10 discos essenciais: glam rock
No começo
dos anos 1970, John Lennon havia decretado que o sonho havia acabado. Toda
aquela onda festeira do paz & amor hippie da década anterior era coisa do
passado. Os Beatles haviam chegado ao fim, Janis, Hendrix e Morrison estavam mortos. A Guerra do Vietnã prosseguia –
assim como a Guerra Fria também –
atentados terroristas pipocavam em vários cantos e ditaduras se alastravam pela
América Latina. O mundo se mostrava mais sombrio. O rock se tornava mais
burocrático (com rock progressivo
ditando virtuosismo ) e um negócio lucrativo.
Em meio a
tudo isso surgia o glam rock ( rock glamour), trazendo um pouco mais de
alegria, fantasia e androgenia. Também conhecido como glitter rock, o glam rock
foi um fenômeno essencialmente inglês, mas que acabou se espalhando pelo mundo.
Na nova tendência que despontava, o visual era tão importante quanto a música. E
valia tudo: maquiagens pesadas, muita purpurina, plumas, paetês, sapatos
plataforma e os figurinos mais espalhafatosos que se pudesse imaginar.
Musicalmente era bem diversificado, englobando desde hard rock ao pop
descartável. O glam rock caiu no gosto do público jovem, principalmente o
adolescente, emplacou grandes astros talentosos como David Bowie, T. Rex, Elton
John, Mott The Hoople, Slade, Sweet, mas também alguns aproveitadores de
plantão que costumam pongar no que está na moda.
Mesmo tendo
durado um prazo curto, entre 1971 e 1975, o glam rock deixou o seu legado:
influenciou o punk, os neorromânticos (leia-se Adam & The Ants, Culture
Club, Duran Duran, Visage entre outros), glam metal dos anos 1980 (Mötley Crüe,
Bon Jovi, Poison e mais dezenas de bandas) e bandas mais contemporâneas com Marilyn
Manson, The Darkness, Placebo e Suede.
Neste “10
Discos Essenciais”, confira alguns dos álbuns mais emblemáticos do glam rock.
Electric Warrior (Fly, 1971), T. Rex. Entre
1967 e 1970, a Tyrannosaurus Rex era uma banda de sonoridade folk que tinha à
frente o guitarrista e vocalista Marc Bolan e o percussionista Steve Peregrine
Took. Mas em 1970, Bolan deu uma grande guinada na banda: troca Took por Mickey
Finn, o som do grupo fica mais elétrico carregando referências de Chuck Berry,
rhythm´n´blues e hard rock, adota um visual mais extravagante e abrevia o nome
da banda para T.Rex. Com o álbum Electric Warrior, o T.Rex ganha projeção na Inglaterra e inaugura a era do glam
rock. Marc Bolan se torna a própria personificação do glam rock. "Bang A Gong (Get It On )"
foi o grande hit do album.
The Rise And Fall Of Ziggy Stardust
And The Spiders From Mars (RCA, 1972), David Bowie. David
Bowie já tinha quatro álbuns no currículo, dois deles, The Man Who Sold The World
(1970) e Hunky Dory (1971) com algum reconhecimento da crítica, mas sem
grade repercussão comercial. Foi então que em 1972, lançou The Rise And Fall Of Ziggy
Stardust And The Spiders From Mars, no qual Bowie encarnou Ziggy
Stardust, um extraterrestre que vem à Terra e se tornar um astro do rock. Com
um visual andrógino e o cabelo laranja, Bowie virou ídolo de toda uma geração e
conquistou finalmente a fama que tanto almejava. O álbum se tornou um clássico
graças a hits como "Starman", "Ziggy Stardust" e “Rock 'n' Roll Suicide", e também a uma banda "matadora" por trás de
Bowie, os Spiders From Mars, que contava com o guitar hero Mick Ronson.
All The Young Dudes (CBS, 1972), Mott The
Hoople. Após os quatro primeiros álbuns que foram um fracasso em
vendas, o Mott The Hoople decidiu encerrar atividades em 1971. Sensibilizado, entrou
em cena David Bowie que decidiu ajudar a banda convencendo os seus membros a
retornarem com
o grupo. Para isso, Bowie e seu guitarrista, Mick Ronson, produziram o álbum All
The Young Dudes, cuja faixa-título é de autoria do
próprio Bowie. All The Young Dudes se tornou o primeiro grande sucesso
comercial do Mott The Hoople e que traz ainda rocks afiados como “One Of The
Boys”, “Jerkin'
Crocus”, "Ready For Love/After Lights" e uma
regravação de um hit do Velvet Underground, "Sweet Jane".
Roxy Music (Island, 1972), Roxy Music. O Roxy Music foi talvez a banda
mais estilosa do glam rock, tanto visualmente quanto musicalmente, centrando-se
entre a sofisticação e a breguice, entre a vanguarda e o pop convencional.
Todas essas combinações antagônicas estão presentes no primeiro álbum da banda
inglesa. Roxy Music, o álbum, surpreende pela qualidade, criatividade e o
talento de seus integrantes, destacando o tecladista Brian Eno e o saxofonista Andy
Mackay. "Re-Make/Re-Model", faixa na qual a banda combina solos de
“Day Tripper”, dos Beatles, e “A Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner,
só comprova o poder criativo dos músicos do Roxy Music.
