“Master of Reality” (Vertigo, 1971), Black Sabbath


Por Sidney Falcão

Naquele começo de 1971, o Black Sabbath desfrutava do sucesso alcançado com o sucesso de seu segundo álbum de estúdio, o consagrado Paranoid, que havia chegado ao 1º lugar na parada de álbuns do Reino Unido, da Alemanha e da Holanda, e o 12º na parada da Billboard 200, nos Estados Unidos. Enquanto isso, a banda seguia numa turnê internacional para promover Paranoid que passou pelos Estados Unidos, Europa e Austrália. A turnê foi bem sucedida, porém exaustiva. O quarteto mal tinha tempo para compor material novo para o terceiro álbum. Além da fama, os membros do Black Sabbath também vivenciavam os excessos: sexo, álcool e drogas.

As gravações de Master of Reality, terceiro álbum de estúdio do Black Sabbath, começaram em fevereiro de 1971, e corriam nos intervalos da turnê de Paranoid, e foram concluídas em abril do mesmo ano. O responsável pela produção do novo álbum foi Rodger Bain, o mesmo que produziu os dois discos anteriores. As sessões de gravação ocorreram em Los Angeles, nos estúdios da Record Plant, e em Londres, no Basing Studios. A novidade para esse novo disco é que ele foi gravado em 24 canais, o que fez muita diferença na qualidade do som. O álbum anterior, Paranoid, foi gravado num estúdio de 8 canais.

Para o novo álbum, o guitarrista Tony Iommi buscou criar novos riffs e um nova maneira de afinar a sua guitarra, o que iria não só alterar a sonoridade do Black Sabbath como iria dar novos rumos futuramente ao heavy metal. Para aliviar as dores no dedo médio e dedo anelar da mão direita, que tiveram as pontas esmagadas num acidente numa fábrica onde Iommi trabalhava na juventude, o músico decidiu afinar sua guitarra em um tom mais grave, reduzindo a tensão das cordas e tornando a forma de tocar mais confortável para os seus dedos acidentados. Isso acabou levando ao baixista Geezer Butler a alterar a afinação do seu contrabaixo para poder acompanhar a guitarra de Tony.

Black Sabbath, da esquerda para a direita: Tony Iommi, Ozzy Osbourne (sentado),
Geezer Butler e Bill Ward.

A mudança nas afinações tornou o som do Black Sabbath mais pesado, mais sombrio e mais denso. No entanto, o Sabbath tratou em Master of Reality, de temas abordados nos discos anteriores como religião, guerras e drogas.

Master of Reality foi lançado em 21 de julho de 1971, e a capa das primeiras edições traziam um fundo preto com o nome da banda em lilás e o título em preto confundido com o fundo escuro, porém em alto relevo. No Brasil, talvez tenha sido o caso único no mundo em que o álbum foi lançado com o nome da banda com as letras coloridas alternadamente em verde, amarelo, vermelho e azul. Nas edições seguintes, a capa passou a vir com o título do disco em cinza em todo o mundo.

Master of Reality começa com uma tosse cheia de eco, anunciando “Sweet Leaf”. A tosse foi gravada por acaso no estúdio, depois que Tony Iommi tragou um cigarro de maconha. “Sweet Leaf” trata sobre a maconha, e o Black Sabbath faz uma “declaração de amor” à erva: “My life was empty, forever on a down / Until you took me, showed me around / My life is free now, my life is clear / I love you sweet leaf though you can't hear”(“Minha vida estava vazia, eternamente deprimente / Até que você me levou, para dar uma volta / Minha vida agora está livre, minha vida está clara / Eu te amo, erva doce, apesar de não poderes me ouvir”). A música possui um riff de guitarra lento, distorcido e pesado.

