“Can't Slow Down” (Motown Records, 1983), Lionel Richie

Por Sidney Falcão

Quando Lionel Richie iniciou sua carreira solo no início dos anos 1980, ele já era um nome consolidado na música. Como integrante dos Commodores, Richie ajudou a moldar o som do soul e do funk nos anos 1970, contribuindo com baladas atemporais como "Easy" e "Three Times a Lady". Essa habilidade para criar melodias cativantes e letras emocionais se tornaria a marca registrada de sua carreira solo.

Após o sucesso de seu álbum de estreia autointitulado em 1982, que incluiu hits como "Truly" e "You Are", Richie percebeu que tinha a chance de se estabelecer como uma força dominante na música pop. Inspirado pela rica tradição do soul e pelos avanços tecnológicos que estavam transformando os estúdios na época, ele começou a trabalhar em Can't Slow Down, seu segundo álbum solo. A intenção era criar um álbum que misturasse baladas emocionantes com canções dançantes, com uma sonoridade pop-soul mais polida, visando um público amplo e internacional.

Lançado em 11 de outubro de 1983, Can't Slow Down é o retrato de Lionel Richie em seu auge criativo. Gravado nos estúdios Ocean Way, em Los Angeles, e nos estúdios da Motown, em Hollywood, o álbum foi produzido por James Anthony Carmichael (que já havia produzido discos dos Commodores), David Foster e o próprio Lionel Richie. Para as gravações, Richie contou com um time de músicos espetaculares, entre eles os tecladistas Greg Phillinganes e Michael Boddicker, os guitarristas Steve Lukather (do Toto) e Peter Banks (ex-Yes), os baixistas Abraham Laboriel, Joe Chemay e Nathan East, e os bateristas Paul Leim, John Robinson e Jeff Porcaro (do Toto), entre outros.

Lionel Richie (o primeiro à esquerda) nos seus tempos de Commodores: ajudando
a moldar o som do soul e do funk nos anos 1970.

O álbum foi pensado para atender tanto ao público das rádios pop quanto ao de soul e R&B. Com faixas como "All Night Long (All Night)", que combinava elementos de calypso e pop, e baladas poderosas como "Hello", Richie demonstrou sua capacidade de navegar por diferentes gêneros sem perder sua autenticidade.

O álbum começa com a faixa-título, um eletro-funk cheio de sintetizadores e baterias eletrônicas que criam um ritmo frenético, condizente com o tema da letra, que trata da necessidade de estar em constante movimento. Nos versos, o eu lírico expressa a sensação de que está perdendo tempo e que a estagnação não faz parte do seu vocabulário, seja na vida cotidiana ou em um relacionamento.

"All Night Long" é a faixa mais festiva do álbum, celebrando a alegria e a amizade. Dotada de um ritmo irresistivelmente contagiante, com leves toques afro-caribenhos, a canção possui versos que convidam todos a dançar e se divertir a noite toda. Curiosamente, "All Night Long" inclui algumas expressões supostamente “africanas” que, segundo Lionel Richie, não significam nada e foram inventadas por ele, já que não teve tempo de contratar um tradutor especializado em idiomas africanos.

A faixa seguinte é a balada romântica “Penny Lover”, uma canção leve e suave sobre amor profundo, desejo incontrolável e devoção apaixonada. O eu lírico expressa seu amor pela mulher por quem se apaixonou à primeira vista.

Detalhe da contracapa do álbum Can't Slow Down.

Das oito faixas do álbum, “Stuck On You” é a que mais destoa das outras, sem comprometer a unidade musical do disco. Nessa canção, percebe-se uma influência do country pop, que a diferencia das outras baladas, mais voltadas para o R&B. Os versos refletem reconciliação e o retorno a um amor verdadeiro, destacando arrependimento, gratidão e determinação em recomeçar ao lado de quem traz felicidade e pertencimento.

“Love Will Find A Way” traz uma mensagem de amor e esperança para quem se encontra triste e sozinho: “É difícil esta vida que você está vivendo? / Faz o mundo parecer tão cruel / Não se preocupe, o amor irá encontrar um caminho”. Já a balada “The Only One” aborda um amor único e insubstituível, com o eu lírico expressando sua devoção, conexão emocional profunda e gratidão por alguém que transforma sua vida.

"Running With The Night" é outro destaque do álbum e um dos maiores sucessos da carreira solo de Lionel Richie. A faixa traz o ritmo dançante do R&B combinado à energia do rock, acentuada pelos solos de guitarra de Steve Lukather. O cantor Richard Marx, até então desconhecido, fez participação nos vocais de apoio.

O álbum termina em grande estilo com a aclamada balada “Hello”, um dos maiores sucessos de Richie. A letra explora sentimentos de amor não correspondido e anseio por conexão, com o eu lírico vivenciando uma paixão idealizada enquanto busca coragem para expressar seus sentimentos.

Cena do videoclipe de "Hello".

Can't Slow Down é frequentemente considerado a obra-prima de Lionel Richie, o ápice de sua habilidade em criar melodias cativantes e letras emocionalmente ressonantes. O álbum rendeu a Richie dois prêmios Grammy e se tornou a trilha sonora dos anos 1980. Suas faixas ainda são amplamente tocadas em estações de rádio, e músicas como "All Night Long", "Hello" e "Running With The Night" permanecem no repertório de suas apresentações ao vivo.

O sucesso comercial do álbum foi surpreendente. Nos Estados Unidos, Can't Slow Down vendeu mais de 10 milhões de cópias, enquanto mundialmente atingiu a marca de 20 milhões. Can't Slow Down alcançou o primeiro lugar na Billboard 200, permanecendo no topo por 8 semanas, e gerou vários singles de sucesso, como "All Night Long" (1º lugar na Billboard Hot 100) e "Hello" (1º lugar na parada Adult Contemporary).

Através de Can't Slow Down, Lionel Richie consolidou seu status como um dos artistas mais influentes da década. O álbum continua sendo uma referência essencial da música pop dos anos 1980, com sua mistura de gêneros e apelo atemporal garantindo relevância e impacto duradouros na música pop e soul.

Faixas

Lado 1