“Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player” (DJM Records, 1973), Elton John
Por Sidney Falcão
Em 1972,
Elton John começava a desfrutar prestígio no disputadíssimo mercado americano
graças ao sucesso do seu quinto álbum de estúdio, Honky Château.
O álbum havia chegado ao 1º lugar da Billboard 200, impulsionado pelas
faixas “Rocket Man” e “Honky Cat” que ajudaram Honky Château a
vender 1 milhão de cópias nos Estados Unidos.
E foi no
rastro do sucesso de Honky Château que o álbum seguinte, Don't
Shoot Me I'm Only The Piano Player, veio ao mundo em janeiro de 1973.
Mas se dependesse da gravadora, a DJM Records, ele teria vindo mais cedo. O
contrato de Elton com a DJM Records, previa que o cantor deveria gravar dois
álbuns por ano, numa média de um álbum a cada seis meses. Isso exigiria do
artista uma criação absurda de canções para se ter material suficiente para dar
conta de dois álbuns por ano.
No período
que iniciaria as gravações de Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player,
por volta de meados de 1972, Elton John contraiu mononucleose, que o deixou
bastante fraco e indisposto. As gravações tiveram que ser adiadas e,
consequentemente, o lançamento do álbum também.
Em outubro
de 1972, foi lançado o single de “Crocodile Rock”, primeira amostra de Don't
Shoot Me I'm Only The Piano Player que estava em finalização. O single
alcança o 1º lugar na Billboard 100, nos Estados Unidos e também o mesmo
posto na parada de singles do Canadá.
Sexto álbum de estúdio de Elton John, Don't Shoot Me
I'm Only The Piano Player foi lançado em 22 de janeiro de 1973. O
título curioso do álbum surgiu quando Elton John encontrou o ator e comediante
Groucho Marx, (1890-1977) numa festa em Malibu, Califórnia. No encontro dos
dois artistas, Groucho se referia ao cantor como “John Elton”, afirmando que a
ordem do nome artístico do cantor deveria ser essa, e não “Elton John”. Num
dado momento, enquanto Elton tocava piano para animar a festa, Groucho fez um
gesto com a mão como se fosse um revólver apontando para cantor. Ao ver o gesto
do comediante, Elton levantou as mãos e disse: “Não atire em mim, eu sou
apenas o pianista!”. O cantor achou a própria frase que proferiu
interessante e decidiu usá-la para batizar o seu sexto álbum.
![]() |
O ator e comediante Groucho Marx, responsável indireto pelo título do álbum. |
Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player segue a mesma essência musical do álbum antecessor, Honky Château. A produção ficou por conta do produtor e arranjador Gus Dudgeon (1942-2002), que assim como o arranjador Paul Buckmaster, teve um papel importante na criação de belos arranjos que deram um acabamento refinado às canções compostas por Elton John e Bernie Taupin para Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player. Dudgeon foi responsável pelos arranjos de metais, enquanto que Buckmaster ficou a cargo da criação dos arranjos de cordas.
Um certo
clima nostálgico toma conta do álbum, a começar pela capa, que mostra um casal
de namorados entrando num cinema bem ao estilo anos 1950. O letreiro na fachada
do cinema traz o título do disco como se fosse o título do filme em exibição
naquele cinema, e o nome de Elton John como se fosse o ator protagonista. Na
entrada do cinema, se vê um pôster anunciando um filme dos Irmão Marx, Go
West (1940), uma citação que foi uma homenagem a Groucho Marx como
agradecimento pelo título do álbum.
Don't
Shoot Me I'm Only The Piano Player começa com a linda e melancólica “Daniel”, que por muito
tempo, se imaginou que era uma canção gay em que Elton John cantava sobre algum
amante seu. Segundo Bernie Taupin, letrista e parceiro de Elton, e que escreveu
os versos da canção, “Daniel” é sobre um jovem que após lutar na Guerra do
Vietnã, retornou para sua cidadezinha natal no interior do Texas, onde foi
recebido como herói. Mas o jovem soldado não queria homenagens, apenas esquecer
os horrores da guerra. Sutilmente, um dos versos da canção dá a entender que o
soldado voltou cego da guerra: “Your eyes have died, but you see more than I”
(“Os seus olhos morreram, mas você vê mais que eu”).
![]() |
Bernie Taupin e Elton John. |
Na
sequência, o clima fica mais animado com “Teacher I Need You”, um rock em
estilo retrô sobre a paixão juvenil de um garoto pela sua professora. A faixa
“Eldeberry Wine” parece tratar de um homem que depois de ser abandonado pela
mulher amada, foi afogar as mágoas bebendo vinho.
Em “Blues
For My Baby And Me”, um casal de jovens parte para o oeste americano de ônibus
para viver sua história de amor, desafiando a fúria e os xingamento do pai da
garota. O destaque nesta canção fica para ótimo trabalho de Paul Buckmaster que
fez um arranjo de cordas impecável. O lado A da versão LP do álbum, encerra com
“Midnight Creeper”, onde o naipe de metais divide o protagonismo os solos da guitarra
de Davey Johnstone.
“Have Mercy
On The Criminal” abre o lado B do álbum, e que começa num ritmo contagiante de
orquestra que logo é interrompido por um ritmo blues rock arrastado. Nesta
canção, Elton canta versos sobre um criminoso que tentar fugir desesperadamente
das garras de uma matilha de cães ferozes dos guardas que estão em seu encalço.
