“The Wall” (Harvest, 1979), Pink Floyd
The Wall, décimo primeiro álbum de estúdio do Pink Floyd, é um
dos mais importantes álbuns da história do rock em todo os tempos. Fruto da
mente criativa e inquieta do baixista Roger Waters, The Wall é um álbum duplo
e conceitual que conta através das suas 26 faixas, a história conturbada de um
astro do rock, um personagem fictício inspirado no próprio Waters, e também em
Syd Barret, ex-Pink Floyd e primeiro líder da banda. O álbum fez um enorme
sucesso no final dos anos 1970, vendeu milhões de cópias, emplacou o single “Another
Brick In The Wall - Part 2” nas paradas de sucesso pelo mundo, gerou uma muito
bem elaborada e caríssima turnê (que chegou a dar prejuízo à banda), e ainda
virou filme.
Mas para entender como nasceu o conceito que deu origem a The
Wall, é preciso voltar no tempo, para o ano de 1977, quando o Pink
Floyd estava em plena turnê de um outro importante álbum da sua discografia, Animals.
O sucesso estrondoso do álbum Dark Side Of The Moon (1973) elevou
o Pink Floyd de banda “cult” a um gigante do rock mundial, vendendo milhões de
cópias a cada álbum que lançava, e lotando arenas e estádios nos seus
concertos. Durante a turnê de Animals, intitulada In The Flesh, era perceptível que o quarteto
inglês havia alcançado uma popularidade de megaestrelas do rock, e que por
incrível que pareça, estava incomodando os membros do Pink Floyd,
principalmente a Roger Waters.
A turnê de Animals foi a primeira em que o Pink
Floyd se apresentou em estádios, e foi justamente neles que Waters percebeu o
nível de popularidade que a banda havia chegado, e ele não gostou nada do que
viu. O ápice da sua insatisfação foi o show do Pink Floyd no Estádio Olímpico
de Montreal, no Canadá. Naquela ocasião, o comportamento histérico dos fãs nas
primeiras cadeiras deixou Waters tão irritado, a tal ponto do baixista cuspir
no rosto de um deles. Após o ato, Waters abandonou o palco, seguido do
guitarrista David Gilmour. O comportamento daqueles fãs deixou Waters horrorizado.
Num encontro de Waters com o produtor Bob Ezrin, e um amigo deste, um médico
psiquiatra, o baixista relatou aos dois as suas impressões sobre o ocorrido no
show e a vontade que sentiu em construir um muro entre ele e aquele público
para isolar-se.
Pink Floyd durante a turnê do álbum Animals, em 1977. |
Após o fim da turnê de Animals, em meados de 1977, a banda
entrou em um período de recesso, e cada membro dedicou-se a projetos
particulares. David Gilmour e Richard Wright, foram para a França gravar seus
respectivos álbuns solos. Nick Mason foi produzir o álbum Green, do guitarrista
inglês Steve Hillage. Já Roger Waters, começou a compor novas canções para o
Pink Floyd: motivado pelo que ocorreu na turnê de Animals, Waters começa a
elaborar o conceito para o próximo álbum da banda.
Por volta de julho de 1978, durante a reunião dos membros do
Pink Floyd, Roger Waters apresenta duas fitas demos trazendo propostas de
conceito para o próximo álbum da banda. A primeira proposta, intitulada Bricks In The Wall, tratava sobre
ausência paterna e o autoritarismo nas escolas britânicas, e a segunda, The Pros And Cons Of Hitch-Hiking, era sobre
adultério e promiscuidade. Os integrantes optaram pela primeira proposta. A
segunda proposta acabou sendo aproveitada por Roger Waters para o seu primeiro
álbum solo, sob o mesmo título e lançado em 1984.
Se do ponto de vista artístico, as coisas estavam bem
adiantadas, as finanças da banda iam de mal a pior. Os membros do grupo
descobriram que os investimentos que a Norton Warburg Group (NWG), empresa que cuidava
das finanças do Pink Floyd, fracassaram e puseram a banda à beira da falência.
