“Paranoid” (Vertigo,1970), Black Sabbath
Por Sidney Falcão
Apesar da
recepção nada simpática de uma parcela da imprensa musical - principalmente das
revistas Rolling Stone e The Village Voice – o primeiro e
homônimo álbum da banda Black Sabbath foi bem acolhido pelo público. No Reino
Unido, Black Sabbath, o álbum, chegou ao 8º lugar na parada de álbuns.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o álbum alcançou o posto de 23º lugar na
Billboard 200 e vendeu 1 milhão de cópias. E pensar que todo esse desempenho
comercial não teve esquema promocional planejado, não houve por parte da
gravadora grandes gastos para promovê-lo. O álbum praticamente se promoveu
sozinho.
Motivada
pelo bom desempenho comercial do primeiro álbum, a gravadora Vertigo pediu para
que o Black Sabbath entrasse em estúdio para gravar o segundo álbum, já em
junho de 1970, quatro meses após o lançamento do álbum estreia. Contando com
Rodger Bain na produção – o mesmo produtor de Black Sabbath – a banda
Black Sabbath gravou o seu segundo álbum em apenas cinco dias, entre 16 e 21
junho de 1970. As gravações ocorreram no Regent Sound Studios e no Basing
Street Studios, este último um recém-criado estúdio de 16 canais pela Island
Records, o mesmo em que o Led Zeppelin havia acabado de gravar uma parte do seu
terceiro álbum, Led Zeppelin III.
Em agosto de
1970, um dos frutos das gravações do segundo álbum era lançado, o single de
“Paranoid”. Para surpresa (ou não) da gravadora Vertigo e da banda, o single de
“Paranoid” chegou ao 4º lugar na parada de singles do Reino Unido, onde vendeu
mais de 400 mil cópias. Não demorou muito, e o Black Sabbath já estava se
apresentando no Top Of The Pops, o
mais popular programa musical da TV britânica. O single foi muito bem em 1º
lugar nas paradas de singles da Alemnha e Dinamarca.
Black Sabbath por volta de 1970, da esquerda para a direita: Bill Ward, Tony Iommi, Ozzy Osbourne e Geezer Butler. |
A princípio,
os mebros do Black Sabbath haviam decidido que o título do segundo álbum seria War Pigs, o mesmo nome de uma das
músicas presentes no álbum. Inclusive, as fotos para a capa do álbum, com um
homem pulado de trás de uma árvore empunhando uma espada e um escudo, estavam
prontas. Porém, a gravadora rejeitou esse título para o álbum porque a música
faz referências à Guerra do Vietnã, e poderia prejudicar o desempenho do álbum
no mercado fonográfico dos Estados Unidos, justamente o país que promovia
aquela guerra. Por causa do ótimo desempenho do single de “Paranoid”, a
gravadora sugeriu que o novo álbum fosse batizado de Paranoid.
Como a foto
da capa já estava pronta e a gravadora não queria perder tempo, o novo álbum
foi lançado com uma capa que nada tinha a ver com o título. Batizado
oficialmente de Paranoid, o segundo álbum do Black Sabbath foi lançado em 18 de
setembro de 1970, no mesmo dia em que foi divulgada a morte de Jimi Hendrix, o
que a acabou ofuscando o lançamento do álbum. Nos Estados Unidos, o primeiro
álbum do Black Sabbath ainda estava muito bem nas paradas, e por causa disso, o
lançamento de Paranoid naquele país só ocorreu em janeiro de 1971.
A faixa de
abertura de Paranoid é “War Pigs”, aquela que era para ter dado título ao
álbum. Originalmente, “War Pigs” tinha outro título e uma letra diferente.
Chamava-se “Walpurgis” e a antiga letra tratava sobre um ritual macabro. A
gravadora Vertigo não gostou do conteúdo. Foi então que o baixista Geezer
Butler, o letrista da maioria das músicas do álbum, mudou a letra e o título.
