10 discos essenciais: Titãs



Por Sidney Falcão

Quando os Titãs despontaram no cenário do rock brasileiro em meados dos anos 1980, os oito integrantes da banda paulista causaram uma certa estranheza no público. Se já não bastassem serem esquisitos visualmente, eles eram oito, um número de membros pouco comum em bandas de rock. Mas em pouco tempo, os Titãs logo se consagraram como uma das mais importantes bandas do rock brasileiro através de canções com forte senso crítico e outras com grande apelo pop.

A história da banda começou em 1982, em São Paulo, quando jovens oriundos de bandas diferentes do underground paulistano decidem formar uma nova banda. Na sua primeira formação, ela contava com os ex-Aguilar & Banda Performática, Paulo Miklos (saxofone e voz) e Arnaldo Antunes (vocais); os ex-Trio Mamão, Branco Mello (vocais) e Marcelo Fromer (1961-2001; guitarra, violão e vocais); o ex-Sossega Leão, Nando Reis (voais, violão e baixo); Sérgio Britto (vocais, teclados), Tony Bellotto (guitarra solo), André Jung (bateria) e Ciro Pessoa (1957-2020; vocais). Com nove membros, a nova banda foi batizada de Titãs do Iê-Iê. Em agosto de 1982, a banda fez a sua primeira apresentação ao vivo no Teatro Lira Paulistana, em São Paulo, um espaço da vanguarda paulista liderado, por por Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção (1949-2003).

No começo de 1984, Ciro Pessoa deixa os Titãs do Iê-Iê por discordância de ideias com os outros membros da banda. Ciro monta o grupo Cabine C, enquanto que os Titãs do Iê-Iê assinam contrato com a gravadora Warner. O nome da banda passa a ser só apenas Titãs. O primeiro e homônimo álbum da banda é lançado em agosto do mesmo ano, e traz o primeiro hit do agora octeto, “Sonífera Ilha”. Ainda em 1984, André Jung deixa os Titãs e vai para o Ira!, enquanto que Charles Gavin troca o Ira! pelos Titãs.

Em 1985, sai Televisão, segundo álbum dos Titãs, que assim como o primeiro álbum, vendeu pouco mais de 25 mil cópias. No final do ano, Tony Bellotto e Arnaldo Antunes são presos: Bellotto por porte de heroína e Arnaldo por tráfico de heroína. O caso ganha repercussão nacional. Vários shows dos Titãs são cancelados, e a situação da banda na gravadora, que já não era boa por causa das baixas vendas dos dois primeiros álbuns, ficou ainda pior. Tony Bellotto foi liberado sob fiança; Arnaldo permaneceu preso por mais um mês.

Os Titãs dão a volta por cima em 1986 com o terceiro álbum, o ótimo Cabeça Dinossauro, disco que salva os Titãs de serem dispensado pela gravadora e consagra a banda paulista. No ano seguinte, o quarto álbum de estúdio, Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas, mantém o prestígio dos Titãs em alta. Em janeiro de 1988, o grupo se apresenta no Festival Hollywood Rock, no Rio de Janeiro e em São Paulo. No mesmo ano, os Titãs lançam Go Back, álbum gravado ao vivo no Festival de Montreux, na Suiça. Os Titãs fecham a década de 1980 com o elogiadíssimo Õ Blésq Blom!, de 1989, álbum que emplacou hits como “Flores”, “Miséria” e “O Pulso”.

Em 1992, Arnaldo Antunes deixa os Titãs e segue carreira solo. A banda não substitui Arnaldo e passa a ser um septeto. Com influência do grunge no Titanomaquia, de 1993, os Titãs se aproximaram do som grunge. O álbum Domingo (1995) resgata os Titãs radiofônicos através de um repertório mais alegre e diversificado do que Titanomaquia. Em 1997, ao Titãs lançam o Acústico MTV – Titãs, que vendeu mais de 1,7 milhão de cópias, e conta com a participação de especial de Marisa Monte, Jimmy Cliff, Arnaldo Antunes, Fito Paez, Rita Lee e Roberto de Carvalho. A banda repete a “fórmula” do sucesso de Acústico MTV – Titãs em Titãs Dois, álbum com versões acústicas antigos sucessos da banda e uma releitura da canção “É Preciso Saber Viver”, de Roberto Carlos e que alcança a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Os Titãs lançam em 1999, mais um álbum de regravações, desta vez sucessos de artistas preferidos da banda, o As Des Mais, último disco do grupo com Marcelo Fromer, que morre em junho de 2001 num hospital, em São Paulo, dois dias após ser atropelado.

Em setembro de 2002, Nando Reis anuncia que está deixando os Titãs, e a banda vira um quinteto. O grupo lança no ano seguinte o álbum Como Estão Vocês?, cuja principal faixa é “Enquanto Houver Sol”, um dos maiores sucessos da banda paulista. Em 2006, a banda faz apresentação histórica ao abrir o show dos Rolling Stones na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para um público estimado em 1,5 milhão de pessoas.