Transformer
(RCA, 1972), Lou Reed. Apesar
de estar vivenciando a fama da sua fase Ziggy Stadust, David Bowie reservava
um tempinho para ajudar os amigos em 1972. Deu uma força na reabilitação da
carreira do Mott The Hoople e fez o mesmo com o ex-Velvet Underground, Lou
Reed, que vinha de um homônimo e pouco expressivo álbum de estreia solo em 1971. Ao
lado do seu fiel escudeiro, o guitarrista Mick Ronson, Bowie produziu o
segundo álbum de Reed, Transfomer, considerado o melhor
de sua carreira solo. Admiradores confessos de Reed e do Velvet Underground, Bowie
e Ronson além de produzirem o álbum, tocaram alguns instrumentos e fizeram
alguns backing vocals. Transformer traz faixas memoráveis
como "Walk On The Wild
Side" (maior sucesso de Reed), “Vicious” e as lindas “Perfect Days” e
“Satellite Of Love”.
Mott
(CBS,
1973), Mott the Hoople. Ao
produzir o álbum anterior, All The Young Dudes, David Bowie deu o empurrão para
que o Mott The Hoople conquistasse o tão desejado prestígio. Amparados pelo
sucesso de All The Young Dudes e
mais confiantes no próprio potencial, o Mott The Hoople gravou e produziu o
álbum seguinte, Mott, que teve boa recepção tanto no
Reino Unido quanto nos Estados Unidos. O álbum emplacou as faixas "All The Way From Memphis" e "Honaloochie Boogie".
Mas
também trouxe coisas bacanas como os rocks certeiros “Drivin'
Sister" e “Violence”, e o folk rock "I Wish I Was Your Mother".
New York Dolls (Mercury, 1973),
New York Dolls. Imagine
bater no liquidificador os Rolling Stones e adicionar uma porção de
travestis: a mistura certamente daria New York Dolls. Com seu visual
andrógino, postura irreverente e seu som anárquico e debochado, os New York
Dolls anteciparam o punk rock e foram referência para a cena underground
nova-iorquina de meados dos anos 1970 que revelaria ao mundo os Ramones,
Blondie, Television e Talking Heads. O seu primeiro e homônimo álbum,
capturou muito bem a energia transgressora e urgente da banda que podem ser
percebidas em faixas como “Personality Crisis” e “Frankenstein (Orig.)”. Os sinais de que o punk estaria por vir
estão presentes em “Bad Girls” e “Jet Boys”.
Secos & Molhados (Continental,
1973), Secos & Molhados. O Brasil não ficou de fora da onda glam que assolou o rock no começou dos anos 1970. O grupo
Secos & Molhados foi o nosso melhor representante do gênero e um dos
maiores fenômenos da música brasileira em todos os tempos. Em plena ditadura
militar no Brasil, o grupo surgia causando um impacto visual com seus
integrantes de rostos pintados, figurinos andróginos e tendo à frente Ney
Matogrosso, um vocalista com uma voz aguda, peito nu e corpo esguio. Com um
repertório que mistura folk rock, rock progressivo, pop, MPB e letras com forte
carga poética, Secos & Molhados, o disco, foi um fenômeno em vendas,
chegando a um milhão de cópias, conquistando desde o público adulto até o
infantil, e se tornando um dos mais importantes álbuns da história do rock
brasileiro. A capa é talvez a mais marcante da música brasileira. “Sangue
Latino”, “O Vira”, “Amor” e “Rosa de Hiroshima” foram os grandes hits do
álbum.
Aladdin
Sane (RCA,
1973), David Bowie. David Bowie compôs o repertório que daria origem ao álbum Aladdin
Sane durante a passagem da Ziggy Stardust Tour pelos Estados Unidos, em 1972,
com canções inspiradas nas suas observações sobre a América. Por isso que há
quem diga que Aladdin Sane é um desdobramento de Ziggy
Stardust. Com uma das capas
mais icônicas da cultura pop, Aladdin
Sane tem
como destaque a faixa-título, “Panic In Detroit”, “The Jean Genie” e um cover mais energético
de “Let's Spend The Night Together”,
dos Rolling Stones.
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Goodbye Yellow Brick Road (DJM, 1973), Elton John. Elton John vinha numa sequência
de bons álbuns como Madman Across The Water (1971), Honky Château (1972) e Don't
Shoot Me I'm Only The Piano Player (1973) até se consagrar com o álbum
duplo
Goodbye Yellow Brick Road, em 1973. O álbum ratifica o alto
nível da parceria Elton John-Bernie Taupin como hitmakers, já mostrado
nos álbuns anteriores. Goodbye Yellow Brick Road tem um
“cardápio musical” variado, incluindo desde
pop radiofônico a incursões no rock progressivo. Graças a hits antológicos como
a faixa título, “Candle In The Wind”, “Bennie And The Jets”, “Saturday Night's
Alright For Fighting” e à quilométrica “Funeral For A Friend/Love Lies Bleeding”,
o álbum duplo vendeu mais de sete milhões de cópias. Elton John alcança o status de astro de rock de primeira
grandeza lotando estádios e arenas pelo mundo, se apresentando com figurinos
extravagantes e os famosos óculos dos formatos mais estranhos.
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