"Forever Changes" (Elektra,1967), Love

Por Sidney Falcão

O ano de 1967 foi bastante rico em lançamento de álbuns psicodélicos, alguns deles, os mais icônicos do gênero, como Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Beatles), The Piper At The Gates Of Dawn (Pink Floyd) e Are You Experienced (The Jimi Hendrix Experience). A concorrência para quem se aventurou em lançar um álbum nesse seguimento, simplesmente não foi fácil. O sarrafo estava lá em cima. Talvez por causa dessa concorrência acirrada ou por não ter um apelo comercial tão intenso, Forever Changes, terceiro álbum de estúdio da banda americana Love, só tenha conquistado prestígio ao longo das décadas após seu lançamento.

A história da Love começa em 1964, em Los Angeles, quando Arthur Lee (1945–2006), inspirado na sonoridade folk rock dos Byrds, decide montar uma banda de rock, cujo nome era The Grass Roots. Porém, já havia uma banda com esse mesmo nome, Arthur Lee rebatizou o nome de sua banda para o singelo nome Love.

Com a formação de Arthur Lee (vocal, percussão e gaita), John Echols (guitarra solo), Bryan McLean (guitarra base), Ken Forssi (baixo) e Don Conka (bateria), a banda Love tornou-se uma atração frequente no circuito de clubes e casas noturnas de Los Angeles. Não demorou muito, e o posto de baterista sofreu uma troca: Conka saiu da banda e foi substituído por Alban "Snoopy" Pfisterer.

Em 1966, a Love assinou contrato com a gravadora Elektra. O primeiro single, "My Little Red Book", canção de Burt Barcharach (1928–2023) e Hal Davis (1921–2012) foi lançada em março daquele ano, assim como o primeiro e homônimo álbum, que vendeu mais de 150 mil cópias. Quatro meses depois, em julho, a banda lança seu segundo single, "7 and 7 Is", que alcança o 33° lugar na parada da Billboard Hot 100. Nesse momento, a Love vira um septeto: entram Tjay Cantrelli (saxofone e flauta) e Michael Stuart (bateria). Pfisterer, que era baterista, passa a ser tecladista. 

Ainda no mesmo ano de 1966, em novembro, a Love lança seu segundo álbum, Da Capo, um disco experimental voltado para o jazz rock e traz em seu lado 2 apenas uma música, a longa "Revelation" com seus quase 19 minutos de duração. O álbum ainda inclui "7 and 7 Is", lançada como single meses antes do álbum. No final de 1966, a Love volta a ser um quinteto após as saídas de Pfisterer e Cantrelli.

Integrantes do Love, na época de Forever Changes, da esquerda para a direita:
 Johnny Echols, Bryan MacLean, Ken Forssi, Arthur Lee e Michael Stuart.

Entre junho e setembro de 1967, a banda Love gravou material para Forever Changes, seu terceiro álbum de estúdio. A produção do álbum foi conduzida por Bruce Botnick e pelo próprio líder da Love, Arthur Lee. O processo de gravação do álbum, a princípio, foi cercado de muita tensão. Os músicos da banda pareciam não estar muito seguros para gravar um repertório tão elaborado proposto por Arthur Lee para o novo álbum. O conceito musical para o novo disco seria um trabalho que abordasse o folk rock da banda envolvido orquestrações, psicodelia, pop barroco, fusões que estavm muito em voga na época. Nas primeiras gravações foi necessário o recrutamento de músicos de estúdio experientes, o que de alguma forma mexeu com os brios dos integrantes da banda, encorajando-os a encarar as gravações do restante do material do novo álbum.

Os arranjos de orquestração ficaram a cargo do arranjador David Angel, que assim como o produtor Bruce Botnick, teve um papel fundamental para que o álbum fosse gravado. A arte da capa ficou por conta do ilustrador americano Bob Pepper (1938–2019). 

Lançado em 1° de novembro de 1976, Forever Changes é um trabalho diversificado musicalmente, onde a banda americana transita pelo folk rock, pop barroco, psicodelia e até música flamenca. Há um grande emprego de naipe de cordas e de metais que dão uma carga dramática às canções, algumas delas trazendo Arthur Lee em vocais "chorosos".

"Alone Again Or" abre o álbum com acordes de violão seguidos inesperadamente por trompetes de mariachis e um exuberante arranjo de cordas. Os vocais de Lee transmitem uma sensação de melancolia e saudade ao cantar versos que tratam sobre solidão e a experiência do eu lírio ser abandonado mais uma vez pela pessoa amada por ele.

Reflexão sobre a brevidade da vida e as complexidades dos relacionamentos humanos são assuntos abordados por "A House Is Not A Motel”. A música se desenvolve com ritmo intenso que embalam versos introspectivos, refletindo o clima social e político da década de 1960. Ao final da música, as duas guitarras da banda travam um interessante duelo de solos.

