(Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd) (MCA, 1973), Lynyrd Skynyrd

Por Sidney Falcão 

A história do Lynyrd Skynyrd começa em 1964, na cidade de Jacksonville, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, quando três adolescentes Ronnie Van Zant (1948-1977), Bob Burns (1950-2015) e Gary Rossington (1951-2023) se conheceram numa partida de beisebol. Naquele encontro, durante uma conversa, os três descobriram que cada um tinha uma habilidade musical: Rossington tocava guitarra, Burns tocava bateria e Ronnie sabia cantar. Parte de uma banda de rock estava pronta, faltava um baixista e um amplificador. Foi então que Rossington chamou chamou o baixista Larry Junstrom (1949-2019) e mais um guitarrista, Allen Collen (1952-1990), que além de tocar guitarra, tinha amplificador. Estava formada a banda, que a princípio foi chamada My Backyard, mas depois teve outros nomes nos anos seguintes: Noble Five, Wildcats, Sons of Satan, Conqueror Worm, Pretty Ones e One Percent.

Os ensaios ocorriam na garagem da casa dos pais de Bob Burns, onde tocavam um repertório baseado em rock, country rock e blues, um tripé musical que se tornou a base musical da banda e que forjaria um seguimento do rock que ficaria conhecido mais tarde como southern rock. 

Por volta de 1969, a banda foi rebatizada mais uma vez, e agora em definitivo. Passou a se chamar Leonard Skinner, nome do professor de educação física da Robert Lee High School, em Jacksonville, conhecido por não tolerar em suas aulas alunos com cabelos compridos. Para poupar a identidade do professor, a grafia do nome da banda foi alterada para Lynyrd Skyrnyrd, muito embora, àquelas alturas, todo mundo já soubesse de quem se tratava.

Com várias apresentações ao vivo no currículo, o Lynyrd Skyrnyrd passa em 1971 pela sua primeira troca de integrantes. Larry Junstrom deixou a banda foi substituído pelo Greg T. Walker no baixo. Nesse mesmo ano, curiosamente, por um curto período, o Lynyrd Skynyrd, que já tinha o baterista Bob Burns, passou a contar com dois bateristas simultaneamente com a entrada de Rickey Medlocke. 

No começo de 1972, Walker e Medlocke deixam o Lynyrd para formarem a banda Blackfoot. Após a saída do Medlocke, o Lynyrd Skynyrd voltou a ter apenas o Bob Burns como baterista, enquanto que a vaga deixada por Greg T. Walker foi ocupada por Leon Wilkeson. Naquele mesmo ano, o roadie da banda, Billy Powell (1952-2009), foi promovido a tecladista da banda, após ser visto tocando piano com bastante desenvoltura numa pausa de apresentação do Lynyrd num evento. 

Lynyrd Skynyrd em 1973: Allen Collins, Billy Powell, Gary Rossington, Bob Burns,
Ronnie Van Zant (agachado), Leon Wilkeson and Ed King.

Já conhecida no circuito musical de Jacksonville e região, o Lynyrd Skynyrd chamou a atenção do músico, compositor e produtor Al Kooper, que também foi um dos fundadores da banda Blood, Sweat & Tears. O produtor ficou impressionado com a performance de palco da banda após assitir a uma de suas apresentações. Koopper ofereceu ao Lynyrd Skynyrd um contrato com o selo Sounds Of The South, de propriedade do produtor, cuja distribuição dos discos era feita pela MCA Records. 

A banda começou a gravar o seu primeiro álbum entre os meses de março e maio de 1973, no Studio One, em Doraville, na Georgia, nos Estados Unidos, sob a produção de Al Kooper. Porém, o baixista Wilkeson afastou-se temporariamente da banda por não se sentir-se seguro em gravar um disco, tendo gravado as linhas de baixo apenas das faixas "Tuesday's Gone" e "Mississippi Kid"). Durante o restante das gravações, Wilkeson foi substituído por Ed King, guitarrista da banda Strawberry Alarm Clock, mas que nas gravções do álbum de estreia do Lynyrd tocou baixo.  Concluída as gravações, Wilkeson retornou ao Lynyrd para o posto de baixista, porém, Ed King não foi dispensado: ele foi efetivado na banda como mais um guitarrista. O Lynyrd Skynyrd passou a ter três guitarristas, algo pouco comum em bandas de rock na época. 

O álbum de estreia do Lynyrd Skynyrd foi lançado em 13 de agosto de 1973, com um título um tanto quanto inusitado (Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd), uma tentativa de transcrição da pronúcia do nome da banda. Embora tenha participado das gravações de apenas duas faixas do disco, Leon Wilkeson aparece na foto da capa, assim como Ed King, que tocou baixo nas outras faixas no lugar de Wilkeson e foi efetivado como terceiro guitarrista da banda que passoua ser um septeto. 

(Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd) é composto por oito músicas que o Lynyrd Skynyrd tocava bastante nos seus shows ao vivo já fazia algum tempo, o que explica o som bastante coeso e maduro neste seu primeiro álbum de estúdio. Neste seu primeiro álbum, o Lynyrd Skynyrd apresenta a sua identidade musical fundamentada na fusão de country music, hard rock e blues, resultando numa sonoridade que de tornaria uma marca registrada da banda. 

