Out Of Time (Warner, 1991), R.E.M.
Por Sidney Falcão
Após a extensa turnê do álbum Green (1988), os integrantes do R.E.M. decidiram se afastar temporariamente da estrada para se dedicar à composição e gravação de um novo disco. Essa pausa permitiu que a banda expandisse seu vocabulário musical, afastando-se do jangle pop característico de seus primeiros trabalhos e incorporando arranjos mais sofisticados, com cordas, bandolim e instrumentos pouco usuais no rock alternativo. O resultado foi Out of Time, um álbum que desafiava categorizações e ampliava o espectro sonoro do grupo.
O processo de gravação foi marcado por uma abordagem colaborativa e experimental. Os integrantes trocaram de instrumentos: Mike Mills assumiu os teclados, Bill Berry migrou para o baixo e Peter Buck se aprofundou no bandolim e em outras texturas acústicas. Além disso, o R.E.M. contou com participações especiais nas gravações, como Kate Pierson, do B-52's, e o rapper KRS-One. Essa abertura a novas influências resultou em um som mais diversificado e sofisticado, distanciando-se do estilo que os consagrou nos anos 1980.
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| R.E.M. em 1991. Da esquerda para a direita: Mike Mills, Michael Stipe, Peter Buck e Bill Berry. |
Em seguida, "Losing My Religion" emerge como o carro-chefe do álbum e um dos maiores sucessos do R.E.M. Seu inconfundível riff de bandolim, criado por Peter Buck, captura a essência do desespero e da incerteza emocional. Embora muitos interpretem o título como uma alusão à fé religiosa, Stipe esclareceu que a expressão sulista "losing my religion" significa algo como "perder a paciência" ou "chegar ao limite". A combinação de versos enigmáticos e arranjos minimalistas resultou em uma canção que ressoou com ouvintes ao redor do mundo, transformando-se em um hino dos anos 1990.
A atmosfera densa e introspectiva segue com "Low", onde o órgão de Mike Mills e a cadência arrastada conferem um peso quase hipnótico à canção. A letra questiona a superficialidade das canções de amor convencionais, reforçando o tom contemplativo do álbum.
Em contraponto, "Near Wild Heaven" traz uma leveza melódica reminiscentes do pop ensolarado dos Beach Boys, com Mike Mills assumindo os vocais principais. Esse contraste se acentua em "Half a World Away", que mistura influências folk e uma instrumentação sofisticada para transmitir um sentimento de saudade e distância.
"Endgame" funciona como um interlúdio instrumental etéreo, pontuado por arranjos de sopros delicados e um clima contemplativo. Já "Shiny Happy People" é uma explosão de otimismo, reforçada pela participação vibrante de Kate Pierson. Sua aparente ingenuidade gerou divisões entre os fãs: para alguns, é uma peça de escapismo pop; para outros, uma sátira da superficialidade da cultura de consumo.
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| Kate Pierson e Michael Stipe em cena do videoclipe de "Shiny Happy People". |
O encerramento do álbum vem com "Me in Honey", novamente com a presença de Kate Pierson. A canção aborda a desilusão amorosa com uma leveza irônica, utilizando o mel como metáfora para os altos e baixos dos relacionamentos.
Lançado em 12 de março de 1991, Out of Time representou um ponto de inflexão na carreira do R.E.M. Até então, a banda já havia conquistado um público alternativo fiel e vinha ganhando espaço no mainstream com Green (1988). Mas foi com Out of Time que Michael Stipe, Peter Buck, Mike Mills e Bill Berry se tornaram estrelas de primeira grandeza.
O disco apresentou um som mais acessível e ao mesmo tempo experimental, o que garantiu ao grupo um sucesso avassalador. "Losing My Religion" foi o grande motor desse impacto, impulsionando também seu videoclipe, dirigido por Tarsem Singh, a um status icônico na MTV, em uma era em que os videoclipes eram essenciais para a construção da imagem de um artista.
A recepção crítica foi amplamente positiva. Out of Time venceu o Grammy de “Melhor Álbum de Música Alternativa” em 1992 e consolidou a reputação da banda como um dos grupos mais influentes da década. Greg Kot, do Chicago Tribune, descreveu o álbum como "um ciclo de canções de amor que soam íntimas mesmo nos espaços abertos dos arranjos". Terry Staunton, da NME, destacou seu ecletismo e maturidade.
Com mais de 18 milhões de cópias vendidas mundialmente, Out of Time preparou o terreno para o aclamado Automatic for the People (1992). Mais do que um sucesso comercial, o álbum provou que quando uma banda se permite arriscar, os resultados podem ser extraordinários. Out of Time permanece como um dos trabalhos mais celebrados do R.E.M., um testemunho de sua capacidade de evoluir sem perder sua essência.
Faixas
Todas as
faixas foram escritas por Bill Berry, Peter Buck , Mike Mills e Michael Stipe.
Lado 1
- "Radio Song”
- "Losing My Religion"
- "Low"
- "Near Wild Heaven"
- "Endgame"
Lado 2
- "Shiny Happy People"
- "Belong"
- "Half a World Away"
- "Texarkana"
- "Country Feedback"
- "Me in Honey"
R.E.M.
• Michael
Stipe - voz principal (menos em "Near Wild Heaven" e
"Texarkana"); escaleta e arranjo em "Endgame"; vocal de
apoio (em "Near Wild Heaven" e "Texarkana")
• Peter Buck
- guitarras, violão; bandolim em "Losing My Religion" e "Half a
World Away"
• Mike Mills
- baixo, vocais; órgão (em "Radio Song", "Low", "Shiny
Happy People", "Half a World Away" e "Country
Feedback"; piano em "Belong"; cravo e percussão em "Half a
World Away"; voz principal (em "Near Wild Heaven" e
"Texarkana"); teclados e arranjo (em "Losing My Religion" e
"Texarkana")
• Bill Berry
- bateria e percussão; baixo (em "Half a World Away" e "Country
Feedback"); piano em "Near Wild Heaven"; vocal de apoio (em
"Near Wild Heaven", "Belong" e "Country
Feedback")
Referências:
Revista Bizz – junho /1991 – Edição 71, Editora Azul, São Paulo, Brasil.
wikipedia.org



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