"We’re An American Band", (Capitol Records, 1973), Frand Funk Railroad

Por Sidney Falcão

Durante primeira metade dos anos 1970, a Grand Funk Railroad foi uma das mais populares bandas do rock americano. Através do seu hard rock contagiante, a banda americana lotava estádios e arenas nas suas apresentações ao vivo, e vendia milhões de discos a cada álbum que lançava. No entanto, a fama e o sucesso comercial não foram suficientes para convencer a imprensa musical do talento e da capacidade da Grand Funk Railroad. Boa parte da crítica musical da época, tinha uma implicância ou intolerância com a banda. 

Essa situação só mudou somente com a chegada do sétimo álbum da banda, We’re An American Band, lançado em 1973, um trabalho da Grand Funk que finalmente ganhou o reconhecimento da crítica, além, é claro, de ter alcançado um grande êxito comercial. Mas até chegar ao aclamado We’re An American Band, o grupo percorreu um caminho que começa com um fim de uma banda, passa por uma rápida ascensão e chega até uma batalha judicial que quase acabou com o Grand Funk Railroad.  

A história da banda começa na pequena cidade de Flint, no estado do Michigan, nos Estados Unidos, a partir do final de uma outra banda, a Terry Knight & The Pack. Em 1967, o líder do grupo, Terry Knight (1945-2004) deixa a banda para se dedicar à carreira como cantor. A banda Pack prossegue em atividade até que em 1969, os integrantes deixaram o grupo, restando apenas Mark Farner (vocais e guitarra) e Don Brewer (bateria). Os dois decidem então se manterem unidos para formar a partir das cinzas da The Pack uma nova banda de rock. A dupla convida o baixista Mel Scharcher (ex-Mysterians), que completa a nova banda sob o formato power trio (baixo, guitarra e bateria), inspirada em bandas como Cream, The Jimi Hendrix Experience e Blue Cheer, um formato que estava muito em voga na época. 

Enquanto isso, a carreira solo de Terry Knight havia fracassado, e o artista acabou se descobrindo profissionalmente nos bastidores da música, atuando como agente ou produtor fonográfico. Naquele ano, Knight foi contratado pela Capitol Records como produtor.



Ainda em 1969, o destino de Farner e Brewer se reencontrou com o antigo colega de banda, Terry Knight. Desse reencontrou em diante, Knight assumiu a condição de empresário da banda, que passou a se chamar Grand Funk Railroad. O nome foi inspirado no nome de numa grande ferrovia, a Grand Trunk Western Railroad, no norte dos Estados Unidos. Como agente da banda, Knight conseguiu incluir a Grand Funk Railroad no Atlanta International Pop Festival, de 1969, porém sem cachê. Apesar da banda ter se apresentando de graça no festival, a performance de palco diante de um público de 180 mil pessoas, chamou atenção de todos, inclusive da Capitol Records, gravadora da qual, Terry Knight, empresário da banda, trabalhava como produtor. 

Em agosto de 1969, a banda lançou o seu primeiro álbum de estúdio, On Time, que contou com a produção de Terry Knight. O álbum vendeu mais de 1 milhão de cópias, o que mostrou ser uma ótima estreia em disco. A banda emenda uma sequência de lançamento de seis álbuns num espaço de quatro anos, e todos com bons índices de vendas. A banda estava em plena ascensão, vendendo milhões de discos a cada lançamento e se apresentando em estádios e arenas lotadas. Para se ter uma ideia do prestígio e da autoconfiança da banda, em 1970, a Grand Funk Railroad gastou 100 mil dólares em um outdoor gigantesco na Time Square, em Nova York, anunciando o lançamento do álbum Closer To Home



Apesar do sucesso comercial de seus primeiros álbuns, a Grande Funk Railroad sofria duras críticas de jornalistas da área musical que parecia não levar sério a banda. Havia uma grande intolerância por parte da impressão à Grand Funk Railroad. Para se ter uma ideia da intolerância, em maio de 1971, a banda convidou 150 repórteres para uma entrevista coletiva onde seria anunciada datas para apresentação no Shea Stadium, em Nova York e de uma turnê no Japão. No entanto, apenas seis jornalistas compareceram àquela entrevista para ouvir o que a banda tinha a dizer. 

