“Mellon Collie And The Infinite Sadness” (1995, Virgin Records), Smashing Pumpkins


Por Sidney Falcão

Formada em 1987, em Chicago, a banda norte-americana Smashing Pumpkins estava em franca ascensão no começo dos anos 1990. Após o modesto sucesso do álbum de estreia, Gish, por meio de um selo pequeno, o Caroline Records, o quarteto formado por Billy Corgan (guitarra e vocais), James Iha (guitarra), D’Arcy Wretzky (baixo) e Jimmy Chamberlin (bateria), ganhou projeção mundial com Siamese Dream, segundo álbum da banda, e o primeiro lançado por uma grande gravadora, a Virgin Records.

 Siamese Dream catapultou a banda para o estrelato puxado pelas faixas “Today”, “Cherub Rock”, “Disarm” e “Rocket”, que ajudaram o álbum a atingir a marca de 6 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Nada mal para uma banda que originária da cena do rock alternativo norte-americano. E pouco tempo, os Smashing Pumpkins estampavam capas de algumas das principais revistas de música do mundo como a Rolling Stone e Spin, e se tornaram atrações de destaque de festivais importantes como o Lollapalloza, nos Estados Unidos, e o Reading Festival, na Inglaterra.

Depois do grande êxito de Siamese Dream, o público e a crítica aguardavam com grande expectativa o terceiro álbum dos Smashing Pumpkins. O que será que o quarteto estaria preparando para o próximo trabalho?

Quanto estava nos preparativos para as gravações do novo álbum, a banda havia anunciado que seria um álbum duplo, o que gerou uma certa perplexidade na imprensa e na gravadora ante a ousadia. Tal reação se devia ao fato de que álbum duplo era um formato pouco comum entre bandas do rock alternativo, e mais comum em banda campeãs em vendagens de discos como Beatles, Pink Floyd ou Led Zeppelin. Embora os Smashing Pumpkins tivessem vendido milhões de cópias de Siamese Dream, o quarteto ainda carregava a aura de banda alternativa.

A opção dos Smashing Pumpkins em lançar o terceiro trabalho como álbum duplo foi por causa do farto material que o grupo havia criado. Depois do fim da turnê de Siamese Dream, Billy Corgan compôs ao longo de quatro meses, dezenas e mais dezenas de canções, num total de 60 músicas. A banda tinha a intenção de fazer um álbum que marcasse uma geração, assim como The Wall, do Pink Floyd. Em alguns shows, a banda já tocava algumas canções da nova safra de músicas, e que foram bem recebidas pelos fãs. O período tão fértil em criatividade da banda foi comparado ao período em que os Beatles gravaram o “álbum banco”, em 1968.

As gravações do novo álbum ocorreram entre março e agosto de 1995. Diferente do que aconteceu com os dois primeiros, álbuns, a banda decidiu neste novo trabalho não gravar com o produtor Butch Vig. Para produzir o novo álbum, trouxeram Alan Moulder e Flood. Billy Corgan, que havia trabalhado com Vig na produção de Gish e Siamese Dream, também trabalhou na produção do novo álbum. Corgan sempre foi conhecido não só por ser o líder da banda, mas também por ser centralizador, perfeccionista e exigente, a tal ponto em vários momentos destratar os colegas de banda.

Smashing Pumpkins, da esquerda para a direita: D'arcy Wretzky,
Jeff Schroeder, Billy Corgan e James Iha.

Intitulado Mellon Collie And The Infinite Sadness, o terceiro trabalho dos Smashing Pumpkins foi lançado em 24 de outubro de 1995 como álbum duplo conforme prometido, sendo que duplo no formato CD e cassete, e triplo no formato LP.   

Nas suas 28 faixas, Mellon Collie And The Infinite Sadness mostra a capacidade dos Smashing Pumpkins trafegar pelos mais diversos estilos musicais com grande desenvoltura, indo do heavy metal mais brutal até canções doces e singelas, passando por pop radiofônico e experimentações com orquestra. Curiosamente, cada um dos dois discos ganhou um título: o disco 1 foi batizado de Dawn To Dusk, e o disco 2 foi nomeado Twilight Starlight.

Mellon Collie And The Infinite Sadness  começa com o disco 1 (ou Dawn To Dusk), abrindo em tom calmo e instrumental da faixa que dá nome ao álbum, uma bela e melancólica canção executada com piano e um naipe de cordas. Em seguida vem “Tonight, Toninght”, uma das faixas mais famosas do álbum e um dos grandes sucessos da banda, em que Billy Corgan canta acompanhado da banda e de uma seção de cordas formada por trinta músicos da Chicago Symphony Orchestra.