O Pink Floyd logo encerrou judicialmente a sua relação com a tal empresa, e
percebeu que para sair daquela situação de falência era preciso fazer dinheiro,
e para isso, gravar um novo álbum era mais do que necessário. O quarteto
percebeu também que o conceito de Bricks
In The Wall funcionaria melhor num álbum duplo do que num álbum simples. O
fato do projeto do novo álbum prever 26 faixas, e trazer um conceito instigante
e desafiador, levou Roger Waters buscar um produtor para auxiliá-los naquela
nova empreitada, algo até então inédito já que a própria banda era quem
produzia os seus álbuns. Seguindo a sugestão de sua namorada, Carolyne
Christie, Waters convocou Bob Ezrin, produtor que já havia trabalhado com Alice
Cooper, Kiss e Lou Reed. Christie havia trabalhado como secretária de Ezrin. Além
de contribuir na produção do novo álbum, Ezrin serviria como uma espécie de
mediador nos conflitos entre Roger Waters e David Gilmour.
Bob Ezrin em 2917: produtor do álbum The Wall. |
Foi Bob Ezrin quem ajudou a formatar melhor o conceito
elaborado por Waters para Bricks In The
Wall. Após uma audição da fita demo na casa de campo de Waters e reuniões
com os membros da banda, Bob Ezrin enxergou naquele projeto um roteiro de um
filme imaginário, e sugeriu algumas modificações. Se a princípio, o conceito se
mostrava muito baseado na vida de Waters, praticamente biográfico, Ezrin
sugeriu uma história focada na vida de um personagem fictício, um astro do
rock, que por um lado se basearia na vida de Waters (perda do pai na Segunda
Guerra Mundial, superproteção materna), mas também na vida de uma outra figura
também ligada ao Pink Floyd, Syd Barret, que neste caso, retrataria o abuso no
uso de drogas e a vida desregrada de algumas estrelas do rock. E por mais uma
sugestão de Bob Ezrin, o título do novo álbum, ao invés de Bricks In The Wall, foi reduzido apenas para The Wall.
O período de gravação de The Wall se estendeu ao
longo do ano de 1979, do mês de janeiro a setembro daquele ano. A banda gravou
em vários estúdios: Super Bear Studios e Studio Miraval, ambos em Correns, na
França; CBS Studios, em Nova York, Estados Unidos; e os estúdios Cherokee ,
Producers Workshop e The Village Recorder, em Los Angeles, Estados Unidos.
As gravações de The Wall não foram tão tranquilas.
Um conflito entre Roger Waters e Richard Wright acabou culminando na demissão
de Wright. Waters acusava Wright de estar pouco empenhado nas gravações do novo
álbum. Richard Wright por sua vez, mostrava-se insatisfeito com a presença de
Bob Ezrin na produção. Além disso, o tecladista estaria passando por problemas
particulares como crise no seu casamento e sintomas de depressão. A situação
ficou tão insustentável, que Waters ameaçou cancelar o lançamento de The
Wall. Nesse embate, Wright acabou deixando a banda, porém, por incrível
que pareça, participou da turnê de The Wall como músico contratado.
Richard Wright: de membro fixo a músico contratado no Pink Floyd. |
Um outro conflito que se estabeleceu foi entre Roger Waters
e David Gilmour. A razão do conflito foi a gravação da faixa “Comfortably Numb”,
composta pelos dois. Enquanto Gilmour queria uma sonoridade mais “suja” nos
versos, mais simples, enquanto que Waters, um arranjo mais elaborado, uma
preferência que também era a de Bob Ezrin. O resultado final é que ficou um
misto das duas ideias, com a sonoridade mais elaborada e limpa como queria
Waters, e o som mais cru da preferência de Gilmour ao final, com um solo de
guitarra fantástico executado por ele.
