10 discos essenciais: Bob Marley & The Wailers



Por Sidney Falcão

Robert Nesta Marley nasceu em 6 de fevereiro de 1945, em Nine Mile, um vilarejo próximo à paróquia de Saint’Ann, na Jamaica. Em 1962, aos 17 anos, Bob Marley gravou o seu primeiro single, “Judge Not”. No ano seguinte, Bob Marley mais Peter Tosh, Bunny Wailer, Junior Braithwaite, Beverly Kelso e Cherry Smith, formaram os Wailing Wailers. O primeiro single do conjunto, “Simmer Down”, veio em 1964, e alcançou o 1º lugar na parada jamaicana. Braithwaite e Kelso deixam os Wailing Wailers em 1965, e um ano depois, o grupo chega ao fim.

Em 1966, Bob Marley e Rita Anderson se casam, e logo se mudam para os Estados Unidos para tentar uma vida melhor, mas oito meses depois retornaram para a Jamaica. Ao retornar para a Jamaica, Marley encontra uma realidade diferente da que deixou. Depois da visita do imperador da Etiópia, Haile Selassie, à Jamaica, em abril de 1966, houve um crescimento do rastafarianismo naquela ilha. Os rastafaris acreditavam que Selassie era a reencarnação de Jah. Marley logo passa a se interessar pela religião rastafari.

Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer decidem retomar o antigo grupo, porém como um trio e com nome reduzido a The Wailers. Em 1969, iniciam uma parceria com o produtor Lee Perry, e um ano depois, o grupo vira um quinteto com a entrada dos irmãos Aston Barrett (baixo) e Carlton Barrett (bateria). O grupo é rebatizado para Bob Marley & The Wailers, o que incomodará Peter Tosh.

Após dois álbuns Soul Rebels (1970) e Soul Revolution (1971), ambos lançados por pequenos selos jamaicanos, Bob & The Wailers assinam em 1973 um contrato com a gravadora inglesa Island Records, de Chris Blackwell, produtor e empresário inglês que viveu a infância e a juventude na Jamaica e conhecia muito bem a música jamaicana. A Island Records lança naquele mesmo ano Catch A Fire, álbum que projetou Bob Marley & The Wailers e o reggae internacionalmente. O grupo passa a contar com um tecladista, Earl Lindo. Em outubro de 1973 sai Burnin’, e logo após o lançamento, Peter Tosh e Bunny Wailer deixam os Wailers e partem cada para carreira solo.

A partir de 1974, Bob Marley & The Wailers passam por uma nova reformulação com a troca de alguns músicos e a inclusão de um trio de vocal de apoio, as I Three, formado por Rita Marley (esposa de Bob), Judy Mowatt e Marcia Griffiths. Naquele mesmo ano, lançam Natty Dread, álbum que traz a versão de estúdio de “No Woman, No Cry”, mas que irá se tornar mais famosa com a sua versão ao vivo, presente no primeiro álbum ao vivo de Bob Marley & The Wailers, Live!, lançado em 1975. Rastaman Vibration, de 1976, alcança o 35º lugar na parada de álbuns dos Estados Unidos, e assim, Bob Marley & The Wailers alcançam prestígio no mercado americano.

No final de 1976, a casa de Bob Marley é invadida por pistoleiros a tiros. Bob é baleado com um tiro de raspão abaixo do peito esquerdo, sua esposa Rita Marley sofre um tiro de raspão na cabeça, e o empresário do cantor, Don Taylor, levou cinco tiros. Milagrosamente, apesar do terror e dos tiros, todas as vítimas sobreviveram. Os criminosos fugiram.

Por causa do atentado, Bob Marley e a família deixaram a Jamaica e se mudaram para Londres por temerem novos atentados. No exílio londrino, Bob Marley grava os álbuns Exodus (1977) e Kaya (1978), este último lançado quando voltou a morar na Jamaica em 1978.

Em 1979 é lançado Survival, considerado um dos álbuns mais politizados de Bob Marley, e que inicia o discurso do astro do reggae mais direcionado pela defesa da África. No ano seguinte, em 1980, Bob Marley e seus músicos visitaram o Brasil, mas não fizeram shows. Em junho no mesmo ano, é lançado o último de Bob Marley em vida, Uprising, que traz hits como “Could You Be Loved” e “Redemption Song”.

No segundo semestre de 1980, um câncer que Bob Marley estava sofrendo se agrava. Entre o final de 1980 e começo de 1981, Marley passa por uma série de tratamentos para combater doença, e busca ajuda na Alemanha. Contudo, o câncer se generaliza: atinge pulmões, fígado e cérebro. Os médicos declaram que a situação é irreversível.

Durante a viagem de retorno da Alemanha para a Jamaica, Marley passa mal. Numa escala em Miami, é internado às pressas num hospital daquela cidade, onde morre, aos 36 anos.

Abaixo, confira dez álbuns essenciais para se entender a carreira de Bob Marley.       

 

Soul Revolution (Maroon / Upsetter, 1971). Produzido pelo lendário Lee “Scratch” Perry, Soul Revolution apresenta o reggae de Bob Marley & The Wailers em seu estado bruto, antes ser lapidado e embalado para exportação pela Island Records de Chris Blackwell. Soul Revolution traz algumas músicas que seriam regravadas por Marley e seus companheiros anos mais tarde como “Kaya” e “Don’t Rock My Boat” (rebatizada como “Satisfy My Soul”), ambas para o álbum Kaya, de 1978.
 



