“Brothers In Arms” (Vertigo, 1985), Dire Straits
Por Sidney Falcão
Em meio ao
furacão punk que tomava conta do cenário musical do Reino Unido na segunda
metade da década de 1970, a banda Dire Straits, formada em Londres em 1977,
ganhou rapidamente projeção com o primeiro sucesso, "Sultans of
Swing", no ano seguinte. Para os mais sensíveis, o som apurado do Dire
Straits era como um bálsamo em meio ao caos instalado pela crueza punk.
Apesar dos
elogiados Making Movies (1980) e Love Over Gold (1982),
respectivamente terceiro e quarto álbuns de estúdio, a banda liderada pelo
guitarrista e vocalista Mark Knopfler, só conquistou a consagração com o
multiplatinado quinto álbum, Brothers In Arms, lançado em maio de
1985. Até ali, o grupo passou por várias trocas de integrantes, restando apenas
Knopfler e o baixista John Illsley da formação original.
Sete meses
após ter lançado o álbum duplo gravado ao vivo Alchemy: Dire Straits Live,
a banda inglesa iniciou em outubro de 1984 as gravações de Brothers In Arms, no AIR Montserrat,
na ilha caribenha de Montserrat, o segundo estúdio do AIR Studios. O primeiro
fica em Londres. A produção ficou a cargo de Mark Knopfler e do produtor Neil
Dorfsman.
O produtor Neil Dorfsman e o vocalista e guitarrista do Dire Straits, Mark Knopfler, na mesa de som do estúdio AIR Montserrat. |
Brothers In Arms marcou a estreia do tecladista Guy Fletcher num disco do Dire
Straits. Embora a banda já tivesse um tecladista, Alan Clark, o líder do Dire
Straits, Mark Knopfler, convidou Fletcher para integrar o grupo depois de ficar
impressionado com o desempenho do tecladista quando os dois trabalharam juntos
na trilha sonora do filme Cal, de Pat
O’Connor, em 1984. A banda passou a ter dois tecladistas.
Um fato curioso é que durante o primeiro mês de gravação do
álbum, o baterista do Dire Straits, Terry Williams, foi temporariamente
substituído nas gravações por Omar Hakim, um baterista de estúdio, profissional
dedicado a participação nas gravações de discos de vários artistas. A medida teria
sido tomada porque o desempenho de Wiiliams nas gravações estava abaixo do que
se esperava para o álbum.
De toda a discografia do Dire Straits, Brothers In Arms tem
algumas peculiaridades que o diferencia dos outros álbuns do grupo inglês, e
vão muito além das vendas e prêmios que conquistou. A principal delas é a de
que Brothers
In Arms foi um dos primeiros álbuns que quando gravado, foi pensado para
o lançamento em CD, que em meados dos anos 1980, era a grande novidade
tecnológica da indústria fonográfica. A curiosidade é que a versão em CD de Brothers
In Arms trouxe as faixas em duração mais longa, enquanto na versão LP,
as faixas foram oferecidas em duração mais curta.
Na versão LP, o álbum é muito bem dividido. No lado A,
concentram-se as canções ditas mais acessíveis, e o lado B, canções com uma
temática que gira em torno da guerra e do belicismo.
A faixa de abertura de Brothers In Arms é “So Far Away”,
primeiro single do álbum. Mark Knopfler teria escrito a canção para sua esposa
durante uma das turnês do Dire Straits. Nos versos, o guitarrista reclama da
distância e da falta que sente de sua amada: “Now here I am again in this mean old town / And you're so far away
from me / Now where are you when the sun goes down? / You're so far away from
me” (“Aqui estou eu de novo nesta
maldita cidade velha / E você está tão longe de mim / E onde você está quando o
Sol se põe? / Você está tão longe de mim”).
“Money For Nothing”, a faixa seguinte, é a única do álbum que
foi escrita por Mark Knopfler em parceria. A música foi composta em parceria
com Sting, na época, ainda vocalista do The Police. Knopfler teve a ideia de
escrever a letra da música depois de ter ouvido uma conversa entre dois
funcionários de uma loja de departamentos, em que um deles, ao ver o artista,
disse para o colega que deveria ter aprendido tocar algum instrumento para ser
um astro do rock, e não ficar ali trabalhando duro, carregando geladeiras,
fornos micro-ondas e televisores. É o que fica evidente logo de cara nos
primeiros versos: “Now look at them
yo-yo's that's the way you do it / You play the guitar on the MTV / That ain't
workin', that's the way you do it / Money for nothin' and chicks for free” (“Olha só para a grana deles é assim que se
faz / Tocar guitarra na MTV / Aquilo não é trabalhar, é assim que se faz /
Dinheiro por nada e garotas de graça”). O single de “Money For Nothing”
chegou ao 1º lugar no Reino Unido.
Além do riff de guitarra sensacional na introdução, outra
coisa marcante de “Money For Nothing” é o seu videoclipe, uma animação
totalmente produzida no computador. Foi o primeiro videoclipe exibido pela MTV
do Reino Unido.
Videoclipe de "Money For Nothing": animação computadorizada. |
Misto de country rock com rock’n’roll, “Walk Of Life” é
provavelmente a música mais alegre e cativante de Brothers In Arms. Por
incrível que pareça, ela quase foi excluída do álbum pelo produtor Neil
Dorfsman. Só se manteve por insistência dos membros da banda. O destaque fica
para os solos de orgão Hammond executados pelo tecladista Alan Clark.
Se no primeiro sucesso da carreira do Dire Straits, “Sultans
Of Swing”, a guitarra de Mark Knopfler era o instrumento protagonista, em “Your
Latest Trick”, faixa que sucede “Walk Of Life” em Brothers In Arms, o
protagonismo é do saxofone de Michael Brecker. Os solos de saxofone feitos por
Brecker dão sensualidade à canção. Talvez por causa do ritmo lento, leve e
sedutor que “Your Latest Trick” possui, a canção entrou no imaginário de
algumas pessoas como “música de motel”.