A concepção da capa de The Wall ficou a cargo do cartunista
inglês Gerald Scarfe, quebrando uma sequência de nove álbuns de estúdio com
capas elaboradas pelo estúdio Hipgnosis, do designer Storm Thorgerson. Roger
Waters rompeu com aquele estúdio após descobrir que Thorgerson havia lançado um
livro onde incluiu a capa de Animals sem sua permissão. A capa de
The
Wall, uma das mais simples da discografia do Pink Floyd, mostra uma
parede de tijolos brancos e sem texto. Algumas edições posteriores trouxeram o
nome da banda e o título do álbum escritos na capa. Scarfe já havia trabalhado
antes com o Pink Floyd, quando fez animações para a turnê In The Flesh, em 1977.
A capa e as ilustrações internas foram criadas pelo cartunista inglês Gerald Scarfe. |
Para ajudar a promover o álbum que estava prestes a sair e
apostando no potencial comercial da faixa, Bob Ezrin convenceu o Pink Floyd a
lançar a faixa “Another Brick In The Wall – Part 2” em formato single. A banda
não lançava um single desde de 1968. O single de “Another Brick In The Wall –
Part 2” foi lançado em 16 de novembro de 1979, acompanhado de um videoclipe promocional
feito às pressas. A sugestão de Ezrin não foi em vão: três semanas depois de
seu lançamento, o single de “Another Brick In The Wall – Part 2” chegou ao 1º
lugar na Inglaterra, derrubando do posto de liderança o single de “Walking On
The Moon”, do The Police, uma das principais bandas da nova geração do rock
inglês da época. O feito do single do Pink Floyd na Inglaterra foi repetido nos
Estados Unidos, Noruega, Portugal, Israel, e na então Alemanha Ocidental. Na
África do Sul, o sucesso do single teve outro impacto: serviu de estímulo para
que crianças negras protestassem contra o regime apartheid, fazendo com que o governo racista sul-africano banisse a
canção do Pink Floyd das rádios daquele país.
Finalmente, no dia 30 de novembro de 1979, o álbum duplo The
Wall chegava às lojas britânicas. Nos Estados Unidos, só chegaria em 8
de dezembro. Os executivos da Columbia, selo que responsável pela distribuição
dos álbuns do Pink Floyd nos Estados Unidos, tiveram uma reação um tanto quanto
“morna” quando fizeram a primeira audição do álbum. Esperavam algo como um novo
Dark
Side Of The Moon. Reação “morna” também teve a imprensa musical. A
revista New Musical Express viu The
Wall como um “monumento ao
pessimismo autocentrado”. Já a Melody Maker achou o álbum totalmente convincente. Nos Estados
Unidos a revista Rolling Stone foi
cautelosa nos elogios e afirmou que a visão de mundo de Roger Waters era “tão incessantemente triste e acidulada que
ela faz gente desagradável contemporânea como Randy Newman ou, digamos, Nico,
parecer Peter Pan e Sininho”.
The Wall é um álbum que trata sobre abandono, insegurança e
isolamento pessoal. Através das suas 26 faixas, o álbum duplo conta a história
de Pink, um astro do rock que perdeu o seu pai na infância durante a Segunda
Guerra Mundial. E por causa disso, sofreu a superproteção implacável da mãe.
Frequentou uma escola de ensino extremamente rígido, onde os professores eram
autoritários e violentos. Na vida adulta, apesar do sucesso na música, os
traumas da infância transformaram Pink num adulto inseguro, quando vivencia
novos dramas como o fracasso no casamento e o vício em drogas. Numa tentativa
de se proteger desses dramas, Pink acredita que a única saída é construir um
“muro psicológico” para isolar-se do mundo. Cada drama, cada trauma, cada
frustração vivenciada por Pink, é um tijolo que ele põe nesse muro. Ficam
evidentes que os dramas de Pink são inspirados na vida de Roger Waters e na de
Syd Barret.
Das 26 faixas, 24 foram compostas apenas por Roger Waters.
