“Is This It” (RCA, 2001), The Strokes


Ano 2000, o século XX chega à sua reta final. O grunge havia virado “pó” com a morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana, em 1994, o Pearl Jam e os Foo Fighters (banda do ex-Nirvana, Dave Grohl), tocam à diante o legado do movimento. A Grã-Bretanha continua irradiando o britpop que se mantém dando as cartas no mainstream do rock mundial capitaneado por Oasis e Blur, bandas que fomentavam uma das maiores rivalidades da história do rock. Numa outra frente, o Radiohead se consagrava a cada disco como uma das mais influentes bandas do rock contemporâneo através do experimentalismo eletrônico e hermético. A internet já era uma realidade, e através dela, surgia o Napster, um recurso que criou uma nova realidade para o público consumir música em larga escala e sem pagar nada, um verdadeiro pesado que tirou o sono e provocou reações judiciais por parte de alguns astros consagrados como a banda Metallica.

Enquanto isso, dentro desse cenário, um quinteto formado por garotos na faixa dos 22 anos, com cabelos desgrenhados como os de quem acabou de acordar, e vestidos num figurino de brechó, começava a carreira tocando nos botecos de Nova York. Formada em 1998 por Julian Casablancas (vocais), Nick Valensi (guitarra), Albert Hammond (guitarra), Nikolai Fraiture (baixo) e Fábio Moretti (bateria) - este último, filho de um norte-americano com uma brasileira – a banda The Strokes trazia na sua bagagem musical influências de Velvet Undeground e a simplicidade urgente do punk dos anos 1970 de bandas como Television, Ramones e Buzzcocks. Uma das apresentações da banda nova-iorquina chamou a atenção de um produtor inglês que estava de bobeira numa dessas casas assistindo o show dos moleques. Uma fita demo com três músicas dos Strokes foi parar nas mãos do produtor que ao voltar para Londres, entregou a fita ao selo independente inglês Rough Trade que demonstrou interesse no quinteto e decidiu lançar um EP a partir do material da fita demo.

Da esquerda para a direita: Nick Valensi, Albert Hammond Jr, Julian Casablancas, Fábio Moretti e Nikolai Fraiture.

O EP The Modern Ages foi lançado na Inglaterra em janeiro de 2001, e trazia as três faixas retiradas da fita demo: “The Modern  Ages”, “Last Nite” e “Barely Legal”. Logo que foi lançado, o semanário inglês New Music Express (também conhecido como NME) deu destaque ao EP como “disco da semana”. No mês seguinte, os Strokes embarcaram para a Inglaterra onde tocaram num festival promovido pela NME. A partir daí, a vida da banda norte-americana mudou. Os Strokes logo viraram assunto na internet numa proporção descomunal, e se tornaram o primeiro grande fenômeno do rock revelado pela rede mundial de computadores.

Em pouco tempo, mesmo contando apenas com um EP, os Strokes eram matéria das mais diversas publicações em todo o mundo, como a revista inglesa The Face, a americana Rolling Stone e o jornal brasileiro Folha de S. Paulo. A crítica musical mundial não poupava elogios àquela banda novata apontada como “novo Nirvana” ou “a salvação do rock”. O quinteto nova-iorquino seguiu numa pequena turnê na Inglaterra e outra nos Estados Unidos com ingressos caros e disputadíssimos. Na plateia de alguns desses shows, figuras como Chrissie Hynde (Pretenders), Michael Stipe (R.E.M), Noel e Liam Gallagher (Oasis) e o ex-The Smiths, Morrissey, estavam entre os astros consagrados do rock que foram ver com os próprios olhos o primeiro fenômeno roqueiro do novo século. Entre março e abril de 2001, os Strokes entraram em estúdio para a gravação do álbum de estreia. Logo após a conclusão, saem em turnê para a divulgação do álbum antes mesmo de seu lançamento.

Capa da edição norte-americana de  Is This It.
Finalmente, em setembro de 2001, Is This It, o tão aguardado primeiro álbum dos Strokes, era lançado.  A capa trazia um atraente e despido quadril feminino, mas isso para as edições do resto do planeta. Nos Estados Unidos, o puritanismo hipócrita daquele país fez com que a edição norte-americana ganhasse outra capa, mais comportada e sem graça. De qualquer forma, o conteúdo do álbum não decepcionou. A banda manteve as suas referências do punk “setentista” - sobretudo o nova-iorquino dos tempos do Television, Blondie e Ramones - através arranjos simples, guitarras “econômicas” e sem firulas, e o vocal berrado e desleixado de Casablancas, características presentes em faixas como  “Soma”, “Barely Ilegal” e “New York City Cops”. A faixa “Take It Or Leave It” chega a remeter o ouvinte aos New York Dolls.

As três faixas do EP The Modern Ages entraram no álbum, mas foram regravadas e ganharam uma versão mais “azeitada” e algumas alterações nas letras. Na edição norte-americana do álbum, “New York City Cops” não foi incluída devido à tragédia do 11 de setembro, duas semanas antes do lançamento de Is This It. Foi lançada com uma faixa a menos.

O álbum caiu nas graças da crítica. O New Music Express afirmou que era um dos melhores álbuns de estreia daqueles últimos 20 anos. A Billboard colocou Is This It como álbum do ano. Atingiu o 2º lugar da UK Album Chart, na Grã Bretanha, e o 33º lugar na Billboard 200, nos Estados Unidos. “Last Nite” virou hit planetário e seu vídeo clipe rodou o mundo. Nos Estados Unidos, foram vendidas 900 mil cópias de Is This It, enquanto que na Grã-Bretanha foram 300 mil. Is This It rendeu três singles: “Hard Explain”, “Last Nite” e “Someday”.
                  
O grande legado de Is This It foi ter aberto um novo caminho para o rock ao se tornar referência para as novas bandas que surgiam com o novo século como White Stripes, Libertines, Franz Ferdinand, The Hives, Arctic Monkeys entre outras. Por carregar consigo os referenciais do punk e do pós-punk dos anos 1970, a nova cena roqueira aberta por Is This It naquele começo de anos 2000 foi batizada pela crítica de “Post-punk Revival”.

Is This It foi o primeiro grande álbum de rock do século XXI e figura entre os melhores debutes da história do gênero musical. Foi eleito pela New Music Express como melhor álbum dos anos 2000. Na lista dos “500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos”, da Rolling Stone, ficou na 199º colocação.

Faixas:
  1. “Is This It”
  2. “The Modern Age”
  3. “Soma”
  4. “Barely Ilegal”
  5. “Someday”
  6. “Alone, Together”
  7. “Last Nite”
  8. “Hard To Explain”
  9. “New York City Cops”
  10. “Trying Your Luck”
  11. “Take It Or Leave It”


Todas as faixas são de autoria de Julian Casablancas.


The Strokes: Julian Casablancas (vocais), Nick Valensi (guitarra), Albert Hammond (guitarra), Nikolai Fraiture (baixo) e Fábio Moretti (bateria).



Confira o álbum Is This It na íntegra.

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