10 disco essenciais: power pop


Por Sidney Falcão

Em maio de 1967, durante uma entrevista para a revista semanal britânica NME (New Music Express), Pete Townshend descreveu "Pictures Of Lily", canção do The Who, como "power pop". Townshend não sabia, mas criar um termo que batizaria um novo seguimento do rock que estava por vir.

Foi nos anos 1960 que o power pop surgiu, fruto do cruzamento das melodias cativantes e harmonias vocais dos Beatles e Beach Boys, com as guitarras vibrantes e melódicas dos Byrds e com o peso e a cruza do som do The Who. Características singulares marcam o power pop: melodias potentes que grudam na mente, riffs de guitarra simples, mas arrebatadores, injetando vitalidade nas composições, e harmonias vocais que soam como um deleite auditivo.

As canções do power pop possuem melodias fortes e cativantes que grudam na mente do ouvinte. Elas são concisas, raramente ultrapassando a marca dos 4 minutos, transmitindo uma alegria e otimismo contagiantes. Os riffs de guitarra injetam vitalidade nas canções, enquanto que as harmonias vocais são impecáveis. 

Os pioneiros do power pop surgiram no início dos anos 1970, liderados por bandas como Badfinger, The Raspberries e o talentoso Todd Rundgren, que consolidaram o gênero. Na segunda metade da década de 1970, o power pop estava no auge, coincidindo com a explosão do punk e da new wave. Ambos estilos se influenciaram mutuamente, e o power pop adotou um toque de frescor dessas correntes musicais. Nesse período, bandas e artistas como Cheap Trick, The Knack, The Romantics, Nick Lowe, Dave Edmunds e Dwight Twilley conquistaram a cena com sua música empolgante.                                                               

Nos anos 80, o power pop manteve sua popularidade, adaptando-se aos novos tempos, mas perdeu um pouco de seu brilho na década seguinte. No entanto, nos anos 90, uma nova geração de bandas alternativas redescobriu a magia do power pop, inspirando-se nos ícones dos anos 60 e 80. Bandas como Weezer, Matthew Sweet, Jimmy Eat World, Gin Blossoms, Jellyfish, Teenage Fanclub, The Posies, Redd Kross e Material Issue deram nova vida ao gênero. Em 1998, o Festival International Pop Overthrow, em Los Angeles, ressuscitou o power pop ao reunir dezenas de bandas de todos os cantos. 

Neste século 21, o power pop continua a brilhar, graças a uma nova geração de bandas como Jukebox the Ghost, The New Pornographers, Bleached e outras, mantendo a chama desse estilo acesa. A música nunca para, e o power pop é a trilha sonora que continua a embalar gerações, uma melodia que nunca perde seu encanto. 

Abaixo, confira dez discos para compreender melhor o power pop.


No Dice (Apple Records,1970), Badfinger. Terceiro álbum de estúdio da Badfinger, No Dice foi responsável por expandir a popularidade da banda fora do Reino Unido. Duas faixas tiveram um papel importante para que o quarteto britânico alcançasse essa popularidade, "No Matter What" e a balada "Without You". A primeira é um power pop por execelência, um dos primeiros exemplares do estilo a fazer sucesso radiofônico. A segunda, embora tivesse feito sucesso moderado com a Badfinger, alcançaria uma popularidade em escala mundial em 1972, na voz do cantor Harry Nilson e, em 1994, voltaria a fazer sucesso nas paradas com a versão cafoníssima e exagerada de Mariah Carey.

Something / Anything? (Columbia, 1972), Todd Rundgren. Após dois álbuns de sucesso, Todd Rundgren desafiou as convenções com o lançamento de Something / Anything?, um álbum duplo repleto de diversidade musical que abrange uma ampla gama de estilos, incluindo pop, rock, soul, baladas e psicodelia. Something / Anything? inclui canções memoráveis como "I Saw the Light," "Hello It's Me," "Couldn't I Just Tell You," e "Black Maria," que ilustram a genialidade musical de Rundgren. Cada lado do álbum é um conceito único, tornando esta obra uma jornada sonora cativante através da mente de um artista musical excepcionalmente talentoso e criativo.

