandas que viriam depois.
Embora
a expressão “heavy metal” (“metal pesado”) já fosse comum na Ciência para a
classificação de elementos químicos, no campo das artes, seu emprego era uma
novidade até os anos 1960. O novo estilo roqueiro teria sido batizado com esse
nome a partir de um artigo que o jornalista Lester Bangs escreveu para a
revista Creem, em 1971, quando usou o
termo “heavy metal” para descrever o som do Led Zeppelin, tendo como
referência, o romance Naked Lunch (Almoço Nu, no Brasil), de William S.
Burroughs, de 1959, em que há uma citação do termo. A primeira música a citar a
expressão foi “Born To Be Wild”, do Steppenwolf, de 1968, em que um de seus
versos tenta descrever o ronco de uma motocicleta: “I like smoke and lightnin' / Heavy metal thunder / Racing in the wind
/ And the feeling that I'm under” (“Eu
gosto de fumaça e relâmpagos / O trovão do metal pesado / Correndo com o vento
/ E o sentimento que ele provoca em mim”). Ainda assim, existem muitas
controvérsias.
No
final dos anos 1970, o heavy metal passou por um processo de revigoramento
através do movimento chamado New Wave Of
British Heavy Metal (Nova Onda do
Metal Britântico), liderado por bandas como Iron Maiden, Motörhead, Judas
Priest, Saxon e Def Leppard. Através desse movimento britâncio, o heavy metal ganhou
mais velocidade e peso sonoro, enquanto que os referenciais de blues que ainda possuía, desapareceram.
A
partir dos anos 1980, o heavy metal passaria por uma fragmentação, dando origem
a vários subgêneros, dentre os quais o thrash metal, black metal, doom metal,
glam metal e speed metal. Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax se revelaram os
grandes expoentes do thrash metal, estilo que revoluciona o heavy metal ao
adotar a velocidade do hardcore e a abordagem de temáticas mais realistas como política,
meio-ambiente e religião. O visual andrógino e o hedonismo nas canções
caracterizaram o glam metal, vertente mais comercial do heavy metal que
encontrou o seu auge nos anos 1980, encabeçado por bandas como Mötley Crüe, Bon
Jovi, Poison e Ciderella, mas que entrou em decadência no começo dos anos 1990
com a ascensão do grunge.
Na
virada dos anos 1980 para os anos 1990, novas vertentes do heavy metal ganham
visibilidade. Alguns deixaram o underground e alcançaram o mainstream como o
funk metal (Red Hot Chili Peppers, Faith No More e Living Colour) e outros se
mantiveram no mundo alternativo, mas mantendo a sua relevância como o groove
metal (Pantera, White Zombie e Machine Head) e o metal industrial (Ministry,
KMFDM, Nine Inch Nails e Rammstein). Outras ramificações do heavy metal se
destacam entre os anos 1990 e os anos 2000, como o rap metal (Rage Against The
Machine, Limp Bizkit e Linkin Park) e o nü metal (Korn, Slipknot, System Of A
Down e Deftones).
O
heavy metal segue firme e forte, desafiando a barreira do tempo, se renovando,
trazendo novas ideias, se desdobrando em mais novos subgêneros, revelando novos
artistas, conquistando novas gerações de fãs, mas nunca esquecendo as suas
origens e os ídolos que ajudaram a escrever a sua história.
A
escolha dos discos aqui representados não foca necessariamente o que
supostamente seriam os melhores discos de todos os tempo do heavy metal como se
costuma fazer. O critério para a escolha se baseou naqueles discos que melhor
representassem algumas das principais vertentes do heavy metal, possibilitando
uma melhor compreensão para o público que não é iniciado no estilo.
Black Sabbath (Vertigo,
1970), Black Sabbath. O primeiro e autointitulado álbum
do Black Sabbath é considerado o “marco zero” do heavy metal. Gravado em apenas
dois dias, Black Sabbath, o álbum, reune todos os elementos que moldariam
o que conhecemos como heavy metal, desde o som alto e pesado até temas sombrios
nas letras das canções. Sons de chuva, trovão e badaladas de sinos presentes na
abertura do álbum, preparam o ouvinte para entrar no clima soturno nas próximas
faixas. Destque para “The Wizard”, “N.I.B”, “Evil Woman” e faixa-título.
Paranoid
(Vertigo,
1970), Black Sabbath. No seu primeiro e homônimo álbum, o
Black Sabbath lançou as bases do que seria conhecido mais tarde como heavy
metal. Mas a banda inglesa consolida esse processo com o seu segundo trabalho, Paranoid,
sete meses após o lançamento do primeiro. Além das temáticas sombrias e
mórbidas exploradas no primeiro disco, em Paranoid, o Black Sabbath fala sobre
guerra como em “War Pigs”. Graças a faixas como “Paranoid” e “Iron Man”, o
álbum foi 4º lugar no Reino Unido e ainda projetou o Black Sabbath no mercado
norte-americano. Paranoid vendeu mais de 4
milhões de cópias, é o mais vendido da discografia do Black Sabbath. Na lista
dos 100 Maiores Álbuns de Heavy Metal de
Todos os Tempos, da edição americana da revista Rolling Stone, publicada em
2017, Paranoid ficou em 1º lugar.