Encerrado o lado A da versão LP de Brothers In Arms, mais
uma balada, “Why Worry”, uma canção calma, serena. Tudo em “Why Worry” é
delicado e agradável, dos arranjos à letra.
O lado B da versão LP de Brothers In Arms, a banda dedicou a
canções com temas ligados a guerra e ao belicismo. A primeira faixa desse lado
é “Ride Across The River” que tem um ritmo estilizado de reggae. A letra versa
sobre soldados destemidos que se julgam os defensores da liberdade e da
justiça, cheios de confiança de que nada irá derrota-los: “I'm a soldier of freedom in the army of man / We are the chosen,
we\'re the partisan / The cause it is noble and the cause it is just / We are
ready to pay with our lives if we mus” (“Eu
sou um soldado da liberdade no exército do homem / Nós somos os escolhidos, nós
somos os partidários / A causa é nobre e a causa é justa / Estamos prontos para
pagar com nossas vidas se for preciso”).
“The Man’s Too Strong” é uma canção em que um ex-soldado, ao
voltar do campo de batalha, é tratado como um criminoso de guerra. Na
sequência, “One World”, que possui uma guitarra funky e um baixo cheio de slaps,
parece fugir do belicismo temático abordado pelas canções do lado B do álbum.
“Brothers In Arms”, canção que dá nome ao álbum é quem
encerra o mesmo. Teria sido composta por Mark Knopfler inspirado na Guerra das
Malvinas, um conflito que envolveu a Inglaterra e Argentina pelo domínio das
Ilhas Malvinas (para os ingleses, Falklands), ao sul da América do Sul, em
1982. Melancólica, a canção trata sobre um soldado que na beira morte, num
campo de batalha, descreve as dores e os horrores que vivenciou na guerra: “Through these fields of destruction /
Baptism of fire / I've witnessed your suffering / As the battles raged higher /
And though they did hurt me so bad / In the fear and alarm / You did not desert
me / My brothers in arms” (“Por estes
campos de destruição / Batismos de fogo / Assisti a todo o seu sofrimento /
Enquanto a batalha se acirrava / E apesar de terem me ferido gravemente / Em
meio ao medo e ao pânico / Vocês não me desertaram / Meus companheiros de
batalha”).
Inicialmente, a recepção por parte da crítica a Brothers
In Arms foi negativa no Reino Unido, enquanto que nos Estados Unidos, o
álbum foi melhor acolhido pela imprensa musical americana. Um mês antes do
lançamento de Brothers In Arms, o Dire Straits iniciou uma grande turnê
mundial para promover o álbum, que percorreu a Europa, Ásia, América do Norte e
Oceania. Em julho de 1985, a banda inglesa se apresentou no festival
beneficente Live Aid, no estádio de Wembley, onde dividiu o palco com Sting na
canção “Money For Nothing”. A Brothers In
Arms Tour turnê terminou em abril de 1986, num grande show em Sydney, na Austrália.
Brothers In Arms teve um desempenho comercial fantástico. Vendeu cerca de 30
milhões de cópias em todo o mundo. Foi o primeiro álbum a vender 1 milhão de
cópias em versão CD. Alcançou o primeiro lugar na Billboard 200, nos Estados Unidos. Liderou as paradas de álbuns do
Reino Unido, Austrália, Alemanha, Espanha, Suécia e Suíça. É o 8º álbum mais
vendido na história da indústria fonográfica do Reino Unido.
Além das ótimas vendas, Brothers In Arms conquistou prêmios
importantes como o Grammy de “Melhor Álbum Projetado – Não Clássico”, em 1986,
e o Brit Awards de “Melhor Álbum Britânico”, em 1987. Em 2011, a revista
britânica Q, incluiu Brothers In Arms na lista dos 100
Maiores Álbuns de Todos os Tempos, ficando na 51ª posição.
Depois da grande turnê de Brothers In Arms, o Dire
Straits entrou num período de “hibernação” de cerca de quatro anos. Nesse
período, cada integrante cuidou das suas atividades pessoas. Mark Knopfler
seguium com sua carreira solo paralela à do Dire Straits, e inclusive criou o
projeto Notting Hillbillies, uma banda de country rock formada com outros
músicos convidados. O Dire Straits só lançou um novo álbum de estúdio em 1991, On
Every Street, que teve uma repercussão moderada. Seguiu-se uma turnê
mundial de um ano e que rendeu o segundo álbum gravado ao vivo do Dire Straits,
On
the Night, lançado em 1993. Em 1995, o Dire Straits chegou ao fim,
depois de 18 anos de atividades.
Dire Straits: Mark
Knopfler (guitarras e vocais), John Illsley (baixo e vocais), Alan Clark (teclados),
Guy Fletcher (teclados e vocais), Terry Williams (bateria) e Omar Hakim (bateria).
Faixas
Todas as letras foram escritas por Mark Knopfler, exceto
Money For Nothing, que foi feita por Knopfler e Sting.
Lado A
- "So Far Away"
- "Money For Nothing" (Knopfler - Sting)
- "Walk Of Life"
- "Your Latest Trick"
- "Why Worry"
Lado B
- "Ride Across The River"
- "The Man's Too Strong"
- "One World"
- "Brothers In Arms"
"So Far Away"
"Money for Nothing"
"Walk of Life"
"Your Latest Trick"
"Why Worry"
"Ride Across the River"
"The Man's Too Strong"
"One World"
"Brothers in Arms"
Comentários
Postar um comentário