“Nevermind” (1991), Nirvana
No começo dos anos 1990, eu havia chegado à conclusão que o
rock norte-americano havia acabado, estava “morto”. Tudo bem, havia o Guns n’
Roses que estava no topo e era uma das pouquíssimas coisas relevantes no
mainstream roqueiro da terra do “Tio Sam” naquele momento. No mais, o que
imperavam era as bandas de glam metal, também conhecidas como hair metal ou jocosamente
chamadas de “metal farofa”. Eram bandas de heavy metal com forte apelo
comercial em que a estética era tão ou mais importante que a música. Figurinos
espalhafatosos, maquiagem, caras e bocas, cabeleiras armadas e muito marketing
eram os “ingredientes” da receita do sucesso dessas bandas que vendiam milhões
de discos e faziam a alegria das grandes gravadoras. Bon Jovi, Motley Crüe, Poison eram algumas das
bandas expoentes do tal glam metal.
Mas eis que em 1991, surpreendentemente eu “queimei” a minha
língua. As rádios começaram a ser invadidas por um rock diferente, com uma
pegada meio punk, meio heavy metal, muito cru e agressivo. Era “Smells Like
Teen Spirit”, do Nirvana, mostrando o “som de Seattle” para o mundo. Mais
conhecido como grunge, o impacto daquele som foi como um soco na boca do
estômago. O grunge não só confirmava que eu estava errado em relação ao rock
norte-americano como também mostrava que ele estava mais vivo do que nunca. E
esse impacto causado pelo grunge, esse soco na boca do estômago, foi em escala
mundial, pegou todos de surpresa, de programadores de rádio a executivos de
grandes gravadoras. Eles não estavam preparados para aquele som alternativo que
ganhava espaço no milionário mundo da música pop. A ascensão do grunge marcou o
declínio do glam metal e a sua “farofada” estético musical.
Nirvana |
Quando o grunge ganhou o mundo a partir de 1991, ele já
existia como cena musical desde meados dos anos 1980, em Seattle, sua terra
natal. O selo independente Sub Pop, sediado naquela cidade foi um elemento
aglutinador e propagador das bandas grunge como as pioneiras Green River,
Soundgarden, Mudhoney entre outras. O Nirvana, surgido em 1987 na mesma
Seattle, logo se inseriu naquela efervescente cena alternativa da cidade. Lançou
naquele ano o primeiro álbum, Bleach, que não teve lá tanta
repercussão na mídia, até porque se tratava de rock alternativo, e os holofotes
estavam voltados para o glam rock e mega bandas como Guns n’ Roses.
Às vésperas da pré-produção do segundo álbum, o Nirvana
deixou a Sub Pop e assinou contrato com a DCG Records, selo da Geffen Records,
que a princípio era dedicado a rock progressivo e heavy metal, mas que a partir
do começo dos anos 1990, começou a voltar as suas atenções para bandas
alternativas. Segundo a revista musical norte-americana “Spin”, o contrato do
Nirvana com a nova gravadora foi de 750 mil dólares. A produção ficou a cargo
de Butch Vig com o qual o Nirvana já havia combinado antes mesmo da banda
trocar de gravadora.
Em 10 de setembro de 1991, foi lançado o single “Smells Like
Teen Spirit”, um “petisco” do segundo álbum da banda que já estava a caminho. Curiosamente,
o título da música foi inspirado na marca de desodorante “Teen Spirit”, usado
pelas adolescentes norte-americanas na época. Uma amiga do vocalista Kurt Cobain,
pichou na parede da casa dele a frase “Kurt Smells Like Teen Spirit”( “Kurt
Cheira A Espírito Adolescente”). Segundo Kurt, a música seria uma crítica à
apatia dos jovens de sua geração. Há uma polêmica em relação a essa música de
que o seu riff de guitarra é um plágio do riff de “More Than A Felling”,
megahit dos anos 1970 do Boston.
