“Abbey Road” (Apple Records, 1969), The Beatles
Por Sidney Falcão
As gravações
do projeto Get Back (que consistia
num álbum e num filme, e que mais tarde foi renomeado Let It Be), foram
cercadas de muitos desentendimentos entre os membros dos Beatles, repetindo o
clima conflituoso das sessões de gravação do Álbum Branco. O projeto
acabou sendo suspenso, e Paul McCartney, em mais uma tentativa em salvar a
banda e mantê-la unida, telefonou para o produtor e arranjador George Martin,
convidando-o para que ele produzisse um novo álbum dos Beatles.
O convite
surpreendeu Martin, pois o produtor foi posto em segundo plano nas gravações do
projeto Get Back. George Martin topou
produzir o novo álbum sob a condição de que todo o processo de trabalho fosse “como nos velhos tempos”, quando não
haviam brigas e nem intrigas nas sessões de gravação. Paul aceitou a condição
do veterano produtor. Martin quis saber se John Lennon concordava em tê-lo
conduzindo a produção novamente, Paul respondeu que sim.
George Martin, Paul McCartney e Ringo Starr, durante as sessões de gravação do álbum Abbey Road. |
As sessões
de gravação do novo álbum começaram em 22 de fevereiro de 1969, no Trident Studios,
em Londres, quase um mês depois que gravações do projeto Get Back foram concluídas.
Em 12 de março,
Paul McCartney e Linda Eastman (que depois passa assinar Linda McCartney) se
casaram em Londres. Uma semana depois, foi o casamento de John Lennon e Yoko
Ono, que aconteceu em Gibraltar. Ao invés de uma lua-de-mel tradicional, o Lennon
e Yoko decidiram promover, no Hotel Hilton de Amsterdã, o Bed-In, o famoso protesto pacífico pela paz em que os dois passam o
dia todo na cama do quarto do hotel recebendo a imprensa mundial.
John Lennon e Yoko Ono: na cama pela paz mundial. |
No mês
seguinte, em abril, a Apple Corps (empresa criada pelos Beatles para cuidar dos
negócios da banda após a morte do empresário do quarteto, Brian Epstein, em
1967) contrata Allen Klein para ser o gerente do grupo. Sua contratação teve
apoio de John Lennon, George Harrison e Ringo Starr. Paul McCartney, único
contrário à contratação de Klein, preferia o seu futuro sogro, o advogado Lee
Eastman, pai de Linda.
Os Beatles
decidem em maio fazer uma pausa de dois meses nas gravações do novo álbum para
que cada membro pudesse cumprir compromissos particulares e também tirar férias.
Ainda em maio, John e Yoko repetem o Bed-In,
desta vez num quarto do Queen Elizabeth Hotel, em Montreal, no Canadá, durante
dez dias.
As
gravações do novo álbum são retomadas nos estúdios Abbey Road em 1° de julho de
1969, com Paul McCartney gravando seu vocal para a canção “You Never Give Me Your
Money”. Naquele mesmo dia, John Lennon, Yoko Ono e Kyoko Cox (filha do primeiro
casamento de Yoko), sofreram um acidente de carro na Escócia. Por estar se
recuperando do acidente, Lennon se ausentou das gravações de algumas faixas do
novo álbum depois do período de recesso da banda. Após a alta, Lennon retornou
ao trabalho, porém Yoko, embora liberada também do hospital, foi aconselhada
pelos médicos a repousar na cama. Para poder acompanhar o repouso de Yoko mais
de perto, Lennon mandou instalar uma cama para ela nos estúdios Abbey Road. Evidente
que a ideia não agradou muito os outros colegas de banda que se mostravam incomodados
com a presença constante de Yoko nas sessões de gravação dos Beatles desde a
época do Álbum Branco, se intrometendo e dando “pitacos” no que banda
gravava.
