“1999” (Warner, 1982), Prince
Prince Rogers Nelson (1958-2016), ou simplesmente Prince,
era um cantor em ascensão naquele começo de década de 1980, que reunia em seu
trabalho, referências de Jimi Hendrix (1942-1970), Sly Stone, Stevie Wonder e
David Bowie (1947-2016). Do balanço funk mais dançante à new wave mais
frenética e roqueira, Prince não conhecia limites para possibilidades musicais,
assimoEmbora muito jovem, Prince já se mostrava um artista com personalidade
muito sólida e uma mente criativa poderosa. Produzia seus próprios discos,
tocava vários instrumentos e compunha à profusão.
Entre 1978 e 1981, Prince já tinha quatro álbuns gravados. Dirty
Mind (1980) e Controversy (1981), foram muito bem avaliados pela crítica. Ao
mesmo tempo, seu visual era bastante provocante: nos shows, entrava no palco trajando
um longo casaco, para abri-lo diante do público exibindo o seu corpo vestindo
uma calcinha e mais algumas peças femininas. Esse traje cheio de apelo
homoerótico de Prince e de sua banda de apoio, não foi bem “digerido” pelo
público dos Rolling Stone. O cantor foi atração de abertura de dois shows dos
Rolling Stones na Califórnia, em 1981, e o público da banda,
preconceituosamente, reagiu mal ao visual do artista e de seus músicos com
vaias e atirando neles garrafas ao palco. Daquele momento, Prince prometeu a si
mesmo que nunca mais iria abrir show de nenhum outro artista.
Talvez como resposta, Prince decide ir à forra. Estava
decidido a ser um super astro pop, “nos seus próprios termos”, segundo afirmou
Andreas Swensson, jornalista de Minneapolis, cidade natal do cantor. Prince enfurnou-se
no seu estúdio caseiro, em Chanhassen, uma pequena cidade no Minnesota, nos
Estados Unido, onde compôs material suficiente para preencher um álbum duplo.
Embora contasse com a sua banda de apoios, a The Revolution,
que o acompanhava nos shows, e que passou a acompanha-lo em algumas gravações
em estúdio, Prince não abriu mão de tocar a maiorias dos instrumentos nas
gravações.
Prince acompanhado da banda The Revolution. |
Intitulado 1999, o quinto álbum de estúdio de Prince foi
lançado como álbum duplo, apesar de ter apenas onze canções. Contudo, a longa
duração de algumas faixas levou o álbum a ser lançado em formato duplo.
Diferente dos trabalhos anteriores, 1999 mostra a sonoridade
de Prince mais direcionado ao uso de recursos eletrônicos como sintetizadores e
baterias eletrônicas, que empregados ao lado de guitarras e baixo, embalam o
som de rock, baldas, funks e R&B’s presentes no álbum duplo. Esse novo
direcionamento musical trazido para o trabalho de Prince, iria moldar o som dos
álbuns seguintes do cantor durante os 1980.
A faixa-título é quem abre este quinto álbum de Prince, seu
primeiro álbum duplo. Uma voz embolada, cavernosa e arrastada dá início á
faixa, seguido depois por uma introdução funk bem dançante. Os primeiros versos
são cantados Lisa Coleman (vocalista de apoio e tecladista) e pelo guitarrista
Dez Dickerson, ambos integrantes da Revolution. “1999” tem uma temática
apocalíptica, em que o mundo estaria à beira de um Juízo Final. Nesta música, o
recado de Prince é que devemos aproveitar a vida o máximo possível, festejar
enquanto o fim não vem.
O sexo é um tema presente em boa parte das canções de 1999,
assim como álbuns anteriores. Em “Little Red Corvette”, Prince faz uma
associação do carro com uma relação sexual. “Delirious” é uma faixa interessante
por ter uma levada rítmica bem ao estilo rockabilly dos anos 1950, mas com uma
estética anos 1980, em que há um baixo funky e camadas de sintetizadores.
Com pouco mais de sete minutos, “Let's Pretend We're Married”
é sobre um sujeito que foi abandonado pela namorada, e que num ato de
atrevimento, sai à procura da primeira garota que encontrar para propor-lhe uma
noite sexo, e assim fazê-lo esquecer da sua agora ex-namorada. A música tem um
rítmico veloz e dançante, com uma batida de caixa e bumbo em linha reta, e
sintetizadores fazendo a base de fundo.
