“21” (XL Records, 2011), Adele


Por Sidney Falcão

Desde que a cantora inglesa Amy Winehouse (1984-2011) estourou com o álbum Back In Black, em 2006, uma verdadeira onda retrô da soul music e do R&B dos anos 1960 tomou conta do cenário musical do Reino Unido, entre a segunda metade dos anos 2000 e o início dos anos 2010. Winehouse abriu caminho para uma nova geração de jovens cantoras britânicas que bebiam na fonte musical da música negra americana do passado, e traduziam essas referências para a atualidade, mas sem perder a essência e o charme de outrora do estilo. Divas do passado como as americanas Etta James (1938-2012) e Aretha Franklin (1942-2018), e a inglesa Dusty Springfield (1939-1999), além das girls gropus dos anos 1960, foram algumas das referências para as novas candidatas a divas pop no Reino Unido, como Duffy, Estelle, Corinne Bailey, Dionne Bromfield entre outras.

Mas sem dúvida, dessa nova geração de cantoras britânicas que despontaram no Reino Unido na virada dos anos 2000 para os anos 2010, nenhuma delas alcançou uma popularidade em escala planetária como a fenomenal Adele. Com a decadência artística e pessoal de Amy Winehouse no final dos anos 2000, motivada pelo seu vício em álcool e drogas, as atenções se voltaram à busca de uma “nova Amy”. Embora houvesse várias candidatas ao posto naquele momento da música pop britânica, foi Adele quem respondeu mais rápido e com mais eficiência.

Filha de mãe inglesa e pai galês, Adele Laurie Blue Adkins nasceu em Londres, em 5 de maio de 1988. A carreira musical de Adele começa após formar-se na Brit School For Performing Arts & Technology, em 2006. Naquele ano, um amigo de Adele postou uma demo com canções gravadas pela iniciante cantora no My Space, que logo chamou a atenção do selo XL Recordings. Adele foi contratada imediatamente pelo selo. Em 2007, é lançado o primeiro single da cantora, “Hometown Glory”, que dá início à escalada de Adele que na época tinha apenas 18 anos.

Capa do primeiro single de Adele, "Hometown Glory", lançado em 2007.

O primeiro álbum chega em janeiro de 2008, intitulado 19, cujo título é uma referência à idade que a cantora iria fazer naquele ano. Em maio daquele ano, começa a primeira turnê internacional, que passa pela Europa, Estados Unidos e Canadá. Aclamado pela crítica, o primeiro álbum de Adele chegou ao 2º lugar na parada de álbuns do Reino Unido, e 11º lugar na Billboard Hot 100, nos Estados Unidos. Nos Reino Unido, 19 vendeu 1,2 milhão de cópias, enquanto que nos Estados Unidos, alcançou a marca de 3 milhões de cópias. Ainda em em 2008, Adele conquista o seu primeiro grande prêmio, o Brit Awards, na categoria “Escolha da Crítica”. O sucesso comercial, a aclamação da crítica e a conquista de prêmios como o Grammy de “Artista Revelação”, em 2009, depositaram nas costas de Adele, uma grande expectativa para o segundo álbum.  

Em 2009, ainda durante a turnê do álbum 19, Adele começou a compor canções para um novo álbum. A princípio, Adele pensou o novo álbum com um repertório mais alegre, mais leve, divertido, diferente do repertório do álbum 19, mais sofrido, mais voltado para as dores do amor. Contudo, o material novo era pouco inspirador e estava causando insatisfação à cantora. As sessões de gravação foram arrastadas. Com essa situação que não ia para lugar algum, Adele decidiu cancelar as sessões de gravação.

Mas foi a partir de uma situação desagradável que as coisas mudaram favoravelmente para Adele. O relacionamento que a cantora estava vivendo com um homem 10 anos velho, iniciada no começo de 2009, durou apenas 18 meses. Terminou após um desentendimento muito tenso. E foi justamente o rompimento dessa relação, que terminou de maneira muito sofrida que motivou Adele a compor novas canções, desta vez mais inspiradoras, porém tão dolorosas sentimentalmente quanto as do álbum 19. A ideia de um repertório mais alegre, mais alto-astral, foi esquecido.