Mal Evans e Linda McCartney ao lado de Yoko Ono, que repousa numa cama instalada para ela em pleno estúdio onde os Beatles gravavam o álbum Abbey Road. |
Enquanto as
gravações transcorriam razoavelmente bem, diferente do clima tenso e pesado do Álbum
Branco e de Get Back, a banda
decidia qual seria o título do novo álbum. A princípio, pensaram batizá-lo de Everest, marca do cigarro que o
engenheiro de som, Geoff Emerick, fumava. Cogitou-se até enviar algum fotógrafo
para fazer algumas fotos do monte Everest e que deu nome à marca de cigarro.
Porém, devido ao prazo curto, a ideia foi logo cancelada e procuraram outro nome
para o novo álbum. Optaram por uma solução mais simples e de custo baixíssimo:
nomear o novo álbum com o nome da rua em frente aos estúdios de gravação, Abbey
Road, e fazer a foto com a banda atravessando na faixa de pedestre da mesma
rua. Mas há uma versão de que Paul McCartney já havia pensado previamente a
ideia da capa da banda atravessando na faixa, inclusive havia feito um esboço à
lápis de como seria a foto da capa.
No dia 8 de
agosto de 1969, houve a sessão de fotos para a capa do novo álbum. Os Beatles
atravessando várias vezes a faixa e sendo fotografados pelo fotógrafo Ian
Macmillan, somando um total de seis fotografias, e dessas seis escolheram uma
para a capa.
Sequência de fotos para a capa do álbum Abbey Road tiradas pelo fotógrafo Ian Macmillan. |
Em 20 de
agosto, o dia derradeiro: os Beatles participaram juntos daquela que foi a
última sessão de gravação com os quatro juntos. Nesse dia, completaram os overdubs da faixa “I Want (She’s So
Heavy)”, nos estúdios Abbey Road.
Dias antes
do lançamento de Abbey Road, John Lennon comunicou aos colegas e a Allen Klein,
que estava deixando a banda. No entanto, Lennon fechou um acordo com os demais
para manter em sigilo o seu desligamento para não atrapalhar o processo de
renovação de contrato dos Beatles com a Capitol Records, subsidiária
norte-americana da EMI.
Finalmente,
em 26 de setembro de 1969, era lançado o álbum Abbey Road. Especialistas
e críticos musicais afirmam que Abbey Road é o mais bem produzido
álbum dos Beatles, estando em pé de igualdade com Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967). Ainda que não fosse surpresa o cuidado técnico e artístico
da banda com os seus álbuns, intensificado a partir de Rubber Soul (1965), houve
em Abbey
Road um apuro técnico ainda maior, e que é percebido pelo ouvinte mais
atento e exigente. Isso se deve não só à experiência do produtor George Martin,
mas também aos engenheiros de som Geoff Emerick, Phillip McDonald e Alan
Parsons (o mesmo que trabalhou no álbum Dark Side Of The Moon, do Pink
Floyd). Eles tiveram um papel muito importante para que a sonoridade do álbum
alcançasse um nível impecável de qualidade, tornando-se essa uma das principais
características de Abbey Road.
O engenheiro de som Geoff Emerick e Paul McCartney. |
Neste que é
o último álbum gravado pelos Beatles, a banda inglesa chegou ao ápice da
maturidade musical enquanto esteve em atividade. Paul McCartney, mentor do
álbum e o mais comprometido em manter a banda unida em meio à crise pela qual
ela passava, se destaca pelo medley
do lado B da versão LP do álbum, uma verdadeira “maratona” musical de tirar o
fôlego. George Harrison, que a cada álbum dos Beatles crescia como compositor,
se consagra nessa condição com joias como “Here Comes The Sun” e “Something”.
John Lennon, que ao lado de Yoko despontava como um artista engajado nas causas
pacifistas, participou de poucas sessões de gravação de Abbey Road, mas comparece
com duas das melhores canções que já escreveu, “Come Together” e “Because”. A
bateria de Ringo Starr soa mais forte e encorpada, o que revela a importância
do trabalho de engenharia de som de Geoff Emerick.
