10 discos essenciais: rock progressivo


O rock progressivo surgiu no final dos anos 1960 a partir dos desdobramentos do psicodelismo. Desde meados daquela década, o rock já vinha experimentando novas possibilidades musicais, desde fusões com música oriental e uso de orquestra a novas técnicas de gravações em estúdio que desembocariam no rock psicodélico. Álbuns como Pet Sounds, dos Beach Boys, e Revolver, dos Beatles, ambos de 1966, são frutos desse experimentalismo. Mas com Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, obra-prima dos Beatles lançada em 1967 e marco da psicodelia, as possibilidades se ampliariam ainda mais para o rock, abrindo caminho para o surgimento do rock progressivo. No entanto são os álbuns Days Of Future Passed (1967), do Moody Blues, e In The Court Of The Crimson King (1969), do King Crimson, creditados como os primeiros e autênticos álbuns de rock progressivo.

No momento em que o rock progressivo nascia, surgiam novidades tecnológicas na área de gravação, como o lançamento dos sintetizadores portáteis, entre o final dos anos 1960 e começo dos anos 1970. Eles seriam adotados pela grande maioria das bandas de rock progressivo, e se tornariam os principais instrumentos do gênero musical.

Alcançando o seu auge na primeira metade da década de 1970, o rock progressivo se caracterizava pelas faixas longas (muitas vezes ocupando todo lado de um disco de vinil), arranjos musicais muito bem elaborados, uso e abuso dos teclados e de recursos eletrônicos, lançamento de álbuns duplos (e até triplos), gravações com acompanhamento de orquestra sinfônica, álbuns conceituais (álbuns abordando um determinado tema) e excesso de técnica e virtuosismo por parte dos músicos. Os temas poderiam variar desde epopeias medievais à ficção científica, passando por contos de fantasia ou mesmo temas mais relacionados aos sentimentos humanos.

A partir de meados dos anos 1970, o rock progressivo começa a entrar em decadência com o aparecimento do punk rock e da ascensão da disco music. O excesso de preciosismo e virtuosismo do rock progressivo tornaram o gênero anacrônico e burocrático. Foi um dos alvos da fúria do punk, que buscava devolver ao rock a energia e a simplicidade dos seus primórdios. O álbum solo de Rick Wakeman, Journey To The Centre Of The Earth, de 1974, já dava mostras de que a presunção do rock progressivo tinha ido longe demais.

Confira dez álbuns representativos do rock progressivo.

Aqualung ( Chysalis Records, 1971), Jethro Tull. No rock progressivo, os teclados são os protagonistas, seja nos palcos ou nos álbuns. Mas não quando se trata do Jethro Tull. Em Aqualung, eles são meros coadjuvantes. A guitarra de Martin Barre e a flauta e o violão de Ian Anderson dão toda beleza à sonoridade eletro-acústica do álbum, fazendo o som da banda transitar entre o rock progressivo e o folk rock. Mesmo considerado um álbum conceitual, a banda rejeita esse título. Ainda assim, Aqualung é dividido em dois temas: a primeira metade do álbum gira em torno do personagem Aqualung, um morador de rua; a segunda metade, a banda questiona a religião. Aqualung foi um grande sucesso comercial, puxado pelas faixas “My God”, “Locomotive Breathe”, “Cross-Eyed Mary” e a faixa título que tiveram boa execução em FM’s.

Fragile ( Atlantic, 1971), Yes. Para o seu quarto álbum, o Yes quis adotar os sintetizadores, instrumentos modernos que já eram utilizados por outras bandas de rock progressivo na época como o Emerson, Lake & Palmer e o King Crimson. Mas houve a resistência do tecladista Tony Kaye que preferia o órgão Hammond. Kaye acabou deixando a banda e foi substituído pelo virtuoso Rick Wakeman. Além de marcar a estreia de Wakeman, Fragile foi o primeiro álbum do Yes a ter a capa ilustrada pelo artista gráfico Roger Dean. “Roundabout”, apesar de longa, foi o primeiro grande hit do Yes; foi lançada uma versão editada de pouco mais de três minutos para single. “Can And Brahms” é uma adaptação de Wakeman a partir de uma obra do compositor alemão Johannes Brahms (1833-1897). O vocalista Jon Anderson faz todos os vocais em “We Have Heaven”, criando uma harmonização cujo resultado parrece um coral celestial formado por vários “Jons Andersons”. Das nove faixas, cinco executadas individualmente, onde cada membro mostra as suas habilidades.

Close To The Edge (Atlantic, 1972), Yes. Em Close To The Edge o Yes radicaliza ainda mais o seu processo na erudição do seu som, criando arranjos mais complexos e intrincados do que o que fora produzido em Fragile. Isso acabaria fazendo o baterista Bill Bruford deixar a banda por discordar da orientação musical que o Yes estava seguindo. Close To The Edge tem apenas três faixas, todas longas. Duas delas, a faixa-título (com “quilométricos” 18 minutos) e “And You And I”, são dividas em quatro partes cada uma. Apesar de ser considerado pelos fãs e por parte da crítica como o melhor álbum do Yes, Close To The Edge já dava sinais de que a banda caminharia rumo ao exibicionismo extremo e à megalomania, qualidades que marcariam os trabalhos seguintes e selariam a decadência da banda.

