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Ouça o que Eu Digo: Não Ouça Ninguém (BMG, 1988), Engenheiros do Hawaii

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Por Sidney Falcão Após o relativo sucesso de A Revolta dos Dândis (1987) e da extensa Infinita Tour , os Engenheiros do Hawaii evoluíram artisticamente, refinando sua presença de palco. Humberto Gessinger consolidou-se no baixo, enquanto Augusto Licks desenvolveu uma estética peculiar, evocando a imagem de Clark Kent—um contraste marcante frente à estética despojada do rock alternativo da época. Um momento decisivo foi a apresentação no festival Alternativa Nativa, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, em julho de 1988. Na ocasião, a banda demonstrou vigor de palco superior ao Capital Inicial, recebendo elogios da crítica e consolidando-se como uma das formações mais consistentes ao vivo no Brasil.   A construção de um novo som   Com a reputação consolidada no cenário nacional, os Engenheiros do Hawaii iniciaram, em julho de 1988, a gravação de seu terceiro álbum de estúdio, Ouça o que Eu Digo: Não Ouça Ninguém . As gravações do seu terceiro álbum ocorreram nos estúdios ...

A Charlie Brown Christmas (Fantasy Records, 1965), Vince Guaraldi Trio

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Por Sidney Falcão   Lançado em 1965, A Charlie Brown Christmas , do Vince Guaraldi Trio, é um dos álbuns natalinos mais icônicos de todos os tempos. Originalmente criado como a trilha sonora de um especial de animação, o disco rapidamente transcendeu seu contexto inicial para se consolidar como um clássico não apenas do jazz, mas da cultura pop como um todo. A genialidade do pianista Vince Guaraldi (1928-1976), que soube unir sofisticação harmônica, lirismo melódico e uma abordagem inovadora à música natalina tradicional, fez do álbum uma obra atemporal, celebrada por gerações há quase seis décadas.   Antes de se tornar a principal assinatura musical do universo de Peanuts , Vince Guaraldi já era um respeitado pianista no mundo do jazz. Nascido em São Francisco, em 1928, ele iniciou sua carreira na década de 1950, tocando ao lado de nomes consagrados como  Cal Tjader (1925-1982) ,  Woody Herman (1913-1987)  e  Stan Getz (1927-1991) . Durante esse períod...

A Voz do Samba (Philips, 1975), Alcione

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Por Sidney Falcão Alcione Dias Nazareth, ou simplesmente Alcione, poderia ter seguido a carreira do pai, mestre de banda da Polícia Militar do Maranhão, e se tornado uma musicista erudita. Ou, quem sabe, uma professora primária, profissão para a qual chegou a se formar. Mas a voz que possuía – potente, encorpada, de timbre inconfundível – apontava outro caminho. Desde criança, encantava familiares e amigos com sua habilidade natural para cantar. Aos 12 anos, subiu ao palco pela primeira vez, substituindo a crooner de uma orquestra local. A partir dali seu destino estava selado.   Determinada a transformar o talento em carreira, Alcione trocou São Luís, sua cidade natal, pelo Rio de Janeiro em 1967, aos 20 anos. A mudança não foi fácil: para se sustentar, trabalhou como balconista em uma loja de discos. Mas a música sempre esteve em primeiro plano. Infiltrou-se no circuito de bares e casas noturnas, tornando-se presença frequente no Beco das Garrafas, lendário reduto da bossa n...

Out Of Time (Warner, 1991), R.E.M.

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Por Sidney Falcão Após a extensa turnê do álbum Green (1988), os integrantes do R.E.M. decidiram se afastar temporariamente da estrada para se dedicar à composição e gravação de um novo disco. Essa pausa permitiu que a banda expandisse seu vocabulário musical, afastando-se do jangle pop característico de seus primeiros trabalhos e incorporando arranjos mais sofisticados, com cordas, bandolim e instrumentos pouco usuais no rock alternativo. O resultado foi Out of Time , um álbum que desafiava categorizações e ampliava o espectro sonoro do grupo.   O processo de gravação foi marcado por uma abordagem colaborativa e experimental. Os integrantes trocaram de instrumentos: Mike Mills assumiu os teclados, Bill Berry migrou para o baixo e Peter Buck se aprofundou no bandolim e em outras texturas acústicas. Além disso, o R.E.M. contou com participações especiais nas gravações, como Kate Pierson, do B-52's, e o rapper KRS-One. Essa abertura a novas influências resultou em um som mais di...

Stories From The City, Stories From The Sea (Island Records, 2000), PJ Harvey

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Por Sidney Falcão   Nascida na zona rural de Dorset, na Inglaterra, Polly Jean Harvey, ou simplesmente PJ Harvey, sempre fez do desconforto um motor criativo. Nos anos 1990, com os álbuns  Dry  (1992),  Rid Of Me  (1993) e  To Bring You My Love  (1995), ela esculpiu um universo sonoro tenso e visceral, onde letras carregadas de dor e isolamento se misturavam a arranjos minimalistas e uma estética sombria. Mas eis que, em  Stories From The City, Stories From The Sea , seu quinto álbum, PJ Harvey dá uma guinada. O disco não abandona totalmente os temas sombrios, mas adota um tom mais melódico e expansivo – um raro momento de respiro em sua discografia.   A mudança de ares foi determinante nessa guinada. Harvey passou um tempo em Nova York, e a cidade pulsante deixou marcas profundas em sua música. O caos vibrante da metrópole contrastava com as paisagens bucólicas de Dorset, onde ela cresceu e ainda mantém raízes. Esse embate entre concreto e n...