Os Titãs e os Paralamas do Sucesso completaram 25 anos de carreira em 2007. Para comemorar o “jubileu de prata”, as duas bandas partiram para uma turnê nacional conjunta, e que resultou no álbum e DVD Paralamas e Titãs, Juntos e Ao Vivo. Em 2008, chega aos cinemas A Vida Parece Uma Festa, filme documentário que conta a história dos Titãs. Após seis anos sem lançar álbum de inéditas, os Titãs lançam em 2009 o disco Sacos Plásticos, trabalho bastante criticado pela imprensa, mas que consegue emplacar nas paradas de rádio a balada “Porque Eu Sei Que É Amor”.

Em fevereiro de 2010, Charles Gavin é mais um membro da fase clássica dos Titãs a deixar a banda, e é substituído por um baterista contratado, Mário Fabri. Os Titãs se apresentam em 2011 na sexta edição brasileira do Rock In Rio, no Rio de Janeiro, numa apresentação conjunta com os Paralamas do Sucesso e Orquestra Sinfônica Brasileira. O ano de 2012 é marcado para os Titãs com uma turnê que onde banda toca na íntegra o álbum Cabeça Dinossauro. No final daquele ano os Titãs lançam Cabeça Dinossauro Ao Vivo/ 2012, gravado ao vivo no Circo Voador, no Rio de Janeiro.

Através do álbum Nheengatu, de 2014, os Titãs se reconectam com a transgressão e a agressividade dos álbuns Cabeça Dinossauro e Titanomaquia. Paulo Miklos deixa os Titãs em julho de 2016, e é substituído pelo guitarrista Beto Lee, filho da cantora Rita Lee. Os Titãs se lançam pela primeira vez numa ópera rock através do álbum Doze Flores Amarelas, de 2018, que trata sobre assédio sexual. No mesmo ano, Branco Mello é diagnosticado com um tumor na laringe, e é substituído temporariamente pelo baixista Lee Marcucci (ex-Rádio Taxi) por três meses. Em 2021, Branco Mello está recuperado e retorna aos Titãs com álbum Titãs Trio Acústico, que traz apenas Branco, Tony Bellotto e Sérgio Britto, tocando versões acústicas de sucessos da banda.

Em 2022, ano que marca os 40 anos de carreira dos Titãs, a banda paulista anuncia no final do ano uma turnê comemorativa com a formação clássica do grupo: o trio remanescente Branco, Tony e Sérgio, mais o retorno temporário de Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos e Charles Gavin. A turnê passa por dez capitais brasileira em 2023, e banda toca os seus maiores sucessos em quatro décadas de carreira.

Confira abaixo dez álbuns que ajudam a compreender a trajetória dos Titãs.

Titãs (Warner, 1984). Neste seu primeiro álbum de estúdio, os Titãs se mostram bem diversificados musicalmente: rock, reggae, pop, ska e até referências da face mais cafona da Jovem Guarda. Além de conter “Sonífera Ilha”, primeiro sucesso dos Titãs, o álbum traz canções que na época não chamaram a atenção, mas fariam sucesso anos mais tarde como “Querem Meu Sangue” (versão em português de “The Harder They Come”, de Jimmy Cliff e que fez um enorme sucesso em 1994 com o Cidade Negra), “Marvin” (versão em português de “Patches”, gravada em 1970 pela banda Chairmen Of The Board) e “Go Back”, a duas últimas regravadas pelos Titãs ao vivo no álbum Go Back (1988).


Televisão (Warner, 1985). Apesar de muito bem recebido pela crítica, Televisão, o segundo álbum dos Titãs, foi um fracasso em vendas, ainda que tenha vendido mais do que o primeiro e homônimo álbum da banda, lançado em 1984. Mesmo assim, Televisão guarda bons momento como a faixa-título, o reggae rock “Incensível” e canções que se tornariam hits no futuro em outras versões como “Pra Dizer Adeus” (regravada no álbum Acústico MTV, em 1997) e “Não Vou Me Adaptar”(regravada ao vivo no álbum Go Back, 1988). “Autonomia” e “Massacre” antecipam a postura anárquica e inquieta que os Titãs adorariam no álbum seguinte, Cabeça Dinossauro, em 1986.


Cabeça Dinossauro (Warner, 1986). Os Titãs estavam prestes a serem dispensados pela Warner devido às baixas vendas dos seus dois primeiros álbuns até que esta obra-prima salvou a carreira da banda paulista. Cabeça Dinossauro mostra os Titãs com um discurso radical por meio de letras afiadas nas quais dispara sem poupar ninguém através de faixas como “Polícia”, “Q Que”, “Família”, “Bichos Escrotos” e “Homem Primata”. Sucesso de público e de crítica, Cabeça Dinossauro elevou os Titãs ao primeiro escalão do rock brasileiro.



Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas (Warner, 1987). Com um título bastante intrigante, este quarto álbum dos Titãs prosseguem com o discurso contestador de Cabeça Dinossauro. Em “Comida”, os Titãs lembram que a vida é muito mais que trabalhar para pagar boletos. A pessimista “Lugar Nenhum” traz nos seus versos uma desesperança com um Brasil mergulhado na hiperinflação e uma dívida externa estratosférica, enquanto que “Desordem” retrata o caos social brasileiro. Outras faxias que merecem destaque: “Diversão”, “Mentiras”, “Armas Pra Lutar” e ‘Corações e Mentes”.



Ô Blésq Blom (Warner, 1989). Quinto álbum de estúdio dos Titãs, Õ Blésq Blom herdou o experimentalismo eletrônico de Jesus Não Tem Dentes... e fundiu com referências música brasileira. A mórbida “Flores” foi o maior sucesso do álbum. “Miséria” toca sobre o abismo social tão presente da sociedade brasileira, enquanto “Deus e o Diabo” aborda a dicotomia entre o bem e o mal. “Medo” é um rock raivoso e trata sobre o medo que aflige o indivíduo. “O Pulso” traz uma lista repugnante de doenças.



Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (Warner, 1991). Neste seu sexto álbum de estúdio, os Titãs apresentam uma sonoridade mais básica e crua, e acena uma aproximação com o grunge. As letras são agressivas e escatológicas. O álbum não foi bem recebido pela imprensa musical e nem por uma parcela considerável do público. Foi o último álbum dos Titãs com Arnaldo Antunes como membro da banda. Destaque para as faixas “Saia de Mim” e “Não É Por Falar”.




Titanomaquia (Warner,1993). Os Titãs já haviam acenado com o grunge no álbum anterior, o Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. Em Titanomaquia, essa aproximação ficou mais clara, a tal ponto de a banda contratar ninguém menos que Jack Endino, produtor americano que já havia trabalho na produção de discos de bandas grunges como Nirvana, Mudhoney e Soudgarden. É considerado o álbum com o som mais pesado da discografia dos Titãs, regado a muitos riffs pesados de guitarra, vocais berrados. Nessa época, os Titãs vivenciaram uma relação tensa com a imprensa. Os destaques do disco são as faixas “Será Que É Disso Que Eu Necessito?” e “Dineylândia”.


Domingo (Warner, 1995). O trabalho conjunto de Titâs e Jack Endino prossegue neste álbum. Porém, diferente de Titanomaquia, em Domingo, os Titãs retornam ao pop rock radiofônico e diversificado. As faixas “Domingo, “Eu Não Aguento” e “Pela Paz” são as mais conhecidas. No álbum Domingo, os Titãs contam com convidados ilustres como Herbert Vianna e João Barone (ambos dos Paralamas do Sucesso), Andreas Kisser e Igor Cavalera (os dois do Sepultura). 



A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (Abril Music, 2001). Após seis anos sem lançar um álbum de inéditas, os Titãs lançaram em 2001 A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana, o primeiro e único álbum da banda paulista lançado pela gravadora Abril Music, além de ser o primeiro que a banda lançou após a morte de Marcelo Fromer, em junho daquele ano. Embora elogiado pela imprensa, A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana não vendeu bem como os álbuns anteriores, mas conseguiu emplacar algumas faixas nas paradas de rádio, como marcante “Epitáfio”, “Isso” e “O Mundo É Bão, Sebastião!”. Foi o último álbum de Nando Reis como membro dos Titãs.

Nheengatu (Som Livre, 2014). O cenário político brasileiro vivia um momento tenso iniciado em meados de 2013. Motivados por esse momento de tensão política no Brasil, os Titãs lançaram em 2014 o álbum Nheengatu, um trabalho que resgata o perfil contestador e politizado dos Titãs, remetendo a discos icônicos da banda como Cabeça Dinossauro, Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas e Titanomaquia. “Fardados” critica a violência policial, enquanto que “Pedofilia” trata sobre a violência contra a criança. “Flores Para Ela” é sobre violência contra a mulher. Nheengatu marcou a estreia do baterista Mário Fabri, substituto de Charles Gavin, que deixou em 2001 os Titãs.



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"Sonífera Ilha" (Titãs no programa 
"Globo de Ouro"  TV Globo, 1984)

"Televisão" (ao vivo no programa 
"Mixto Quente" TV Globo, 1986)

"AAUU" (videoclipe eibido no
programa "Fantástico", TV Globo, 1986)


"Desordem" (videoclipe eibido no 
programa "Fantástico", TV Globo, 1988)

"Flores" (videoclipe eibido no 
programa "Fantástico", TV Globo, 1989)

"Saia de Mim" (videoclipe, 1991)

"Será Que É Disso Que Eu Necessito" 
(videoclipe, 1993)

"Eu Não Aguento" (videoclipe, 1995)

"Epitáfio" (videoclipe,2001)

"Fardados" (videoclipe,2014)


















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