O álbum abre com “I Ain't the One” que começa com a bateria de Bob Burns rufando, seguida pelas guitarras distorcidas de Rossington e Collen, mais o piano de Powell inclinado para o blues. A balada "Tuesday's Gone" comove o ouvinte pela sua beleza melódica e ao mesmo tempo triste, e pelos versos que retratam o eu lírico que se despede da mulher que ama para embarcar num trem para uma viagem de compromisso, possivelmente uma alusão à própria vida dos músicos da banda, que a todo momento tem que se afastar da família para seguir em turnês. Nesta faixa, o produtor Al Kooper tocou mellotron que simulou som dramático de orquestra de cordas no refrão proporcionando uma grande carga emocional à canção.

"Gimme Three Steps" é um rock com um clima alegre, mas o tema não é bastante tenso. A letra foi baseada num fato verídico ocorrido com Ronnie Van Zant num bar, em Jacksonville, onde ele sem saber se envolveu com uma mulher de um homem desconhecido, e este ameaçou o cantor com uma arma. 

Ronnie Van Zant, Gary Rossington e Allen Collins trabalham com o produtor Al Kooper
trabalhando no álbum 
(Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd).
Ao fundo, de pé, o engenheiro de som 
Bob “Tub” Langford.

O lado 1 do álbum termina com "Simple Man", uma linda e melancólica balada. Composta por Gary Rossington e Ronnie Van Zant, a letra de "Simple Man" refere-se ao eu lírico que lembra dos conselhos que recebia de sua mãe sobre ser um homem simples e íntegro: "Forget your lust for the rich man's gold / All that you need is in your soul" ("Esqueça seu desejo pelo ouro do homem rico / Tudo aquilo que você precisa está em sua alma"). 

"Things Goin' On" abre o lado 2 do álbum, que traz guitarras que produzem riffs calcados na country music e no blues. A letra da música traça críticas à ganância daqueles que pensam mais no dinheiro em detrimento ao meio ambiente. 

"Mississipi Kid" é essencialmente acústica e possui forte influência do blues de raiz. O produtor Al Kooper faz uma participação nesta faixa tocando bandolim, enquanto que Ed King toca slide guitar. A letra é sobre um homem que para o Alabama montado em seu cavalo e armado com duas pistolas em busca de sua mulher. Com um piano sensacional de Billy Powell, o blues rock "Poison Whiskey" trata os perigos do alcoolismo. 

O álbum termina em grande estilo com a espetacular "Free Bird", uma balada de pouco mais de nove minutos que começa com um orgão tocado pelo produtor Al Kooper. A música segue depois num andamento lento e aos poucos a música cresce em ritmo e na sua base instrumental chegando ao ápice na sua reta final quando há um duelo épico de solos de guitarras de tirar o fôlego do ouvinte. 

(Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd) foi muito bem recebido pela crítica e também pelo público. O álbum logo conquistou o seu primeiro disco de ouro e, em 1987, o trabalho foi contemplado com um disco duplo de platina por ter alcançado a marca de 2 milhões de cópias vendidas.

Em novembro de 1973, o Lynyrd Skynyrd foi atração de abertura da turnê americana do The Who, que havia recém lançado o álbum Quadrophenia. Acostumada até então a tocar em lugares menores, a banda americana teve a primeira oportunidade com a turnê com The Who de tocar para plateias muito maiores.

Graças a faixas como "Free Bird", "Simple Man", "I Ain't The One" e "Tuesday's Gone", (Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd) alcançou grande sucesso comercial e de crítica, e projetou o Lynyrd Skynyrd para a fama. O álbum ainda ajudou a tornar conhecido o southern rock, uma nova vertente do rock que estava em franca ascensão naquela época, tendo o Lynyrd Skynyrd e os Allman Brothers Band como duas das bandas mais representativas do estilo naquele momento.  

Faixas

Lado 1

  1. "I Ain't the One" (Gary Rossington - Ronnie Van Zant)
  2. "Tuesday's Gone" (Allen Collins - Van Zant) 
  3. "Gimme Three Steps" (Allen Collins - Van Zant)                                                             
  4. "Simple Man" (Gary Rossington - Ronnie Van Zant)

Lado 2

  1. "Things Goin' On" (Gary Rossington - Ronnie Van Zant)
  2. "Mississippi Kid" (Al Kooper - Van Zant - Bob Burns)
  3. "Poison Whiskey" (Ed King - Van Zant)
  4. "Free Bird" (Allen Collins - Van Zant)

Lynyrd Skynyrd
  • Ronnie Van Zant (vocais principais ), 
  • Gary Rossington (guitarra solo em "Tuesday's Gone", "Gimme Three Steps", "Simple Man", "Things Goin' On" e "Poison Whiskey" e slide guitar em "Free Bird"), 
  • Allen Collins (guitarra solo em "I Ain't The One", "Simple Man" e "Free Bird"), 
  • Ed King (baixo, exceto em "Tuesday's Gone" e "Mississippi Kid"; guitarra solo em "Mississippi Kid"), 
  • Leon Wilkeson (baixo "Tuesday's Gone" e "Mississippi Kid").
  • Billy Powell (teclados), Bob Burns (bateria) 


Ouça na íntegra o álbum 
(Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd)

"Tuesday's Gone" (ao vivo, no 
Winterland Ballroom, San Francisco, 
Estados Unidos, 03/07/1976)





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