“Abbey Road” (Apple Records, 1969), The Beatles




Por Sidney Falcão

As gravações do projeto Get Back (que consistia num álbum e num filme, e que mais tarde foi renomeado Let It Be), foram cercadas de muitos desentendimentos entre os membros dos Beatles, repetindo o clima conflituoso das sessões de gravação do Álbum Branco. O projeto acabou sendo suspenso, e Paul McCartney, em mais uma tentativa em salvar a banda e mantê-la unida, telefonou para o produtor e arranjador George Martin, convidando-o para que ele produzisse um novo álbum dos Beatles.

O convite surpreendeu Martin, pois o produtor foi posto em segundo plano nas gravações do projeto Get Back. George Martin topou produzir o novo álbum sob a condição de que todo o processo de trabalho fosse “como nos velhos tempos”, quando não haviam brigas e nem intrigas nas sessões de gravação. Paul aceitou a condição do veterano produtor. Martin quis saber se John Lennon concordava em tê-lo conduzindo a produção novamente, Paul respondeu que sim.

George Martin, Paul McCartney e Ringo Starr, durante
as sessões de gravação do álbum Abbey Road.

As sessões de gravação do novo álbum começaram em 22 de fevereiro de 1969, no Trident Studios, em Londres, quase um mês depois que gravações do projeto Get Back foram concluídas.

Em 12 de março, Paul McCartney e Linda Eastman (que depois passa assinar Linda McCartney) se casaram em Londres. Uma semana depois, foi o casamento de John Lennon e Yoko Ono, que aconteceu em Gibraltar. Ao invés de uma lua-de-mel tradicional, o Lennon e Yoko decidiram promover, no Hotel Hilton de Amsterdã, o Bed-In, o famoso protesto pacífico pela paz em que os dois passam o dia todo na cama do quarto do hotel recebendo a imprensa mundial.

John Lennon e Yoko Ono: na cama pela paz mundial.

No mês seguinte, em abril, a Apple Corps (empresa criada pelos Beatles para cuidar dos negócios da banda após a morte do empresário do quarteto, Brian Epstein, em 1967) contrata Allen Klein para ser o gerente do grupo. Sua contratação teve apoio de John Lennon, George Harrison e Ringo Starr. Paul McCartney, único contrário à contratação de Klein, preferia o seu futuro sogro, o advogado Lee Eastman, pai de Linda.

Os Beatles decidem em maio fazer uma pausa de dois meses nas gravações do novo álbum para que cada membro pudesse cumprir compromissos particulares e também tirar férias. Ainda em maio, John e Yoko repetem o Bed-In, desta vez num quarto do Queen Elizabeth Hotel, em Montreal, no Canadá, durante dez dias.

As gravações do novo álbum são retomadas nos estúdios Abbey Road em 1° de julho de 1969, com Paul McCartney gravando seu vocal para a canção “You Never Give Me Your Money”. Naquele mesmo dia, John Lennon, Yoko Ono e Kyoko Cox (filha do primeiro casamento de Yoko), sofreram um acidente de carro na Escócia. Por estar se recuperando do acidente, Lennon se ausentou das gravações de algumas faixas do novo álbum depois do período de recesso da banda. Após a alta, Lennon retornou ao trabalho, porém Yoko, embora liberada também do hospital, foi aconselhada pelos médicos a repousar na cama. Para poder acompanhar o repouso de Yoko mais de perto, Lennon mandou instalar uma cama para ela nos estúdios Abbey Road. Evidente que a ideia não agradou muito os outros colegas de banda que se mostravam incomodados com a presença constante de Yoko nas sessões de gravação dos Beatles desde a época do Álbum Branco, se intrometendo e dando “pitacos” no que banda gravava.   

Mal Evans e Linda McCartney ao lado de Yoko Ono, que repousa numa cama instalada para ela
em pleno estúdio onde os Beatles gravavam o álbum Abbey Road.

