“Songs From The Big Chair” (Phonogram, 1985), Tears For Fears



Formada por Roland Orzabal (vocais, guitarra e teclados) e Curt Smith (vocais e baixo) em 1981 na cidade de Bath, sudoeste da Inglaterra, a dupla Tears For Fears não demorou muito tempo para ganhar projeção no cenário internacional da música pop. Em 1983, os Tears For Fears ficaram conhecidos no mundo inteiro através do álbum de estreia deles, The Hurting, que apesar de guardar um certo experimentalismo, emplacou os primeiros sucessos do duo inglês que foram “Pale Shelter”, “Changes” e “Mad World”. Embora tivessem feito uso de guitarra, baixo e bateria, o álbum mostrava uma presença forte dos sintetizadores, o que deixava o som da banda bastante vinculado à frieza do synthpop inglês, estilo muito em voga na época.

A boa repercussão de The Hurting fez a gravadora Phonogram pressionar a dupla por mais uma novidade para jogar no mercado. Foi então que no final de 1983, lançaram o single “The Way You Are”, um tremendo fracasso e que nem de longe alcançou o mesmo êxito dos três primeiros sucessos da dupla. Com isso, os Tears For Fears decidiram se concentrar em compor novas canções para o novo álbum, e que tivessem um perfil musical mais acessível, visando vender mais discos. Mas isso não significou que Orzabal e Smith estivessem abrindo mão da qualidade das canções para vender discos a qualquer custo.

Tears For Fears em 1983, ano de lançamento do primeiro álbum do grupo, The Hurting.

Em meados de 1984, gravaram a primeira canção para o segundo álbum “Mother’s Talk”, e com um novo produtor, Jeremy Green. Porém, a dupla não gostou do resultado e decidiu recrutar Chris Hughes, o mesmo produtor que conduziu a produção de The Hurting. Com Hughes de volta, os Tears For Fears gravaram de novo “Mother’s Talk”. A música foi lançada em single em agosto de 1984, e chegou ao 14º lugar da parada de singles do Reino Unido. Em “Mother’s Talk”, os Tears For Fears teriam encontrado os elementos certos que dariam corpo à concepção musical do próximo álbum: ritmo pop dançante, sintetizadores do synthpop “forrando” o pano de fundo das canções, uma presença maior das guitarras, do baixo e da bateria do rock. Todos esses ingredientes dando forma às canções com apelo pop e acessível que a dupla estava buscando.

Foi com o apoio de Chris Hughes que os Tears For Fears iniciaram as gravações do segundo álbum. Além de Hughes, dois velhos conhecidos da dupla também participaram das gravações do segundo álbum, o tecladista Ian Stanley e o baterista Manny Elias. Os dois acompanharam a dupla nas gravações de The Hurting, e acabariam efetivados no Tears For Fears como banda. 

Em novembro de 1984, os Tears For Fears soltavam mais um single: “Shout”. 4º lugar no Reino Unido, o single de “Shout” dava ideia do que o duo estava preparando para o segundo álbum.

Intitulado Songs From The Big Chair, o segundo álbum dos Tears For Fears foi lançado em 25 de fevereiro de 1985. O título do álbum foi inspirado num filme para TV Sybil, de 1976, sobre uma mulher que tinha transtornos de personalidade múltipla, e que só se sentia segura quando estava na “cadeira grande” de seu analista. Em seu segundo álbum, os Tears For Fears seguiram o caminho musical encontrado com “Mother’s Talk”. Diferente do som mais experimental e inclinado ao synthpop de The Hurting, o álbum Songs From The Big Chair mostra que os Tears For Fears abriram o seu leque musical para mais possibilidades. A sonoridade eletrônica dos sintetizadores divide o protagonismo com as guitarras, os refrãos possuem uma força incrível em algumas, capazes de arrebatar multidões nos shows em estádios e arenas.

“Shout” é a música que abre o álbum, e que segundo Roland Orzabal, foi inspirada na Guerra Fria. O vocalista afirmou que à época em que a compôs, procurou nos versos encorajar as pessoas a não fazerem nada sem antes questionarem, não aceitarem as coisas passivamente. A música começa com uma percussão eletrônica programada, e em seguida, entra toda a base instrumental e o refrão forte que mais parece uma convocação: “Shout, shout, let it all out / These are the things I can do without / Come on, I'm talking to you, come on”. (“Grite, grite, ponha tudo para fora / Tudo isso são coisas que eu posso dispensar / Vamos, estou falando com você, vamos”). O single de “Shout” ficou em 1º lugar na Billboard Hot 100, nos Estados Unidos, também liderando a parada de singles na Alemanha e França, e 4º lugar no Reino Unido.

Um elegante e jazzístico solo de saxofone executado por Will Gregory, dá início à balada “The Working Hour”, segunda faixa de Songs From The Big Chair.

Cena do videoclipe "Shout".

