10 discos essenciais: Divas do Rock
Por Sidney Falcão
A presença feminina no rock vem desde os primórdios do rock’n’roll, quando este, na virada dos anos 1940 para os anos 1950, estava em plena “gestação”. Cantoras como Albennie Jones (1914-1989) e Sister Rosetta Tharpe (1915-1973), foram algumas das pioneiras que abriram caminho para que as mulheres adentrassem no mundo do rock, sejam cantando ou tocando algum instrumento.
Nesta mais nova edição do 10 discos essenciais, confira dez álbuns importantes de mulheres
que deixaram os seus nomes cravados na história do rock. Aqui não se trata necessariamente
dos melhores ou os dez maiores álbuns de rock gravados por mulheres, mas alguns
dos mais relevantes. Não entraram álbuns de bandas femininas ou bandas mistas
com vocalistas femininas. A prioridade foi álbuns gravados por cantoras solo.
Confira e se divirta.
Pearl (Columbia,
1971), Janis Joplin. Em 1970, após o fim da Kozmic Blues
Band, Janis Joplin montou uma nova banda de apoio, a Full Tilt Boogie Band. Com
ela, Janis gravou o seu segundo álbum solo, o ótimo Pearl. Janis entrou em
estúdio em setembro de 1970, e quando já estava na finalização das gravações do
álbum, ela faleceu vítima de uma overdose de heroína em 4 de outubro daquele
mesmo ano. O álbum foi lançado três meses após a sua morte. Em Pearl,
Janis se mostra no seu melhor momento, cantando de uma maneira formidável como
nas emocionantes “A Woman Left Lonely” e “Cry Baby”. “Me And Bobby McGee” (1º
lugar na parada Hot 100 da Billboard) e “Mercedez Benz” são as
canções mais conhecidas de Pearl. O álbum traz como curiosidade: “Buried Alive In The Blues”, faixa que Janis não teve tempo de pôr voz porque
havia morrido. Sem a voz de Janis, a faixa acabou virando uma música
instrumental.
Horses (Arista,
1975), Patti Smith. Conhecida como a “Poetisa do Punk”, Patti
Smith foi responsável por injetar poesia e engajamento feminista no punk.
Destacou-se como uma das mais politizadas cantoras da história do rock. Horses
é seu primeiro álbum, que contou com a produção de um dos fundadores da
banda Velvet Underground, o músico e produtor John Cale. O álbum traz como
proposta o encontro do punk com a poesia, e que se tornaria uma marca na
carreira da cantora norte-americana. O grande destaque de Horses é a releitura que
Patti faz de “Gloria”, de Van Morrison, que na sua versão, ganhou novos versos,
mantendo apenas o refrão original. Os versos “Jesus morreu pelos pecados de alguém / Não pelos meus”, chocou o
público na época. E ainda deve chocar.
Rita Lee (Som Livre, 1979), Rita Lee. O álbum Rita Lee marca uma nova fase da
ex-vocalista dos Mutantes. A partir deste álbum, o primeiro após a sua separação do Tutti-Frutti, ela inicia a parceria com o
marido Roberto de Carvalho, redireciona a sua música para uma sonoridade mais
pop e “palatável” para as grandes massas, o que a torna uma das cantoras campeãs
em vendas de discos no Brasil. “Mania De Você” se torna um enorme sucesso
nacional, assim como “Doce Vampiro”, “Chega Mais” e “Arrombou A Festa II”, o
que faz o álbum ser um dos mais vendidos do ano.
Koo
Koo (Chrysalis, 1981), Debbie Harry. Com o Blondie dando uma pausa,
Debbie Harry aproveitou a ocasião para gravar o seu primeiro álbum solo. No entanto, ela buscava gravar um álbum diferente do que ela fazia no Blondie. Para
isso, Debbie escalou a dupla cerebral do Chic, Nile Rodgers e Bernard Edwards,
que além de músicos, estavam em alta como produtores. Acostumados a tocar e
produzir trabalhos voltados para o funk, soul, R&B e disco music, produzir um álbum para uma cantora de rock era uma novidade na carreira de Nile e
Bernard. Na época de seu lançamento, Koo Koo não agradou a imprensa
musical. A capa, criada pelo artista plástico HG Ginger (1940-2014), não só
chocou a crítica como também a opinião pública. Musicalmente, Koo Koo promove a mistura
do pop com o rock, funk e até reggae. O
álbum antecipa a sonoridade de álbuns como Let’s Dance (1983), de David Bowie, Like A Virgin (1984), de Madonna, e autointitulado álbum do Powe Station, de 1985.
She's So Unusual (Portrait, 1983), Cyndi Lauper. Após a implosão da Blue
Angel, uma banda nova-ioquina de new wave de pouca projeção do começo dos anos
1980, Cyndi Lauper lançou em 1983 o seu primeiro álbum solo, She’s
So Unusual, que trafega musicalmente entre a new wave, pop e synthpop.
A crítica foi toda elogios, enquanto que o público adquiriu mais de 20 milhões
de cópias. Cyndi ficou marcada pela sua voz estridente e o visual extravagante.
Quase todas as faixas do álbum viraram sucessos radiofônicos. “Girls Just Want
To Have Fun” virou um hino feminista. “She Bop” faz alusão à masturbação. A
balada romântica “Time After Time” foi uma das faixas do álbum mais executadas
em rádio em todo o planeta.