As novas sessões de gravação, desta vez mais inspiradas, começaram em meados de 2010, depois que rompeu com o ex-namorado. O processo de gravação ocorreu em estúdios de Londres, na Inglaterra, e na Califórnia, nos Estados Unidos. A produção do novo álbum contou com a participação de vários produtores como Jim Abbiss, Paul Epworth, Rick Rubin, Fraser T Smith, Ryan Tedder e Dan Wilson, além da própria Adele.

O público teve uma ideia do novo trabalho de Adele com o lançamento do single de “Rolling In The Deep”, em novembro de 2010. A música causou um grande impacto no cenário pop mundial. Foi um sucesso instantâneo, chegando ao primeiro lugar das paradas de mais de dez países. Pela primeira vez, Adele emplacava uma música em 1º lugar nos Estados Unidos.

Adele em cena do videoclipe de "Rolling In The Deep".

Em janeiro de 2011, o tão aguardado segundo álbum de Adele era lançado. O álbum iria se chamar Rolling In The Deep, mas acabou batizado como 21, dentro do mesmo esquema do álbum anterior: batizar baseado na idade dela.

21 segue a tendência retrô em voga na época no Reino Unido, baseado em referências do soul, do gospel e do R&B dos anos 1960, conectados com pop contemporâneo. Percebe-se aqui e ali, referências à country music. O sofrimento, a desilusão e as dores de amor de Adele com o recente findado relacionamento são abordados nas onze faixas de 21.

O álbum começa em grande estilo com “Rolling In The Deep”, cujo single foi lançado antes do álbum. Forte e muito expressiva, a música é um soul pop certeiro, dançante, radiofônico, e não à toa, tocou à exaustão no rádio. “Rolling In The Deep” traz versos claros e diretos de uma mulher que pretende se refazer, cicatrizar-se das feridas de um relacionamento com um homem que amava, mas que a fez sofrer. Logo nos primeiros versos ela dá o recado: “There's a fire starting in my heart / Reaching a fever pitch and it's bringing me out the dark / Finally, I can see you crystal clear / Go ahead and sell me out and I'll lay your shit bare” (“Tem uma chama surgindo no meu coração / Está tomando conta de mim e me tirando da escuridão / Finalmente, eu posso te ver claramente / Vá em frente e revele meus defeitos, e eu vou expor todas as suas mentiras”). É evidente que se trata de uma música autobiográfica, que assim como as outras presentes em 21, ela escreveu após o fim da sua relação pouco antes de gravar o álbum.

Assim como “Rolling In The Deep”, “Rumours Has It” tem um apelo pop dançante. É forte, envolvente, e possui um refrão “chiclete”, grudento. “Rumours Has It” trata sobre uma mulher apaixonada e decidida, que pressiona o homem que ama a esquecer a outra que o faz de bobo.

Adele no estúdio gravando o álbum 21.

“Turning Tables” foi escrita por Adele após uma briga com o seu ex-namorado. É uma canção que possui base instrumental muito bem arranjada e apoiada em piano e cordas. A letra diz muito sobre a relação que ela tinha com o ex-namorado, um sujeito que tinha uma postura muito manipuladora. Cansada de sofrer, a personagem da canção buscar uma sair da relação e seguir o seu caminho.

Um delicado dedilhado ao violão com inspiração em  baladas country românticas, dá início a “Don’t You Remember”, que traz versos diretos e apaixonados, contando a história de uma mulher amargurada pelo abandono do homem que ela amava.

“Set Fire To The Rain” é uma das faixas de grande sucesso do álbum, e trata sobre as contradições num relacionamento. “He Won’t Go” possui uma batida rítmica interessante e uma base instrumental pop sofisticada. Mágoa e ressentimento são temas presentes nos versos de “Take It All”, mais uma canção sobre uma mulher apaixonada e abandonada pelo amor de sua vida.

