“Jovem Guarda” (CBS, 1965), Roberto Carlos



Por Sidney Falcão

Em agosto de 1965, estreava na TV Record, de São Paulo, o programa Jovem Guarda, comandado por três jovens astros do rock brasileiro da época, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Criado para ocupar o espaço deixado pelas transmissões dos jogos de futebol pela TV nas tardes de domingo após proibição, o programa Jovem Guarda alcançou altos picos de audiência, através de cantores e bandas que embalavam jovens de norte a sul do Brasil com rocks animados e canções de amor dotadas de muita ingenuidade.

O sucesso do programa transformou Roberto Carlos na principal figura da atração televisiva e no principal astro da música jovem brasileira da época. De programa dominical para a juventude, o Jovem Guarda em pouco tempo se transformaria num dos mais importantes movimentos da música popular do Brasil no século XX. Mesmo tendo Roberto lançado um álbum em abril de 1965, o Roberto Carlos Canta Para A Juventude, a gravadora CBS decidiu que o cantor deveria lançar um novo álbum no final do ano, provavelmente para aproveitar as vendas de Natal.

Em setembro, Roberto entrou em estúdio para gravar o novo álbum, sob a produção de Evandro Ribeiro. Roberto contou com o The Youngsters como banda de apoio no estúdio, e com o tecladista Lafayette, no órgão Hammond. Os Youngsters já haviam acompanhado Roberto nos dois álbuns anteriores, o É Proibido Fumar (1964) e Roberto Carlos Canta Para A Juventude. A banda foi responsável pelos arranjos das músicas do novo álbum.
Para pegar carona no sucesso do programa comandado por Roberto, Erasmo e Wanderlea, a CBS decidiu batizar o novo álbum de Roberto Carlos como Jovem Guarda, justificando que isso elevaria ainda mais a audiência do programa e ao mesmo tempo alavancaria as vendas do novo álbum.

Auditório do programa Jovem Guarda.

Lançado em novembro de 1965, Jovem Guarda, o quinto álbum de estúdio de Roberto Carlos, começa com o rock “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”. Já na época das gravações do álbum, “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” era uma das maiores apostas de músicos e técnicos da CBS de que a música se tornaria um grande sucesso popular. Com um refrão forte e impactante, “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, apesar de ser um rock, não possui solos de guitarras, mas sim do órgão Hammond, executado por Lafayette, fazendo solos incríveis e marcantes. “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” se tornou um clássico do rock brasileiro. A música chocou o público conservador da época por causa do refrão, a tal ponto de algumas rádios se recusarem a tocar a música, Contudo, “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” caiu no gosto popular e seu sucesso foi inevitável, e se tornou um dos maiores clássicos do rock brasileiro.

“Lobo Mau” é uma versão em português de “The Wanderer”, sucesso do cantor norte-americano Dion, de 1961. A letra refere-se a um playboy que com seu carrão, conquista várias garotas e desperta a inveja dos rapazes.

“Coimbra” é outra regravação presente no álbum. Trata-se de uma das mais tradicionais músicas do cancioneiro português. Foi gravada pelos mais diversos artistas como Amália Rodrigues, Pérez Prado e Bing Crosby. Originalmente um fado, a canção virou um rock com Roberto.

No rock balada “Sorrindo Pra Mim”, Roberto canta sobre um rapaz que se despede da amada para uma viagem, mas que logo estará de volta. A engraçada “O Feio”, composta por Renato Barros, do Renato & Seus Blue Caps, conta a história de um rapaz feio que tem sorte com as garotas, que suspiram por ele e querem namorá-lo.

Encerrando o lado A da versão em vinil de Jovem Guarda, a misteriosa “O Velho Homem Do Mar”, que narra a estranha história de um velho que partiu com seu barco para alto mar e nunca mais voltou.

Banda The Youngsters e Roberto Carlos durante a sessão de gravação do álbum Jovem Guarda.
O lado B começa com o romantismo da balada “Eu Te Adoro, Meu Amor”. A canção possui um arranjo econômico, mas criativo, com saxofone e órgão Hammond fazendo solos, e uma guitarra elétrica cheia de efeitos pontuando.

“Pega Ladrão” é um rock que traz um solo “rouco” e alucinado de saxofone. A faixa é sobre um ladrão que roubou uma joia de uma garota, e é perseguido pela multidão. “Gosto Do Jeitinho Dela” é uma baladinha ingênua e “açucarada”, e de letra muito simplória.

O romantismo prossegue na faixa seguinte, “Escreva Uma Carta, Meu Amor”, outro grande sucesso presente no álbum, Jovem Guarda. A música reflete uma época que não existia internet e que as cartas de amor eram muito comuns. Enquanto isso, “Não É Papo Pra Mim” é um rock sobre um solteiro convicto que não quer saber nem de ouvir falar em casamento.

Encerrando álbum, “Mexerico Da Candinha”, outra música do Jovem Guarda que ganhou fama. Roberto canta sobre Candinha, uma fofoqueira que fala da vida de todo mundo. Acha Roberto um cara louco, esquisito e cabeludo.

Jovem Guarda foi um sucesso comercial e ele Roberto Carlos a astro de primeira grandeza do rock brasileiro. “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, que despertou pavor a um público mais conservador e religioso, representou um grito libertário e de rebeldia para uma juventude reprimida. “Lobo Mau”, “Escreva Uma Carta, “Meu Amor”, “Escreva Uma Carta, Meu Amor” e “Mexerico Da Candinha”.

O álbum seguinte, Roberto Carlos, de 1966, apresenta o começo de uma evolução nas canções de Roberto Carlos, sobretudo nos arranjos.

Em 2007, o álbum Jovem Guarda foi eleito pela edição brasileira da revista Rolling Stone como o 85º melhor álbum da música brasileira de todos os tempos.

Faixas

Lado A
  1. "Quero que Vá Tudo Pro Inferno" (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
  2. "Lobo Mau (The Wanderer)" (E. Maresca – versão:. Hamilton Di Giorgio)
  3. "Coimbra" (Raul Ferrão - José Galhardo)     
  4. "Sorrindo para Mim" (Helena dos Santos)
  5. "O Feio" (Getúlio Cortes - Renato Barros)
  6. "O Velho Homem do Mar" (Roberto Rei) 
Lado B
  1. "Eu Te Adoro, Meu Amor" (Rossini Pinto)
  2. "Pega Ladrão" (Getúlio Cortes)
  3. "Gosto do Jeitinho Dela" (Othon Russo - Niquinho)
  4. "Escreva uma Carta, Meu Amor" (Pilombeta - Tito Silva)
  5. "Não É Papo Pra Mim" (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
  6. "Mexerico da Candinha" (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)


Ouça na íntegra o álbum Jovem Guarda



"Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" 
(Roberto Carlos ao vivo, 
no programa "Show do Dia 7",
TV Record, 1966)



"Lobo Mau" (Roberto Carlos ao vivo, 
no programa "Show do Dia 7",
TV Record, 1969)



Comentários

  1. Roberto e Erasmo assinam apenas 3 composições. Eu acho LOBO MAU a faixa mais vibrante desse disco. Os solos de sax e não de guitarra ditam os arranjos meio arcaicos do repertório. O disco seguinte já teria menos sax.

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