Trilogy (Island Records, 1972), Emerson Lake & Palmer. Ao contrário das sessões de gravação do álbum Tarkus, de 1971, em que havia um clima de guerra entre o tecladista Keith Emerson e o guitarrista e vocalista Greg Lake, as sessões de gravação de Trilogy foram bem tranquilas, o que acabou se refletindo no álbum. As três primeiras faixas (“The Endless Enigma (Part One)”, “Fugue” e “The Endless Enigma (Part Two)”) são interligadas. A referência à música clássica se faz presente através da versão roqueira e frenética de “Hoedown”, uma adaptação de uma peça de música clássica do compositor erudito norte-americano Aaron Copland (1900 -1990). A principal faixa do álbum, a linda “From The Beginning”, se tornou um dos maiores sucessos do trio britânico. Trilogy foi 2º lugar no Reino Unido na parada de álbuns e 5º lugar na Billboard 200, nos Estados Unidos.

Brain Salad Surgery (Manticore, 1973). Após o elogiado Trilogy, o Emerson Lake & Palmer havia conquistado o status de gigante do rock progressivo, a tal ponto da banda ter criado o seu próprio selo, a Manticore Records. O primeiro lançamento do selo foi Brain Salad Surgery, álbum que consolidou a carreira do trio. Como nos álbuns anteriores, Brain Salad Surgery  traz mais uma releitura da banda para uma obra da música erudita: “Toccata” é uma adaptação do 4º movimento de “Concerto Para Piano Nº 1”, do compositor argentino Alberto Ginastera (1916-1983). “Karn Evil 9” toma metade do álbum, dividida em duas partes, sendo que a segunda parte é subdividida em quatro partes. A balada folk “Still...You Turn Me On" serve como uma válvula de escape num álbum onde predomina uma sonoridade agressiva e tensa. A capa antológica é de autoria do artista plástico suíço H.R. Giger (1940-2014), o mesmo que mais tarde criaria toda a estética visual do filme Alien – O Oitavo Passageiro, de Ridley Scott.

Dark Side Of The Moon (EMI, 1973), Pink Floyd. Dark Side Of The Moon começou a ser pensado logo após o lançamento do álbum Meddle (1971), e a princípio se chamaria Eclipse. A banda compôs as faixas e as executava nos shows antes mesmo de gravar o álbum para testar a receptividade do público. Dark Side Of The Moon foi produzido ao longo de sete meses nos estúdios Abbey Road, em Londres, com o que havia de melhor em termos em tecnologia de gravação na época. Os temas abordados pela banda no álbum como loucura (“Brain Damage”), ganância (“Money”), brevidade da vida (“Time”), medo da morte (“The Great Gig In The Sky”), diferenças entre as pessoas (“Us And Them”) são atemporais, e mostram que Dark Side Of The Moon continua atual. O álbum fez um enorme sucesso e foi a consagração do Pink Floyd. Com mais de 50 milhões de cópias vendidas ao longo do tempo, é o 3º álbum mais vendido da história da indústria fonográfica.

Selling England By The Pound (Charisma Records, 1973), Genesis. Após ganhar visibilidade com Foxtrot, o Genesis consolidou-se como um dos principais nomes do rock progressivo com o seu quinto álbum, Selling England By The Pound. Nele, a banda critica a instabilidade econômica na Inglaterra (o país vivia um estado de recessão econômica nos anos 1970) e a “americanização” da cultura inglesa. Musicalmente, toda a banda faz um trabalho instrumental coeso, brilhante. Selling England By The Pound é o primeiro álbum em que o Genesis faz uso do sintetizador. Na faixa “The Cinema Show”, Tony Banks mostra toda a sua habilidade como tecladista ao executar solos fantásticos num sintetizador ARP Pro-Soloist. Phil Collins faz o seu primeiro vocal solo no Genesis na faixa “More Fool Me”, além de tocar a bateria. Selling England By The Pound foi 3º lugar na parada de álbuns no Reino Unido. Foi o maior sucesso comercial do Genesis da “Era Peter Gabriel”.