Na boa soul pop “I’ll Be Wainting”, uma mulher ainda guarda um fio de esperança de que um dia, o seu amado volte para os seus braços, mesmo com o fim da relação: “I'll be waiting for you when you're ready to love me again / I put my hands up / I'll do everything diferente / I'll be better to you”. (“Eu estarei esperando por você quando você estiver pronto para me amar de novo / Eu coloco minhas mãos pra cima / Eu vou fazer tudo diferente / Vou ser melhor para você”). “One and Only” traz uma mulher firme e confiante que faz um desafio ao homem por quem é apaixonada: de que ela será a sua primeira e única mulher.

O álbum traz um único cover, a de “Lovesong”, originalmente gravada pela banda The Cure para o álbum Desintegration, de 1989. Diferente de boa parte das canções do álbum que trata sobre desilusão e sofrimentos do amor, em “Lovesong”, o amor é abordado com leveza e otimismo. Retrata o quanto faz bem o amor correspondido e a companhia de quem se ama.

No álbum 21, Adele regravou  "Lovesong", canção do The Cure (foto), de 1989.

“Someone Like You” é uma balada triste sobre o fim de uma relação, em que Adele canta acompanhada apenas de um piano. A canção remete aos áureos tempos de Carole King, cantora e compositora que se notabilizou em canções com voz e piano. Foi uma das últimas canções compostas por Adele para o álbum 21. Adele estava muito triste quando compôs “Someone Like You”. Os versos retratam o sofrimento de uma mulher ao saber que o homem a quem ela tanto se dedicou, tem outra mulher. Depois dessa descoberta, a duras penas, ela tenta se refazer das dores, prosseguir a sua vida e, quem sabe, encontrar um novo amor.

Em março de 2011, Adele deu início à turnê promocional de 21, a segunda da sua carreira. Intitulada Adele Live, a turnê passou pela Europa, Estados Unidos e Canadá, totalizando cerca de 51 apresentações. Num determinado momento, a turnê foi temporariamente suspensa porque Adele teve que passar por uma cirurgia para cuidar das suas cordas vocais. Em 22 de setembro de 2011, o concerto no Royal Albert Hall foi gravado, e dois meses depois no Live at The Royal Albert Hall, um álbum de vídeo (o primeiro da cantora) em DVD e blue-ray, e em CD.

Adele se apresentando no Rockefeller Music Hall, em Oslo, Noruega,
em março de 2011, durante a turnê Adele Live.

21 teve um desempenho comercial espetacular, com direito até a quebra de recordes. Só na primeira semana de lançamento, 21 vendeu mais de 208 mil cópias no Reino Unido. É o álbum mais vendido no século XXI no Reino Unido, onde vendeu mais de 5 milhões de cópias. Nos Estados Unidos, o maior mercado fonográfico do mundo, atingiu a marca de 14 milhões de cópias. Em todo o mundo, o segundo álbum de Adele vendeu cerca de 31 milhões de cópias, figurando assim na galeria dos álbuns mais vendidos em todos os tempos.

O single de “Rolling In The Deep” foi um fenômeno comercial à parte. Nos Estados Unidos, o single vendeu 8,7 milhões de cópias, tornando-se a canção digital mais vendida por uma cantora no mercado americano. Na terra natal da cantora, o Reino Unido, o single vendeu mais de 1,8 milhão de cópias. Em todo o mundo, o single chegou à marca fantástica de 20 milhões de cópias, fazendo dele um dos singles mais vendidos em todos os tempos.

