10 discos essenciais: álbuns duplos
Porém, o
formato álbum duplo só veio ganhar uma viabilidade comercial na
música popular através do rock nos anos 1960. Blonde On Blonde, de
Bob Dylan, lançado em maio de 1966, foi o primeiro álbum duplo da história do rock, e
no mês seguinte, Freak Out!, dos Mothers of Invention, o segundo do álbum duplo do gênero. A partir da segunda metade dos anos 1960, o experimentalismo no rock passou a se valer dos avanços
da tecnologia de gravações de discos e a exigir mais espaço nos discos, o que
acabou fazendo o formato álbum duplo ser bastante explorado, tanto do ponto de
vista musical quanto visual, já que o álbum duplo exigia capa dupla, geralmente
com uma arte gráfica bem mais caprichada.
O
auge dos álbuns duplos foi a década de 1970, tendo o rock progressivo como o
gênero que mais explorou esse formato, chegando até a lançar álbuns triplos.
Porém, não era um formato exclusivo do rock progressivo, havendo lançamentos
nesse formato em outros gêneros musicais que tiveram ótimos resultados
comerciais apesar de serem mais caros do que um álbum simples. Com o advento
do CD a partir dos anos 1980, os álbuns duplos foram perdendo espaço, já que o
tempo de um álbum duplo em vinil cabia perfeitamente num CD. No entanto, alguns
títulos lançados originalmente como álbum duplo em vinil, se mantiveram como álbum
duplo em CD, provavelmente para manter a tradição do formato duplo original.
Blonde On Blonde
(Columbia, 1966), Bob Dylan. Considerado o primeiro álbum duplo da
história do rock, Blonde On Blonde consolida o processo de eletrificação da
música de Bob Dylan, iniciada com o álbum Bringing It All Back Home (1964),
causando a ira dos fãs mais radicais, mas conquistando novos públicos que
passaram a apreciar o trabalho do cantor. Dylan vivia um dos períodos mais
criativos e férteis da sua carreira, o que só comprova o fato de ter produzido
um álbum duplo como Blonde On Blonde, gravado em Nashville e acompanhado do The
Hawks, banda que depois seria rebatizada com o nome de The Band. Tido
como denso e melancólico, mesclando folk rock, blues e country music, Blonde
On Blonde começa com a faixa “Rainy Day Women #12 & 35”, que foi
banida das rádios na época por trazer o verso “Todo mundo deve ficar chapado”. “Just
Like A Woman”, “Visions Of Johanna” e “I Want You” (regravada em português pelo
Skank nos anos 1990) são alguns dos destaques do álbum.
The Beatles (Apple
Records, 1968), The Beatles. Mais conhecido como The White
Album ("álbum branco"), é o primeiro e único álbum duplo de inéditas dos Beatles, e o
primeiro lançamento do selo Apple Records. Foi gravado após o retiro espiritual
dos Beatles na Índia com o guru Maharishi Mahesh Yogi. As sessões de gravação
do álbum foram marcadas por muita tensão, egos inflados e desentendimentos,
iniciando o começo do fim da banda. The Beatles, o álbum, mostra a banda
redirecionando a sua música, deixando para trás os excessos e as “gorduras” dos
três álbuns anteriores, dando adeus à psicodelia e indo em direção a um tipo de
música mais enxuta e menos rebuscada. Apesar de todo o caos da produção, o
resultado final foi positivo, trazendo faixas memoráveis como “"Back In The U.S.S.R.”, “While My Guitar Gently Weeps”, “Helter Skelter”, “Dear Prudence”, "Blackbird” dentre outras.
Exile On Main St. (Rolling
Stones Records, 1972), The Rolling Stones. Fugindo das cobranças de impostos na Inglaterra, os
Rolling Stones se refugiaram num vilarejo próximo a Nice, sul da França, onde alugaram
uma mansão, e num porão, improvisaram um estúdio. O local com estrutura
precária para gravação, somado às farras
regadas a muita bebida e drogas, dava a entender que dali não sairia nada.
Porém, não só saiu alguma coisa, como saiu em fartura: um material que rendeu
um álbum duplo, Exile on Main St. O álbum
mostra os Stones inspirados no velho blues (“Sweet Black Angel”, “Shake Your
Hips” e “Sweet Virginia”), na country music (“Torn And Frayed”), no gospel
(“Tumbling Dice”) e mostrando as garras em rocks afiados ( “Rocks Off” e
“Happy”).