Os Beatles
foram uma das primeiras bandas da história do rock a fazer uso de um
sintetizador, e essa façanha aconteceu justamente no álbum Abbey Road. A banda usou
o sintetizador Moog IIIP, que fora adquirido por George Harrison e usado no seu
segundo álbum solo Electronic Sound, lançado em maio de 1969, um trabalho em que o
beatle faz experimentações com a sonoridade eletrônica. O equipamento enorme e
de manejo um tanto quanto complexo para época, foi utilizado pelos Beatles no
álbum Abbey Road, mais especificamente nas faixas "Maxwell's
Silver Hammer", "I Want You (She's So Heavy)", "Here Comes
The Sun" e "Because".
Ringo Starr e George Harrison diante do sintetizador Moog usado em algumas faixas do álbum Abbey Road. |
Abbey
Road ficou
também marcado por ter dois lados distintos. O lado A é formado por canções
independentes e que refletiam a individualidade de cada membro da banda, como
queria Lennon. Já o lado B, o lado épico do álbum, é onde está o medley de canções curtas, uma solução
que Paul McCartney havia encontrado para dar conta de canções que estavam
inacabadas.
O
álbum é ao mesmo tempo um trabalho de
despedida, embora não houvesse na época de sua gravação, nenhuma declaração de
que a banda se dissolveria após o lançamento do álbum. Mas um clima de fim de
jornada já pairava sobre o quarteto.
“Come
Together” é quem abre o álbum, e que apesar de levar o crédito Lennon-McCartney,
a música foi composta por John Lennon a pedido do psicólogo e guru do LSD,
Timothy Leary, que estava se candidatando a governador do estado Califórnia. A
letra foi baseada na frase de campanha de Leary: “Come together, join the party” (“Vamos juntos, junte-se à festa”). Contudo, Leary foi preso por
porte de drogas e sua campanha eleitoral naufragou. Assim, a música feita para
campanha eleitoral de Leary, acabou sendo gravada pelos Beatles para o álbum Abbey
Road. Na introdução e depois de cada refrão, Lennon diz “shoot me”
(“injete-me”), que supostamente fazia referência a uma gíria da época ao uso de
heroína. Como a linha de baixo é tão forte e pulsante, a expressão fica quase
incompreensível.
O psicólogo Timothy Leary, "o papa do LSD". |
A faixa
seguinte é “Something”, uma das mais belas canções de amor da história do rock.
“Something” foi composta por George Harrison na época das gravações do Álbum
Branco, em 1968, mas não ficou pronta a tempo para entrar naquele
álbum. A inspiração de Harrison para compor “Something” foi a sua então esposa,
a modelo Pattie Boyd. Com uma melodia tão linda e marcante, “Something”
consagrou o talento de Harrison como compositor, a tal ponto de ser a primeira
canção dele a figurar no lado A de um single dos Beatles. “Something” foi
regravada pelos mais diversos artistas, dentre eles Frank Sinatra (1915-1998),
que equivocadamente costumava anuncia-la nos seus shows como sendo de autoria
da dupla Lennon-McCartney.
“Maxwell’s
Silver Hammer” foi escrita por Paul McCartney, e é talvez a música com letra
mais bizarra já gravada pelos Beatles. O ritmo alegre e descontraído embala
McCartney a cantar sobre um estudante de medicina chamado Maxwell Edison, que
cometia assassinatos martelando a cabeça das vítimas com um martelo de prata. A
bizarrice causou asco até mesmo em John Lennon, que apesar de não ter
participado das gravações dessa música, ele a detestava. Ringo Starr e George
Harrison também comungavam da mesma opinião de Lennon. McCartney, que compôs,
tocou baixo, piano e guitarra base, tocou também sintetizador Moog, e
acreditava piamente que a música faria um grande sucesso.
“Oh!
Darling” é uma balada romântica bem ao estilo das canções dos anos 1950. Foi
composta por Paul para entrar no projeto do álbum Get Back, o que acabou não acontecendo. Para fazer com que a sua
voz soasse tão grave e agressiva, Paul gravou vários vocais de manhã cedo nos
estúdios Abbey Road para ganhar uma aparência desgastada e rouca como a de um bluesman. A letra de “Oh! Darling” trata de um homem
apaixonado que implora para que a sua amada acredite nele e não o abandone.
