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Wish You Were Here (Harvest/Columbia Records, 1975), Pink Floyd

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Por Sidney Falcão   Após o estrondoso sucesso de The Dark Side of the Moon , o Pink Floyd se viu em um dilema: como seguir adiante sem se tornar refém da própria grandiosidade? O impacto financeiro e cultural do álbum anterior foi imenso, mas trouxe consigo uma pressão insustentável. Roger Waters, cada vez mais assumindo o papel de líder criativo, enxergava a banda à beira da desumanização, consumida por uma indústria que transformava arte em produto. Wish You Were Here chegou em 1975 com um peso nos ombros: suceder The Dark Side of the Moon , um dos álbuns mais icônicos da história do rock. O Pink Floyd, agora uma banda milionária, enfrentava o paradoxo do estrelato—criativamente no auge, mas emocionalmente fragmentado. A pressão do sucesso e a ausência de Syd Barrett (1946-2006), ex-líder cuja mente se perdeu nos labirintos do LSD, permeiam cada nota do disco.   Se  The Dark Side of the Moon  era um estudo sobre a alienação moderna, Wish You Were Here é uma ...

Lar das Maravilhas (Som Livre,1975), Casa das Máquinas

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Por Sidney Falcão O início dos anos 1970 foi um período de transição para o rock brasileiro. A Jovem Guarda havia perdido força como movimento, enquanto bandas como Os Mutantes e Novos Baianos experimentavam sonoridades mais elaboradas, misturando psicodelia, música brasileira e influências internacionais. Nesse cenário, Os Incríveis, um dos grupos mais bem-sucedidos da década anterior, enfrentavam dificuldades para se reinventar. A pressão da gravadora RCA por mais músicas ufanistas, no estilo do hit “Eu Te Amo, Meu Brasil”, causou tensões internas que levaram à saída de dois membros fundamentais: o saxofonista e tecladista Manito (1944-2011) e o baterista Netinho.   Decidido a continuar no meio musical, Netinho reuniu músicos experientes para um novo projeto. Entre eles estavam Aroldo Santarosa, guitarrista e vocalista que havia tocado com Os Incríveis; o jovem guitarrista Piska (1951-2011); Pique Riverte (1946-2000), tecladista e saxofonista com passagens pelo The Flyers e ...

“Anacrônico” (Deckdisc, 2005), Pitty

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Por Sidney Falcão No horizonte da carreira de Pitty, Anacrônico surge como uma transição ousada e necessária. Após o estrondoso sucesso de Admirável Chip Novo (2003), que a consagrou como uma das principais vozes do rock brasileiro contemporâneo, o segundo álbum de estúdio da cantora baiana carrega a responsabilidade de dar continuidade a um legado recém-construído, mas já profundamente impactante. Enquanto o primeiro disco mergulhava em críticas sociais e sonoridades vigorosas, Anacrônico reflete um amadurecimento artístico e emocional, evidenciado tanto nas letras introspectivas quanto na experimentação musical.   Composto em um momento de transição cultural e musical no Brasil, o álbum não só reafirma a relevância do rock nacional, mas também dialoga com novas influências e tendências. Ao equilibrar agressividade e delicadeza, Pitty se distancia de fórmulas fáceis, criando uma obra que convida o ouvinte a revisitar suas próprias contradições. Assim, Anacrônico consolida ...

“Born to Run” (Columbia Records, 1975), Bruce Springsteen

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Por Sidney Falcão   Bruce Springsteen chegou a 1975 com o peso do mundo em seus ombros – ou, pelo menos, do mundo que ainda almejava conquistar. Após dois álbuns bem recebidos pela crítica, mas de desempenho comercial modesto, ele estava sob intensa pressão da gravadora Columbia Records para produzir um hit. Springsteen sabia que sua sobrevivência na indústria dependia do próximo movimento. Foi nesse cenário que Born to Run nasceu, carregando o peso de ser um divisor de águas não apenas para sua carreira, mas também para o rock dos anos 70.   Os Estados Unidos daquele ano eram um terreno fértil para um álbum tão visceral. Em meio à ressaca do escândalo Watergate, à crise do petróleo e à desilusão crescente com o sonho americano, Born to Run capturou a luta por liberdade e redenção em um país fragmentado. Springsteen, com sua narrativa cinematográfica e personagens desesperados por escapar da mediocridade, emergiu como a voz de uma geração ansiosa por algo maior.   A...

10 discos essenciais: Raul Seixas

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Por Sidney Falcão “Eu sou a mosca que pousou na sua sopa.” Raul não pediu licença. Invadiu. Subiu pelas beiradas da cultura brasileira como quem entra na sala errada de propósito. E ali ficou. Zombando das convenções, apontando o dedo em riste, cantando em volume alto, rindo como um profeta bêbado diante do apocalipse.   Raul Santos Seixas nasceu em Salvador, em 28 de junho de 1945, mas poderia muito bem ter vindo direto de um disco voador. Filho de um engenheiro ferroviário e de uma dona de casa, cresceu entre os livros da biblioteca do pai e os discos de vinil que chegavam como relíquias do além-mar. Elvis Presley (1935-1977) não era apenas um ídolo — era um evangelho. E Raul, seu discípulo tropical.   Ainda menino, preferia a literatura às lições escolares. Reprovado, expulso, deslocado — mas nunca calado. Enquanto os colegas copiavam lições de moral no quadro-negro, ele desenhava personagens, inventava mundos e sonhava em escrever o seu nome no firmamento do imposs...