“British Steel” (CBS, 1980), Judas Priest


O ano de 1980 foi muito marcante para o rock pesado. Sim, houve perdas caras para o gênero musical, como as mortes de Bon Scott, vocalista do AC/DC, e de John Bonham, baterista do Led Zeppelin. Porém, os ganhos foram muitos e decisivos, e que norteariam a caminhada do heavy metal durante a década de 1980. O AC/DC, que havia perdido Scott, rapidamente encontrou um novo vocalista e se refez do luto com o antológico álbum Back in Black. Enquanto isso, o Black Sabbath lançava Heaven And Hell, álbum que marcava a estreia do fantástico vocalista Ronnie James Dio (1942-2010) no lugar de Ozzy Osbourne. O ex-vocalista do Sabbath por sua vez, lançava o seu primeiro álbum solo, Blizzard Of Ozz.

Em agosto de 1980, em Leicestershire, na Inglaterra, ocorria a primeira edição do festival Monsters Of Rock, reunindo as mais diversas bandas de som pesado como Rainbow, April Wine, Scorpions e Saxon. Uma nova geração de bandas britânicas despontava para revigorar o heavy metal através do movimento chamado NWOBHM (abreviação de New Wave of British Heavy Metal, em português: Nova Onda Do Heavy Metal Britânico) do qual faziam parte Motörhead, Iron Maiden, Saxon, Def Leppard, Samson entre outras bandas.

Foi em meio a esse cenário tão movimentado para o heavy metal em 1980, que o Judas Priest, uma das bandas que faziam parte da geração NWOBHM, lançou naquele ano Britsh Steel, seu sexto álbum de estúdio. Considerado o melhor álbum da discografia do Judas Priest e um dos melhores da história do heavy metal, Britsh Steel foi responsável pelo quinteto inglês conseguir conquistar o tão sonhado prestígio nos Estados Unidos.

Antes das gravações de British Steel, o Judas Priest havia sofrido uma baixa. No final de 1979, o baterista Les Binks deixou o Judas Priest por discordar do direcionamento musical que a banda vinha adotando. Em seu lugar entrou Dave Holland, ex-baterista do Trapeze.

As gravações ocorreram entre janeiro e fevereiro de 1980, no Startling Studios, um estúdio de gravação que ficava numa mansão que na época pertencia ao ex-baterista dos Beatles, Ringo Starr. Tom Allom conduziu a produção de British Steel, segundo trabalho dele com o Judas Priest. Allom havia produzido antes Unleashed In The East, o primeiro álbum ao vivo do Judas Priest, gravado durante apresentações em Tóquio, no Japão, em fevereiro de 1979.

Talvez o fato mais curioso durante as gravações de British Steel, foram as improvisações para criar efeitos sonoros, numa época que não havia sample. Utilizaram garrafas de leite em “Breaking The Law” para criar ruído de vidros quebrando, de talheres e de tacos de bilhar em “Metal Gods”.


Judas Priest em 1980, da esquerda para a direita: Ian Hill, Glenn Tipton,
Rob Halford,  K.K. Downing e Dave Holland. 

A primeira música de divulgação de British Steel foi “Living After Midnight”, cujo single foi lançado em março de 1980, e ficou em 12º lugar na parada de singles do Reino Unido.

Em 14 de abril de 1980, British Steel era lançado, e já com o Judas Priest na estrada com a British Steel Tour, turnê iniciada em março, um mês antes do lançamento do álbum, e que durou até agosto daquele ano. Iron Maiden foi a banda de abertura nos concertos da turnê no Reino Unido, enquanto que em alguns concertos da turnê pelos Estados Unidos, quem abriu foi o Def Leppard.

British Steel começa com o riff rápido de guitarra de “Rapide Fire”. A bateria de Dave Holland conduz o ritmo veloz da música que dá ao ouvinte, uma ideia do que ele vai encontrar no restante do álbum.

A faixa seguinte começa com um som estranho, que parece uma simulação de ruído de trovão feito por sintetizador, mas logo é seguido pelo som pesado de guitarras, baixo e bateria que dão início a “Metal Gods”. Rob Halford canta com fúria um futuro sombrio onde a humanidade será dominada por máquinas.

“Breaking In The Law”, um dos maiores sucessos do Judas Priest, conta a história de um homem desesperado, arruinado, que sem perspectivas de melhora de vida, vê o crime como alternativa de sobrevivência. Aqui, a desesperança do personagem da música se aproxima das letras de cunho político social do punk rock. O ruído de vidros quebrando foi feito com a quebra de garrafas de leite durante as gravações do álbum. É possível ouvir na música o som de sirenes de polícia.

“Grinder” é talvez a faixa mais pesada do álbum, e nela as guitarras desempenham um protagonismo do início ao fim da música, seja fazendo a base sonora, seja fazendo os solos. O riff de guitarra é agressivo, que parece ser executado por duas guitarras simultaneamente, e está em sintonia com a linha de baixo robusta de Ian Hill. Juntos, produzem uma massa sonora pesada e consistente.   