Ringo Starr, George Harrison e John Lennon num intervalo de gravações do álbum Abbey Road. |
A faixa
seguinte “Octopus’s Garden” foi a segunda canção composta por Ringo Starr para
os Beatles (a primeira foi “Don't Pass Me By”, do Álbum Branco). A ideia
para compor esta canção surgiu durante um passeio de Ringo Starr e sua esposa
na Sardenha, na Itália, no barco do ator Peter Sellers, onde o capitão da
embarcação contou ao baterista que os polvos têm o hábito de catar pedras para
construir um abrigo com aparência de jardim. George Harrison ajudou Ringo Starr
a compor a música, mas deu todo o crédito ao baterista. Divertida e lúdica, a
letra fala sobre amigos que mergulham no fundo do mar para visitar o jardim dos
polvos. Em “Octopus’s Garden”, os Beatles reencontram o psicodelismo dos tempos
de Revolver
e Sgt.
Pepper's Lonely Hearts Club Band, e seu clima infantil remete a “Yellow
Submarine”. Os vocais estranhos que aparecem no meio da música, são na verdade
de Paul McCartney e George Harrison fazendo os vocais de apoio, e que passaram
por um processo de efeitos de estúdio para que ganhassem a aparência de vocais
de criaturas aquáticas. O som borbulhante foi criado por Ringo Starr soprando
bolhas num copo de leite através de um canudo.
“I Want You
(She’s So Heavy)” foi escrita por John Lennon, que embora tenha uma letra muito
curta, é uma das músicas mais longas já gravadas pelos Beatles, pouco mais de
sete minutos. Foi mais uma canção escrita durante as sessões de gravação do
projeto Get Back no início de 1969, e
que deu origem ao álbum Let It Be. Dedicada a Yoko, “I Want
You (She’s So Heavy)” veio da junção de duas canções que Lennon possuía. Musicalmente,
“I Want You (She’s So Heavy)” transita entre o blues rock e o hard rock, muito
por conta da parede sonora de guitarras executadas por John Lennon e George
Harrison. Na reta final da faixa, em meio ao peso sonoro das guitarras, surge
um som de ventania criados por Lennon através do sintetizador Moog de Harrison.
O corte abrupto que encerra a música, teria sido um pedido de Lennon.
O lado B da
versão LP de Abbey Road começa com o belíssimo folk rock “Here Comes The
Sun”, outra obra prima de George Harrison presente no álbum e que ao lado de
“Something”, ajudou na consagração do músico como compositor. Numa tentativa de
fugir das burocráticas e estressantes reuniões de negócios da Apple Corps.,
Harrison refugiou-se na casa de Eric Clapton, onde havia um bucólico jardim em
que o beatle encontrou inspiração
para compor “Here Comes The Sun”. Nos versos simples e alegres, Harrison
procura expressar toda sua sensação de liberdade, de bem-estar e de esperança.
Nas gravações da canção, Harrison contou apenas com Paul McCartney (vocais de
apoio, baixo e palmas) e Ringo Starr (bateria e palmas). John não participou
porque estava se recuperando do acidente de carro que sofreu em junho de 1969,
na Escócia. Harrison ficou a cargo dos vocal principal, vocal de apoio, violão,
guitarra, palmas e sintetizador Moog. O produtor George Martin foi responsável
pelos arranjos e condução da orquestra.
George Harrison e Paul McCartney gravando vocais para a canção "Here Comes The Sun". |
“Because”
foi escrita depois que John Lennon ouviu Yoko Ono tocar ao piano “Sonata Ao
Luar”, também conhecida como “Sonata Para Piano Nº14, Opus 27”, de Beethoven.
Aquilo chamou a atenção de Lennon que pediu para a esposa tocar a mesma música
no sentido contrário. Foi a partir daí que John Lennon teve a inspiração para
criar a linha melódica de “Because”. O grande destaque desta canção é a
harmonização vocal maravilhosa de John Lennon, Paul McCartney e George
Harrison. Durante o processo de mixagem, os vocais foram sobrepostos três
vezes, e o resultado é a sensação de se estar ouvindo um coro de nove vozes.
Por traz das vozes, ouve-se o sintetizador fazendo o pano de fundo musical.