Enquanto as gravações transcorriam razoavelmente bem, diferente do clima tenso e pesado do Álbum Branco e de Get Back, a banda decidia qual seria o título do novo álbum. A princípio, pensaram batizá-lo de Everest, marca do cigarro que o engenheiro de som, Geoff Emerick, fumava. Cogitou-se até enviar algum fotógrafo para fazer algumas fotos do monte Everest e que deu nome à marca de cigarro. Porém, devido ao prazo curto, a ideia foi logo cancelada e procuraram outro nome para o novo álbum. Optaram por uma solução mais simples e de custo baixíssimo: nomear o novo álbum com o nome da rua em frente aos estúdios de gravação, Abbey Road, e fazer a foto com a banda atravessando na faixa de pedestre da mesma rua. Mas há uma versão de que Paul McCartney já havia pensado previamente a ideia da capa da banda atravessando na faixa, inclusive havia feito um esboço à lápis de como seria a foto da capa.

No dia 8 de agosto de 1969, houve a sessão de fotos para a capa do novo álbum. Os Beatles atravessando várias vezes a faixa e sendo fotografados pelo fotógrafo Ian Macmillan, somando um total de seis fotografias, e dessas seis escolheram uma para a capa.

Sequência de fotos para a capa do álbum Abbey Road tiradas pelo fotógrafo Ian Macmillan.

Em 20 de agosto, o dia derradeiro: os Beatles participaram juntos daquela que foi a última sessão de gravação com os quatro juntos. Nesse dia, completaram os overdubs da faixa “I Want (She’s So Heavy)”, nos estúdios Abbey Road.

Dias antes do lançamento de Abbey Road, John Lennon comunicou aos colegas e a Allen Klein, que estava deixando a banda. No entanto, Lennon fechou um acordo com os demais para manter em sigilo o seu desligamento para não atrapalhar o processo de renovação de contrato dos Beatles com a Capitol Records, subsidiária norte-americana da EMI.

Finalmente, em 26 de setembro de 1969, era lançado o álbum Abbey Road. Especialistas e críticos musicais afirmam que Abbey Road é o mais bem produzido álbum dos Beatles, estando em pé de igualdade com Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967). Ainda que não fosse surpresa o cuidado técnico e artístico da banda com os seus álbuns, intensificado a partir de Rubber Soul (1965), houve em Abbey Road um apuro técnico ainda maior, e que é percebido pelo ouvinte mais atento e exigente. Isso se deve não só à experiência do produtor George Martin, mas também aos engenheiros de som Geoff Emerick, Phillip McDonald e Alan Parsons (o mesmo que trabalhou no álbum Dark Side Of The Moon, do Pink Floyd). Eles tiveram um papel muito importante para que a sonoridade do álbum alcançasse um nível impecável de qualidade, tornando-se essa uma das principais características de Abbey Road.

O engenheiro de som Geoff Emerick e Paul McCartney.

Neste que é o último álbum gravado pelos Beatles, a banda inglesa chegou ao ápice da maturidade musical enquanto esteve em atividade. Paul McCartney, mentor do álbum e o mais comprometido em manter a banda unida em meio à crise pela qual ela passava, se destaca pelo medley do lado B da versão LP do álbum, uma verdadeira “maratona” musical de tirar o fôlego. George Harrison, que a cada álbum dos Beatles crescia como compositor, se consagra nessa condição com joias como “Here Comes The Sun” e “Something”. John Lennon, que ao lado de Yoko despontava como um artista engajado nas causas pacifistas, participou de poucas sessões de gravação de Abbey Road, mas comparece com duas das melhores canções que já escreveu, “Come Together” e “Because”. A bateria de Ringo Starr soa mais forte e encorpada, o que revela a importância do trabalho de engenharia de som de Geoff Emerick.

Os Beatles foram uma das primeiras bandas da história do rock a fazer uso de um sintetizador, e essa façanha aconteceu justamente no álbum Abbey Road. A banda usou o sintetizador Moog IIIP, que fora adquirido por George Harrison e usado no seu segundo álbum solo Electronic Sound, lançado em maio de 1969, um trabalho em que o beatle faz experimentações com a sonoridade eletrônica. O equipamento enorme e de manejo um tanto quanto complexo para época, foi utilizado pelos Beatles no álbum Abbey Road, mais especificamente nas faixas "Maxwell's Silver Hammer", "I Want You (She's So Heavy)", "Here Comes The Sun" e "Because". 