The Lamb Lies Down On Broadway (Charisma, 1974), ?Genesis. The Lamb Lies Down On Broadway marca o ápice da formação clássica do Genesis, formada por Peter Gabriel (vocal), Steve Hackett (guitarra), Mike Rutherford (baixo), Tony Banks (teclados) e Phil Collins (bacteria). O álbum duplo era também o trabalho mais ambicioso do Genesis, era um típico álbum conceitual por trazer um tema. Através das suas vinte e três faixas, The Lamb Lies Down On Broadway conta a história de Rael, um jovem porto-riquenho líder de uma gangue de delinquentes juvenis em Nova York que ao ver um cordeiro em plena Broadway, é capturado por um objeto voador não identificado e levado para uma outra dimensão. O álbum ficou em 10º lugar da parada de álbuns do Reino Unido e rendeu uma turnê internacional que teve um total de 102 shows. The Lamb Lies Down On Broadway foi o último album de Peter Gabriel no Genesis, que partiu em carreira solo. Collins acumulou as funções de baterista e vocalista, sendo que nas turnês, um segundo baterista era convocado (Bill Bruford, ex-Yes, e depois Chester Thompson).

The Wall (Harvest, 1979), Pink Floyd. A turnê do álbum Animals (1977), deixou o baixista Roger Waters horrorizado com a idolatria desenfreada dos fãs do Pink Floyd, com os shows e as estruturas gigantescas em estádios lotados e com o estrelato a que a banda havia chegado. Tal situação de pavor inspirou Waters a criar o conceito do próximo álbum do Pink Floyd, The Wall, contando a história de Pink, um rock star que rebela-se contra o seu próprio público fanático e com a vida de astro do rock, culpando a superproteção da mãe, a ausência do pai (morto numa guerra) e as drogas pelas suas frustrações; isola-se de tudo e de todos atrás de um muro imaginário, daí o título do álbum. Para desenvolver a história do personagem fictício nas canções do álbum, Waters inspirou-se na sua própria vida: ( seu pai morreu na 2ª Guerra Mundial, deixando a esposa grávida dele ) e um pouco na de Syd Barret (onde entra aí a vida conflituosa de Pink como astro do rock). O álbum inspirou o filme Pink Floyd – The Wall, de Alan Parker, lançado em 1982. “Another Brick In The Wall, Part 2”, “Comfortably Numb”, “Run Like Hell” e “Hey You” foram os hits do álbum duplo.

Moving Pictures (Mercury, 1981), Rush. O final dos anos 1970 viu uma profunda renovação no rock propagada pelo punk e a new wave. Com o rock progressivo em baixa, a banda canadense Rush foi uma das poucas do gênero que conseguiu não só se adaptar a essa nova ordem, como a lançar grandes álbuns dentro dessa nova realidade. A partir do álbum Permanent Waves (1980), o Rush começou a flertar com uma sonoridade mais pop e radiofônica, aproximando-se do reggae e da new wave, mas sem abrir mão da técnica e do preciosismo que se tornaram a marca da música do Rush. Moving Pictures dá prosseguimento a essa nova orientação da banda e é perceptível as novas referências musicais agregadas ao som do trio. “Tom Sawyer” se torna a música mais famosa do Rush, e no Brasil, serve de tema de abertura do seriado MacGyver. Merecem destaque a instrumental “YYZ”, “Red Barchetta”,“Limelight” e “Vital Signs”, esta última, com alguma influência de The Police.             

Comentários

  1. Adoro som progressivo mas tem o Terco e outros que tambet fazem parte dessa lista mutantes anjos do sul cada das máquinas e muitos outros que até eu não conheço mas o Brasil também tem coisas boad

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  2. Esse álbum do Genesis : Selling....é muito chato! Acho q excesso de teclados deixa a música cansativa...parada...; também n gosto de vocais mais medievais etc,
    Um ótimo álbum é : " mirage", do Camel.

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    1. O Selling England by the pound é um dos maiores álbuns de Rock Progressivo da história.
      Influenciou inclusive muita gente do Heavy Metal.
      Ouça Iron Maiden dos anos 80 e ouça a primeira música deste álbum.
      É impressionante a relação.

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    2. Discordo que o Selling England seja chato, é até hoje o meu disco favorito do Genesis, e olhe que eu comecei a ouvir a banda com o Foxtrot e o Nursery Cryme. Só não gosto muito é do "The Lamb Lies...", o último com Peter Gabriel na formação da banda. É um bom disco, mas que poderia ter saído com um resultado bem melhor se fosse simples ao invés de duplo!

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  3. Se quiserem ouvir um álbum maravilhoso de Rock Progressivo cantado em português, ouçam o 10000 anos depois entre Vénus e Marte do cantor português José Cid.
    É um álbum de 1978.

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  4. Esse álbum do José Cid é sensacional.
    A música Fuga para o Espaço é maravilhosa.

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  5. Claro que toda lista desse tipo é muito subjetiva, mas acho que In The Court Of The Crimson King, do King Crimson, deveria ter sido incluído nela, não só por ser considerado o primeiro álbum de rock progressivo (ou segundo, depois de Days Of Future Passed, do Moody Blues), mas principalmente por também ser considerado, por muitos (o que não é o meu caso), o melhor álbum de rock progressivo de todos os tempos. Mas é uma boa lista.

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