“Off The Wall”(Epic,1979), Michael Jackson


Off The Wall não representou apenas um álbum de grande sucesso comercial para  Michael Jackson, mas também a sua independência artística e a consolidação da sua chegada à vida adulta. O disco é acima de tudo, a sua “carta de alforria”. Mas para poder entender todo esse simbolismo, é preciso voltar no tempo, a 1975.

Naquele ano, a insatisfação da família Jackson com a Motown Records era enorme. Os Jackson Five não tinham liberdade de criação. Gravavam o que era imposto pela Motown, comandada à mão de ferro por Berry Gordy Jr. Alguns astros do seus cast como Marvin Gaye, Stevie Wonder e Diana Ross, conquistaram a tão sonhada liberdade criativa a muito custo. Gaye gravou What’s Going On, de 1971, meio que a contra gosto da Motown, já que a gravadora não estava nada satisfeita com temáticas sociais e existencialistas do disco, preferia algo mais trivial, menos “cabeça”. Stevie Wonder conseguiu sua independência criativa após uma sequência extraordinária de álbuns que foram sucesso de público e de crítica, e conquistou a respeitabilidade dos especialistas como músico e artista inovador. Já os Jackson Five, estavam longe disso: ainda eram encarados apenas como uma banda de adolescentes. Eram mais eficientes com singles do que com álbuns.

Capa dupla do LP
Por causa da falta de liberdade de criação e também a baixíssima porcentagem que recebiam pela vendagem de discos, os Jackson Five e o pai e empresário dos garotos, Joe Jackson, assinaram com a CBS Records antes mesmo de rescindirem com a Motown. O fato despertou a ira de Berry Gordy Jr. que moveu um processo contra Joe Jackson. No final das contas, a banda acabou perdendo o direito pela marca Jackson Five que estava sob o poder da Motown.

Na nova gravadora, passaram a atuar com o nome The Jackons e a gravar pelo selo Epic Records, uma das divisões da CBS. O contrato era um pouco mais vantajoso quanto a porcentagem nas vendas dos discos e passaram a ter direito de ter pelo menos duas ou três músicas próprias nos álbuns, o restante seriam de compositores indicados pela gravadora.

Os dois primeiros álbuns pela Epic, The Jacksons (1976) e Goin’ Places (1977) foram um tremendo fracasso e a “luz de alerta” se acendeu. A permanência na gravadora estava ameaçada. Numa última cartada, Joe Jackson e o seu filho, então com 19 anos e ainda integrante dos Jacksons, Michael Jackson, conseguiram convencer a Epic a dar mais liberdade aos Jacksons para gravar o próximo disco. Em 1978, sai Destiny, cujas faixas (exceto uma) foram compostas pelos Jacksons e a produção do álbum foi conduzida por eles. O álbum bate a casa de 1 milhão de cópias vendidas, um tremendo sucesso. Ponto para Michael que havia conseguido dobrar a gravadora no acordo.  É a partir daí que Michael começa a se revelar um artista dentro da banda com opiniões próprias e a fomentar a sua própria liberdade criativa.

Ainda em 1978, durante as filmagens do musical “The Wiz”, Michael conhece o produtor e arranjador Quincy Jones. Nessa época, Michael começava a esboçar o seu próximo álbum solo, mas buscava fazer algo diferente dos Jacksons. Queria ter completo controle do seu trabalho, sem interferência da família. 

Michael firma parceria com Quincy Jones, e juntos começam a trabalhar no novo álbum solo. Com auxílio de Jones, Michael fecha o repertório e se cerca de um time de músicos de altíssimo nível, dentre eles o baixista Louis Johnson (dos Brothers Johnson), Steve Porcaro (baterista do Toto), Michael Boddicker (tecladista especialista em sintetizadores), Paulinho da Costa (percussionista brasileiro radicado nos Estados Unidos) e mais outros músicos talentosíssimos.

Michael no vídeo clipe de "Don't Stop 'Til You Get Enough"
Após pouco mais de seis meses de produção, Off The Wall, quinto álbum solo de Michael Jackson, e o primeiro dele pela Epic Records, chega às lojas em agosto de 1979. Com ele, Michael conseguiu cumprir o seu objetivo que era fazer um trabalho diferente dos que desenvolvia com os Jacksons. Mostrando um  Michael Jackson mais maduro e dono de si, Off The Wall é todo fundamentado em faixas dançantes, transitando entre o jazz, pop, disco music e funk.