Contudo, a resposta veio poucos dias depois daquela coletiva. Os mais de 55 mil ingressos para o concerto da Grand Funk no Shea Stadium se esgotaram em 72 horas, quebrando um recorde que até então era dos Beatles, que quando se apresentou naquele estádio, em 1965, precisou de duas semanas para vender a mesma quantidade de ingressos. 

Em paralelo o sucesso que havia alcançado, em 1972, a relação entre a banda e o seu empresário Terry Knight estava tensa. O trio acusou Knight de estar roubando o dinheiro da banda e decidiu demiti-lo. Knight por sua vez decidiu processar a banda por quebra de contrato, dando início a uma desgastante batalha judicial. A batalha judicial foi vencida por Knight, deixando a banda num amargo prejuízo, não apenas financeiro, mas também na própria identidade. Por causa dessa derrota judicial, o grupo passou a se identificar apenas como Grand Funk, o que já acontece no seu sexto álbum de estúdio, Phoenix, lançado em outubro de 1972 e que foi produzido pela própria banda. 



Para o seu próximo álbum, a Grand Funk Railroad decidiu apostar numa sonoridade mais apurada, mais “polida”, mas mantendo o peso do seu hard rock que a tornou uma banda famosa. E para essa empreitada, a Grand Funk contratou Todd Rundgren, que além de cantor e músico, era também um competente produtor. Outra novidade era que a partir do novo álbum que banda estava gravando, a Grand Funk Railroad se torna um quarteto com a efetivação do tecladista Craig Frost, que já vinha trabalhando com a banda nas gravações de discos anteriores, mas como músico contratado. 

O período de gravação foi curtíssimo, de 12 a 15 de junho de 1973. Já no começo de junho, era lançado o single “We're An American Band”, que rapidamente alcançou o 1° lugar da parada da Billboard Hot 100, nos Estados Unidos. O single dava uma ideia do que seria o novo álbum da Grand Funk que estava por vir. 

Em 15 de julho de 1973, o sétimo álbum da Grand Funk era lançado. O álbum foi intitulado como We’re American Band, mesmo título do single lançado semanas antes. A capa do novo álbum não trazia nenhuma imagem, nenhuma fotografia do grupo. Apenas um fundo dourado com o nome da banda e o título do álbum somente. Na primeira tiragem do álbum, o vinil era amarelo transparente para se assemelhar a um disco de ouro, repetindo a mesma ideia aplicada no single da faixa “We're An American Band”. Provavelmente, a banda apostava que We’re American Band conquistaria o disco de ouro, seria um sucesso. 

E é com o hard rock “We're An American Band” que o álbum começa. Uma bateria em ritmo percussivo abre a faixa, seguida por um incrível riff de guitarra. A letra deste hard rock poderoso trata sobre a vida de uma banda de rock, destacando desde a tarefa árdua que é encarar as turnês até os prazeres que o sucesso pode proporcionar como dinheiro, festas e sexo. O título da música ressalta a identificação da Grand Funk com o seu país de origem, os Estados Unidos, embora a banda não deixasse de manifestar as suas críticas ao governo americano e a sua política belicista. 



“Stop Lookin Back” é um hard rock forte e vibrante que traz os teclados de Craig Frost assumindo um maior protagonismo nesta faixa. A letra trata sobre uma pessoa que está na sarjeta, na pior, mas que procura dar a volta por cima sem olhar para trás, e seguir em frente, refazer a própria vida. 

Em “Creepin’”, a banda emprega um ritmo lento no começo da música, com uma linha de baixo bastante acentuada. Com uma duração de cerca de sete minutos, é a faixa mais longa do álbum. 

O lado 1 de We’re An American Band termina com “Black Licorice”, um hard rock com uma base instrumental vibrante e intensa, onde todos os membros da Grand Funk mostram as suas habilidades em seus instrumentos. Os vocais de Don Brewer são berrados, desesperados, quase esganiçados. 