Para surpresa da gravadora e do próprio Nirvana, “Smells
Like Teen Spirit” teve grande execução nas rádios alternativas e também nas
comerciais, além de ter sido bem recebido pela crítica. Assim como o single, o
vídeo clipe de “Smells Like Teen Spirit” se tornou um enorme sucesso, figurando
entre os mais pedidos na MTV norte-americana.
Finalmente, em 24 de setembro de 1991, Nevermind, o segundo
álbum do Nirvana, chega às lojas. Era o primeiro álbum de Dave Grohl como
baterista do Nirvana, substituindo Chad Channing que deixou a banda em 1990. Puxado
pela popularidade do single “Smells Like Teen Spirit”, Nevermind se tornou um sucesso de vendas em poucas
semanas de lançamento. A gravadora esperava uma marca de 250 mil cópias em
vendas. A banda acreditava que se vendesse 20 mil já era um “milagre”.
Nirvana durante sessão de fotos de Kirk Weddle inspirada na capa de Nevermind |
Só que o sucesso inesperado de Nevermind surpreendeu a
Geffen, o Nirvana e toda a indústria fonográfica. A escalada em vendagens de Nevermind
alcançou a marca de 1 milhão de cópias em janeiro de 1992, tomando de Dangerous,
álbum de Michael Jackson, o posto de 1º lugar da Billboard 200. Uma
provocação? Um acinte? Vai saber. O fato é que Nevermind, juntamente
com
Ten, do Pearl Jam (lançado um mês antes de Nevermind), apresentava
o grunge ao mundo. O sucesso do álbum conquistou a opinião das mais
conceituadas revistas de música internacionais. Para alguns críticos, não se
via um disco tão avassalador e impactante vindo da cena alternativa desde Never
Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols, o álbum de estreia dos
Sex Pistols que desencadeou o punk rock em escala planetária em 1977, ainda que
o disco dos inglese não tenha alcançado a marca milionária em vendas do álbum
do power trio norte-americano.
Exagero ou não, com Nevermind, o Nirvana quebrou uma
série de “dogmas” básicos para uma ascensão meteórica de um artista para o
estrelato, deixando as grandes gravadoras desnorteadas. Era uma banda
alternativa, com um som sujo e barulhento, sem integrantes “bonitinhos”, sem
grande estratégia de marketing, sem turnês milionárias, sem figurinos caros, e
ainda veio de um lugar longe dos grandes centros da música pop.
A ascensão do Nirvana fez o rock alternativo ganhar
visibilidade (para o bem e para o mal), atraindo a atenção das grandes
gravadoras que passaram a “caçar” bandas alternativas capazes de ser um “novo
Nirvana”.
Os temas abordados no álbum eram um tanto quanto densos como
alienação (“Lithium”), machismo (“Territorial Pissings”) e estupro (“Polly”). Nevermind
emplacou outros hits como a já
citada “Lithium”, “Come As You Are”, Breed” e “In Bloom”, tudo embalado por um
som pesado, afiado e corrosivo.
Nevermind rendeu uma turnê internacional para o Nirvana, com
uma passagem pelo Brasil no começo de 1993 onde se apresentou no Festival
Hollywood Rock.
Em meio a tanta exposição, fama, turnês, Kurt Cobain vivenciava problemas com depressão e consumo de drogas cada vez mais graves, até quem em 5 de abril de 1994, o vocal e guitarrista do Nirvana suicidou-se com um tiro de espingarda na cabeça, pondo fim à sua banda e iniciando o declínio do grunge.
Faixas:
Lado A
1. "Smells Like Teen Spirit”
2. "In Bloom"
3. "Come As You Are"
4.
"Breed"
5.
"Lithium"
6.
"Polly"
Lado B
1. "Territorial Pissings"
2. "Drain You"
3. "Lounge Act"
4. "Stay Away"
5. "On A Plain"
6.
"Something In The Way"
Todas as faixas são de autoria de Kurt Cobain, exceto "Smells Like Teen Spirit”, de Kurt
Cobain, Dave Grohl, Krist Novoselic.
"Smells Like Teen Spirit”
"Lithium"
"In Bloom"
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