Escrita por
Paul McCartney, embora leve o crédito da dupla Lennon-McCartney, “You Never
Give Me Your Money” é uma clara crítica endereçada a Allen Klein, gerente da
Apple Corps. Paul suspeitava que Klein estaria envolvido em desvios dos
negócios do Beatles. “You Never Give Me Your Money” começa como uma balada
calma e doce, com Paul cantando acompanhado de um piano. Em seguida, a música
toma um novo ritmo com a entrada de baixo, guitarra, bateria e outros
instrumentos, que darão andamentos à canção. Enquanto a canção vai chegando ao
fim, ouve-se cantos de grilos que servem de conexão com a faixa seguinte, dando
início ao medley de canções curtas.
Allen Klein, gerente do Beatles, e alvo de críticas de Paul McCartney na canção "You Never Give Me Your Money". |
O canto de
grilos que iniciou-se ao final de “You Never Give Me Your Money” é o mesmo que
se ouve na abertura de “Sun King”, canção composta por John Lennon após ler a
biografia de Luís XIV, da França, conhecido como “Rei Sol” e que reinou entre
1643 e 1715. A música quase se chamou “Here Comes The Sun King”, mas para
evitar confusão com “Here Comes The Sun”, de Harrison, foi intitulada apenas
“Sun King”. A linha melódica da guitarra executada George Harrison em “Sun
King”, foi inspirada na de “Albatross”, do Fleetwood Mac. A curiosidade nesta
música é a mistura de versos em espanhol, italiano e português, cantados pelos
Beatles numa bela harmonização vocal. A música termina repentinamente, e um
rufar de tambores dá início à próxima faixa.
“Mean Mr.
Mustard” foi escrita por John Lennon durante o retiro espiritual dos Beatles na
Índia, em 1968. A letra da música teve como inspiração uma notícia que Lennon
leu num jornal indiano, em que um homem avarento havia escondido dinheiro no
ânus. No entanto, na letra de “Mean Mr. Mustard”, o avarento da canção, Mr.
Mustard, esconde uma nota de dez na narina. Mas ao contrário do que algumas
pessoas disseram, na letra de sua canção, Lennon não teve a intenção de fazer
associação com cheirar cocaína. Uma curiosidade nesta canção Mr. Mustard é
retratado como irmão de Pam, a garota da canção “Polythene Pam”, a faixa que
seguinte a “Mean Mr. Mustard”.
Os Beatles fotografados por Linda McCartney na escadaria de entrada dos estúdios da EMI, em Abbey Road, Londres, pouco antes da sessão de fotos para a capa do álbum Abbey Road. |
“Polythene Pam” é mais uma canção de Lennon da
safra de canções compostas por ele na Índia. A canção teria sido escrita por
John Lennon fazendo referência a uma fã dos Beatles, Pat Hodgett, da época em
que o quarteto inglês tocava no Cavern Club. Seu apelido era Polythene Pat por
causa do seu estranho hábito de comer polietileno, um tipo de material
plástico. Para a canção, Lennon trocou “Pat” por “Pam”. No entanto, há uma
versão de que a inspiração de Lennon foi um amigo dele, do início da carreira
dos Beatles, o poeta beat inglês Roystom Ellis, que costumava fazer sexo
pervertido com a namorada enrolados em plásticos.
Na
sequência, “She Came In Through The Bathroom Window”, canção escrita por Paul
McCartney baseado num fato inusitado em que uma fã dos Beatles, Diane Ashley,
conseguiu invadir a casa de McCartney entrando pela janela do banheiro. Ela fazia
parte de um grupo de fãs dos Beatles chamado Apple Scruff, que costumava
circular próximo aos estúdios da Abbey Road, à Apple Corps. e às residências
dos quatro membros dos Beatles. A garota teria levado alguns pertences de
McCartney como roupas, objetos pessoas e até uma fotografia do pai do baixista,
Jim McCartney, que acabou sendo devolvida.
