“De Volta Ao Planeta” (Sony Music/Chaos, 1998), Jota Quest



Por Sidney Falcão

Formada em Belo Horizonte em 1993, a banda Jota Quest fez parte de uma nova geração de bandas de pop rock de Minas Gerais que ganhou projeção nacional a partir da segunda metade dos anos 1990, como Pato Fu, Tianastácia, Virna Lisi e, é claro, Skank, a mais bem sucedida de todas.

Mas no início da carreira, o Jota Quest chamava-se J. Quest (“djeiquest”, a pronúncia em inglês), e tinha uma orientação musical influenciada pela soul music e pelo funk dos anos 1970, mais o acid jazz e pelo som do Jamiroquai. Em 1996, a banda mineira assina contrato com a gravadora Sony Music e, através da subsidiária dela, o selo Chaos, o quinteto lança o primeiro álbum, J.Quest, que traz como primeiro sucesso da banda, a regravação de “As Dores do Mundo”, uma antiga canção do cantor Hyldon.

Quando estavam gravando o segundo álbum, os integrantes da J. Quest receberam uma notificação da Hanna-Barbera por uso indevido do nome Jonny Quest, título do desenho animado da produtora americana. Para evitar confusões, o quinteto decidiu fazer a mudança, alterando nome da banda para Jota Quest, que era assim como Tim Maia (1942-1998) se referiu ao grupo mineiro pouco antes de sua morte. O álbum de estreia foi relançado com o nome alterado para Jota Quest, enquanto o segundo álbum, De Volta Ao Planeta foi lançado em 6 de janeiro de 1998, já com o novo nome da banda.

Jonny Quest, desenho animado da Hanna-Barbera dos anos 1960,
inspirou o nome da banda Jota Quest.

De Volta Ao Planeta contou durante as suas gravações com o apoio de dois produtores, Dudu Marote e Marcelo Sussekind. Enquanto Marote trabalhou nas faixas que exigiam um maior apelo de apoio eletrônico, Sussekind produziu nas faixas mais convencionais.

Em De Volta Ao Planeta, o Jota Quest mudou a sua orientação musical. Se o álbum de estreia é marcado pela influência da soul music e do funk dos anos 1970, naipe de metais e ênfase nas linhas baixo e nos vocais de apoio inspirados na música negra americana, De Volta Ao Planeta traz o som do Jota Quest com as suas referências de música negra “diluídas” e mais direcionado para um pop acessível, radiofônico.

O álbum começa com a faixa-título, um funk pop bastante dançante e festivo, cuja letra, inspirada no filme e no antigo seriado de TV dos anos 1970 Planeta dos Macacos, traça uma crítica ao desemprego no Brasil. O cantor Wilson Sideral, irmão de Rogério Flausino, vocalista do Jota Quest, participa dos vocais de apoio na música.

“Sempre Assim” é pop dançante com letra que fala de otimismo e superação. “Tudo É Você é uma versão de “Hanging In The Hood”, de Hidden Faces. Originalmente, a música é instrumental, mas a versão do Jota Quest ganhou letra em português que conta a história de alguém que após anos de busca, reencontrou a garota que marcou sua vida e nunca saiu dos seus pensamentos.

“Fácil” é a principal faixa de De Volta Ao Planeta, e provavelmente, o maior sucesso da carreira do Jota Quest. É uma balada pop de refrão grudento, linha melódica agradável e é um tipo de canção que parece ter sido feita para tocar no rádio.

“35” é um pop dançante feito para as pistas. Possui uma letra simplória e um refrão “chiclete”. O ritmo é marcado pela batida eletrônica programada, que acompanha uma linha de baixo robusta e riffs de guitarra cheios de efeitos.

O conceito de De Volta Ao Planeta teve como inspiração o filme original
e a série de TV dos anos 1970 de O Planeta dos Macacos (foto). 

O Jota Quest pegou uma antiga balada gravada por Marvin Gaye (1939-1984) em 1963, “One These Days”, e fez uma versão em português num ritmo pop que virou “Qualquer Dia Desses”. Na letra, o Jota Quest retrata uma crise conjugal em que um jovem ameaça ir embora se sua amada não mudar de comportamento e passar a trata-lo com mais carinho.

Em seguida, outra releitura de um sucesso do passado, “Tão Bem”, de Lulu Santos, gravada originalmente pelo cantor em 1984 para o álbum Tudo Azul. Nas mãos do Jota Quest, a canção de Lulu ganhou uma batida eletrônica programada, mas acrescida de baixo, guitarra e teclados. O funk pop “Nêga da Hora” é sobre uma garota negra, bonita e sexy, que vai ao baile para dançar, se divertir e é o centro das atenções.