Catch A Fire (Island Records, 1973). Álbum que deu projeção internacional a Bob Marley & The Wailers e ao próprio reggae. Depois que o material foi todo gravado na Jamaica, o produtor e proprietário da Island Records, Chris Blackwell, acrescentou em Londres mais instrumentos e inseriu outros recursos para tornar o álbum mais “polido” e atrativo para o público internacional, mas sem tira a essência musical dos músicos. Destaque para as faixas “400 Years” (de Peter Tosh), “Concrete Jungle’ e Kinky Reggae.
 



Burnin’ (Island Records, 1973). Seis meses após Catch A Fire, Bob Marley & The Wailers lançam Burnin’. Último álbum a contar com a presença de Peter Tosh e Bunny Wailer, Burnin’ traz canções que refletem o estado de tensão político-social que a Jamaica passava na época e ao próprio reggae. “Get Up Stand Up” é uma crítica aos manipuladores da fé alheia e uma defesa dos direitos humanos. Em “I Shot The Sheriff”, o narrador se mete em confusão ao tentar atirar no xerife, supostamente por legítima defesa. “I Shot The Sheriff” foi regravada em 1974 por Eric Clapton, e alcançou o 1º lugar na Billboard Hot 100, nos Estados Unidos, o que só ajudou a dar mais visibilidade ao trabalho de Bob Marley & The Wailers naquele país.        
                                                                                                                                                                                                                                                       

Natty Dread (Island Records, 1974). Primeiro álbum de Bob Marley & the Wailers sem Peter Tosh e Bunny Wailer, e o primeiro com as I Threes. A partir daqui, Bob Marley passa ser em definitivo o centro das atenções. Destaques para versão de estúdio de “No Woman, No Cry”, e a uma regravação de “Lively Up Yourself”, cuja versão original saiu em single em 1971.
 




Live! (Island Records, 1975). Gravado ao vivo no Lyceum Theatre, em Londres, Live! É o primeiro álbum ao vivo de Bob Marley & The Wailers, e apresenta o poder magnético do astro jamaicano no palco. O clima festivo do álbum dá uma ideia ao ouvinte de que naquele momento, o reggae já havia se consagrado for Jamaica. Live! Traz grandes sucessos de Bob Marley & The Wailers até então como “Trenchtown Rock”, “Lively Up Yourself” e “I Shot The Sheriff”. Mas é a versão ao vivo de “No Woman, No Cry” que se torna o grande sucesso do álbum e a versão definitiva e mais popular dessa canção.

 


Rastaman Vibration
(Island Records, 1976). Rastaman Vibration foi o primeiro e único álbum de Bob Marley & The Wailers a figurar no Top 10 da Billboard 200, nos Estados Unidos, alcançando a 8ª posição. O single da faixa “Roots Rock Reggae” ficou em 51º lugar da parada da Billboard Hot 100, nos Estados Unidos. Os destaques ficam para a otimista “Positive Vibration” e “War”, uma canção sobre desigualdade social e racismo no continente africano, cuja letra foi baseada no discurso do imperador da Etiópia, Haile Selassie, numa assembleia da antiga Liga das Nações, em 1936, órgão que antecedeu a Organização das Nações Unidas (ONU).
 


Exodus (Island Records, 1977). Após sofrer atentado em 1976, Marley e sua família deixaram a Jamaica e se mudaram para Londres. No exílio londrino, Bob Marley & the Wailers gravaram Exodus, um trabalho muito influenciado pela turbulência política e social na Jamaica na época. A faixa-título foi inspirada no êxodo bíblico do Antigo Testamento sob uma visão rastafari, mas também influenciada no próprio drama sofrido por Marley, sua família e amigos. Contudo, o álbum traz momentos de leveza através de “Jamming”, “Waiting In Vain”, “Three Little Birds” e “One Love”.
 



Kaya
(Island Records, 1978). Diferente do perfil politizado do seu antecessor, Exodus, Kaya é um álbum leve, suave, que traz canções com temas mais amenos, mais voltados ao amor e à maconha. Isso gerou uma série de críticas por parte da imprensa que acusou Bob Marley de ter se “amansado”, de se afastar da militância. Apesar das críticas da época de seu lançamento, o prestígio de Kaya cresceu com o passar do tempo, e muito por conta de trazer canções que se tornaram memoráveis como “Is This Love” e “Satisfy My Soul” e a faixa-título.
 



Survival (Island Records, 1979). Os temas brandos abordados em Kaya (1978), gerou críticas da imprensa musical a Bob Marley que for acusado de ter sido menos militante do que nos álbuns anteriores. Com Survival, Marley voltou com toda a carga, com um discurso politizado mais afiado do que nunca. A partir de Survival, Marley adota uma postura em defesa da África, a “terra-mãe” do povo negro. O álbum toca em assuntos que vão desde as questões ligadas aos europeus colonizadores em solo africano até segregação racial como o apartheid na África do Sul. Inicialmente, Survival foi pensado como início de uma trilogia que foca no continente africano, que prosseguiria com o álbum Uprising (1980) e concluiria com Confrontation (1983). Destaque para as faixas “So Much Trouble In The World”, “Africa Unite” e “Zimbabwe”. 


Uprising (Island Records, 1980). Último álbum lançado por Bob Marley em vida, Uprising é um trabalho que mostra o astro jamaicano ampliando o seu arco musical, indo além das fronteiras do reggae ao aproximar-se do afrobeat, funk e até folk music. Apesar das inovações, Uprising guarda uma atmosfera melancólica, talvez influenciada pela batalha que Marley travava contra o câncer, o que explica o álbum abordar temas mais voltados à espiritualidade, amor, pecado, união e cooperação. “Could You Be Loved” e “Redemptio Song” são as músicas mais conhecidas de Uprising.

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