“Na Pressão” (RCA/BMG, 1999), Lenine
Por Sidney Falcão
Quando
despontou nas rádios de todo o Brasil com a música “Hoje Eu Quero Sair Só”, em
1997, Lenine já tinha 18 anos carreira e três álbuns de estúdio no currículo.
Os dois primeiros, Baque Solto (1983) e Olho de Peixe
(1993), Lenine gravou em parceria, sendo o primeiro com Lula Queiroga, e o
segundo com o percussionista Marcos Suzano.
Mas o
terceiro álbum, O Dia em Que Faremos Contato (1997), o mesmo que
contém o sucesso “Hoje Eu Quero Sair Só”, é apenas de Lenine. O álbum apresenta
uma sonoridade híbrida e que se tornaria uma marca registrada do som de Lenine,
calcada na combinação do som acústico do violão do cantor com as programações
eletrônicas.
A
experiência sonora de O Dia em Que Faremos Contato Lenine levou
para o seu quarto álbum de estúdio, Na Pressão. Lançado em 1999, Na
Pressão se caracteriza não apenas a prosseguir com a proposta sonora do
disco anterior, como a fusão da tradição da música nordestina com a
contemporaneidade da música pop. Na Pressão traz referências de
coco, funk, maracatu, embolada, rock, rap, repente e baião.
O álbum
começa com Lenine prestando um tributo ao inesquecível Jackson do Pandeiro
(1917-1982) com a música “Jack Soul Brasileiro”. Embora composta por Lenine,
“Jack Soul Brasileiro” havia sido gravada antes por Fernanda Abreu, em 1997. A
versão de Lenine faz uma fusão muito interessante de MPB, funk, hip-hop e
embolada.
A
faixa-título aparenta trazer nos seus versos uma metáfora sobre a violência
social que estaria para estouras no país: “Chacina no centro-oeste / E
guerrilha na fronteira / Emboscada na avenida / Tiro e queda na ladeira / Mas
feitiço é bumerangue / Perseguindo a feiticeira”. “Paciência” é de longe a
música mais famosa do álbum. A canção faz uma reflexão à vida tão apressada e
urgente do ser humano contemporâneo. Em “Meu Amanhã (Intuindo o Til)”, Lenine
dedica seus versos a uma musa inspiradora: “Minha meta, minha metade / Minha
seta, minha saudade / Minha diva, meu divã / Minha manha, meu amanhã”.
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Foi através do seu quarto álbum de estúdio, Na Pressão, que Lenine alcançou a consagração artística como cantor e compositor. |
Na sequência, vem a faixa “A Rede”, uma canção onde Lenine faz uma conexão curiosa entre a rede de dormir (tão comum no norte e nordeste do Brasil) e a rede de pescar, com a rede cibernética da internet, que na época, “engatinhava” no Brasil naquele final dos anos 1990. “Tubi Tupy” ressalta a ancestralidade indígena na formação do povo brasileiro, e traz nos seus versos sutis referências à literatura brasileira, e enquanto que “A Medida da Paixão” trata de um amor que acabou. “Alzira e a Torre”é sobre a vida pobre e miserável de uma mulher do Recife, a cidade natal de Lenine.
Parceria de
Lenine e Arnaldo Antunes, “Rua da Passagem (Trânsito)” é uma das faixas mais
interessante do álbum. As colagens sonoras com ruídos de carros, caminhões e de
buzinas, ressaltam o valor da letra que trata sobre os cuidados que o motorista
no trânsito. “Relampiano” traça o retrato triste da infância pobre no Brasil,
onde a criança muito cedo, aprende que o mundo é um lugar hostil: “Tá
relampiano / Cadê neném? / Tá vendendo drops /No sinal pra alguém”.
O álbum
encerra com “Eu Sou O Meu Guia”, uma canção recheada de batidas eletrônicas que
contrastam com a sonoridade acústica e tranquila do violão de Lenine. Dotada de
forte carga poética, tão comum nas canções de Lenine, “Eu Sou O Meu Guia”
parece trazer um pouco da própria história do cantor pernambucano, que
abandonou o curso de Engenharia Química na Universidade Federal de Pernambuco, faltando
um ano para se formar, e partiu para o Rio de Janeiro em busca do sonho de ser
artista. Lenine foi seu próprio “guia”, e após muita “pressão” e “paciência”,
ele conseguiu o seu objetivo.
Faixas
- "Jack Soul Brasileiro" (Lenine)
- "Na Pressão" ( Lenine - Bráulio Tavares - Sérgio Natureza)
- "Paciência" (Lenine - Dudu Falcão)
- "Meu Amanhã (Intuindo o Til)" (Lenine)
- "A Rede" (Lenine)
- "Tubi Tupy" (Lenine - Carlos Rennó)
- "A Medida da Paixão" (Lenine - Dudu Falcão)
- "Alzira e a Torre" (Lenine - Lula Queiroga)
- "Rua da Passagem (Trânsito)" (Lenine - Arnaldo Antunes)
- "Relampiano" (Lenine - Paulinho Moska)
- "Eu Sou Meu Guia" (Lenine - Bráulio Tavares)
Referências:
Revista Bizz – novembro/1997 – Edição 148, Editora Azul, São Paulo,
Brasil.
Revista Bizz – outubro/1999 – Edição 171, Editora Abril, São Paulo,
Brasil.
Folha de S.Paulo, quarta-feira, 13 de Outubro de 1999, São Paulo, Brasil.
Folha de S.Paulo, sábado, 18 de novembro de 2000, São Paulo, Brasil.
www.lenine.com.br
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