Ringo Starr e George Harrison diante do sintetizador Moog usado em algumas faixas
do álbum Abbey Road

Abbey Road ficou também marcado por ter dois lados distintos. O lado A é formado por canções independentes e que refletiam a individualidade de cada membro da banda, como queria Lennon. Já o lado B, o lado épico do álbum, é onde está o medley de canções curtas, uma solução que Paul McCartney havia encontrado para dar conta de canções que estavam inacabadas.

O álbum é ao mesmo tempo um trabalho de despedida, embora não houvesse na época de sua gravação, nenhuma declaração de que a banda se dissolveria após o lançamento do álbum. Mas um clima de fim de jornada já pairava sobre o quarteto.

“Come Together” é quem abre o álbum, e que apesar de levar o crédito Lennon-McCartney, a música foi composta por John Lennon a pedido do psicólogo e guru do LSD, Timothy Leary, que estava se candidatando a governador do estado Califórnia. A letra foi baseada na frase de campanha de Leary: “Come together, join the party” (“Vamos juntos, junte-se à festa”). Contudo, Leary foi preso por porte de drogas e sua campanha eleitoral naufragou. Assim, a música feita para campanha eleitoral de Leary, acabou sendo gravada pelos Beatles para o álbum Abbey Road. Na introdução e depois de cada refrão, Lennon diz “shoot me” (“injete-me”), que supostamente fazia referência a uma gíria da época ao uso de heroína. Como a linha de baixo é tão forte e pulsante, a expressão fica quase incompreensível.

O psicólogo Timothy Leary, "o papa do LSD".

A faixa seguinte é “Something”, uma das mais belas canções de amor da história do rock. “Something” foi composta por George Harrison na época das gravações do Álbum Branco, em 1968, mas não ficou pronta a tempo para entrar naquele álbum. A inspiração de Harrison para compor “Something” foi a sua então esposa, a modelo Pattie Boyd. Com uma melodia tão linda e marcante, “Something” consagrou o talento de Harrison como compositor, a tal ponto de ser a primeira canção dele a figurar no lado A de um single dos Beatles. “Something” foi regravada pelos mais diversos artistas, dentre eles Frank Sinatra (1915-1998), que equivocadamente costumava anuncia-la nos seus shows como sendo de autoria da dupla Lennon-McCartney.

“Maxwell’s Silver Hammer” foi escrita por Paul McCartney, e é talvez a música com letra mais bizarra já gravada pelos Beatles. O ritmo alegre e descontraído embala McCartney a cantar sobre um estudante de medicina chamado Maxwell Edison, que cometia assassinatos martelando a cabeça das vítimas com um martelo de prata. A bizarrice causou asco até mesmo em John Lennon, que apesar de não ter participado das gravações dessa música, ele a detestava. Ringo Starr e George Harrison também comungavam da mesma opinião de Lennon. McCartney, que compôs, tocou baixo, piano e guitarra base, tocou também sintetizador Moog, e acreditava piamente que a música faria um grande sucesso.

“Oh! Darling” é uma balada romântica bem ao estilo das canções dos anos 1950. Foi composta por Paul para entrar no projeto do álbum Get Back, o que acabou não acontecendo. Para fazer com que a sua voz soasse tão grave e agressiva, Paul gravou vários vocais de manhã cedo nos estúdios Abbey Road para ganhar uma aparência desgastada e rouca como a de um bluesman.  A letra de “Oh! Darling” trata de um homem apaixonado que implora para que a sua amada acredite nele e não o abandone.

Ringo Starr, George Harrison e John Lennon num intervalo de gravações do álbum Abbey Road.