As outras foram compostas por Waters em parceria. O lado 1 do disco 1 do álbum
duplo The Wall começa de forma apoteótica com o som lento e pesado do
hard rock “In The Flesh?”, canção que leva o mesmo título da turnê do álbum Animals,
sendo que aqui, ela apareça como uma indagação. Em “In The Flesh?”, na voz do
baixista Roger Waters, o astro do rock fictício Pink se apresenta num tom
irônico, e faz um convite ao público (e ao ouvinte do álbum) a mergulhar na sua
história para saber como ele chegou até ali, e como diz um dos versos da
canção: “Encontrar o que está por trás
destes olhos frios”.
Roger Waters e David Gilmour dividem os vocais em “The Thin
Ice”, faixa que começa com um choro de criança, dando a entender que se trata
do nascimento de Pink. A canção compara viver a vida com patinar num gelo fino
(“the thin ice”) que poderá rachar a qualquer momento, dependendo do peso dos
traumas que se carrega.
Roger Waters num show do Pink Floyd: horror da idolatria dos fãs o inspirou da criação do conceito de The Wall. |
“Another Brick The Wall – Part 1” possui a mesma linha melódica da versão parte 2, porém num ritmo mais lento. Esta primeira versão, com vocal principal de Roger Waters, trata sobre a morte do pai de Pink na Segunda Guerra Mundial, quando o futuro astro do rock ainda era criança e que mudaria completamente a sua vida. A partir daí, Pink começa a construir o seu “muro imaginário”.
“The Happiest Days Of
Our Lives” possui um título irônico (“Os Dias Mais Felizes Das Nossas Vidas)
diante do conteúdo dos seus versos. Nela, Waters canta sobre a infância de Pink
numa escola de regime repressor, onde os professores são autoritários e
violentos.
Emendada com “The Happiest Days Of Our Lives”, começa a
faixa seguinte, “Another Brick The Wall – Part 2”, com vocais de Waters e
Gilmour, e que prossegue com a crítica ao sistema escolar rígido e autoritário.
“Another Brick The Wall – Part 2” traz a participação de um coral de crianças
da Islington Green School, de Londres. O produtor Bob Ezrin foi o autor da
ideia da participação dessas crianças que chegou a comover Roger Waters quando
este ouviu a gravação finalizada. Nesta faixa, surpreende uma sutil levada em
ritmo disco music empregada pelo Pink Floyd, e que foi uma outra sugestão dada
pelo produtor Bob Ezrin.
Fechando o lado 1 do disco 1, a balada “Mother”, na qual Waters
e Gilmour cantam sobre a superproteção da mãe de Pink após a morte do pai dele.
Essa superproteção se revelará nociva na vida adulta de Pink, que o tornará um
homem inseguro, e é mais um tijolo a contribuir na elevação do muro.
O lado 2 do disco 1 da versão LP do álbum duplo, começa com
o canto de cotovias de “Goodbye Blue Sky” que abre a canção. Logo em seguida ao
canto das cotovias, uma voz de uma criança (provavelmente uma referência ao
Pink criança) diz: “Veja, mamãe, tem um
avião no céu”. A letra descreve de maneira sutil, o temor das bombas
despejadas pelos aviões sobre Londres durante a Segunda Guerra Mundial e a
busca por um abrigo para se proteger. A canção delicada traz David Gilmour
cantando e tocando seu vilão, acompanhado por sintetizadores ao fundo, criando
um clima de tensão à música.
Com vocal de Waters, “Empty Spaces” apresenta o muro
imaginário de Pink ainda incompleto, e o astro do rock se pergunta como e com
que preencher os espaços vazios que ainda há nele. Assim que termina, “Empty
Spaces” é emendada por “Young Lust”, um misto de hard rock com uma leve levada
funk, cuja letra descreve Pink em turnê, e que para aliviar as tensões dos
shows e viagens, aproveita os prazeres do sexo com groupies. Porém, Pink faz uma descoberta que se revelou um duro
golpe: ao telefonar para a casa, descobre que sua esposa está o traindo com
outro homem.