“After Forever” começa com um som estranho criado por sintetizador, e que na sequência cede lugar ao som pesado e vibrante do Black Sabbath. A letra traz versos provocativos e chocantes dirigidos à Igreja Católica: “Would you like to see the Pope on the end of a rope / do you think he's a fool?” (“Você gostaria de ver o Papa na ponta de uma corda - você o acha um tolo?”). Na sequência, uma pausa para o som pesado é imposta por “Embryo”, uma curta faixa instrumental que traz consigo uma sua sonoridade medieval.

Na sequência, a banda retoma o som pesado com a pacifista “Children of the Grave”, em que o Black Sabbath acredita que o mundo terá uma chance de melhorar através das crianças. “Children of the Grave” contém uma linha de baixo galopante que seria copiada por vários baixistas posteriormente, dentre eles, Steve Harris, do Iron Maiden. “Orchid” é mais uma faixa instrumental, desta vez uma música com acentuação folk, toda apoiada nos violões.

Geezer Butler: linha de baixo galopante em "Children of the Grave".

Em “Lord Of This World”, dá a entender em seus versos que o eu lírico é Satanás, que fala da ganância, do orgulho e da hipocrisia do ser humano, capaz de se aliar ao mal para conseguir o que quer. “Solitude” é uma balada linda e melódica, em que Iommi toca flauta e piano, e Ozzy Osbourne canta com uma voz bem diferente da que estamos acostumados a ouvir. Houve quem duvidasse que foi ele quem cantou, mas é a voz do Ozzy mesmo, que teria passado por algum tipo de trabalho no estúdio de gravação.

O álbum fecha com “Into The Void”, uma faixa que tem um ritmo pesado e arrastado no seu início, mas que vai alternando o seu andamento, ora lento, ora mais rápido. A letra traça uma visão pessimista do planeta Terra (guerras, miséria, poluição...) e aponta que a saída é buscar outros mundos e deixar este planeta para Satanás e seus escravos.

Master of Reality alcançou o 5º lugar na parada de álbuns do Reino Unido e o 8º lugar da parada da Billboard 200, nos Estados Unidos. Até o ano de 2013, foi o único álbum do Black Sabbath a figurar no Top 10 norte-americano. O álbum vendeu mais de 2 milhões de cópias, sendo certificado com platina dupla nos Estados Unidos ao alcançar essa marca.

Quando Tony Iommi alterou a afinação da sua guitarra apenas para aliviar as dores nos dedos de sua mão direita, e que por consequência, tornou o som do Black Sabbath mais pesado e sombrio em Master of Reality, o músico não imaginava que a sua ação iria apontar novos rumos para o heavy metal e influenciar tendências do estilo e gerações de bandas. A sonoridade de Master of Reality foi a base para outras vertentes do heavy metal como doom metal, o stoner metal e sludge metal. O álbum influenciaria também bandas grunges nos anos 1990 como Nirvana, Soundgarden e Smashing Pumpkins, bem como bandas do heavy metal contemporâneo como Kyuss, Monster Magnet , Sleep e Orange Goblin. Poucos foram os discos na história do rock que conseguiram sozinhos, influenciar bandas e dar origem a novos estilos, e o Master of Reality foi um desses discos.

Faixas

Todas as letras escritas por Geezer Butler. Todas as músicas compostas por Black Sabbath, exceto as indicadas.

 

Lado 1

  1. "Sweet Leaf"             
  2. "After Forever"                      
  3. "Embryo" (instrumental) (Tony Iommi)       
  4. "Children of the Grave" 

 

Lado 2           

  1. "Orchid" (instrumental) (Tony Iommi)         
  2. "Lord of This World"   
  3. "Solitude"                  
  4. "Into the Void" 

 

Black Sabbath: Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarra, sintetizador em "After Forever", flauta e piano "Solitude"), Geezer Butler (baixo), Bill Ward (bateria)

 

Referências:

Black Sabbath: a biografia – Mick Wall, 2014, Globo Livros, Rio de Janeiro, Brasil.

Revista Classic Rock Special Edition: 100 Greatest Rock Albums – outubro/2017 – Future Publishing, Londres, Reino Unido.

 

Ouça na íntegra o álbum Master Of Reality



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