#1 Record (Ardent Records,1972), Big Star. Considerado uma das obras fundamentais do power pop, #1 Record é o álbum de estreia do Big Star. O álbum apresenta influências dos Beatles, Kinks, Beach Boys e Byrds, com canções pop notáveis como "The Ballad Of El Goodo," "Thirteen," "Don't Lie To Me" e "When My Baby's Beside Me." No entanto, o álbum teve problemas de distribuição pela gravadora Stax e vendas fracas. O álbum subsequente, Radio City (1974), também enfrentou desafios de distribuição, apesar de ser aclamado pela crítica. A banda enfrentou conflitos internos e perdas de membros, e eventualmente, a carreira do Big Star chegou ao fim. 

In Color (Epic Records, 1977), Cheap Trick. Produzido por Tom Werman, In Color, segundo álbum de estúdio da Cheap Trick, tem uma produção mais "polida" do que o álbum de estreia da banda americana. Embora seja uma das principais faixas de In Color, "I Want You to Want Me," veio a se tornar uma grande sucesso somente na versão ao vivo do álbum Cheap Trick At Budokan, quando se tornou um hit top 10 e impulsionou a fama do Cheap Trick no Japão. Outras faixas importantes de In Color são "Clock Strikes Ten", "Southern Girls" e "Hello There", que juntamente com , "I Want You to Want Me", levaram In Color a chegar à marca de 1 milhão de cópias vendidas. 

Get The Knack (Capitol Records, 1979), The Knack. Formada em 1978, em Los Angeles, a banda The Knack rapidamente alcançou fama tocando no circuito de clubes daquela cidade, chamando logo a atenção das gravadoras. A Capitol Records contratou o quarteto e lançou no início de 1979, Get The Knack, primeiro álbum da The Knack. OI álbum foi produzido por Mike Chapman, o mesmo que produziu o consagrado Parallel Lines (1978), do Blondie. Get The Knack foi um fenômeno comercial puxado pelo megahit "My Sharona", que levou o álbum a vender mais de 2 milhões de cópias e a torná-lo um clássico do power pop. A sonoridade acessível, baseada na influência de Beatles, traços de punk misturado com pop radiofônico, talvez tenha sido o segredo do sucesso arrebatador de Get The Knack, que não se repetiu no álbum seguinte da banda, ...But the Little Girls  Understand(1980).

In Heat (Nemperor Records, 1983), The Romantics. As influências dos Beatles, The Who, The Kinks, The Hollies, The Stooges, MC5 e Ramones permeiam o som da banda The Romantics. O resultado é uma fusão cativante entre o power pop e a new wave. Originária de Detroit, nos Estados Unidos, a banda The Romantics foi formada em 1977 e alcançou o auge de sua carreira com o lançamento de seu quarto álbum, In Heat, que se tornou o seu maior sucesso comercial ao vender mais de 1 milhão de cópias nos Estados Unidos. Do começo ao fim do álbum, o quarteto apresenta uma coleção de músicas com um apelo pop irresistível, embaladas por uma vibração roqueira, como se evidencia nas faixas "Rock You Up" e "One in a Million." Contudo, é inegável que a faixa "Talking in Your Sleep" se destaca, já que seu single alcançou a 3ª posição na parada da Billboard Hot 100 nos Estados Unidos, proporcionando ao quarteto de Detroit reconhecimento internacional.