A faixa seguinte “Octopus’s Garden” foi a segunda canção composta por Ringo Starr para os Beatles (a primeira foi “Don't Pass Me By”, do Álbum Branco). A ideia para compor esta canção surgiu durante um passeio de Ringo Starr e sua esposa na Sardenha, na Itália, no barco do ator Peter Sellers, onde o capitão da embarcação contou ao baterista que os polvos têm o hábito de catar pedras para construir um abrigo com aparência de jardim. George Harrison ajudou Ringo Starr a compor a música, mas deu todo o crédito ao baterista. Divertida e lúdica, a letra fala sobre amigos que mergulham no fundo do mar para visitar o jardim dos polvos. Em “Octopus’s Garden”, os Beatles reencontram o psicodelismo dos tempos de Revolver e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, e seu clima infantil remete a “Yellow Submarine”. Os vocais estranhos que aparecem no meio da música, são na verdade de Paul McCartney e George Harrison fazendo os vocais de apoio, e que passaram por um processo de efeitos de estúdio para que ganhassem a aparência de vocais de criaturas aquáticas. O som borbulhante foi criado por Ringo Starr soprando bolhas num copo de leite através de um canudo.

“I Want You (She’s So Heavy)” foi escrita por John Lennon, que embora tenha uma letra muito curta, é uma das músicas mais longas já gravadas pelos Beatles, pouco mais de sete minutos. Foi mais uma canção escrita durante as sessões de gravação do projeto Get Back no início de 1969, e que deu origem ao álbum Let It Be. Dedicada a Yoko, “I Want You (She’s So Heavy)” veio da junção de duas canções que Lennon possuía. Musicalmente, “I Want You (She’s So Heavy)” transita entre o blues rock e o hard rock, muito por conta da parede sonora de guitarras executadas por John Lennon e George Harrison. Na reta final da faixa, em meio ao peso sonoro das guitarras, surge um som de ventania criados por Lennon através do sintetizador Moog de Harrison. O corte abrupto que encerra a música, teria sido um pedido de Lennon.   

O lado B da versão LP de Abbey Road começa com o belíssimo folk rock “Here Comes The Sun”, outra obra prima de George Harrison presente no álbum e que ao lado de “Something”, ajudou na consagração do músico como compositor. Numa tentativa de fugir das burocráticas e estressantes reuniões de negócios da Apple Corps., Harrison refugiou-se na casa de Eric Clapton, onde havia um bucólico jardim em que o beatle encontrou inspiração para compor “Here Comes The Sun”. Nos versos simples e alegres, Harrison procura expressar toda sua sensação de liberdade, de bem-estar e de esperança. Nas gravações da canção, Harrison contou apenas com Paul McCartney (vocais de apoio, baixo e palmas) e Ringo Starr (bateria e palmas). John não participou porque estava se recuperando do acidente de carro que sofreu em junho de 1969, na Escócia. Harrison ficou a cargo dos vocal principal, vocal de apoio, violão, guitarra, palmas e sintetizador Moog. O produtor George Martin foi responsável pelos arranjos e condução da orquestra.

George Harrison e Paul McCartney gravando vocais para a canção "Here Comes The Sun".

“Because” foi escrita depois que John Lennon ouviu Yoko Ono tocar ao piano “Sonata Ao Luar”, também conhecida como “Sonata Para Piano Nº14, Opus 27”, de Beethoven. Aquilo chamou a atenção de Lennon que pediu para a esposa tocar a mesma música no sentido contrário. Foi a partir daí que John Lennon teve a inspiração para criar a linha melódica de “Because”. O grande destaque desta canção é a harmonização vocal maravilhosa de John Lennon, Paul McCartney e George Harrison. Durante o processo de mixagem, os vocais foram sobrepostos três vezes, e o resultado é a sensação de se estar ouvindo um coro de nove vozes. Por traz das vozes, ouve-se o sintetizador fazendo o pano de fundo musical.