“One Of My Turns” começa lenta, com voz de uma mulher e um
som de TV, seguido depois pelo canto de Waters. Subitamente, o ritmo lento e
calmo cede lugar para um som mais agitado e rápido. Com vocal principal de
Waters, “One Of My Turns” retrata Pink e uma groupie num quarto de hotel. Enquanto ela se deslumbra com o
ambiente, o astro do rock se mostra alheio, com a mente distante pensando
apenas no fracasso do seu casamento. De repente, Pink tem um acesso de fúria e
destrói todo o quarto do hotel em que está hospedado.
Em “Don’t Leave Me Now”, Waters canta de maneira
desesperada, parecendo encarnar o próprio Pink. A letra traz um Pink clamando à
esposa para não deixá-lo. É o fim por completo do casamento do astro, e mais um
tijolo posto no muro que só cresce.
Pink rebela-se em “Another Brick The Wall – Part 3”, ao
afirmar que não precisa mais de braços ao seu redor e nem de drogas para
acalmá-lo, e completa: “All in all it was
all just bricks in the wall / All in all you were all just bricks in the wall”
(“No final, tudo era apenas tijolos no
muro / No final, vocês eram apenas tijolos no muro”).
“Goodbye Cruel World” encerra o lado 2 do disco 1, apenas
com a voz e o baixo de Roger Waters, e um sintetizador de Richard Wright.
Canção curta e triste, na qual Pink se despede do mundo e se isola no muro.
Capa dupla interna de The Wall com a arte de Gerald Scarfe. |
O disco 2 começa a faixa “Hey You” abrindo o lado 3, e traz
David Gilmour e Roger Waters nos vocais principais. Isolado pelo seu muro
psicológico, Pink tenta fazer contato com quem está do outro lado do muro. Mas
logo ouve que o muro é muito alto e praticamente intransponível.
Pink prossegue tentando contato com o mundo do outro lado em
“Is There Anybody Out There?”. A primeira metade da música é tensa. Riffs de guitarra produzem ruídos que
lembram sons de sirenes, e ao mesmo tempo remetem aos efeitos sonoros que se
ouve em “Echoes”, clássico do Pink Floyd presente no álbum Middle (1971). Os
dedilhados de violão espantam o estado de tensão, e criam um clima de calmaria
no final da canção.
Em “Nobody Home”, Pink está confinado num quarto de hotel e
isolado pelo seu muro psicológico. Lá dentro, ele tenta falar por telefone com
as pessoas que conhece, mas não encontra ninguém. A canção parece fazer uma
alusão a Syd Barret.
O título da canção seguinte, “Vera”, faz referência à Vera
Lynn, uma cantora britânica muito famosa nos anos 1940 durante a Segunda Guerra
Mundial. Provavelmente teria sido uma cantora da qual o pai de Pink era fã. Uma
banda marcial e um coral dão início a “Bring The Boys Back Home”, que começa
emendada com o final de “Vera”, faixa anterior. Roger Waters canta de maneira
estridente versos curtos que são um apelo pela volta dos soldados da guerra.
“Comfortably Numb”, uma das mais destacadas canções de The
Wall, fecha o lado 3 do disco 2. Com Gilmour e Waters se revezando nos
vocais, a canção foi composta pelos dois, e trata sobre um médico que tenta
medicar Pink para que ele saia do isolamento psíquico e volte aos palcos. Em
“Comfortably Numb”, Gilmour faz um dos mais belos solos de guitarra da sua
carreira.
“The Show Must Go On” abre o lado 4 no disco 2, com David
Gilmour no vocal principal, e é acompanhado por vocais de apoio bem ao estilo
dos Beach Boys. É a única faixa do álbum que Roger Waters não canta e nem toca
qualquer instrumento. A canção apresenta um Pink buscando retornar à sua
carreira de astro do rock e livrar-se da superproteção materna.
Bob Geldorf no papel de Pink, na versão cinematográfica de The Wall, dirigida por Alan Parker. |
Roger Waters canta em “In The Flesh”, que começa como um
hard rock lento e pesado que depois ganha ares de música gospel, e mais
adiante, retorna ao som pesado inicial. O título da faixa é o mesmo que deu
nome à turnê do álbum Animals, em 1977. Em “In The Flesh”,
Pink retorna aos palcos, mas desta vez de maneira estranha e polêmica:
assumindo uma postura de líder nazista, homofóbico e racista.
