“Isopor” (BMG, 1999), Pato Fu



Por Sidney Falcão 

Foi através do seu quarto álbum, Televisão de Cachorro, lançado em 1998, que a banda Pato Fu deixou de ser um grupo de rock experimental alternativo para entrar para as paradas de sucesso da música pop brasileira e alcançar um grande público. As faixas “Canção Pra Você Viver Mais”, “Eu Sei”, “Antes Que Seja Tarde” e “Nunca Diga” tocaram bastante no rádio e contribuíram para que Televisão de Cachorro vendesse mais de 120 mil cópias, dando ao Pato Fu o seu primeiro Disco de Ouro. Com a popularidade em alta, a expectativa para o próximo álbum da banda era inevitável. A banda mineira agora era tratada pela gravadora com mais atenção.    

Como diz o provérbio futebolístico “em time que está ganhando, não se mexe”, Dudu Marote, produtor de Televisão de Cachorro, foi convocado para o produzir o álbum seguinte do Pato Fu.

Intitulado Isopor, o quinto álbum do Pato Fu mostrou uma orientação da banda para um pop mais tecnológico, fazendo mais uso dos recursos eletrônicos no processo de gravação do que no álbum antecessor. De uma certa forma, o Pato Fu reuniu em Isopor o experimentalismo eletrônico pop do álbum de estreia Rotomusic de Liquidificapum, de 1993, com o apelo comercial de Televisão de Cachorro.

Uma das novidades trazidas por Isopor estava logo na primeira faixa, “Made in Japan”, gravada em japonês. A letra trata de uma ficção científica onde os japoneses, após terem sofrido o ataque da bomba atômica, iriam se vingar dominando o mundo através da expansão tecnológica japonesa. Percebe-se em “Made in Japan”, influência musical da banda japonesa Pizzicato Five e o seu som pop retrô.

Pizzicato Five: referência pop japonesa para o Pato Fu em "Made In Japan".

As faixas seguintes são o a delicada e etérea “Isopor”, e o pop “chiclete” de “Depois”, com um refrão fácil e grudento, feito sob medida para tocar no rádio.

Após som “palatável” de “Depois”, a próxima faixa, “Um Ponto Oito”, segue para um outro extremo. “Um Ponto Oito” possui uma letra profunda, poética e dramática. Trata sobre um motorista de um carro que à toda velocidade, atropela um bêbado pobre numa estrada. É uma canção que mostra a capacidade do Pato Fu em compor canções de temas densos e profundos. É sem dúvidas, uma das melhores faixas do álbum.

Um som de órgão dá o tom matrimonial Com um som de sintetizador simulando órgão de igreja na introdução, “Imperfeito” é um pop rock bem ao estilo Jovem Guarda falando de dramas amorosos. “Mortos” tem um ritmo frenético e urgente, e traz o guitarrista John Ulhoa no vocal principal, e uma base instrumental combinando muito bem as camadas de guitarras e as bases eletrônicas.

“O Filho Predileto de Rajneesh” é uma música da banda mineira Sexo Explícito gravada originalmente por ela nos anos 1980. É a mesma banda da qual John Ulhoa fez parte.  A música apresenta em sua letra um tom feminista, ainda que fosse composta por um homem, neste caso, Rubinho Troll, vocalista da Sexo Explícito. 

“Perdendo Dentes” é um pop acessível e de letra inteligente. Trata sobre maturidade, dos desafios de enfrentar os obstáculos da vida, perdendo ou ganhando batalhas, nas quais, as derrotas às vezes são mais inesquecíveis do que as vitórias: “As brigas que ganhei / Nem um troféu / Como lembrança / Pra casa eu levei / As brigas que perdi / Essas sim / Eu nunca esqueci”. Enquanto isso, na faixa seguinte, a falta da pessoa que se ama é o tema central da bossa pop “Saudade”. 

Pato Fu em foto do encarte de Isopor. Sentido horário: Ricardo Koctus, John Ulhoa,
Xande Tamietti e Fernanda Takai.

“O Prato do Dia” trata de maneira metafórica e sutil o comportamento “anestesiado” das pessoas diante das notícias sobre violência no rádio, na TV e jornais, como se os crimes tivessem se tornado algo “normal”. A rotina de violência faz o refrão da música perguntar quem será “o prato do dia”, ou seja, quem será a próxima vítima. Não deixa de surpreender que a música é de uma realidade absurda em se tratando da atual realidade brasileira no campo da segurança pública.

“Quase” é a faixa que fecha o álbum. Cantada por John Ulhoa, a música lembra uma canção de ninar e parece retratar sobre o receio do homem em se entregar por completo a uma paixão.

Na época de seu lançamento, as tiragens de Isopor traziam uma faixa interativa para o fã acessar pelo computador.

Isopor não decepcionou os fãs do Pato Fu, e repetiu a dose do sucesso de Televisão de Cachorro. O sucesso radiofônico de “Depois” (que tocou incessantemente nas rádios), “Perdendo Dentes” e “Made in Japan”, ajudaram o álbum a garantir mais Disco de Ouro para o Pato Fu alcançar as 160 mil cópias vendidas. A faixa “Perdendo Dentes” entrou para a trilha sonora da telenovela Laços de Família, da TV Globo, em 2000. Já “Made in Japan” ganhou um bem produzido videoclipe bem ao estilo de seriados japoneses de robôs.

Em 2000, uma edição limitada trouxe como faixa-bônus uma canção composta pelo Pato Fu como tema olímpico para a TV Globo veicular na sua cobertura dos Jogos Olímpicos de Sydney naquele ano.

Faixas
  1. "Made in Japan" (Robinson Moshi - John Ulhoa)
  2. "Isopor" (John Ulhoa)
  3. "Depois" (John Ulhoa)
  4. "Um Ponto Oito" (John Ulhoa)
  5. "Imperfeito" (John Ulhoa)
  6. "Morto" (John Ulhoa)
  7. "O Filho Predileto do Rajneesh" (Rubinho Troll)
  8. "Perdendo Dentes" (John Ulhoa - Fernanda Takai)
  9. "Saudade" (Gerson Freire - Fernanda Takai)
  10. "O Prato do Dia" (John Ulhoa)
  11. "Quase" (John Ulhoa)
  12. Faixa interativa

Pato Fu: Fernanda Takai ( voz (exceto "Morto" e "Quase"), guitarra base (em "Imperfeito"), John Ulhoa (guitarras, violões, teclados, batidas (em "Made in Japan", "Isopor", "Depois", "Morto" e "Um Ponto Oito"), voz (em “Morto” e “Quase”) baixo eletrônico (em "Isopor" e "Quase"), voz distorcida em "Um Ponto Oito" e voz blackjap em "Made in Japan"), Ricardo Koctus (baixo, e-bow (em "Isopor") e Xande Tamietti (bateria e percussão).


Ouça o álbum Isopor na íntegra.



"Made In Japan" (videoclipe oficial)



"Depois"  (videoclipe oficial)



"Perdendo Dentes" (Pato fu ao vivo no
Festival Rock In Rio 3, 
janeiro de 2001)






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