Escrita por Paul McCartney, embora leve o crédito da dupla Lennon-McCartney, “You Never Give Me Your Money” é uma clara crítica endereçada a Allen Klein, gerente da Apple Corps. Paul suspeitava que Klein estaria envolvido em desvios dos negócios do Beatles. “You Never Give Me Your Money” começa como uma balada calma e doce, com Paul cantando acompanhado de um piano. Em seguida, a música toma um novo ritmo com a entrada de baixo, guitarra, bateria e outros instrumentos, que darão andamentos à canção. Enquanto a canção vai chegando ao fim, ouve-se cantos de grilos que servem de conexão com a faixa seguinte, dando início ao medley de canções curtas.

Allen Klein, gerente do Beatles, e alvo de críticas de Paul McCartney na canção
"You Never Give Me Your Money". 


O canto de grilos que iniciou-se ao final de “You Never Give Me Your Money” é o mesmo que se ouve na abertura de “Sun King”, canção composta por John Lennon após ler a biografia de Luís XIV, da França, conhecido como “Rei Sol” e que reinou entre 1643 e 1715. A música quase se chamou “Here Comes The Sun King”, mas para evitar confusão com “Here Comes The Sun”, de Harrison, foi intitulada apenas “Sun King”. A linha melódica da guitarra executada George Harrison em “Sun King”, foi inspirada na de “Albatross”, do Fleetwood Mac. A curiosidade nesta música é a mistura de versos em espanhol, italiano e português, cantados pelos Beatles numa bela harmonização vocal. A música termina repentinamente, e um rufar de tambores dá início à próxima faixa.

“Mean Mr. Mustard” foi escrita por John Lennon durante o retiro espiritual dos Beatles na Índia, em 1968. A letra da música teve como inspiração uma notícia que Lennon leu num jornal indiano, em que um homem avarento havia escondido dinheiro no ânus. No entanto, na letra de “Mean Mr. Mustard”, o avarento da canção, Mr. Mustard, esconde uma nota de dez na narina. Mas ao contrário do que algumas pessoas disseram, na letra de sua canção, Lennon não teve a intenção de fazer associação com cheirar cocaína. Uma curiosidade nesta canção Mr. Mustard é retratado como irmão de Pam, a garota da canção “Polythene Pam”, a faixa que seguinte a “Mean Mr. Mustard”.

Os Beatles fotografados por Linda McCartney na escadaria de entrada dos
estúdios da EMI, em Abbey Road, Londres, pouco antes da sessão
de fotos para a capa do álbum Abbey Road.

 “Polythene Pam” é mais uma canção de Lennon da safra de canções compostas por ele na Índia. A canção teria sido escrita por John Lennon fazendo referência a uma fã dos Beatles, Pat Hodgett, da época em que o quarteto inglês tocava no Cavern Club. Seu apelido era Polythene Pat por causa do seu estranho hábito de comer polietileno, um tipo de material plástico. Para a canção, Lennon trocou “Pat” por “Pam”. No entanto, há uma versão de que a inspiração de Lennon foi um amigo dele, do início da carreira dos Beatles, o poeta beat inglês Roystom Ellis, que costumava fazer sexo pervertido com a namorada enrolados em plásticos.

Na sequência, “She Came In Through The Bathroom Window”, canção escrita por Paul McCartney baseado num fato inusitado em que uma fã dos Beatles, Diane Ashley, conseguiu invadir a casa de McCartney entrando pela janela do banheiro. Ela fazia parte de um grupo de fãs dos Beatles chamado Apple Scruff, que costumava circular próximo aos estúdios da Abbey Road, à Apple Corps. e às residências dos quatro membros dos Beatles. A garota teria levado alguns pertences de McCartney como roupas, objetos pessoas e até uma fotografia do pai do baixista, Jim McCartney, que acabou sendo devolvida.