“Ain’t Got Nobody” é um hard rock de ritmo veloz, direto e com um refrão marcante. Na letra, o eu lírico é um sujeito que vive o sofrimento de ter sido abandonado pela namorada, mas que ainda guarda uma esperança de que um dia ela volte para ele. Com versos que ressaltam a masculinidade, “Walk Like A Man” foi o segundo single do álbum We’re An American Band. A se destaca pelos solos distorcidos de guitarra de Mark Farner e pela bateria vibrante de Don Brewer (que é o vocal principal na música) cheia de viradas espetaculares preenchendo os espaços. 

O álbum encerra com “Loneliest Rider”, música com ritmo cadenciado e que contém elementos de rock progressivo. “Loneliest Rider” é provavelmente a música com a letra mais interessante deste álbum, pois toca num assunto muito delicado que é aniquilação dos povos indígenas nos Estado Unidos pelo homem branco durante o período em que aquele país formado. 



We’re An American Band foi bem recebido pela crítica, sendo o trabalho da Grand Funk melhor avaliado pela imprensa musical até então. Finalmente, a banda da pequenina Flint viu um álbum seu receber elogios por parte da crítica. O álbum foi um grande sucesso comercial, ampliando ainda mais o número de fãs da banda. Na parada da Billboard 200, nos Estados Unidos, We’re An American Band alcançou o posto de 2° lugar.

Com We’re An American Band, a Grand Funk se consolidou no mercado de hard rock, que na primeira metade dos anos 1970, era dominado por bandas britânicas. O álbum também foi o ápice do sucesso da banda americana. Seguiram-se os álbuns Shinin’ On (1974), All The Girls In The World Beware!!! (1974), Caught In The Act (ao vivo, 1975) e Born To Die (1976). Depois deste álbum, a banda se separou devido ao desgaste dos conflitos internos tão comuns em bandas de rock de sucesso. Porém, Frank Zappa, um admirador da banda, se ofereceu em tentar reunir a banda produzindo um novo álbum, o Good Singin', Good Playin', ainda em 1976. A tentativa foi em vão, e a banda terminou. 

Em 1981, a Grand Funk retornou à ativa, mas sem Frost e Schacher, substituídos respectivamente por Lance Duncan Ong e Dennis Bellinger. Com essa formação a banda lançou naquele ano o álbum gravado ao vivo Grand Funk Lives. Dois anos depois, a banda se dissolveu novamente.

A banda fez um novo retorno em 1996, com o retorno de Mel Schacher ao baixo. Em 1997, a Grand Funk lançou o álbum beneficente gravado ao vivo Bosnia. Três anos depois, a Grand Funk prosseguiu sem Farner, que havia deixado a banda. Em 2018, Brewer e Schacher processaram Farner por uso ilegal da marca Grand Funk, violando acordo firmado em 2004. A Grand Funk seguiu em frente com a sua carreira como um quinteto, tendo apenas Brewer e Schacher como membros originais. 

Faixas

Lado 1 

01-"We're an American Band" (Brewer) 

02-"Stop Lookin' Back" (Brewer/Farner) 

03-"Creepin'" (Farner) 

04-"Black Licorice" (Brewer/Farner) 

Lado 2

05-"The Railroad" (Farner) 

06-"Ain't Got Nobody" (Brewer/Farner) 

07-"Walk Like A Man" (Brewer/Farner) 

08-"Loneliest Rider" (Farner) 


Grand Funk Railroad (creditado como Grank Funk): Mark Farner (vocal, vocal principal em 3,5,6 e 8; violão, violão, conga ; piano elétrico em "Creepin'"), Craig Frost (órgão, clavinete , piano elétrico, Moog), Mel Schacher (baixo) e Don Brewer (vocais, vocal principal em 1,2 4 e 7; bateria e percussão).

"We're an American Band" 

"Stop Lookin' Back" 

"Creepin'"

"Black Licorice"

"The Railroad"

"Ain't Got Nobody"

"Walk Like A Man"

"Loneliest Rider"


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