A faixa seguinte, foi a última música do álbum a ser composta e a ser gravada, a ótima “Everybody Wants To Rules The World”. Nesta música, os Tears For Fears souberam combinar muito bem os sintetizadores do synthpop com a guitarra do rock. “Everybody Wants To Rules The World” possui uma força, uma imponência típica das canções feitas para tocar em estádios e arenas, em que artista e público cantam juntos numa só voz. O single de “Everybody Wants To Rules The World” alcançou o 1º lugar na Billboard Hot 100, nos Estados Unidos, no Canadá e Nova Zelânia, e 2º lugar no Reino Unido e Alemanha.

Primeiro single extraído de Songs From The Big Chair, seis meses antes do álbum ser lançado, “Mother’s Talk” é um pop dançante, vibrante, acessível e que já fazia parte do repertório dos shows do Tears For Fears desde 1983. A letra da música se baseia na bronca das mães nos filhos quando esses fazem careta, e o risco do vento soprar, segundo a crença popular, de ficar desse jeito para sempre. “Mother’s Talk” é quem encerra o lado A da versão LP do álbum.

O lado B de Songs From The Big Chair começa com a balada “I Believe”, canção que a princípio, seria oferecida a Robert Wyatt, ex-baterista e vocal do Soft Machine, banda da qual Roland Orzabal era fã. Contudo, a canção acabou sendo gravada pelos Tears For Fears. “I Believe” é lenta, possui ares jazzísticos, e possibilita Orzabal a mostrar todo seu potencial como cantor.

Depois da intimista “I Believe”, o clima fica mais descontraído com “Broken”, um pop dançante que traz uma linha de baixo robusta, uma bateria pesada, e que juntas, criam uma levada rítmica intrincada e poderosa. Enquanto isso, um solo de guitarra desfila loucamente pela música. A curiosidade é que sutilmente, se ouve em “Broken” uma linha melódica que remete à próxima faixa, “Head Over Heels”. Assim como “Shout” e “Everybody Wants To Rules The World”, “Head Over Heels” é outra faixa do álbum que possui o porte de canção que arrebata multidões, ficando isso bem evidente na reta final da música quando todos cantam juntos em coro. O final de “Head Over Heels” é logo emendado com um trecho gravado ao vivo de “Broken”.

Tears For Fears no videoclipe de "Everybody Wants To Rules The World".

Finalizando o álbum, “Listen”, uma balada calma e suave em que os sintetizadores produzem camadas “etéreas” de som “forrando” a base musical da canção, enquanto riffs sutis de guitarra aparecem aqui e ali. A canção que possui um discreto teor político, traz ao seu final versos em inglês e espanhol que se revezam.

Após três meses de lançamento de Songs From The Big Chair, os Tears For Fears iniciaram uma longa turnê mundial que se estendeu até o final de 1986. O duo inglês passou com sua turnê pela Inglaterra, Alemanha, França, Estados Unidos, Japão e Austrália. Enquanto a turnê transcorria, o álbum foi crescendo comercialmente. Songs From The Big Chair chegou ao 1° lugar na Billboard 200, nos Estados Unidos, onde só lá, vendeu 5 milhões de cópias. O álbum liderou também a parada de álbuns da Alemanha e Canadá, e ficou em 2º lugar no Reino Unido. Além de ter conquistado discos de ouro e platina pelas vendagens, o sucesso de Songs From The Big Chair consagrou o talento de Roland Orzabal como compositor: em 1986, Orzabal foi contemplado com o prêmio Ivor Novello como “Compositor do Ano”.

Ao final da turnê de Songs From The Big Chair, os Tears For Fears fizeram uma grata descoberta num bar de Kansas City, no Missouri, Estados Unidos: a cantora norte-americana Oleta Adams. Eles ficaram tão encantados com o talento de Oleta, que eles convidaram a jovem cantora para uma participação especial no álbum seguinte dos Tears For Fears, The Seeds Of Love (1989). Ela fez dueto com a dupla em em três canções: “Woman In Chains”, “Badman's Song” e “Standing On The Corner Of The Third World”.

Faixas

Lado 1
  1. "Shout" (Roland Orzabal - Ian Stanley)        
  2. "The Working Hour" (Orzabal – Stanley - Manny Elias)
  3. "Everybody Wants To Rule The World" (Orzabal – Stanley - Chris Hughes)
  4. "Mothers Talk" (Orzabal – Stanley)

           
Lado 2
  1. "I Believe" (Orzabal)
  2. "Broken" (Orzabal)    
  3. "Head Over Heels/Broken (Live)" (Orzabal - Curt Smith)
  4. "Listen" (Stanley - Orzabal)    


Referências:
Revista Bizz – janeiro/1986 – Edição 06 – Editora Abril
Revista Ídolos do Rock (edição especial de Bizz – edição 09) – abril/1986 – Editora Abril
Revista Bizz – setembro/1988 – Edição 38 – Editora Abril
Classic Pop – dezembro/2017 - edição 35 - Anthem Publishing 
Wikipedia



"Shout" (videoclipe original)

 "The Working Hour"

 "Everybody Wants To Rule The World"
(videoclipe original)

 "Mothers Talk"


 "I Believe" (videoclipe original)

"Broken"

 "Head Over Heels/Broken (Live)"

 "Listen"

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