“True Blue” (Sire Records, 1986), Madonna
Por Sidney Falcão
Embora lançado
no final de 1984, foi no ano seguinte que Like A Virgin fez de
Madonna uma estrela pop mundial. O segundo álbum de estúdio da cantora
americana emplacou cinco singles e vendeu mais de 20 milhões de cópias. Madonna
ainda teve tempo de coestrelar o filme Desperately Seeking Susan (no
Brasil, Procura-se Susan Desesperadamente). O impacto causado pelo
sucesso do álbum Like A Virgin gerou no público uma grande expectativa
para o próximo trabalho de Madonna.
Para alguns
especialistas, o terceiro álbum é o mais importante na carreira de um artista,
é um trabalho desafiador. É evidente que não é exatamente uma regra, porém, o
terceiro disco carrega uma responsabilidade de ratificar o sucesso conquistado
pelo artista por meio dos dois primeiros álbuns. O terceiro álbum tem o desafio
de consolidar esse sucesso e mostrar que determinado artista não é um mero modismo,
um “produto descartável”.
Com True
Blue, Madonna conseguiu superar com desenvoltura o desafio do terceiro
álbum. Em seu terceiro álbum de estúdio, Madonna manteve a receita musical do
apelo pop de Like A Virgin, mas acrescentou algumas novidades ao
seu trabalho como a musicalidade latina (algo que seria recorrente a partir de
então nos seus trabalhos posteriores), a abordagem de temas mais delicados como
o aborto e gravidez na adolescência, e o emprego da voz num tom mais grave,
encorpado, diferente da voz estridente dos dois primeiros discos. Outra
novidade trazida por True Blue foi que Madonna mudou o seu
visual: trocou figurino new wave cheio de adereços, colar com crucifixo e o
jeito adolescente por um visual adulto, um corte de cabelo curto e platinado.
Tendo já
conquistado o público jovem, Madonna procurava através de True Blue
atrair o público adulto que via com descrédito o seu trabalho por causa dos seus
dois primeiros álbuns.
Visual novo: Madonna fotografada por Herb Ritts em sessão de fotos para a capa de True Blue. |
True Blue foi gravado entre dezembro de 1985 e abril de 1986 no Channel Recording Studios, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A produção ficou a cargo do músico e produtor Stephen Bray (ex-namorado de Madonna), de Patrick Leonard e da própria Madonna.
Em março de
1986, foi lançado o single da balada romântica “Live To Tell”, a segunda da
carreira de Madonna. A primeira foi “Crazy For You”, do álbum Like A
Virgin. O single de “Live To Tell” surpreendeu o público ao apresentar
uma Madonna mais adulta, mais mulher, uma voz mais grave. Assim como o single,
o videoclipe de “Live To Tell” também refletiu essa nova Madonna. O single de
“Live To Tell” agradou os fãs, e logo alcançou o 1º lugar da Billboard Hot
100, nos Estados Unidos, e entrou no Top 10 do Canadá, França, Países
Baixos, Suíça e Reino Unido.
True
Blue foi lançado
em 30 de junho de 1986, e quase se chamou Live To Tell, título do
primeiro single do álbum. Madonna dedicou o álbum ao ator Sean Penn, com quem
havia se casado em agosto de 1985. Estava bastante apaixonada pelo marido. Mal
sabia ela dos tormentos que iria passar com Sean Penn algum tempo depois.
Composto por
nove faixas, True Blue começa com “Papa Don’t Preach”, música que
traz na sua introdução um arranjo de cordas simulado por sintetizador que dá um
tom de música clássica, mas que na sequência cede espaço para um ritmo dance
pop. “Papa Don’t Preach” conta a história de uma garota adolescente que
descobre que está grávida e diz ao seu pai, um homem severo, que terá o bebê e
se casará com o namorado, pai da criança. No Brasil, “Papa Don’t Preach” foi
incluída da trilha sonora da novela Hipertensão, da TV Globo, em 1986.
O ritmo
dançante prossegue com “Open Your Heart”, primeira música gravada para o álbum,
em dezembro de 1985. A música foi oferecida a Cyndi Lauper, mas ela rejeitou. A
letra de “Open Your Heart” trata sobre uma garota que tenta conquistar o rapaz
por quem está apaixonada, e para o qual diz que ele tem a chave para abrir o
cadeado do coração dela. O videoclipe de “Open Your Heart” causou polêmica na
época em que foi exibido pela primeira vez por causa da cena em que um
garotinho tenta entrar num peep show onde Madonna faz o papel de uma
dançarina sensual vestida num figurino inspirado em Lize Minelli e Marlene
Dietrich.
Madonna em cena do videoclipe de "Open Your Heart", em traje inspirado em Liza Minelli. |
“White Heat” é dedicada ao ator James Cagney e ao filme estrelado por ele, filmado em 1947, e que possui o mesmo título da música. Na introdução da música, há um trecho de um diálogo original do filme. A letra de “White Heat” é sobre uma mulher empoderada, sedutora, dona dos seus desejos, e que toma a iniciativa frente ao seu amante.
O lado 1 da
versão LP de True Blue termina com a ótima “Live To Tell”, que
havia sido lançada em single três meses antes do álbum. “Live To Tell” é uma
balada romântica maravilhosa em que Madonna mostra toda a sua maturidade como
intérprete. A música era instrumental, composta por Patrick Leonard para a
trilha sonora do filme Fire With Fire, mas foi recusada pela empresa
produtora do filme. Leonard então mostrou a música para Madonna, que gostou e
escreveu a letra. Ela gravou e decidiu incluí-la na trilha sonora do filme At
Close Range (Caminhos Violentos, no Brasil), estrelado por seu
marido Sean Penn. O diretor do filme, James Foley, aprovou e a música foi
incluída na trilha sonora.
