“Paratodos” (1993), Chico Buarque
Após três
anos afastado da música, Chico Buarque retomou a sua carreira musical com o
disco Paratodos, em 1993. O álbum anterior, Chico Buarque
Ao Vivo – Paris Le Zenith, álbum duplo gravado ao vivo no Teatro Le
Zenith, em Paris, em 1989, foi lançado em 1990. Entre um álbum e outro, Chico
dedicou à literatura. Lançou em 1991, o seu primeiro romance, Estorvo,
pela editora Companhia das Letras. A publicação recebeu em 1992 o Prêmio
Jabuti, na categoria de “Melhor Romance”.
Produzido
por Luiz Cláudio Ramos e Vinicius França, Paratodos é um disco
que traz na capa fotos de Chico Buarque que são do seu fichamento na polícia,
quando era adolescente. Em 1961, aos 17 anos, Chico e um amigo foram presos por
roubar um carro. O futuro cantor cumpriu pena de seis meses de reclusão noturna
em casa. Só poderia sair de sua residência durante o dia para ir à escola. A
capa ainda mostra faces de outras pessoas, representando a diversidade do povo
brasileiro, fazendo uma conexão com o título do disco.
O álbum
começa com a faixa título, um lindo baião composto por Chico Buarque cuja letra
ele presta reverência aos seus ancestrais e aos artistas da música brasileira,
desde aqueles de gerações anteriores à sua e que contribuíram na sua formação
musical, como Dorival Caymmi (1914-2008), Tom Jobim (1927-1994), João Gilberto
(1931-2019) e Vinícius de Moraes (1913-1980), a artistas da sua geração como
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Milton Nascimento entre tantos outros.
“Choro
Bandido” é uma canção antiga, composta por Chico Buarque e Edu Lobo em 1985
para a peça teatral O Corsário do Rei, do diretor Augusto Boal
(1931-2009). É uma canção de arranjos delicados e primorosos, versos carregados
de sedução e cheios de referência sutis à mitologia grega. “Tempo e Artista”
reflete o momento em que Chico Buarque vivia, um homem maduro, prestes a
completar meio século existência. Chico saúda o seu próprio retorno à música em
“De Volta Ao Samba”, após uma pausa de três anos na carreira musical: “Pensou
que eu não vinha mais, pensou/ Cansou de esperar por mim / Acenda o refletor /
Apure o tamborim / Aqui é o meu lugar / Eu vim”.
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Dorival Caymmi, Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes: reverenciados na canção "Paratodos". |
“Sobre Todas As Coisas” tem algumas sutis “pinceladas” de blues. A letra da canção traz em versos a súplica de alguém apaixonado que foi desprezado pela paixão da vida dele. Ele associa o desprezo que sofre por parte da pessoa quem ama ao pecado: “Pelo amor de Deus / Não vê que isso é pecado? / Desprezar quem lhe quer bem / Não vê que Deus até fica zangado / Vendo alguém abandonado? / Pelo amor de Deus”. “Outra Noite”, parceria de Luiz Cláudio Ramos e Chico Buarque, é uma canção romântica, e que parece tratar sobre solidão e tédio.
No samba
alegre e divertido “Biscate”, Chico Buarque faz dueto com Gal Costa cantando
juntos, versos sobre um indivíduo, que sem emprego, trabalha fazendo biscate e
reclama da esposa, que segundo ele, quer vida “mansa”. Em “Romance”, o eu
lírico presta sua devoção à mulher que ama.
A faixa
seguinte, “Futuros Amantes”, é talvez a faixa mais famosa do disco Se
notabilizou pelos versos: “Não se afoque não, que nada é pra já”. O amor
aparece nesta canção tão especial como um objeto raro de uma antiga
civilização, e que séculos mais tarde, é descoberto por pesquisadores no fundo
das águas para ser desfrutado pelos amantes do futuro. A partir da turnê
promocional do álbum Paratodos, “Futuros Amantes” passou a ser
uma presença constante no repertório das turnês posteriores de Chico Buarque.
“Piano
Mangueira” é uma homenagem de Chico Buarque e Tom Jobim à escola de samba
Mangueira. Foi uma das últimas canções gravadas por Jobim, que faz harmonização
vocal com Chico Buarque nesta faixa. “Pivete” retrata a triste realidade social
dos garotos de rua das grandes cidades brasileiras. O álbum fecha com “A Foto
da Capa”, inspirada nas fotos de fichamento policial de Chico Buarque na
adolescência, após ter roubado com um amigo um carro.
Em janeiro
de 1994, Chico Buarque fez uma temporada de shows no Canecão, no Rio de
Janeiro, que deu início a uma bem sucedida turnê que percorreu as principais
cidades brasileiras.
Referências:
Histórias
de Canções: Chico Buarque - Wagner Homem, 2009, Editora Leya, São Paulo, Brasil.
chicobuarque.com.br
wikipedia.
org
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