British Steel (CBS, 1980),
Judas Priest. Embora formada em 1969, na mesma cidade natal
do Black Sabbath, Birmingham, Inglaterra, a banda Judas Priest só veio
despontar a partir da segunda metade dos anos 1970, num momento em que o heavy
metal passava por um processo de renovação. A Judas Priest é uma espécie de elo
entre a primeira geração do heavy metal e a geração renovadora que surgiria com
o movimento do New Wave of British Heavy Metal (N.W.O.B.H.M.) (em português,
Nova Onda do Metal Britânico). British Steel representou a
consagração da Judas Priest e a conquista do tão desejado mercado americano puxado
pelo sucesso das faixas “Breaking In The Law” e “Living After The Midnight”,
duas das músicas mais famosas da banda inglesa. Em 2017, British Steel figurou em
3º lugar na lista dos 100 Maiores Álbuns
de Heavy Metal de Todos os Tempos, da edição americana da revista Rolling
Stone.
Ace
Of Spades (Bronze
Records, 1980), Motörhead. Com um som que unia o peso do heavy
metal e a velocidade do punk rock, o Motörhead surgia no cenário do rock pesado
na segunda metade dos anos 1970 como um rolo compressor desgovernado descendo
uma ladeira. Todas essas características sonoras do trio inglês estão presentes
em Ace
Of Spades, considerado o melhor álbum da banda e que traz clássicos do
grupo como “Ace Os Spades”, “The Chase Is Better Than The Match” e “(We Are)
The Road Crew”. O som cru, pontente e veloz fez do Motörhead fez do trio o precursor do speed metal e do thrash metal, e influenciou
bandas como Metallica, Megadeth e Sepultura.
The
Number Of The Beast (EMI,
1982), Iron Maiden. O Iron Maiden foi o principal
espoente do chamado New Wave of British Heavy Metal (N.W.O.B.H.M.) (em
protuguês, Nova Onda do Metal Britânico) movimento que revigorou o o heavy
metal no começo dos anos 1980. The Number Of The Beast marcou a
estreia de Bruce Dickinson como novo vocalista do Iron Maiden, no lugar de Paul
Di ’Anno. A princípio, o vocal “operístico” e dramático de Bruce não agradou os
fãs mais “ortodoxos” da banda, mas aos poucos, o novo vocalista foi provando o
seu valor. Nos Estados Unidos, por causa da capa e do conteúdo da faixa-título,
o Iron Maiden foi acusado de satanismo pelos grupos cristãos radicais e pelos
conservadores. A polêmica acabou gerando mais visibilidade para a banda inglesa
e para o álbum, que no mundo inteiro, vendeu mais de 14 milhões de cópias,
puxado pelo sucesso da faixa título e de “Run To The Hills”.
Master Of Puppets (Elektra,
1986), Metallica. Master Of Puppets, terceiro álbum do
Metallica, foi responsável por disseminar o thrash metal e fazer dele um
dos segmentos mais importantes do universo musical do heavy metal, ao lado de
outros dois álbuns, Reign in Blood, do Slayer, e de Peace Sells… But Who’s Buying?,
do Megadeth, ambos os álbuns de 1986. Em Master Of Puppets, o Metallica trata
em suas canções sobre guerra, exploração religiosa, loucura e dependência de
drogas. Além de representar o momento de ascensão do Metallica, Master
Of Puppets ficou marcado pela morte trágica do baixista Cliff burton,
num acidente com o ônibus da banda, durante uma viagem entre a Suécia e
Dinamarca, em setembro de 1986. O fato gerou uma enorme comoção entre fãs e
artistas do heavy metal.
Slippery When Wet (Vertigo,
1986), Bon Jovi. O extravagante e hendonista glam rock foi a
vertente mais lucrativa do heavy metal dos anos 1980. Transformou roqueiros
cabeludos em estrelas milionárias e fez a alegria dos cofres das grandes
gravadoras. Slippery When Wet, terceiro álbum do Bon Jovi, cumpriu o papel
ao qual foi designado: fazer sucesso. Após o desempenho comercial modestíssimo
dos dois primeiros álbuns, os membros do Bon Jovi decidiram que o terceiro
álbum deveria ser capaz de alçar o grupo ao estrelato. E para isso, Slippery
When Wet foi um álbum pensado para dar certo. Tudo no álbum foi
planejado, das composições à produção. O resultado foi um álbum com um punhado
de canções de apelo radiofônico, produção impecável, sonoridade “polida”,
agradável, combinando rocks pesados de arena (“Livin' On A Prayer”, “You Give
Love A Bad Name”, “Let It Rock”e “Raise Your Hands”)
com
baladas românticas para partir os corações apaixonados (“Never Say Goodbye” e “Without
Love”). Slippery When Wet superou as espectativas, vendeu 12 milhões de
cópias somente nos Estados Unidos e 28 milhões em todo o mundo.
