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Mostrando postagens de setembro, 2025

Bem Bom (RCA Ariola/BMG, 1985), Gal Costa

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Por Sidney Falcão Após a guinada pop iniciada no final dos anos 1970 e consolidada com Fantasia  (1981), Gal Costa  (1945-2022) demonstrava uma capacidade ímpar de se reinventar. Se nos anos 1960 e 1970 ela foi a musa da Tropicália e da MPB experimental, nos 1980 a cantora baiana se tornou uma estrela de primeira grandeza da música brasileira e uma grande vendedora de discos.  Bem Bom  marca o ápice da fase comercial de Gal Costa iniciada com o álbum Gal Tropical, em 1979. As expectativas para o álbum eram altas: Gal vinha de sucessos radiofônicos e de uma presença forte na televisão, o que aumentava a curiosidade do público e da crítica.   Produzido por Miguel Plopschi e com direção artística de Waly Salomão (1943-2003), parceiro de longa data da cantora,  Bem Bom  apostava em uma sonoridade sofisticada e diversa. A seleção de compositores e arranjadores não deixava dúvidas sobre a intenção do álbum: Caetano Veloso, Arrigo Barnabé e Cazuza (1958-1...

Shake Your Money Maker (Def American, 1990), The Black Crowes

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Por Sidney Falcão No final dos anos 1980, o rock parecia dividido entre duas forças opostas. De um lado, o brilho exagerado do hair metal, com sua estética glamorosa e produção polida. Do outro, o rock alternativo, impaciente e bruto, preparando o terreno para a explosão grunge . No meio desse turbilhão, o The Black Crowes surgiu como um sopro de autenticidade, resgatando a essência do rock clássico e infundindo-lhe uma energia renovada. Misturando blues, soul e o espírito rebelde do rock sulista , os irmãos Chris e Rich Robinson fundaram a banda em Atlanta, em 1984, canalizando influências que iam dos Rolling Stones e Faces ao Lynyrd Skynyrd. Mas não se tratava de simples revivalismo: havia ali um frescor inegável, uma visceralidade que soava tanto familiar quanto revigorante.   O empurrão decisivo veio com George Drakoulias, produtor e caça-talentos da Def American, que enxergou nos Crowes o potencial para incendiar o cenário musical. Sob sua tutela, a banda assinou contrato ...

Wish You Were Here (Harvest/Columbia Records, 1975), Pink Floyd

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Por Sidney Falcão   Após o estrondoso sucesso de The Dark Side of the Moon , o Pink Floyd se viu em um dilema: como seguir adiante sem se tornar refém da própria grandiosidade? O impacto financeiro e cultural do álbum anterior foi imenso, mas trouxe consigo uma pressão insustentável. Roger Waters, cada vez mais assumindo o papel de líder criativo, enxergava a banda à beira da desumanização, consumida por uma indústria que transformava arte em produto. Wish You Were Here chegou em 1975 com um peso nos ombros: suceder The Dark Side of the Moon , um dos álbuns mais icônicos da história do rock. O Pink Floyd, agora uma banda milionária, enfrentava o paradoxo do estrelato—criativamente no auge, mas emocionalmente fragmentado. A pressão do sucesso e a ausência de Syd Barrett (1946-2006), ex-líder cuja mente se perdeu nos labirintos do LSD, permeiam cada nota do disco.   Se  The Dark Side of the Moon  era um estudo sobre a alienação moderna, Wish You Were Here é uma ...

Lar das Maravilhas (Som Livre,1975), Casa das Máquinas

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Por Sidney Falcão O início dos anos 1970 foi um período de transição para o rock brasileiro. A Jovem Guarda havia perdido força como movimento, enquanto bandas como Os Mutantes e Novos Baianos experimentavam sonoridades mais elaboradas, misturando psicodelia, música brasileira e influências internacionais. Nesse cenário, Os Incríveis, um dos grupos mais bem-sucedidos da década anterior, enfrentavam dificuldades para se reinventar. A pressão da gravadora RCA por mais músicas ufanistas, no estilo do hit “Eu Te Amo, Meu Brasil”, causou tensões internas que levaram à saída de dois membros fundamentais: o saxofonista e tecladista Manito (1944-2011) e o baterista Netinho.   Decidido a continuar no meio musical, Netinho reuniu músicos experientes para um novo projeto. Entre eles estavam Aroldo Santarosa, guitarrista e vocalista que havia tocado com Os Incríveis; o jovem guitarrista Piska (1951-2011); Pique Riverte (1946-2000), tecladista e saxofonista com passagens pelo The Flyers e ...