Na faixa “Run Like Hell”, Waters e Gilmour dividem os vocais
e cantam sobre Pink que assume uma persona fascista ao fazer um discurso repressivo
tal qual um ditador, e incentiva seus seguidores a perseguirem os seus
opositores. A música é um misto de rock e uma levada disco music.
“Waiting For The Worms” traz Waters e Gilmour mais uma vez
se revezando nos vocais. Marca a espera de Pink atrás do muro aguardando a
chegada dos vermes. Ao longo do caminho, os vermes perseguem negros, judeus e
homossexuais pelas ruas de Londres.
A curta “Stop” mais parece uma vinheta, e trata do
verdadeiro Pink, aprisionado no subconsciente pelo próprio Pink, grita
desesperado que quer parar tudo, retomar a sua vida e desistir de toda aquela
vida absurda.
Em “The Trial”, Pink é julgado num tribunal por demonstrar
“sentimentos de uma natureza quase humana”. Sua mãe, esposa e professor dão
depoimentos. A condenação, decretada pelo juiz, é a derrubada do muro. Ouve-se
uma grande explosão.
“Outside The Wall” é a canção que encerra o álbum, trazendo
em seus versos uma mensagem que afirma que quem somos realmente de verdade,
está do outro lado do muro. A letra da canção dá a entender que Pink conseguiu
liberta-se do muro psicológico que o aprisionava.
Se a recepção a The Wall por parte da imprensa
musical foi inicialmente “morna”, o público recebeu muito bem o álbum duplo de
estúdio do Pink Floyd. The Wall assumiu o topo da parada da
Billboard, nos Estados Unidos, e por
lá ficou por cerca de 15 semanas. Foi o álbum mais vendido nos Estados Unidos
em 1980. No Reino Unido ficou em 3º lugar das paradas de álbuns. Entre 1979 e
1990, The Wall vendeu mais de 19 milhões de cópias mundialmente, e em
1999, chegou à marca de 23 milhões de cópias vendidas no mercado
norte-americano. The Wall tornou-se o segundo álbum mais vendido do Pink Floyd,
atrás apenas de Dark Side Of The Moon.
Para divulgar o álbum, o Pink Floyd iniciou em 7 de
fevereiro de 1980, a The Wall Tour,
talvez a mais ambiciosa turnê da história da banda britânica. Todo o conceito
da turnê se baseou no próprio conceito do álbum: nos concertos, um muro de doze
metros feito de tijolos cenográficos era construído gradualmente entre a banda
e o público no decorrer da apresentação. Personagens na história de Pink
apareciam no palco em formatos infláveis gigantescos. No final do concerto, o
muro era derrubado.
Devido a todo o aparato cenográfico dos shows, além dos
equipamentos de som, e ao custo da logística que o perfil dessa turnê requeria,
a The Wall Tour passou por poucas
cidades pelo mundo, e consequentemente, o número de shows foi pequeno. A turnê
passou por Los Angeles/EUA (sete shows), Union Dale/EUA (cinco shows),
Dortmund/Alemanha (oito shows) e Londres (onze shows), totalizando 31
apresentações. O mais irônico é que enquanto o Pink Floyd amargou um enorme
prejuízo, o único que saiu lucrando com a turnê foi Richard Wright, justamente
o integrante expulso da banda. Como atuou como músico contratado e não mais
fazia parte da banda, Wright não sentiu o peso do prejuízo, ao contrário de
David Gilmour, Roger Waters e Nick Mason.
Pink Floyd num show da turnê The Wall. |
Em 1982, estreou nos cinemas o filme The Wall, do diretor Alan Parker, tendo o cantor Bob Geldorf no
papel de Pink. Roger Waters escreveu o roteiro, e o cartunista Gerald Scarfe
foi responsável pelas animações presentes no filme. Ao longo do tempo, The Wall, o filme, se tornou um “filme
cult”.