Voz e violão, acompanhados por um naipe de cordas, conduzem a balada folk "Andmoreagain" que traz Athur Lee numa perfomance vocal carregada de dramaticidade. Em "The Daily Planet", a linha melódica combina elementos folk rock que remetem à sonoridade do The Who. 

“Old Man” é uma balada folk que começa demoradamente silenciosa e, aos poucos, o vocal e o violão vão se tornando audíveis gradualmente. Violinos e metais dão o tom dramático à canção que trata sobre a influência positiva de um homem sábio na vida do eu lírico da canção, que inicialmente duvida de seus conselhos, mas eventualmente reconhece o valor do amor e da sabedoria transmitidos por ele

Encerrando lado 1 de Forever Changes está a faixa "The Red Telephone", que aborda temas de desilusão, confusão existencial e a busca por liberdade. O eu lírico da canção expressa um sentimento de desconexão com a realidade enquanto observa as pessoas ao seu redor. É uma música interessante onde Arthur Lee emprega um misto de canto falado e diálgo ao final da faixa.

Bruce Botnick produziu o álbum Forever Changes, do Love. 

"Maybe The People Would Be The Times Or Between Clark and Hilldale" abre o lado 2 de Forever Changes. A letra da canção descreve a experiência do eu lírico ao se movimentar pela cidade. Ele menciona a música alta ao seu redor, a presença de multidões, e a dúvida sobre se as coisas estão certas ou erradas.

"Live and Let Live" é um folk rock de base instrumental um tanto quanto tensa e traz nos versos temas sobre confronto, posse da terra, e uma reflexão crítica sobre as regras e liderança.

A faixa seguinte, "The Good Humor Man He Sees Everything Like This", é uma canção com uma acentuação pop barroca, de uma incrível beleza melódica proporcionada pelo dedilhado do violão e pelo naipe de cordas e de metais, o que só evidencia a importância de David Angel como arranjador neste álbum. Quanto aos versos, esses descrevem uma imagem vibrante e positiva do início do dia, com elementos como beija-flores, meninas, carrosséis e flores.

"Bummer In The Summer" é uma canção folk rock sobre uma relação de um casal que perdeu a vitalidade e o encanto. Arthur Lee canta de forma falada lembrando Bob Dylan.

“You Set The Scene” é uma faixa que parece ser duas canções em uma. A primeira metade da canção possui um ritmo acelerado, até que a partir da metade da canção, o ritmo e os arranjos mudam completamente e assumem um tom um tanto grandiloquente. A orquestração finaliza a canção e, consequentemente, o álbum, de forma épica e emocionante.

Comercialmente, Forever Changes teve um desempenho bastante modesto. No Reino Unido, em 1968, Forever Changes chegou ao 24° lugar na parada de álbuns, talvez a melhor posição alcançada por ele em paradas de álbuns.

Após o lançamento de Forever Changes, Bryan MacLean deixou o Love por divergências com Arthur Lee. Há algum tempo, o clima entre os dois já era tenso. Não demorou muito, e Arthur Lee simplesmente demitiu o restante da banda e reuniu uma nova formação para o Love, convocando Jay Donnellan (guitarra solo), Frank Fayad (baixo) e George Suranovich (bateria). Com a nova formação, o Love direcionou a sua musicalidade para o blues rock, em detrimento do som do folk rock.

Forever Changes ganhou reconhecimento ao longo do tempo, sendo agora considerado um clássico. Sua relevância para a história do rock reside na capacidade da banda Love em criar intricadas melodias e letras poéticas, influenciando artistas das mais diversificadas vertentes do rock, do folk rock ao alternativo. Sob a liderança de Arthur Lee, o Love criou uma jornada musical atemporal, uma contribuição essencial para o rock psicodélico.

Faixas

Todas as músicas escritas por Arthur Lee , exceto " Alone Again Or " e "Old Man", que foram escritas por Bryan MacLean .

Lado 1

  1. "Alone Again Or"
  2. "A House Is Not a Motel"
  3. "Andmoreagain"
  4. "The Daily Planet"
  5. "Old Man"
  6. "The Red Telephone" 

Lado 2 

  1. "Maybe The People Would Be The Times"
  2. "Live and Let Live"
  3. "The Good Humor Man He Sees Everything Like This"
  4. "Bummer In The Summer"
  5. "You Set The Scene"  


Love: Arthur Lee (vocal), Bryan MacLean (guitarra base e vocais de apoio), Johnny Echols (guitarra solo), Ken Forssi (baixo) e Michael Stuart-Ware (bateria e percussão).


Ouça na íntegra o álbum 
Forever Changes


Comentários