Private Dancer (Capitol, 1984), Tina Turner. Private
Dancer representou
o renascimento da carreira artística de Tina Turner, após o divórcio com Ike
Turner (1931-2007) e anos no ostracismo. A sonoridade do álbum é calcada no pop
e rock, com ênfase nos sintetizadoras, o que fez Tina aproximar-se do synthpop, mas sem diminuir a presença
das guitarras. Puxado pelos hits “What's Love Got To Do With It”, “Private
Dancer” e a regravação de “Let's Stay Together”, antigo sucesso de Al Green, Private
Dancer vendeu mais de 20 milhões de cópias desde que foi lançado, além
de ter conquistado 4 prêmios Grammy. Private Dancer ainda incluiu uma
regravação de “1984”, de David Bowie, e uma versão completamente diferente de
“Help!”, dos Beatles, que com Tina, virou um surpreendente gospel.
Cássia
Eller (PolyGram, 1994), Cássia Eller. Após dar à luz o seu primeiro e
único filho, Francisco Eller, o Chicão, em 1993, Cássia Eller lançou o seu
terceiro e homônimo álbum solo. Cássia vinha de dois álbuns que tiveram
baixíssima vendagem, principalmente o segundo, O Marginal, de 1992. Em
seu terceiro álbum, Cássia caprichou no repertório, que foi muito bem
construído e mostra a versatilidade musical da cantora que vai desde um
clássico do samba (“Na Cadência Do Samba”) ao baião-soul de Tim Maia (“Coroné
Antônio Bento”), passando pela MPB com “E.C.T.” No rock ela se sente à vontade
como na releitura bem pessoal e impecável para “Lanterna Dos Afogados”, dos
Paralamas do Sucesso, (participação especial de Wander Taffo num solo de guitarra
arrasador) e em “Partners”, do RPM. “1º de Julho” foi composta por Renato Russo
especialmente para Cássia quando ela estava grávida. “Música Urbana 2”, da
Legião, virou um blues rock com uma performance vocal de Cássia devastadora. O
terceiro álbum de Cássia Eller vendeu 150 mil cópias, mais do que os dois
primeiros álbuns juntos.
Jagged Little Pill (Maverick, 1995), Alanis Morrissette. Após os dois primeiros álbuns com uma orientação pop
adolescente, Alanis Morrissete surpreendeu a crítica e os fãs, aos 21 anos de
idade com o seu terceiro álbum solo, Jagged Little Pill. Completamente
diferente dos dois álbuns anteriores, Jagged Little Pill mostra a proposta
musical de Alanis mais alinhada ao grunge, uma sonoridade mais roqueira,
fazendo bastante uso de guitarra, baixo, bateria, da gaita (o que dá um toque
de folk music) somados a batidas eletrônicas. Os temas abordados por Alanis em
suas canções no álbum giram em torno de experiências em seus relacionamentos
amorosos, castração religiosa, e críticas aos chefões de gravadoras e o assédio sexual
deles sobre as cantoras. Jagged Little Pill fez um estrondoso
sucesso comercial, atingindo a marca de 35 milhões de cópias. Além do sucesso
comercial, foi um marco da presença feminina no rock, conquistando uma legião
de fãs, em sua maioria garotas adolescentes que se identificaram com as canções
confessionais de Alanis como “You Learn”, “Ironic”, “You Oughta Know”, “Head
Over Feet” e “Hand In My Pocket”.
Stories
From The City, Stories From The Sea (Island, 2000), PJ Harvey. A
inglesa PJ Harvey destacou-se como uma das principais vozes de uma nova geração
de cantoras de rock que despontava nos anos 1990. Mas foi em 2000 que Harvey
lançou talvez o seu trabalho mais acessível comercialmente, Stories
From The City, Stories From The Sea, seu quinto álbum solo. Gravado na
Inglaterra, o álbum, no entanto traz canções inspiradas em Nova York, cidade
onde a cantora passou uma temporada. Harvey conta com a participação especial
de Thom York, vocal do Radiohead, em dueto nas faixas “One Line” (tocando
também teclados), “Beautiful Feeling” e “This Mess We're In”. Aclamado pela
crítica, Stories From The City, Stories From The Sea vendeu 1 milhão de
cópias. Levou PJ Harvey a ser indicada ao BRIT Award como “Melhor Artista
Feminina Britânica” e duas indicações ao Grammy de “Melhor Álbum de Rock” e “Melhor
Performance Feminina de Rock” pelo single
“This Is Love”. Em 2001, o álbum ganhou o Mercury
Size, prêmio concedido ao melhor álbum do ano no Reino Unido.
Admirável Chip Novo (Deck Disk, 2003), Pitty. Quando Pitty apareceu no cenário
musical brasileiro em 2003, ela subverteu todos os valores que se espera de uma
cantora vinda da Bahia: não era uma diva da MPB e muito menos uma cantora
esfuziante de axé music. Era uma cantora de rock que lançava o seu primeiro
álbum solo, Admirável Chip Novo. O álbum apresenta uma bem costurada colcha
de influências que vão do punk rock ao grunge, passando pelo hard rock. Quase
todas as faixas viraram hits, dentre elas “Teto de Vidro” e “Equalize”,
“Máscara” e a faixa-título, fazendo Admirável Chip Novo vender mais de
700 mil cópias. Não seria exagero afirmar que Admirável Chip Novo é um
dos melhores álbuns de estreia da história do rock brasileiro.
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