Clube da Esquina
(EMI-Odeon, 1972), Milton Nascimento. Milton
Nascimento já era um artista famoso quando convidou o jovem Lô Borges, então
com cerca de 19 anos de idade, para dividir com ele o álbum duplo Clube da Esquina. Milton
já havia gravado anteriormente canções de Lô, como “Para Lennon e McCartney”, “Alunar” e “Clube da Esquina”
(esta última, uma parceria de Milton, Lô e Márcio Borges), as três do álbum Milton
(1970). Para a gravação do álbum duplo, Milton e Lô cercaram-se de companheiros
da cena musical de Minas Gerais como Beto Guedes, Wagner Tiso, Toninho Horta entre
outros. Com uma musicalidade que mescla referências de Beatles (safra 1969),
folk rock, rock progressivo com a música do interior de Minas Gerais, tudo
emoldurando uma riqueza poética nas letras, Clube da
Esquina foi muito além de apenas um álbum
duplo brilhante, batizou com seu nome um movimento musical que se tornou um dos
mais importantes da música popular brasileira. Dentre as suas 21 faixas,
algumas se tornaram clássicos da música brasileira como “O Trem Azul”, “Um
Girassol Da Cor Do Seu Cabelo”, “Paisagem Da Janela” e “Nada Será Como Antes”.
Goodbye Yellow Brick
Road (DJM, 1973), Elton John. Após uma sequência de excelentes álbuns como Madman
Across The Water (1971), Honky Château (1972) e Don't
Shoot Me I'm Only The Piano Player (1973), Elton John chega à
consagração com o álbum duplo Goodbye Yellow Brick Road, em 1973.
O álbum ratifica o alto nível da parceria Elton John-Bernie Taupin como hitmakers, já mostrado nos álbuns anteriores. Dentre as faixas de Goodbye Yellow Brick Road,
algumas se tornaram clássicos da carreira de Elton John como “Candle In The
Wind”, “Bennie And The Jets”, “Saturday Night's Alright For Fighting”, a
quilométrica “Funeral For A Friend/Love Lies Bleeding” e a faixa-título. Goodbye
Yellow Brick Road vendeu mais de sete milhões de cópias e fez de Elton
John um astro de primeira grandeza do rock, lotando estádios e arenas, vestindo
figurinos extravagantes e usando óculos dos mais esquisitos.
Physical Grafitti (Swang Song,
1975), Led Zeppelin. Physical Grafitti é o ápice
criativo do Led Zeppelin que vinha numa ótima sequência de álbuns desde o
primeiro, Led Zeppelin, de 1969. Já a partir do quarto álbum,
Houses Of The Holy (1973), o quarteto inglês demonstrava interesse
de ir além da fórmula hard rock/blues/folk music que o consagrou nos primeiro
três discos. Physical Grafitti seria na prática, uma evolução do álbum
anterior. Neste álbum duplo, o Led Zeppelin amplia o seu leque musical
abrangendo o rock progressivo, pop, música indiana e funk , mostrando-se uma
banda mais eclética do que por exemplo, o Deep Purple e o Black Sabbath, que
juntas com o Led compõem na minha opinião, a “santíssima trindade do rock
pesado”. “Kashmir”, “Trampled
Under Foot”, “Houses Of The Holy”, “Bron-Yr-Aur” e “In My Time Of Dying” são
alguns dos melhores momentos deste álbum duplo magnífico.
Songs In The Key Of Life (Motown, 1976),
Stevie Wonder. A Motown havia apostado uma grana alta na renovação de contrato
com Stevie Wonder, após uma sequência de álbuns muito bem avaliados pela
crítica e com ótimos desempenhos comerciais. No entanto, a demora na produção do
ambicioso Songs In The Key Of Life preocupou a Motown. Porém, a espera do
lançamento do valeu à pena. Além de ser álbum duplo, Songs In The Key Of Life trazia
de brinde uma EP com mais 4 faixas, um deleite total para os fãs. Abordando
temas como amor, racismo,
política, fé e conflitos sociais, Songs In The Key Of Life emplacou
hits memoráveis como “Isn't She Lovely” e “Sir Duke”, conquistou quatro prêmios
Grammy, e tornou-se um dos mais importantes álbuns da história da soul music e
do R&B.
London Calling (Columbia,
1979), The Clash. O Clash surpreendeu em todos os aspectos quando lançou, no final de 1979, London Calling, seu terceiro álbum.
Para começar, lançando um álbum duplo, mas vendido ao preço de um álbum
simples, a pedido do Clash. Em segundo, a banda mostra-se musicalmente bem diversificada,
experimentando com reggae e ska (algo que na verdade já assinalava desde o
primeiro álbum), e também com jazz, funk e pop. No entanto, o discurso
politizado e engajado continua afiado. Temas como violência, consumismo,
racismo, drogas, desemprego e política estão presentes em London Calling. O álbum
deu projeção ao Clash no mercado norte-americano e foi 9º lugar no Reino Unido.
London
Calling é presença garantida nas listas de melhores álbuns de rock de
todos os tempos. Destaques para as faixas “London Calling”, “Spanish
Bombs”, “Lost In The Supermarket” e “The Guns Of Brixton”.
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