Time Out (Columbia Records, 1959), The Dave Brubeck Quartet
O pianista Dave Brubeck nasceu em Concord, Califórnia, em 6 de dezembro de 1920, em uma família musical, na qual seus dois irmãos mais velhos eram músicos profissionais. Sua mãe, pianista, foi sua primeira professora, mas sua vida mudou aos 12 anos, quando a família se mudou para uma fazenda de gado em Ione, na Califórnia. Lá, ele trabalhou como vaqueiro e começou a tocar em bandas locais aos 14 anos. Inicialmente interessado em medicina veterinária, mudou para música ao ser atraído pelo jazz durante a faculdade. Após se formar em 1942, alistou-se no Exército e liderou uma banda integrada racialmente na Europa. Após servir na Segunda Guerra Mundial, retornou aos Estados Unidos decidido a explorar novas possibilidades dentro do gênero. Estudou composição no Mills College com Darius Milhaud, que o incentivou a misturar jazz e música clássica. Isso levou à formação do Dave Brubeck Octet em 1947 e do Dave Brubeck Trio em 1949.
Em 1951, o Dave Brubeck Quartet tomou forma quando Brubeck uniu forças com o saxofonista Paul Desmond (1924-1977), cuja sonoridade lírica se tornou marca registrada do grupo. Mais tarde, em 1958, após várias trocas de membros, o quarteto se consolida com a sua formação clássica, com Brubeck (piano), Desmond (saxofone), mais o baterista Joe Morello (1928-2011) conhecido por seu domínio técnico e sensibilidade rítmica, e o contrabaixista Eugene Wright (1923-2020), cuja presença garantiu uma base sólida e swing, completaram a formação.
No final dos anos 1950, o jazz passava por um período de transformações significativas, com o surgimento de novas vertentes como o hard bop e o cool jazz. Em 1959, Dave Brubeck lançou Time Out, um álbum que desafiava convenções e expandia os limites do gênero. Reconhecido como um dos pianistas mais inovadores da época, Brubeck buscava incorporar elementos da música clássica e de culturas diversas ao jazz, criando obras sofisticadas e acessíveis.
Enquanto o jazz tradicionalmente operava em tempos 4/4 ou
3/4, Time Out destacou-se pelo uso pioneiro de assinaturas de tempo compostas,
como o 5/4 de "Take Five" e o 9/8 de "Blue Rondo à la
Turk". Essa abordagem inicialmente encontrou resistência por parte da
gravadora, que considerava o álbum arriscado comercialmente. No entanto, o
resultado foi um marco na história do jazz, combinando inovação rítmica e apelo
popular, consolidando Brubeck como um visionário musical.
The Dave Brubeck Quartet: Paul Desmond, Eugene Wright, Dave Brubeck, Joe Morello.
O álbum começa com “Blue Rondo à la Turk”, a com uma assinatura de tempo de 9/8, claramente influenciada pela música tradicional turca, um ritmo pouco comum no jazz. Essa estrutura cria um contraste com o jazz tradicional, geralmente baseado em tempos de 4/4. A escolha de Brubeck por essa métrica inusitada, que alterna entre 2+2+2+3, surpreende e desafia a audiência, criando uma sensação de complexidade rítmica. Segundo as notas originais do álbum, essa experimentação estabeleceu uma nova abordagem no jazz, misturando elementos folclóricos com a sofisticação do gênero.
Com uma introdução lírica ao piano, “Strange Meadow Lark” alterna entre um estilo rubato e uma pulsação mais definida, guiada pela seção rítmica. O saxofone melancólico de Desmond adiciona uma melodia serena, com seu tom suave e introspectivo, complementa perfeitamente essa atmosfera. Enquanto isso, a performance dinâmica de Joe Morello na bateria evidencia a liberdade criativa do quarteto.
A faixa seguinte, “Take Five” é indiscutivelmente a peça mais conhecida do álbum, e é famosa por seu uso do tempo de 5/4, uma assinatura irregular que já era uma inovação por si só no jazz. O groove minimalista do piano de brubeck e a bateria cadenciada de Morello oferecem uma base para o solo icônico de saxofone Desmond. Segundo críticos musicais da época, a simplicidade melódica contrasta com a complexidade rítmica, o que contribuiu para o apelo universal da faixa. “Take Five” se tornou um ícone, sendo uma das mais reconhecidas do jazz e a peça mais tocada de Brubeck. Sua popularidade ajudou a expandir o apelo do jazz para uma audiência mais ampla.
“Three to Get Ready” é uma peça que brinca com a alternância entre 3/4 e 4/4, criando um diálogo rítmico único. A transição constante entre os dois ritmos exige dos músicos uma grande adaptação, tornando a peça desafiadora tanto para os intérpretes quanto para a audiência. A melodia acessível do piano é complementada por uma interação suave entre baixo e bateria, enquanto o quarteto demonstra um controle impecável da tensão e da liberação musical.
O designer gráfico havaiano S. Neil Fujita, criador da capa de Time Out.
Ao contrário de muitas faixas do álbum, “Everybody’s Jumpin’” começa sem uma tonalidade definida, o que causa uma sensação de desorientação. Isso aumenta a energia da peça, que vai ganhando força à medida que os músicos desenvolvem suas frases e exploram texturas harmônicas mais complexas. A peça, cheia de vitalidade e improvisação, se torna um destaque pela sua abordagem espontânea e efervescente, tornando-se uma verdadeira celebração do jazz.
Encerrando o álbum, “Pick Up Sticks” utiliza uma estrutura rítmica em 6/4, com o piano e o contrabaixo estabelecendo uma base repetitiva enquanto a bateria de Morello e o saxofone de Desmond acrescentam camadas de complexidade. Brubeck e sua banda criam variações complexas sobre essa base instrumental, resultando em uma performance com muita energia. Segundo os críticos, essa peça é um exemplo brilhante da destreza técnica e musical de Brubeck, consolidando sua posição como um dos maiores inovadores do jazz.
Time Out se tornou um marco comercial ao ser o primeiro álbum de jazz
a vender mais de um milhão de cópias, um feito impressionante para a época.
Segundo críticos da época, o sucesso se deve, em parte, ao apelo de suas
inovações rítmicas, como o uso de tempos irregulares, que atraíram um público
mais amplo, incluindo ouvintes fora do círculo tradicional do jazz. Além disso,
a acessibilidade melódica e a popularidade de faixas como “Take Five” ajudaram
a popularizar o gênero, contribuindo para a ampliação da base de fãs. O impacto
na experimentação musical foi igualmente significativo: o álbum abriu caminho
para álbuns posteriores do quarteto, que continuaram a explorar novas
estruturas e formas no jazz, solidificando o legado de Brubeck como um dos
grandes inovadores do gênero. Dessa forma, Time Out deixou uma
marca indelével na história da música.
Lista de faixas
Todas as canções escritas e compostas por Dave Brubeck, exceto "Take Five", por Paul Desmond.
Lado 1
- “Blue Rondo à la Turk”
- “Strange Meadow Lark”
- “Take Five”
Lado 2
- “Three to Get Ready”
- “Kathy’s Waltz”
- “Everybody’s Jumpin’”
- “Pick Up Sticks”
The Dave Brubeck Quartet: Dave Brubeck (piano), Paul Desmond (saxofone alto), Eugene Wright (contrabaixo acústico) e Joe Morello (bateria).
Referências:
davebrubeck.com
davebrubeckjazz.com
wikipedia.org
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