O álbum começa com a impactante "Don't Stop 'Til You Get Enough", um disco-funk “arrasa-quarteirão” onde Michael extraordinariamente faz todos os vocais, cantando em falsete e fazendo os vocais de resposta em tom normal. Na sequência, uma introdução espetacular de bateria anuncia “Rock With You”, de Rod Temperton, uma joia disco pop onde Michael canta com charme e sensualidade. O funk “Working Day And Night” mantém o clima lá em cima com uma percussão e metais hipnóticos. “Get On The Floor” fecha o lado A trazendo o baixo marcante e seguro de Louis Jordan, co-autor da música com Michael.

Michael no vídeo clipe de "Rock with You"
A faixa-título do álbum abre o lado B, mantendo a temperatura alta e num ritmo que alterna disco music com funk. Em seguida vem uma sequência mais romântica com as baladas “Girlfriend”(uma regravação de Paul McCartney da época dos Wings), “She’s Out Of my Life” (interpretação profunda e intimista de Michael) e “I Can’t Help It” (balada soul de Stevie Wonder). O romantismo permanece, mas em ritmo de disco music com “It’s The Falling In Love”, num dueto de Michael com a cantora Patti Austin. O disco-funk “Burn This Disco Out” fecha com louvor o álbum.

Numa época em que o mundo ainda vivia a febre das discotecas, Off The Wall agradou em cheio o público e conquistou a opinião da crítica musical. Off The Wall chegou em 3º lugar na parada norte-americana e em 5º na parada britânica, e alcançou a marca de 7 milhões de cópias vendidas. Rendeu cinco singles, sendo que dois deles, "Don't Stop 'Til You Get Enough" e "Rock with You" alcançaram o topo da Billboard Hot 100. “Don't Stop 'Till You Get Enough", "Rock With You" e "She's Out Of My Life" ganharam video clipes, o que ajudou a promover ainda mais o álbum.

O bom êxito comercial de Off The Wall rendeu a Michael Jackson prêmios como o Billboard Awards de “Melhor Álbum de R&B”, em 1980, e o Grammy de “Melhor Vocal Masculino de R&B” ( em "Don't Stop 'Till You Get Enough"), em 1980. Com Off The Wall, Michael superou um tabu na sua carreira solo: diferente dos seus álbuns solo anteriores que tinham baixíssimas vendas, Off The Wall havia chegado à casa dos milhões. Até antes de Off The Wall, Michael era bom apenas em vendas de singles.

O sucesso estrondoso de Off The Wall deu a Michael não só a tão sonhada autonomia, mas também o status de grande estrela da Epic Records. Se ele já era a figura central dos Jacksons, Michael passou a ter mais representatividade na banda chegando a rivalizar em importância com o próprio pai, o empresário do grupo.

Off The Wall foi um divisor de águas na carreira de Michael. Foi o álbum que ajudou a moldar o astro pop que viria a ser e se consagrar com o álbum seguinte, Thriller, de 1982.

Faixas:

Lado A
  1. "Don't Stop 'Til You Get Enough" (Michael Jackson)                      
  2. "Rock with You" (Rod Temperton)                        
  3. "Workin' Day and Night"  (Michael Jackson)      
  4. "Get on the Floor" (Michael Jackson - Louis Johnson)

Lado B
  1. "Off the Wall" (Rod Temperton)             
  2. "Girlfriend" (Paul McCartney)
  3. "She's Out of My Life" (Tom Bahler)      
  4. "I Can't Help It" (Susaye Greene-Bowne - Stevie Wonder)
  5. "It's the Falling in Love" (David Foster - Carole Bayer Sager)      
  6. "Burn This Disco Out" (Rod Temperton)


Confira o álbum Off The Wall na íntegra



"Don't Stop 'Til You Get Enough" - vídeoclipe



 
"Rock With You" (vídeoclipe)



"She's Out Of My Life" (vídeoclipe)



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