O ritmo do álbum desacelera completamente com o romantismo de “O Vento”, uma canção embalada apenas por teclados e por um naipe de cordas que acompanham a voz de Rogério Flausino que canta sobre versos que pedem ao vento para ele lhe traga de volta o amor de sua vida.

Embora seja uma música de ritmo alegre, “Loucas Tardes de Domingo” é sobre o fim de relacionamento conjugal, marcado pelas brigas de casal nas tardes de domingo. O álbum termina com uma versão remix de “De Volta Ao Planeta”. 

De Volta Ao Planeta teve uma recepção modesta por parte da crítica. No entanto, o crítico musical da revista Bizz, Celson Masson, emitiu opiniões muito ácidas a respeito do álbum e do próprio Jota Quest. Irônico, Masson disse que a banda “perdeu muito tempo vendo TV”, fazendo alusão ao antigo nome do grupo e ao título do álbum, inspirados respectivamente ao desenho animado Jonny Quest e ao seriado O Planeta dos Macacos. Masson ainda chamou o vocalista de “afobado” e que os músicos da banda, “quando querem fazer som de festa, soam como banda de baile”.

Jota Quest em 1997 durante turnê do primeiro álbum, da esquerda para 
a direita: PJ, Paulinho Fonseca, Márcio Buzelin, Marco Túlio e Rogério Flausino.

Mas a recepção do público foi a melhor possível. As faixas “De Volta Ao Planeta”, “Sempre Assim”, “O vento” e, principalmente, “Fácil”, viraram os grandes sucessos no rádio. “Fácil” foi uma das músicas mais executadas do ano de 1998 no Brasil. O videoclipe de “De Volta Ao Planeta”, com um visual de macacos inspirados no seriado Planeta dos Macacos, esteve entre os mais exibidos da MTV Brasil. O álbum rapidamente alcançou a marca de 500 mil cópias, o que permitiu ao Jota Quest ser contemplado com um disco duplo de platina.

O sucesso do álbum fez lotar a agenda de shows do Jota Quest. A turnê de De Volta Ao Planeta foi extensa e cansativa. Começou em junho de 1998 e terminou em dezembro de 1999. Foram pouco mais de 370 shows em todo o Brasil. A turnê foi desgastante a tal ponto de afetar a saúde do quinteto mineiro. O vocalista Rogério Flausino teve inflamação na laringe e na faringe. Marco Túlio Lara, o guitarrista, teve problemas de coluna. O baixista PJ e o baterista Paulinho Fonseca tiveram tendinite nos dedos das mãos, enquanto que o tecladista Márcio Buzelin teve desidratação causada por estresse. Apesar dos problemas de saúde, a turnê foi bem sucedida do ponto de vista profissional.  

O sucesso de De Volta Ao Planeta deu grande projeção ao Jota Quest e colocou o quinteto mineiro entre as grandes bandas do cenário pop rock do Brasil na época. Embora nos trabalhos posteriores o Jota Quest tendesse ora para rock, ora para o pop, De Volta Ao Planeta continuou servindo como a referência musical da banda, através da qual ela orientou a sua maneira de fazer música.

Faixas

  1. "De Volta ao Planeta" (Rogério Flausino - Marco Túlio Lara - PJ)
  2. "Sempre Assim" (Rogério Flausino - Marco Túlio Lara)
  3. "Tudo é Você" (Marco Túlio Lara - Paulinho Fonseca)
  4. "Fácil" (Rogério Flausino - Wilson Sideral)
  5. "35" (Heleno Loyola)
  6. "Qualquer Dia Desses" (Willian, Stevenson; Versão: Dudu Marote - Rogério Flausino - Marco Túlio Lara – PJ -Wilson Sideral)
  7. "Tão Bem" (Lulu Santos)
  8. "Nêga da Hora" (Márcio Buzelin - PJ)
  9. "O Vento" (Márcio Buzelin)
  10. "Loucas Tardes de Domingo" (Rogério Flausino)
  11. "De Volta ao Planeta (Freak Funk Mix)" (Rogério Flausino - Marco Túlio Lara - PJ)

Jota Quest: Rogério Flausino (voz), Marco Túlio (guitarra, violão e vocal), Márcio Buzelin (teclados), PJ (baixo) e Paulinho Fonseca (bateria).
 

Referências:

Folha de S.Paulo, edição de 26 de junho de 1999

Revista Bizz – abril/1999 – Edição 165, Editora Abril


"De Volta ao Planeta" 

"Sempre Assim"

"Tudo é Você" 

"Fácil"

"35"

"Qualquer Dia Desses"

"Tão Bem"

"Nêga da Hora"

"O Vento"

"Loucas Tardes de Domingo"

"De Volta ao Planeta (Freak Funk Mix)"


Comentários