The
Real Thing (Slash
Records, 1989), Faith No More. Em 1988, o experiente vocalista
Chuck Mosley foi expulso do Faith No More, e em seu lugar, entrou Matt Patton,
um garoto de 20 anos, dono de uma petulância, de um humor sarcástico e presença
de palco tresloucada que ajudariam a levar o Faith No More ao estrelado
mundial. É evidente que além dos atributos de Patton, haviam também as
qualidades dos membros da banda, que somados, resultaram num som pesado aliado
ao groove do funk, e de algumas referências de thrash metal, rap e de rock
progressivo. O terceiro álbum do Faith No More, The Real Thing, mostrou o
perfeito entrosamento entre os vocais debochados do então novato Patton e a
banda. The Real Thing fez um grande sucesso, a tal ponto da turnê do
álbum ter durado quase três anos, e que incluiu a primeira passagem do Faith No
More pelo Brasil, em 1991, quando se apresentou no Rock In Rio 2. Impulsionado
pelo sucesso das faixas “Epic”, “Falling To Pieces”, “From Out To Nowhere” e de
“War Pigs” (do Black Sabbath), The Real Thing alcançou a marca de 2
milhões de cópias vendidas mundialmente.
Vulgar
Display Of Power (Atlantic
Records, 1992), Pantera. O Pantera é outro exemplo de como a
troca de integrantes pode mudar completamente uma banda de rock. Durante os
seus três primeiros álbuns, Pantera era uma banda de glam metal. Com a saída de
Terry Glaze e a entrada em seu lugar de Phil Anselmo, em 1987, a banda não
apenas mudou de vocalista como também de estilo musical. Deixou a extravagância
do glam metal e partiu para o som mais pesado e agressivo entre o thrash metal
e o groove metal, registrado em Cowboys From Hell, de 1990. Mas a
consagração veio com o álbum seguinte, Vulgar Display Of Power, o sexto da
carreira do Pantera. Como bem mostra a capa, o som da banda ganhou um peso
brutal equivalente a um soco na cara. As faixas “Fucking Hostile”, “Hollow”,
“Mouth For War”, “This Love" e "Walk", estão entre as mais
conhecidas do repertório da banda.
Korn
(Immortal
Records/Epic Records, 1994), Korn. Quando o grunge estava
perdendo força, eis que em 1994 (mesmo ano em que Kurt Cobain, ídolo maior do
grunge havia se suicidado com um tiro na cabeça), um álbum de estreia de uma
banda californiana iria acender o pavio para a explosão de uma nova vertente do
heavy metal. Trata-se do primeiro e autointitulado álbum do Korn, que abriu
caminho para o nü metal, estilo que mistura no seu caldeirão sonoro heavy metal,
hip-hop, música eletrônica e metal industrial. Com mais de 4 milhões de cópias
vendidas, Korn, o álbum, elevou rapidamente a banda americana da cena alternativa
para o cenário do mainstream do rock mundial. “Blind”, “Clown”, “Faget”, “Shoots
And Ladders” e “Need To” foram as faixas que caíram no gosto do grande público.
Referências:
Heavy metal: guitarras em fúria –
Tom Leão, 1997, Editora 34
100
disco que você precisa ter… para não passer vergonha, Editora Escala.
1001 discos para ouvir antes de
morrer – Robert
Dimery e Michael Lydon, 2011, Editora Sextante
Disco, punk, new wave, heavy metal,
and more: music in the 1970s and 1980s, Michael Ray
- 2013 by Britannica Educational Publishing
Wikipedia
Espera aí, amigo... Desde quando Bon Jovi é heavy metal? Pelo que sei, a banda é mais voltada para o hard rock, nada de heavy metal.
ResponderExcluirIgor, a presença do Bon Jovi faz uma alusão ao "hair metal" ou "glam metal" que foi uma segmento do metal nos anos 1980 que conciliava o visual andrógino herdado do glam rock dos anos 1970 com o metal. Nessa vertente, você tinha de fato um arco de bandas que iam do hard rock, como Bon Jovi ao metal propriamente dito como o WASP. O Bon Jovi, embora musicalmente fosse uma banda de hard rock, fazia parte daquela geração de bandas de "glam metal", e aliás, talvez a mais bem sucedida comercialmente falando daquela geração. Se você for pesquisar sobre o "glam metal", o Bon Jovi vai estra incluído.
ExcluirÉ, pensando por este lado você está certo! Desculpa então, chefe!
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