O lado A do álbum termina com “United”, uma música que possui ares de canção épica, de hino a ser cantado em shows de rock em estádios e arenas a plenos pulmões, tal qual os cantos de torcida de futebol: “United, united, united we stand / United we never shall fall / United, united, united we stand / United we stand one and all” (“Unidos, unidos, unidos nós ficamos / Unidos nós nunca iremos cair / Unidos, unidos, unidos nós ficamos / Unidos nós ficamos, um por todos”).

O lado B da versão LP de British Steel começa com o peso de “You Don't Have To Be Old To Be Wise” e sua crítica explícita aos adultos, mostrando que o jovem pode ter maturidade e senso crítico: “I grow sick and tired of the same old lies / Might look a little Young / So what's wrong / You don't have to be old to be wise” (“Estou ficando de saco cheio das mesmas velhas mentiras / Posso parecer um pouco jovem / E daí, o que há de errado? / Você não tem que ser velho para ser sábio”).

“Living After Midnight”, a faixa seguinte, é provavelmente o maior sucesso da carreira do Judas Priest, e mostra que heavy metal pode ser popular e radiofônico. A música começa apenas com a bateria de Dave Holland ditando o ritmo para depois entrar os outros instrumentos. Com um refrão empolgante e festivo, “Living After Midnight” trata de prazer e diversão na madrugada. É aquele típico rock capaz de agitar até o mais desmotivado dos seres humanos.

“The Rage” tem o seu início com um fraseado rítmico que remete ao reggae. Em seguida, entra o peso agressivo do metal, mas mantém o ritmo que continua lento. Halford solta a sua voz poderosa, enquanto que mais ao final da música, há um desfile sensacional de solos de guitarra.

O álbum termina veloz como começou, com “Steeler” fechando British Steel com chave de ouro. A música possui riffs de guitarra rápidos e afiados, e uma bateria veloz e direta, do jeito que o fã de heavy metal gosta.


Rob Halford e Glenn Tipton, em julho de 1980, durante turnê do ãlbum British Steel

British Steel significou a consagração do Judas Priest. O quinteto inglês conseguiu após cinco álbuns de estúdio e um ao vivo, conquistar o disputado mercado fonográfico dos Estados Unidos. Lá, o álbum chegou à marca de 1 milhão de cópias vendidas. Essa conquista se deveu, segundo alguns especialistas, ao direcionamento mais comercial que a banda deu ao seu som, se comparado ao álbum anterior. O Priest repetiu a “fórmula” musical de British Steel nos álbuns posteriores como Point Of Entry (1981) e Screaming For Vengeance (1982).

O álbum ganhou um relançamento remasterizado em 2001, e com duas faixas bônus incluídas, "Red, White & Blue", gravada durante as sessões do álbum Turbo (1985), e uma versão ao vivo de “Grinder”, gravada durante um show no Long Beach Arena, Long Beach, Califórnia, em 1984.

Em 2009, o Judas Priest fez uma turnê especial de 30 anos de British Steel que percorreu os Estados Unidos, onde a banda tocou todas as faixas do álbum na íntegra ao vivo. Houve também um lançamento de uma edição especial de 30 anos do álbum com um CD e DVD de um show gravado ao vivo em agosto de 2009, no The Seminole Hard Rock Arena, em Hollywood, na Flórida, nos Estados Unidos.

British Steel foi classificado em 2017, pela revista Rolling Stone, em 3º lugar na sua lista dos “100 Melhores Álbuns de Heavy Metal de Todos os Tempos”.

Faixas

Lado A
  1. “Rapide Fire”
  2. “Metal Gods”
  3. “Breaking The Law”
  4. “Grinder”
  5. “United”
Lado B
  1. “You Don't Have To Be Old To Be Wise”
  2. “Living After Midnight”
  3. “The Rage”
  4. “Steeler”

Todas as faixas escritas por Rob Halford, K.K. Downing e Glenn Tipton.
Judas Priest: Rob Halford (vocal), Glenn Tipton (guitarra), K. K. Downing (guitarra), Ian Hill (baixo) e Dave Holland (bateria).



“Rapid Fire”


“Metal Gods”


“Breaking The Law”
(videoclipe original)


“Grinder”

“United” (apresentação da banda 
no programa "Top Of The Pops, 
TV BBC, agosto de 1980)


“You Don't Have To Be Old To Be Wise”

“Living After Midnight” (videoclipe original)

“The Rage”


“Steeler”

Comentários

  1. Minha banda favorita do heavy metal e o disco que apresentou o Judas Priest para o mundo há 40 anos atrás. Merecida homenagem!

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    1. Obrigado, Igor. De fato, o álbum merecia mesmo essa homenagem.

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    2. Por nada, chefe... Gostei demais desta resenha!

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