“I’m Going
To Be Teenage Idol” é uma homenagem a Marc Bolan (1947-1977), líder da banda T.Rex,
e ícone do glam rock, estilo que estava em voga naquele começo de anos 1970. Em
1972, quando a música foi composta por Elton John e Bernie Taupin, Marc Bolan
estava no auge da carreira e era o ídolo do público adolescente. O que Elton
não imaginava é que no ano seguinte, ele seria alçado a astro do rock de
primeira grandeza em contraste ao colega Bolan, que começaria a declinar em queda
de popularidade. A faixa seguinte, “Texan Love Song”, é uma balada country que
apesar da bela linha melódica, traz em seus versos um eu lírico que seria um
típico homem branco racista e xenófobo do sul dos Estados Unidos que destila
todo o seu ódio e preconceito a quem é diferente.
![]() |
Elton John e Marc Bolan em 1971: "I'm Going To Be Teenage Idol" é uma homenagem ao líder da banda T. Rex. |
Lançado antes do álbum em formato de single, o rock’n’roll nostálgico “Crocodile Rock” foi incluído em Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player, e se tornou uma das principais faixas do álbum. No refrão, Elton John canta em falsete um “laaaa, la, la, la, la, laaaaa” inspirado em “Speedy Gonzales”, grande sucesso de Pat Boone de 1962. Elton John emprega um tipo de vocal inspirado astros do rock da época da sua adolescência no início dos anos 1960, como os americanos Bobby Vee e Del Shannon. Na letra de “Crocodile Rock”, o personagem principal relembra os seus tempos de juventude quando dançava rock’n’roll coma namorada Susie. Além dos vocais de Elton, merece destaque o uso do órgão elétrico Farfisa tocado pelo artista, e que era muito utilizado por bandas pop dos anos 1960. O instrumento caiu em desuso com a ascensão dos sintetizadores, e só resgatado por algumas bandas new wave no final da década de 1970, como a B-52’s.
Don't
Shoot Me I'm Only The Piano Player termina com a balada “High Flying Bird”, em que Bernie
Taupin mostra toda a sua sensibilidade como letrista e Elton John o seu talento
fantástico como melodista.
Ao mesmo
tempo em que Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player era
lançado, em janeiro de 1973, o single de “Daniel” também era lançado. O single
fez um enorme sucesso em escala mundial, chegando ao 1º lugar no Canadá, 2º
lugar na Billboard Hot, nos Estados Unidos, e 4º lugar na parada de singles do
Reino Unido. Enquanto o lado A trazia a canção “Daniel”, o lado B do single
trouxe uma nova e definitiva versão de “Skyline Pigeon”. A versão original,
presente no álbum de estreia do astro inglês, Empty Sky, de 1969,
foi gravada apenas com Elton cantando e tocando órgão e piano.
A segunda
versão foi gravada durante as sessões de gravação de Don't Shoot Me I'm
Only The Piano Player, em que Elton John canta, toca piano e é
acompanhado por sua banda. Foi essa segunda versão a que fez mais sucesso,
especialmente no Brasil, país onde talvez “Skyline Pigeon” tenha conquistado
mais popularidade. A segunda versão fez parte da trilha sonora da telenovela Carinhoso,
exibida pela TV Globo em 1973, o que contribuiu muito para que Elton John se
tornasse conhecido pelo público brasileiro.
Don't
Shoot Me I'm Only The Piano Player teve um ótimo desempenho comercial. O álbum chegou ao
primeiro 1º lugar da parada de álbuns de vários países como Estados Unidos,
Reino Unido, Austrália, Canadá, Itália e Espanha. Nos Estados Unidos, o álbum
vendeu 3 milhões de cópias, rendendo a Elton John um disco triplo de platina.
Porém, todo
esse sucesso era só o começo. Mal Don't Shoot Me I'm Only The Piano
Player escalava as paradas de vendas de discos, quatro meses depois do
lançamento do álbum, Elton John já estava entrando em estúdio para gravar o seu
próximo álbum, desta vez um álbum duplo e que consolidaria o cantor inglês como
astro do rock: Goodbye Yellow Brick Road.
Faixas
Todas as
canções foram escritas por Elton John e Bernie Taupin.
Lado A
- "Daniel"
- "Teacher I Need You"
- "Elderberry Wine"
- "Blues for My Baby and Me"
- "Midnight Creeper"
Lado B
- "Have Mercy on the Criminal"
- "I'm Gonna Be a Teenage Idol"
- "Texan Love Song"
- "Crocodile Rock"
- "High Flying Bird"
Elton John (Fender
Rhodes, mellotron , piano acústico, harmônio e órgão Farfisa)
Banda de
Elton John: Davey Johnstone (violão, guitarra elétrica, guitarra Leslie, banjo,
cítara, bandolim e vocais de apoio), Dee Murray (baixo e vocais de apoio) e Nigel
Olsson (bateria, maracas e vocais de apoio).
Referências:
Elton John – A biografia, David Buckley, 2011, Companhia Editora Nacional
Rocket Man – The Life
Of Elton John, Mark Bego, 2020, Pegasus Books Clara rollingstone.com
Wikipedia
Os clássicos de 1972 "Honky Château" e este "Don't Shoot Me, I'm Only the Piano Player" são dois discaços maravilhosos de Sir Elton John. Ambos eram, a meu ver, uma preparação para o estrondoso sucesso que viria em 1973, com "Goodbye Yellow Brick Road", o best-seller de mais de 30 milhões de cópias vendidas em todo o mundo e que até hoje é o meu álbum favorito dele. Aproveito para sugerir ao blog uma resenha do "Honky Château" para 19 de maio, em homenagem aos seus 50 anos de lançamento, e, claro, uma resenha dedicada ao "Goodbye Yellow Brick Road" para outubro desse ano. Longa vida ao nosso gênio-mor do pop britânico!
ResponderExcluir