Rebatizada para “War Pigs”, a música passou a abordar uma temática antibelicista,
tecendo uma crítica dura e direta aos “senhores da guerra”, os chefes das
nações que promovem os conflitos bélicos, mas que não são eles que estarão na
linha de frente no combate. São os jovens, a maioria pobres que vão lutar sem
nem mesmo saber se voltarão vivos: “Politicians
hide themselves away / They only started the war / Why should they go out to
fight? / They leave that role to the poor, yeah!” (“Políticos se escondem / Eles apenas iniciaram a guerra / Por que eles
deveriam sair para lutar? / Este papel eles deixam para os pobres, sim! ”).
A crítica tinha endereço certo, o governo dos Estados Unidos, que promovia a
vergonhosa Guerra do Vietnã.
Musicalmente,
“War Pigs” começa com um som pesado e lento, e ao fundo se ouve sons de sirenes
de guerra alertando um possível ataque do exército inimigo. A música é dividida
em várias alternâncias de andamento, temperadas por riffs e solos fantásticos de guitarra de Tony Iommi. Merecem
destaques as linhas de baixo de Gezzer Butler e as viradas sensacionais de
bateria de Bill Ward.
A faixa
seguinte, “Paranoid”, escolhida para nomear o álbum e já lançada anteriormente
como single, possui um arranjo simples, ritmo veloz e pesado. Traz o riff contagiante e arrasador da guitarra
de Tony Iommi. A letra é sobre um sujeito que está passando por um transtorno
mental, e busca desesperadamente por ajuda. Foi a última música do álbum a ser
gravada, e justamente a que Geezer Butler não queria que fosse gravada por
achar o seu ritmo semelhante ao de “Communication Breakdown”, do Led Zeppelin.
Mas Butler foi voto vencido, os outros membros eram a favor da música e ela foi
gravada.
Depois de duas
músicas pesadas, uma pausa para ouvir o som leve e relaxante de “Planet
Caravan”, uma balada psicodélica escrita por Geezer Butler. A canção narra o
que seria flutuar pelo espaço sideral entre as estrelas e planetas com alguém
que se ama. A voz “borbulhante” de Ozzy Osbourne na canção foi gravada através
de um alto-falante de Leslie, que possibilitou um efeito incrível. Enquanto
Bill Ward toca congas e Gezzer Butler concentra-se no baixo, Tony Iommi mostra
que também sabe fazer solos leves e delicados com a sua guitarra.
Fechando o
lado A de Paranoid, outro som pesado que se tornou um clássico do Black
Sabbath, “Iron Man”. A faixa começa com o som do bumbo da bateria de Bill Ward
acompanhado pela guitarra de Tony Iommi criando um clima sonoro tenso e pesado.
Em seguida, surge uma voz robótica e ameaçadora de Ozzy Osbourne anunciando: “I
am Iron Man”. Apesar do título, a música nada tem a ver com o famoso
super-herói da Marvel. Segundo o baixista Geezer Butler, letrista da música, o
“Iron Man” do Sabbath trata sobre os perigos da tecnologia fugir do controle
humana, em quem a máquina poderia se rebelar e planejar a sua vingança contra
os seres humanos. A parte final é praticamente uma jam session, onde o
ouvinte pode perceber a perfeita interação entre dos músicos da banda e as suas
habilidades nos seus respectivos instrumentos.
O lado B de Paranoid
começa com a apocalíptica “Electric Funeral”, cujos versos descrevem um cenário
do fim do mundo através de uma guerra atômica que ceifa todas as formas de vida
na Terra. “Hand Of Doom” foi inspirada em alguns soldados americanos que
chegavam à Inglaterra retornando da Guerra do Vietnã, debilitados não só pelo
conflito em si, mas também pelo vício em heroína, droga que consumiam para
poder encarar os horrores nos campos de batalha. O ritmo pesado e arrastado de
“Electric Funeral” e de “Hand Of Doom” prenuncia o doom metal, vertente do
heavy metal que surgirá nos anos 1980.
“Rat Salad”
é a única faixa instrumental do álbum. Embora curta, pouco mais de dois minutos
duração, o tempo é suficiente para o ouvinte apreciar mais atentamente as
habilidades de Geezer Butler, Tony Iommi e Bill Ward. A primeira parte da faixa
traz baixo, guitarra e bateria juntos, mas é na segunda parte que o protagonismo
é todo de Bill Ward, que faz solos incríveis de bateria. Na terceira e última
parte, os três músicos tocam juntos novamente.