A balada “Golden Slumbers” foi escrita por Paul McCartney depois que ele foi à casa de seu pai, Jim McCartney, onde viu sobre o piano, partituras de uma canção de ninar, cujos versos são do poema “Cradle Song”, do poeta inglês Thomas Dekker (1572-1632) escritos por ele em 1606. As partituras eram de sua meia-irmã, Ruth McCartney, na época com cerca de oito anos de idade, fruto do segundo casamento de seu pai. Como não lia partituras, Paul McCartney criou a sua própria melodia, escreveu os dois primeiros versos e manteve o restante do poeta Thomas Dekker. “Golden Slumbers” possui uma melodia agradável em que Paul canta e toca piano, acompanhado por George Harrison num baixo de seis cordas e Ringo Starr na bateria. Os arranjos de orquestra são de George Martin.

O poeta e dramaturgo inglês, Thomas Dekker, autor do poema "Cradle Song",
que inspirou Paul McCartney a compor "Golden Slumbers".

Logo em seguida começa “Carry That Weight”, mais uma canção escrita por Paul McCartney, a qual em seus versos, reflete sobre o peso da fama que os Beatles carregavam nas costas, a responsabilidade de gerir os negócios da Apple Corps., os conflitos judiciais e os embates de Paul e Allen Klein. Há um trecho desta faixa em que se repete a linha melódica de “You Never Give Me Your Money”, porém com versos diferentes. 

“The End” é a faixa que encerra o medley, e se apresenta como uma espécie de mensagem de despedida em forma de canção. Começa em ritmo de rock com Paul McCartney num canto forte e agressivo, que logo é interrompido para um solo de bateria de Ringo Starr. Após o solo de bateria, os quatro Beatles partem para um hard rock em que John Lennon, George Harrison e Paul McCartney tocaram guitarra, dando mais peso e agressividade à música. Mais o hard rock interrompe bruscamente, cedendo espaço para um toque de piano repetindo uma mesma nota que anuncia uma despedida em forma de versos: “And in the end / The love you take / Is equal to / The love you make” (“E no fim / O amor que você recebe / É igual ao amor que você dá”).

Pouco mais de 20 segundos depois do fim de “The End”, eis que surge “Her Majesty”, conhecida como a “faixa escondida”, pois ela não aparece no encarte e nem na contracapa com a lista das faixas. “Her Majesty” é uma canção folk apenas com a voz de Paul McCartney acompanhada de um violão. Na letra simples e bem singela, Paul diz que ama Sua Majestade (a Rainha Elizabeth II), e que um dia ela será dele, mas que para isso, vai ter que tomar muito vinho para ter coragem. Essa pequena canção, seria incluída no medley, mas ela não se ajustava às outras faixas, e por causa disso, McCarteney mandou que a gravação fosse destruída. Mas o engenheiro de som, John Kurlander, obedecendo ordens da EMI de que nenhuma gravação dos Beatles deveria ser destruída, não só não a descartou como a colocou no final do álbum como uma faixa surpresa. Quando o álbum ficou pronto, Paul acabou gostando da surpresa. 

Um mês após o lançamento de Abbey Road, espalharam uma notícia de que Paul McCartney estava morto desde 1966, e que segundo os boatos, aquele que se passava por ele desde então, seria na verdade um “dublê” dele. Os boatos também afirmavam que a capa de Abbey Road estava cheia de enigmas que podiam levar até o mais incrédulo fã a acreditar que Paul estaria morto: John Lennon, à frente, todo de branco, seria o “padre”; Ringo Starr, seria o “agente funerário”; Paul McCartney, descalço e olhos fechados, seria o “cadáver”; George Harrison, mais atrás, seria o “coveiro”. Para os teóricos da conspiração, o quarteto atravessando a faixa de pedestre seria um “cortejo fúnebre”. Ao fundo, mais pistas: a placa do Volkswagen, “28 IF”, sugere que Paul teria 28 anos de idade, caso estivesse vivo (embora em junho de 1969, ele tivesse feito 27 anos), e as letras LMW, seriam as inicias de “Linda McCartney Widow” (Linda McCartney Viúva”); o carro preto estacionado, é um modelo que era muito usado por funerárias na Inglaterra naquela época. A capa de Abbey Road foi transformada pela teoria da conspiração numa alegoria de uma suposta morte de Paul McCartney, que alimenta o imaginário da cultura pop por décadas.

