Shake Your Money Maker (Def American, 1990), The Black Crowes
No final dos anos 1980, o rock parecia dividido entre duas forças opostas. De um lado, o brilho exagerado do hair metal, com sua estética glamorosa e produção polida. Do outro, o rock alternativo, impaciente e bruto, preparando o terreno para a explosão grunge. No meio desse turbilhão, o The Black Crowes surgiu como um sopro de autenticidade, resgatando a essência do rock clássico e infundindo-lhe uma energia renovada. Misturando blues, soul e o espírito rebelde do rock sulista, os irmãos Chris e Rich Robinson fundaram a banda em Atlanta, em 1984, canalizando influências que iam dos Rolling Stones e Faces ao Lynyrd Skynyrd. Mas não se tratava de simples revivalismo: havia ali um frescor inegável, uma visceralidade que soava tanto familiar quanto revigorante.
O empurrão decisivo veio com George Drakoulias, produtor e caça-talentos da Def American, que enxergou nos Crowes o potencial para incendiar o cenário musical. Sob sua tutela, a banda assinou contrato e rumou para os estúdios de Atlanta e Los Angeles, onde registrou Shake Your Money Maker, um álbum que exala autenticidade. Drakoulias reforçou a sonoridade da banda com músicos de peso, como o tecladista Chuck Leavell, veterano do Allman Brothers Band e dos Stones, mas sem jamais diluir a crueza e a espontaneidade do grupo. As composições, muitas resgatadas da época em que a banda se chamava Mr. Crowe’s Garden, ganharam vida nova com produção precisa e arranjos bem calibrados. O resultado? Um álbum que equilibra técnica e fúria, capturando o espírito do rock de bar em sua melhor forma.
Musicalmente, Shake Your Money Maker finca os pés no blues rock e no southern rock, mantendo viva a chama do classic rock dos anos 1970. A influência de ídolos como Rod Stewart e Paul Rodgers transparece nos vocais rasgados de Chris Robinson, enquanto os riffs de Rich Robinson combinam a irreverência de Keith Richards com a solidez de Jimmy Page. O grande trunfo do disco é sua pegada orgânica, que foge dos excessos da produção oitentista e aposta na crueza como diferencial.
![]() |
The Black Crowes em frente à casa de shows Paradiso em Amsterdã, Holanda, em junho de 1990. |
O álbum também tem seus momentos de introspecção. “She Talks to Angels”, com sua melodia acústica e carga emocional intensa, tornou-se um clássico imediato. Já “Seeing Things” adiciona uma aura gospel ao repertório, com teclados envolventes e vocais carregados de sentimento. Para equilibrar, faixas como “Struttin’ Blues” e “Stare It Cold” apostam em um rock direto e sem adornos, reafirmando a identidade rebelde da banda.
Lançado em um momento de transição no rock, Shake Your
Money Maker vendeu mais de 5 milhões de cópias nos somente nos Estados
Unidos, garantindo ao The Black Crowes um lugar cativo na cena. Embora alguns
críticos tenham questionado sua originalidade, a banda provou que a paixão pelo
rock clássico ainda tinha espaço no mainstream. Décadas depois, o álbum
segue relevante, influenciando novas gerações e reforçando a máxima de que
guitarras sujas e refrãos certeiros nunca saem de moda.
Faixas
Todas as faixas foram escritas por Chris e Rich Robinson,
exceto onde indicado.
Lado 1
- "Twice as Hard"
- "Jealous Again"
- "Sister Luck"
- "Could I've Been So Blind"
Lado 2
- "Seeing Things"
- "Hard to Handle" (Allen Jones, Al Bell, Otis Redding)
- "Thick n' Thin"
- "She Talks to Angels"
- "Struttin' Blues"
- "Stare It Cold"
Black Crowes: Chris Robinson (vocais), Rich Robinson (guitarras), Jeff Cease (guitarras), Johnny Colt (baixo) e Steve Gorman (bateria e percussão).
Comentários
Postar um comentário