A faixa que encerra o álbum é “Fairies Wear Boots”, que foi
inspirada num fato curioso passado pelo Black Sabbath no início da carreira,
quando após um show, os membros da banda foram abordados por um grupo de
skinheads. Os membros do Sabbath não se intimidaram e a tal abordagem terminou
em briga. Como uma forma de deboche, o Black Sabbath fez “Fairies Wear Boots”
em que chamam os skinheads de “fadas de botas”. Embora o assunto abordado na
letra seja um tanto quanto banal, a base instrumental executada pelo Black
Sabbath é simplesmente fantástica em que os andamentos são bastante variados, e
há uma alternância entre som pesado e leve.
Dois dias após o lançamento de Paranoid, o Black Sabbath
iniciou uma turnê europeia que durou cerca de um mês. Mas a grande expectativa
estava reservada para o dia 30 de outubro de 1970, quando o Black Sabbath
iniciou a sua primeira turnê pelos Estados Unidos, tocando no Glassboro State
College, em Glassboro, estado de Nova Jersey. A turnê se estendeu até o final
de novembro, passando por cidades como Los Angeles, San Francisco, Detroit e
Nova York. Nessa primeira turnê americana, o Sabbath abriu shows do Canned
Heat, Faces, Alice Cooper e James Gang.
E foi nessa primeira turnê americana que os membros do Black
Sabbath tiveram o primeiro contato com a cocaína. A droga a partir de então se
tornariam um elemento presente na vida banda, principalmente nas vidas de Ozzy
Osbourne e Bill Ward que se tornaram dependentes da cocaína. Em fevereiro de
1971, o Black Sabbath fez uma nova turnê em terras americanas.
Assim como o
primeiro álbum, a recepção de Paranoid por parte da crítica não
foi tão positiva. Por outro lado, comercialmente, Paranoid superou o álbum
de estreia. O segundo álbum do Black Sabbath ficou em 1º lugar na parada de
álbuns do Reino Unido, algo que só iria se repetir com um álbum do Black
Sabbath em 2013 com 13. Paranoid foi também 1º lugar nas paradas de álbuns da Alemanha
e da Holanda. Nos Estados Unidos, Paranoid alcançou o 12º lugar na
para da Billboard 200 e lá vendeu cerca de 4 milhões de cópias.
Passadas
tantas décadas após o seu lançamento, Paranoid construiu uma reputação
inabalável. Além de ser o álbum mais vendido da discografia do Black Sabbath, Paranoid
está entre os álbuns mais influentes da história do heavy metal. É sempre
citado por bandas dos mais diversos seguimentos do heavy metal como influência.
Paranoid
é uma presença constante nas listas dos mais importantes álbuns de heavy metal
de todos os tempos. Na lista dos 100 Maiores Álbuns de Heavy Metal de Todos
os Tempos, da edição americana da revista Rolling Stone, publicada em 2017, Paranoid foi classificado
em 1º lugar.
Faixas
Letras
escritas por Geezer Butler (exceto “Fairies Wear Boots”: letra de Butler e Ozzy
Osbourne); canções compostas por Black Sabbath (Tony Iommi, Osbourne, Bill Ward
e Geezer Butler).
Lado A
- "War Pigs"
- "Paranoid"
- "Planet Caravan"
- "Iron Man"
Lado B
- "Electric Funeral"
- "Hand of Doom"
- "Rat Salad"
- "Fairies Wear Boots"
Black Sabbath: Ozzy Osbourne (vocais),
Tony Iommi (guitarra, flauta (em “Planet Caravan”)), Geezer Butler (baixo) e
Bill Ward (bateria e conga (em “Planet Caravan”)).
Referências:
Black Sabbath: A Biografia - Mick Wall, 2014,
Editora Globo, 2014 www.blacksabbath.com
"War
Pigs"
"Paranoid"
(videoclipe original)
"Planet
Caravan"
"Iron
Man"
"Electric
Funeral"
"Hand
of Doom"
"Rat
Salad"
"Fairies
Wear Boots"
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