Detalhe da capa do álbum Abbey Road: supostos enigmas da capa alimentaram
o imaginário dos fãs.

Enquanto a crítica teve uma reação “morna” quando Abbey Road foi lançado, a reação dos fãs foi surpreendente, como há algum tempo não se via num lançamento de um novo álbum dos Beatles. Abbey Road estreou em 1º lugar no Reino Unido, permanecendo no topo por onze semanas. Perdeu o posto para Let It Bleed, dos Rolling Stones por uma semana, mas retornou ao 1º lugar ficando por mais seis semanas. Nos Estados Unidos, o álbum foi 1º lugar da Billboard Top por doze semanas.

Comercialmente, Abbey Road teve um desempenho brilhante. Na Inglaterra, as encomendas antecipadas do álbum ultrapassaram a marca das 190 mil cópias. Dois meses após o seu lançamento, Abbey Road atingiu a marca de 4 milhões de cópias. Nos Estados Unidos, onde havia conquistado Disco de Ouro antes mesmo de chegar às lojas, Abbey Road chegou à casa das 5 milhões de cópias vendidas em junho de 1970, e ampliaria essa marca para 12 milhões de cópias vendidas naquele país. Mundialmente, Abbey Road vendeu desde que foi lançado, 31 milhões de cópias.

Em 1970, os engenheiros de som Geoff Emerick e Phillip Donald, foram contemplados com o prêmio Grammy na categoria “Melhor Álbum Projetado – Não Clássico”, pelo trabalho desenvolvido no álbum Abbey Road.

Faixas

Lado A
  1. "Come Together"
  2. "Something" (George Harrison)
  3. "Maxwell's Silver Hammer" 
  4. "Oh! Darling" 
  5. "Octopus's Garden" (Richard Starkey)
  6. "I Want You (She's So Heavy)" 
Lado B
  1. "Here Comes The Sun" (George Harrison)   
  2. "Because"      
  3. "You Never Give Me Your Money"   
  4. "Sun King" 
  5. "Mean Mr. Mustard"
  6. "Polythene Pam" 
  7. "She Came In Through The Bathroom Window" 
  8. "Golden Slumbers" 
  9. "Carry That Weight" 
  10. "The End"       
  11. "Her Majesty" 

Todas as canções escritas por Lennon/McCartney, exceto as indicadas.

The Beatles: John Lennon (vocal, vocais de fundo guitarras base, guitarra solo, violões, piano, piano elétrico e sintetizador Moog); Paul McCartney (vocal, vocais de fundo, baixo, guitarra base, violão, piano, piano elétrico, sintetizador Moog, palmas e percussão); George Harrison (vocal, vocais de fundo guitarras base, guitarra solo, violões, baixo em "Maxwell's Silver Hammer" e "Golden Slumbers / Carry That Weight"; harmônio e sintetizador Moog; palmas e percussão; vocais principais (em "Something" e "Here Comes the Sun"); Ringo Starr (bateria e percussão, bigorna em "Maxwell's Silver Hammer", vocais de fundo e vocal principal em "Jardim do Polvo").

Referências:
Revista Beatles Documento – 1981, Editora Três
Bizz Especial – The Beatles – abril/2003, Editora Abril
The Beatles – A Biografia – Bob Spitz, 2007, Editora Larousse do Brasil
A batalha pela alma dos Beatles - Peter Doggett, 2012, Editora Nossa Cultura
As letras dos Beatles – A história por trás das canções – Hunter Davies, 2016, Editora Planeta
Wikipedia


"Come Together" 

"Something"

 
"Maxwell's Silver Hammer"  

"Oh! Darling"  

"Octopus's Garden"

"I Want You (She's So Heavy)"

"Here Comes The Sun"


"Because"


"You Never Give Me Your Money"   

"Sun King"


"Mean Mr. Mustard"

"Polythene Pam" 

"She Came In Through The Bathroom Window" 

"Golden Slumbers" 

"Carry That Weight" 

"The End" 

"Her Majesty" 









  



Comentários