“D.M.S.R” é faixa que encerra o primeiro disco do álbum. Bateria
eletrônica e sintetizadores convivem em harmonia com o baixo e guitarra
elétrica funk da música, criam uma base instrumental funk envolvente. As
iniciais do título da música significam “Dance”, “Music”, “Sex” e Romance”. Os
vocais são cheios de “chamada- resposta”.
O disco 2 de 1999 começa as batidas programadas dançantes e
sintetizadores de “Automatic”, canção essencialmente pop e com um refrão
“grudento”, em que Prince acena para new wave. É curioso perceber que a levada
rítmica de “Automatic” guarda “parentesco” com “When Doves Cry”, do álbum
Purple Rain (1984). Com cerca de mais de nove minutos, poderia perfeitamente
ser mais curta. O videoclipe de “Automatic” gerou polêmica na época, devido às
cenas e apelo erótico, nas quais Prince aparece amarrado numa cama e sendo
chicoteado pro suas integrantes de sua banda.
“Something in the Water (Does Not Computer)” tem uma base rítmica
eletrônica frenética e inquietante, e combina “floreios” eletrônicos e mínimo
de vocais melódicos. Sons de mar, ventos e de passos, abrem o rock balada “Free”,
cujos versos saúdam a liberdade e o livre pensar. O canto desesperado de Prince
ao final da música, remetem a “Purple Rain”,hit de Prince de 1984.
Prince numa cena do videoclipe de "Little Red Corvette". |
Depois da mensagem pacifista da faixa anterior, Prince e banda voltam ao balanço dançante com o funk de “Lady Cab Driver”, marcado por uma bateria seca, uma linha de baixo cheio de “slaps” e sons de trompas emulados por sintetizadores. A faixa traz cantos falados de rap, com gemidos incessantes de uma garota ao fundo. A longa duração da faixa (cerca de oito minutos), justifica-se diante dos trechos em os integrantes da Revolution mostram as suas habilidades instrumentais.
Com uma bateria eletrônica e uma linha de baixo em completa
sintonia, “All The Critics Love U in New York” traz Prince com vocais
sussurrantes, e ao mesmo tempo, cantos falados, em que mais uma vez, Prince
flerta com o nascente rap.
“International Lover” encerra o álbum, uma balada romântica
de ritmo lento em que Prince canta em falsete atingindo notas altas para depois
chegar em tons estridentes. A letra é dotada de erotismo e sedução, em que
Prince compara o voo numa cabine de avião 747 como um ato sexual. “International
Lover” foi a primeira indicação de Prince ao Grammy, em 1984, na categoria
“Melhor Performance Vocal R&B Masculina”.
1999 alcançou o 9° lugar na parada de álbuns da Billboard
200, enquanto que o single de “Little Red Corvette chegou ao 6° lugar na parada
de singles da Billboard Hot 100, ambas as paradas nos Estados Unidos.
Os videoclipes de “1999” e “Little Red Corvette”, tiveram alta rotação na programação da MTV americana. Os dois videoclipes estão entre os primeiros videoclipes de artistas negros a serem exibidos naquele canal.
O sucesso comercial 1999 alçou Prince ao
estrelato da música pop mundial. A sua condição de astro pop de primeira
grandeza seria consolidada dois anos mais tarde com o álbum Purple Rain,
disco que também é trilha sonora do filme de mesmo nome, e do qual Prince atuou
como ator protagonista.
Faixas
Todas as faixas foram compostas por Prince.
Discos 1
Lado 1
“1999”
“Little Red Corvette”
“Delirious”
Lado 2
“Let’s Pretend We’re Married”
“D.M.S.R.”
Discos 2
Lado 3
“Automatic”
“Something In the Water (Does Not Compute)”
“Free”
Lado 4
“Lady Cab Driver”
“All the Critics Love U in New York”
“International Lover”
Prince (vocais principais e de apoio, todos os outros
instrumentos, exceto quando indicado)
The Revolution: Dez Dickerson (guitarra), Brown Mark (baixo), Lisa Coleman (teclados e piano), Matt Fink (teclados) e Bobby Z. (bateria e percussão)
Estou ouvindo,mais pop impossível.
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