A balada
“Golden Slumbers” foi escrita por Paul McCartney depois que ele foi à casa de
seu pai, Jim McCartney, onde viu sobre o piano, partituras de uma canção de
ninar, cujos versos são do poema “Cradle Song”, do poeta inglês Thomas Dekker
(1572-1632) escritos por ele em 1606. As partituras eram de sua meia-irmã, Ruth
McCartney, na época com cerca de oito anos de idade, fruto do segundo casamento
de seu pai. Como não lia partituras, Paul McCartney criou a sua própria melodia,
escreveu os dois primeiros versos e manteve o restante do poeta Thomas Dekker. “Golden
Slumbers” possui uma melodia agradável em que Paul canta e toca piano,
acompanhado por George Harrison num baixo de seis cordas e Ringo Starr na
bateria. Os arranjos de orquestra são de George Martin.
O poeta e dramaturgo inglês, Thomas Dekker, autor do poema "Cradle Song", que inspirou Paul McCartney a compor "Golden Slumbers". |
Logo em
seguida começa “Carry That Weight”, mais uma canção escrita por Paul McCartney,
a qual em seus versos, reflete sobre o peso da fama que os Beatles carregavam
nas costas, a responsabilidade de gerir os negócios da Apple Corps., os
conflitos judiciais e os embates de Paul e Allen Klein. Há um trecho desta
faixa em que se repete a linha melódica de “You Never Give Me Your Money”,
porém com versos diferentes.
“The End” é
a faixa que encerra o medley, e se
apresenta como uma espécie de mensagem de despedida em forma de canção. Começa
em ritmo de rock com Paul McCartney num canto forte e agressivo, que logo é
interrompido para um solo de bateria de Ringo Starr. Após o solo de bateria, os
quatro Beatles partem para um hard rock em que John Lennon, George Harrison e
Paul McCartney tocaram guitarra, dando mais peso e agressividade à música. Mais
o hard rock interrompe bruscamente, cedendo espaço para um toque de piano
repetindo uma mesma nota que anuncia uma despedida em forma de versos: “And in the end / The love you take / Is
equal to / The love you make” (“E no
fim / O amor que você recebe / É igual ao amor que você dá”).
Pouco mais
de 20 segundos depois do fim de “The End”, eis que surge “Her Majesty”,
conhecida como a “faixa escondida”, pois ela não aparece no encarte e nem na
contracapa com a lista das faixas. “Her Majesty” é uma canção folk apenas com a
voz de Paul McCartney acompanhada de um violão. Na letra simples e bem singela,
Paul diz que ama Sua Majestade (a Rainha Elizabeth II), e que um dia ela será
dele, mas que para isso, vai ter que tomar muito vinho para ter coragem. Essa
pequena canção, seria incluída no medley,
mas ela não se ajustava às outras faixas, e por causa disso, McCarteney mandou
que a gravação fosse destruída. Mas o engenheiro de som, John Kurlander,
obedecendo ordens da EMI de que nenhuma gravação dos Beatles deveria ser
destruída, não só não a descartou como a colocou no final do álbum como uma
faixa surpresa. Quando o álbum ficou pronto, Paul acabou gostando da surpresa.
Um mês após
o lançamento de Abbey Road, espalharam uma notícia de que Paul McCartney estava
morto desde 1966, e que segundo os boatos, aquele que se passava por ele desde
então, seria na verdade um “dublê” dele. Os boatos também afirmavam que a capa
de Abbey
Road estava cheia de enigmas que podiam levar até o mais incrédulo fã a
acreditar que Paul estaria morto: John Lennon, à frente, todo de branco, seria
o “padre”; Ringo Starr, seria o “agente funerário”; Paul McCartney, descalço e
olhos fechados, seria o “cadáver”; George Harrison, mais atrás, seria o “coveiro”.
Para os teóricos da conspiração, o quarteto atravessando a faixa de pedestre
seria um “cortejo fúnebre”. Ao fundo, mais pistas: a placa do Volkswagen, “28
IF”, sugere que Paul teria 28 anos de idade, caso estivesse vivo (embora em
junho de 1969, ele tivesse feito 27 anos), e as letras LMW, seriam as inicias
de “Linda McCartney Widow” (Linda McCartney Viúva”); o carro preto estacionado,
é um modelo que era muito usado por funerárias na Inglaterra naquela época. A
capa de Abbey Road foi transformada pela teoria da conspiração numa
alegoria de uma suposta morte de Paul McCartney, que alimenta o imaginário da
cultura pop por décadas.