Play Deep (Columbia, 1985), Outfield. Com uma mistura que lembra o som do Journey e do Foreigner com uma pitada da new wave do The Cars, o Outfield conquistou o público com este seu primeiro álbum de estúdio, Play Deep. O álbum é repleto de músicas cativantes de apelo pop, feitas sob medida para tocar nas rádios FM. Canções como "Say It Isn't So," "Everytime You Cry," e "All the Love" mantêm o ritmo pulsante do álbum. No entanto, o grande destaque vai para "Your Love", que se tornou um sucesso global e impulsionou Play Deep a vender mais de 2 milhões de cópias nos Estados Unidos, garantindo ao Outfield um merecido disco de platina duplo. 

Weezer (DGC Records, 1994), Weezer. Também conhecido como The Blue Album, este é o primeiro e homônimo álbum da banda Weezer, formada em 1992 em Los Angeles, Estados Unidos. O repertório do disco é composto por canções que em sua maioria foram inspiradas na vida pessoal do vocalista e guitarrista da banda, Rivers Cuomo, autor de praticamente todas as canções, sendo três delas em parceria. A princípio, Rivers queria produzir o disco, mas gravadora decidiu entregar essa função a alguém mais experiente, Ric Ocazek (1944-2019), vocalista da banda The Cars, que também era produtor. Weezer teve uma ótima recepção por parte do público, que comprou mais de 3,3 milhões de cópias, garantindo à banda um disco de platina triplo. Três singles foram gerados pelo álbum, "Undone – The Sweater Song", "Buddy Holly" (maior sucesso da banda) e "Say It Ain't So". 

Grand Prix (Creation/DGC Records, 1995), Teenage Fun Club. Grand Prix, o quinto álbum de estúdio do Teenage Fan Club marcou uma mudança na sonoridade da banda, abandonando as distorções e ruídos de álbuns anteriores em favor de um som mais polido, com guitarras limpas e harmonias vocais inspiradas nos Beatles e nos Byrds. Embora tenha desapontado alguns fãs mais antigos que o consideraram carente de profundidade, o álbum foi bem-sucedido no Reino Unido, atingindo a sétima posição nas paradas. A gravadora Creation investiu pesadamente na promoção do álbum, e Grand Prix recebeu aclamação da crítica, sendo considerado um exemplo de "disco pop perfeito" e um ponto alto na história do power pop.

Congratulation, I'm Sorry (A&M Records, 1996), Gin Blossoms. Quando o guitarrista e co-fundador do Gin Blossoms, Doug Hopkins (1961-1993), por questões de saúde, foi substituído por Scott Johnson, houve quem acreditasse que a banda havia selado seu destino. No entanto, isso estava longe da realidade: a banda deu a volta por cima com seu terceiro álbum de estúdio, Congratulation, I'm Sorry. Nele, o Gin Blossoms continuou com a fórmula musical bem-sucedida de seu álbum anterior, New Miserable Experience (1992). "Follow You Down" é, de longe, a faixa mais destacada do álbum, alcançando o 9º lugar na parada da Billboard Hot 100 dos Estados Unidos. Outras faixas também chamaram a atenção do público, como "Day Job", "Not Only Numb" e "As Long as It Matters". Congratulation, I'm Sorry vendeu 1 milhão de cópias nos Estados Unidos e conferiu ao Gin Blossoms um disco de platina.


"No Matter What" - Badfinger 
(videoclipe original)

"Hello, It's Me" - Todd Rundgren 
(no programa 
"The Midnight Special", 1973)

"The Ballad Of El Goodo" - Big Star 
(original lyric video)

'Hello There" - Cheap Trick
(ao vivo, no Nippon Budokan, 
Tóquio, Japão, 1979)

"My Sharona" - The Knack
(videoclipe original)


"Talking In Your Sleep" - The Romantics
(videoclipe oiginal)

"Your Love" - The Outfield
(videoclipe original)

"Buddy Holly" - Weezer
(videoclipe original)

"Sparky's Dream" - Teenage Fanclub
(videoclipe original)

"Follow You Down" - Gin Blossoms
(videoclipe original)



Comentários