“Where’s The
Party” abre em ritmo agitado o lado B da versão LP do álbum. Trata sobre uma
garota que trabalha duro de segunda a sexta, e aproveita o sábado para se
divertir e extravasar em alguma festa. A divertida, alegre e leve faixa-título
vem na sequência, uma música que Madonna se inspirou no som de girl groups
dos anos 1960 como The Ronettes e The Supremes. “Tru Blue”, a canção, versa
sobre uma garota romântica que após tantas desilusões amorosas, encontrou o seu
verdadeiro amor, e a ele devota todo o seu sentimento.
“La Isla
Bonita” é uma das principais faixas de True Blue e um dos maiores
sucessos da carreira de Madonna. Foi a primeira música gravada por Madonna com
influência da sonoridade hispânica. Patrick Leonard e Bruce Gaitsch compuseram
a canção, e Madonna complementou a letra, em que a cantora sonha que está numa
ilha paradisíaca chamada San Pedro. Os bongôs na introdução da música foram
tocados pelo percussionista brasileiro Paulinho da Costa, músico que já tocou
com alguns dos mais importantes artistas da música pop americana.
Uma
curiosidade na letra de “La Isla Bonita” é que embora a letra traga expressões
e toda uma carga musical com inspiração hispânica, há uma citação sobre samba,
o principal ritmo musical do Brasil, país onde o idioma é o português: “E
quando o samba tocava / O sol se punha lá no alto”. É o velho
desconhecimento de uma grande parcela do povo americano que acredita que toda a
América Latina é uma só cultura e fala apenas espanhol. Outra curiosidade sobre
“La Isla Bonita”, é que ela foi oferecida para Michael Jackson gravar, mas ele
recusou.
O consagrado percussionista brasileiro, Paulinho da Costa, tocou bongô em "La Isla Bonita". |
Com influência da música pop do início dos anos 1960, “Jimmy Jimmy” é outra faixa com clima retrô presente em True Blue. A letra é sobre a admiração de uma garota por um bad boy do bairro onde mora. O álbum termina com “Love Makes The World Go Round”, outra faixa com influencia latina presente no álbum, e que traz em sua letra uma temática pacifista e social.
True Blue atendeu as expectativas do público pelo
novo álbum de Madonna. O novo trabalho da cantora teve um ótimo desempenho nas
paradas de álbuns de vários países. Alcançou o 1º lugar nos Estados Unidos,
Reino Unido, Canadá, Austrália, França, Alemanha e Brasil. Todos os cinco
singles do álbum (“Live To Tell”, “Papa Don’t Preach”, “True Blue”, “Open Your
Heart” e “La Isla Bonita”) alcançaram o Top 5 da Billboard Hot 100, nos
Estados Unidos. Os singles de “Live To Tell” e “Papa Don’t Preach” atingiram o
1º lugar da Billboard Hot 100.
A
performance de True Blue nas vendas foi ótima. Nos Estados Unidos,
vendeu cerca de 7 milhões de cópias, e no Reino Unido, chegou à marca de 2
milhões de cópias vendidas. Em todo o mundo, True Blue vendeu 30
milhões de cópias. O terceiro álbum de Madonna foi o disco mais vendido no
mundo em 1986, e o álbum feminino mais vendido na década de 1980.
Embora
lançado no final de junho de 1986, a turnê promocional de True Blue
só começou um ano depois, em 14 de junho de 1987. A turnê promocional de True
Blue acabou agregada à turnê promocional da trilha sonora do filme
Who's That Girl, lançado em julho de 1987. O filme foi estrelado por
Madonna, que gravou também toda as faixas da trilha sonora. Foi na prática uma
turnê promocional de dois discos ao mesmo tempo. Intitulada Who's That Girl
World Tour, essa turnê foi a segunda da carreira de Madonna, mas a primeira
que ela fez em escala mundial. A Who's That Girl World Tour passou pela
América do Norte, Europa e Ásia, com 39 apresentações e envolveu um público
total de cerca de 1,5 milhão de espectadores. A turnê terminou em 6 de setembro
de 1987.
True Blue consolidou Madonna como a maior estrela feminina da música pop dos anos 1980, e elevou a cantora para o mesmo patamar de relevância pop de Michael Jackson e Prince. O álbum foi um disco de transição na carreira de Madonna, em que a cantora se distanciava do universo adolescente dos dois primeiros trabalhos para avançar para o universo feminino adulto a partir de Like A Prayer (1989). True Blue incluiu Madonna pela primeira vez no Guinness Book Of World Records, em 1988, no qual foi creditada como a cantora de maior sucesso do ano de 1986.
Faixas
Lado 1
- "Papa Don't Preach" (Madonna - Brian Elliot)
- "Open Your Heart" (Madonna - Gardner Cole - Peter Rafelson)
- "White Heat" (Madonna – Patrick Leonard)
- "Live to Tell” (Madonna – Patrick Leonard)
Lado 2
- "Where's the Party" (Madonna - Stephen Bray - Patrick Leonard)
- "True Blue" (Madonna - Brian Elliot)
- "La Isla Bonita" (Madonna – Patrick Leonard - Bruce Gaitsch)
- "Jimmy Jimmy" (Madonna - Stephen Bray)
- "Love Makes the World Go Round" (Madonna - Stephen Bray)
Referências:
Madonna - Uma biografia íntima, Randy Taraborrelli, 2003, Editora
Globo
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