Detalhe da capa do álbum Abbey Road: supostos enigmas da capa alimentaram o imaginário dos fãs. |
Enquanto a
crítica teve uma reação “morna” quando Abbey Road foi lançado, a reação dos
fãs foi surpreendente, como há algum tempo não se via num lançamento de um novo
álbum dos Beatles. Abbey Road estreou em 1º lugar no Reino Unido, permanecendo no
topo por onze semanas. Perdeu o posto para Let It Bleed, dos Rolling Stones por
uma semana, mas retornou ao 1º lugar ficando por mais seis semanas. Nos Estados
Unidos, o álbum foi 1º lugar da Billboard
Top por doze semanas.
Comercialmente,
Abbey
Road teve um desempenho brilhante. Na Inglaterra, as encomendas antecipadas
do álbum ultrapassaram a marca das 190 mil cópias. Dois meses após o seu lançamento,
Abbey
Road atingiu a marca de 4 milhões de cópias. Nos Estados Unidos, onde havia
conquistado Disco de Ouro antes mesmo
de chegar às lojas, Abbey Road chegou à casa das 5 milhões de cópias vendidas em
junho de 1970, e ampliaria essa marca para 12 milhões de cópias vendidas
naquele país. Mundialmente, Abbey Road vendeu desde que foi
lançado, 31 milhões de cópias.
Em 1970, os
engenheiros de som Geoff Emerick e Phillip Donald, foram contemplados com o
prêmio Grammy na categoria “Melhor Álbum Projetado – Não Clássico”, pelo
trabalho desenvolvido no álbum Abbey Road.
Faixas
Lado A
- "Come Together"
- "Something" (George Harrison)
- "Maxwell's Silver Hammer"
- "Oh! Darling"
- "Octopus's Garden" (Richard Starkey)
- "I Want You (She's So Heavy)"
- "Here Comes The Sun" (George Harrison)
- "Because"
- "You Never Give Me Your Money"
- "Sun King"
- "Mean Mr. Mustard"
- "Polythene Pam"
- "She Came In Through The Bathroom Window"
- "Golden Slumbers"
- "Carry That Weight"
- "The End"
- "Her Majesty"
Todas as canções escritas por Lennon/McCartney, exceto as indicadas.
The Beatles: John Lennon (vocal, vocais de fundo guitarras
base, guitarra solo, violões, piano, piano elétrico e sintetizador Moog); Paul McCartney (vocal, vocais de fundo,
baixo, guitarra base, violão, piano, piano elétrico, sintetizador Moog, palmas
e percussão); George Harrison (vocal,
vocais de fundo guitarras base, guitarra solo, violões, baixo em "Maxwell's
Silver Hammer" e "Golden Slumbers / Carry That Weight"; harmônio
e sintetizador Moog; palmas e percussão; vocais principais (em
"Something" e "Here Comes the Sun"); Ringo Starr (bateria e percussão, bigorna em "Maxwell's Silver
Hammer", vocais de fundo e vocal principal em "Jardim do Polvo").
Referências:
Revista Beatles Documento – 1981, Editora Três
Bizz Especial – The Beatles – abril/2003, Editora Abril
The Beatles – A Biografia – Bob Spitz, 2007, Editora Larousse do Brasil
A batalha pela alma dos Beatles - Peter Doggett, 2012, Editora Nossa Cultura
As letras dos Beatles – A história por trás das canções – Hunter Davies, 2016, Editora
Planeta
Wikipedia
"Come Together"
"Something"
"Maxwell's Silver
Hammer"
"Oh! Darling"
"Octopus's
Garden"
"I Want You (She's So
Heavy)"
"Because"
"You Never Give Me Your
Money"
"Sun King"
"Mean Mr. Mustard"
"Polythene Pam"
"She Came In Through The
Bathroom Window"
"Golden Slumbers"
"Carry
That Weight"
"The
End"
"Her Majesty"
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