“Stress, Depressão & Síndrome do Pânico” (2000, Astronauta Discos), Autoramas


Por Sidney Falcão

Depois de nove anos de carreira e dois álbuns lançados, a banda brasiliense Little Quail and The Mad Birds chegou ao fim em 1997. No ano seguinte, em 1998, o ex-vocalista e guitarrista da Little Quail, Gabriel Thomaz, já estava montando no Rio de Janeiro uma nova banda, a Autoramas. A baixista Simone do Vale (ex-Dash) e o baterista Nervoso (ex-Beach Lizards) completavam a nova banda.

Ainda em 1998, Nervoso deixou o Autoramas e foi substituído por Bacalhau, ex-baterista da Planet Hemp. Com a nova formação, o Autoramas fez uma série de apresentações no circuito roqueiro alternativo carioca, e em pouco, se consolidava como uma das bandas mais destacadas da cena independente do Rio de Janeiro, o que a credenciou a abrir shows de bandas alternativas estrangeiras no Brasil, como as americanas Superchunk e Man Or Astro Man?

Em 2000, a banda Autoramas lançou o seu primeiro álbum, Stress, Depressão & Síndrome do Pânico, através do selo independente Astronauta Discos, com produção de Carlo Bartolini.

Stress, Depressão & Síndrome do Pânico segue à risca o conceito musical que Gabriel criou para a Autoramas definido como “rock para dançar”. E para isso, a banda teve como referências o rock de garagem dos anos 1960, o rockabilly, a Jovem Guarda, a surf music e a new wave, referências essas que podem ser encontradas ao longo das treze faixas do álbum. A guitarra cheia de efeitos, o baixo distorcido e “sujo” e a bateria “seca” criam um som dançante e contagiante que caracterizam Stress, Depressão & Síndrome do Pânico.

Autoramas na formação do seu álbum de estreia, da esquerda para a direita:
Bacalhau, Simone do Vale e Gabriel Thomaz.

O álbum começa agitado com “Fale Mal de Mim”, uma música cheia de versos que são um recado direto a quem é invejoso: “Sua vida anda mesmo sem graça / Pois a única saída que você acha é me difamar / Isso até que veio bem a calhar / Eu estava precisando de alguém para me divulgar”. A influência da Jovem Guarda é clara em “Carinha Triste”, que possui uma linha melódica que lembra “Namoradinha de Um Amigo Meu”, sucesso de Roberto Carlos da década de 1960. O tema central de “Carinha Triste” é o amor não correspondido, em que o eu lírico vê o seu sentimento completamente desprezado pela garota por quem é apaixonado.

“Ex-Amigo” é sobre aquele sujeito que finge se ser amigo, mas na verdade é uma pessoa traiçoeira: “Depois do seu milésimo centésimo oitavo vacilo / Sempre acompanhado de um pedido de desculpas / Eu chego a conclusão de que na verdade é minha culpa / Por não ter me livrado de você a muito tempo atrás”.

Na faixa seguinte, “Agora Minha Sorte Mudou”, quem canta é a baixista Simone do Vale, um quase rock balada que trata sobre liberdade e do indivíduo ser dono do seu próprio destino. “Autodestruição” é um rock tenso e nervoso, marcado por um som de baixo distorcido e “sujo”. Em “Jogos Olímpicos”, o Autoramas traduz para os tempos contemporâneos a surf music instrumental dos anos 1960, uma das suas principais influências.

“Tudo Errado” é sobre aquele sujeito que gosta de se manter isolado, que não gosta de nada e é avesso a se relacionar com as pessoas, enquanto que em “Eu Não Morri”, alguém parece ter sobrevivido a alguma situação muito difícil. “Boa Fé” é a faixa mais curta do disco, apenas quarenta segundos, e não acrescenta muita coisa no disco. “Bahamas” é mais uma faixa instrumental presente no disco, em que Gabriel mostra mais uma vez a sua habilidade como guitarrista, enquanto Simone executa uma linha baixo ruidosa e tensa. Em “Ação”, guitarra e baixo fazem uma “parede” sonora compacta para a base da música, enquanto a bateria dita o ritmo rock’n’roll.

Detalhe da foto da contracapa de Stress, Depressão & Síndrome do Pânico.

Única do álbum cantada em inglês, “Catchy Chorus” é uma surf music marcada pela guitarra de Gabriel carregada de efeitos de vibrato. O álbum chega ao fim com “Souvenir”, uma releitura em versão instrumental da Autoramas para um antigo sucesso da banda britânica de synthpop OMD.    

Dentre as faixas de Stress, Depressão & Síndrome do Pânico, “Fale Mal de Mim” e “Carinha Triste” foram as que mais tiveram repercussão, graças aos videoclipes que tiveram uma razoável visibilidade na MTV Brasil.

O lançamento de Stress, Depressão & Síndrome do Pânico foi seguido pela turnê pelo Brasil, de sul a norte do país, com mais de 80 shows. Em janeiro de 2001, a banda Autoramas se apresentou na Tenda Brasil do Rock in Rio III, no Rio de Janeiro. No final daquele ano, a banda carioca lançou o seu segundo álbum, Vida Real, acompanhado de uma turnê nacional e depois uma turnê no Japão, a primeira excursão internacional da Autoramas.

Faixas

Todas as faixas são de autoria de Gabriel Thomaz, exceto as indicadas.

  1. “Fale Mal de Mim”
  2. “Carinha Triste” (Gabriel Thomaz – Kassin – Nervoso)
  3. “Ex-Amigo”
  4. “Agora Minha Sorte Mudou”
  5. “Autodestruição”
  6. “Jogos Olímpicos”
  7. “Tudo Errado”
  8. “Eu Não Morri”
  9. “Boa Fé” (Nervoso)
  10. “Bahamas”
  11. “Ação”
  12. “Catchy Chorus”
  13. “Souvenir” (Andy McCluskey)

 

Autoramas: Gabriel Thomaz (vocais e guitarra), Simone do Vale (vocais e baixo) e Bacalhau (bateria).

 

Referências:

Revista Bizz, edição 160, novembro de 1998, Editora Abril, São Paulo, Brasil.

Revista Bizz, edição 164, março de 1999, Editora Abril, São Paulo, Brasil.

Revista Bizz, edição 174, janeiro de 2000, Editora Abril, São Paulo, Brasil.

Revista Bizz, edição 177, abril de 2000, Editora Abril, São Paulo, Brasil.


Ouça  na íntegra o álbum Stress, 
Depressão & Síndrome do Pânico


“Fale Mal de Mim” (vídeoclipe oficial)


“Carinha Triste” (videoclipe oficial)

“Autodestruição” (videoclipe oficial)


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