Na edição do Grammy
Awards de 1980, o engenheiro de som James Guthrie foi contemplado com um
prêmio na categoria “Melhor Gravação (não clássica)” pelo seu trabalho no álbum
The
Wall.
Já com
um ex-Pink Floyd, Roger Waters montou em 1990, montou em
parceria com o produtor Tony Hollingsworth, a The Wall Live in Berlin, na cidade Berlin, na Alemanha, um grande
concerto musical que era uma clara alusão à queda do Muro de Berlin, e que teve
um caráter beneficente. O concerto contou com a participação de ilustres
convidados como Scorpions, Cyndi Lauper, Sinead O’Connor e Bryan Adams, para um
público de cerca de 350 mil pessoas.
Anos depois, em 2010, Waters promoveu a turnê mundial The Wall Live, que se estendeu até 2013,
e contou com o que havia de mais avançado em tecnologia de som e em projeção de
imagens em alta resolução. Foram mais de 219 shows e a arrecadação total foi de
458,6 milhões de libras.
Em 2003, a revista Rolling
Stone colocou The Wall no 87º lugar na sua lista dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos.
Faixas
Todas as canções escritas por Roger Waters, exceto quando
indicado.
Disco 1
Lado 1
- “The Flesh?”
- “The Thin Ice”
- “Another Brick In The Wall - Part 1”
- “The Happiest Days Of Our Lives”
- “Another Brick In The Wall - Part 2”
- “Mother”
Lado 2
- “Goodbye Blue Sky”
- “Empty Spaces”
- “Young Lust” (Gilmour – Waters)
- “One Of My Turns”
- “Don't Leave Me Now”
- “Another Brick In The Wall - Part 3”
- “Goodbye Cruel World”
Disco 2
Lado 3
- “Hey You”
- “Is There Anybody Out There?”
- “Nobody Home”
- “Vera”
- “Bring The Boys Back Home”
- “Comfortably Numb” (Gilmour – Waters)
Lado 4
- “The Show Must Go On”
- “In The Flesh”
- “Run Like Hell” (Gilmour – Waters)
- “Waiting For The Worms”
- “Stop”
- “The Trial” (Bob Ezrin - Waters)
- “Outside The Wall”
Pink Floyd: Roger Waters (vocal, baixo, guitarra rítmica,
sintetizadores e efeitos sonoros), David Gilmour (guitarra solo, guitarra
rítmica, vocal, baixo e sintetizadores), Nick Mason
(bateria e percussão) e Richard Wright (piano, órgão Hammond, piano elétrico,
sintetizadores e pedais).
Referências:
Revista Bizz –
outubro/1987 – Edição 27
Nos bastidores do Pink Floyd - Mark Blake, 2012, Editora Évora
Classic Rock Monografie nº3 – Pink Floyd -
2017 - Sprea Editori/Itália
Rolling Stone Hors Série Collector Nº 34 – Pink Floyd – 2017 – Positive Media/França
pinkfloyd.com
Wikipedia
“The Flesh?”
“The Thin
Ice”
“Another
Brick In The Wall - Part 1”
“The
Happiest Days Of Our Lives”
“Another
Brick In The Wall - Part 2”
(videoclipe original)
“Mother”
“Goodbye
Blue Sky”
“Empty
Spaces”
“Young Lust”
“One Of My
Turns”
“Don't Leave
Me Now”
“Another
Brick In The Wall - Part 3”
“Goodbye
Cruel World”
“Hey You”
“Is There
Anybody Out There?”
“Nobody Home”
“Vera”
“Bring The
Boys Back Home”
“Comfortably Numb”
“The Show
Must Go On”
“In The
Flesh”
“Run Like
Hell”
“Waiting For
The Worms”
“Stop”
“The Trial”
(Bob Ezrin - Waters)
“Outside The
Wall”
Grande história para um grande álbum! O quarentão de 2019 com toda a certeza!
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