Adele bateu recordes e atingiu marcas históricas com o álbum 21. Ela se tornou a primeira cantora a ter três singles ao mesmo tempo no Top 10 da Billboard 100, nos Estados Unidos. 21 foi o álbum de artista feminina que mais tempo permaneceu em 1º lugar na história do Reino Unido, permanecendo nessa posição por 23 semanas seguidas. O single de “Set Fire To The Rain” torna Adele a primeira cantora da história a liderar a Billboard 200 três vezes consecutivamente, superando Michael Jackson, Madonna e Beyoncé.

Segundo a Official Charts Company (empresa responsável pela divulgação das músicas mais tocadas e dos discos mais vendidos do Reino Unido), Adele foi a primeira artista a ter uma música e um álbum em 1º lugar em suas respectivas paradas (parada de singles e de álbuns) num mesmo período. Antes de Adele, só os Beatles haviam conseguido essa proeza.

Na edição de 2012 do Grammy Awards (foto), Adele conquistou seis prêmios.

Além das vendas e quebras de recordes, o álbum 21 proporcionou a Adele vários prêmios, dentre os quais seis prêmios Grammy em 2012 (“Álbum do Ano” (por 21), “Melhor Álbum de Pop Vocal" (por 21), “Canção do Ano” (por “Rolling In The Deep”), “Gravação do Ano” (por “Rolling In The Deep”), “Melhor Vídeo em Curta-Metragem” (por “Rolling In The Deep”) e “Melhor Performance Pop Solo” (por “Someone Like You”), três prêmios American Music Awards (“Melhor Artista Adulto Contemporâneo”, “Melhor Artista Feminina Pop/Rock” e “Melhor Álbum Pop/Rock” (por 21))e dois prêmios Brit Awards (“Melhor Artista Feminina Britânica” e “Álbum Britânico do Ano” (por 21)).

O megassucesso de Adele proporcionou a ela um convite para compor uma canção tema para o filme 007 – Operação Skyfall, em 2012. A canção “Skyfall” fez um grande sucesso, em 2013, e não foi surpresa, faturou prêmios importantes como o Globo de Ouro de “Melhor Canção Original”, o Oscar de “Melhor Canção” e o Grammy de “Melhor Canção Escrita para Mídia Visual”. 

Após um estrondoso sucesso de 21 e de tanta exposição, Adele decidiu dar mais tempo para si mesma e ao filho, que nasceu em 2012. Anunciou que o terceiro álbum levaria algum tempo para sair. Depois de um hiato de cerca de três, Adele lançou em 2015 o seu tão aguardado terceiro álbum, 25 (título que é uma referência à sua idade, assim como os álbuns anteriores). A recepção foi positiva por parte da crítica, e por parte do público, que na primeira semana de lançamento, quase 4 milhões de cópias foram vendidas nos Estados Unidos, e 800 mil cópias no Reino Unido. O grande hit desse álbum foi “Hello”.

Faixas

  1. “Rolling In The Deep” (Adele Adkins - Paul Epworth )
  2. “Rumour Has It” (Adele Adkins - Ryan Tedder)
  3. “Turning Tables” (Adele Adkins - Ryan Tedder)        
  4. “Don't You Remember” (Adele Adkins - Dan Wilson)           
  5. “Set Fire To The Rain” (Adele Adkins - Fraser T. Smith)        
  6. “He Won't Go” (Adele Adkins - Paul Epworth)          
  7. “Take It All” (Adele Adkins - Eg White)          
  8. “I'll Be Waiting” (Adele Adkins - Paul Epworth)
  9. “One and Only” (Adele Adkins - Dan Wilson - Greg Wells)  
  10. “Lovesong” (Robert Smith - Simon Gallup - Roger O'Donnell - Porl Thompson - Lol Tolhurst - Boris Williams)
  11. “Someone Like You” (Adele Adkins - Dan Wilson)


“Rolling In The Deep” (videoclipe original)

“Rumour Has It”

“Turning Tables”

“Don't You Remember”

“Set Fire To The Rain”

“He Won't Go”

“Take It All”

“I'll Be Waiting”

“One and Only”

“Lovesong”

“Someone Like You”
(videoclipe original)

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