O clima leve das duas primeiras faixas é quebrado por uma sequência de faixas que são verdadeiros petardos que unem peso sonoro e agressividade. “Jellybelly”, um rock que possui uma massa sonora compacta que percorre toda a música como um “rolo compressor”. “Zero” possui uma sobreposição de camadas de guitarras que produzem um som pesado e maciço. Em “Here Is No Why”, a banda parece transitar entre o hard rock e o grunge, num ritmo pesado e lento. A influência grunge se faz presente em “Bullet With Butterfly Wings”, um rock poderoso em que a bateria de Jimmy Chamberlin parece explodir nos ouvidos de quem está ouvindo o álbum. “To Forgive” faz uma pausa na sequência de paulada sonora, trazendo um pouco mais de calma para que o ouvinte recupere o fôlego.

A artilharia sonora e pesada dos Smashing Pumpkins retorna com “Fuck You (An Ode To No One)” - onde o baterista é bastante exigido e a banda flerta com todo o poder de agressividade do heavy metal alternativo – e com as guitarras “sujas” e cheias de zumbido de “Love”.

O grupo retoma a leveza e delicadeza com “Cupid De Locke”, uma canção curta e melódica, cuja base instrumental cria toda uma atmosfera de sonho e fantasia exigida pelos versos cheios de lirismo poético. A calmaria prossegue com a balada “Galapogos” e a canção de tom pessimista “Muzzle”.

Com pouco mais de nove minutos de duração, o rock balada “Porcelina Of The Vast Oceans” alterna momentos de suavidade e som pesado. O disco 1 encerra com a agradável “Take Me Down”, uma balada leve e romântica cantada por James Iha, e que traz versos singelos como “When you sleep, when you dream / I'll be there if you need me, whenever I hear you sing” (“Quando você dorme, quando você sonha / Eu estarei lá se você precisar de mim / sempre que ouvir você cantar”).

Cena do premiado vídeoclipe de Tonight, Tonight".

O disco 2 (ou Twilight To Starlight) começa “Where Boys Fear To Tread” e o seu som pesado com influência grunge, seguida pela ruidosa “Bodies” com os vocais desesperadamente berrados de Billy Corgan. Na sequência, os Smashing Pumpkins vão por um caminho mais acústico na balada “Thirty-Three” e na folk music romântica “In The Arms Of Sleep”. “1979” é a faixa mais pop do álbum, e não foi à toa, se tornou um dos maiores sucessos da carreira do quarteto norte-americano.

“Tales Of A Scorched Earth” possui camadas de guitarra formam uma massa sonora compacta, suja e veloz, e traz Billy Corgan cantando de uma maneira insana tal qual um cantor de metal extremo. No longo rock balada “Thru The Eyes Of Ruby”, a banda alia peso e melodia, e alterna durante a canção momentos calmos e outros mais crus e tensos. “Stumbleine é apenas uma balada a base de voz e violão dedilhado. Em “X.Y.U.”, os Smashing Pumpkins retomam o som pesado trazendo a voz de Corgan com efeito metálico.

A partir de “We Only Come Out At Night”, o álbum segue numa reta final com uma musicalidade mais leve e melódica. “We Only Come Out At Night” lembra os Rolling Stones em sua fase psicodélica no álbum Their Satanic Majesties Request (1967). A balada “Beautiful” é mais uma canção do álbum que mostra a veia poética e romântica de Billy Corgan: “And I can't help but feel attached / To the feelings I can't even match / With my face pressed up to the glass / Wanting you” (“E eu não consigo evitar de me sentir apegado / A sentimentos que nem consigo comparar / Com o meu rosto colado no vidro / Querendo você”).

Na linda e “preguiçosa” “Lily (My One And Only), Billy Corgan canta de uma maneira tão calma e serena sobre um jovem apaixonado por uma garota chamada Lily.  A paixão também está presente nos versos de “By Starlight”: “By starlight I'll kiss you / And promise to be your one and only / I'll make you feel happy / And leave you to be lost in mine” (“Sob a luz da estrela eu te beijarei / E prometo ser o seu primeiro e único / Eu farei você se sentir feliz / E deixarei você se perder em mim”).

“Farewell And Goodnight” encerra o álbum do jeito que começou: de forma calma, melódica e agradável. A canção é essencialmente acústica, executada por violões, piano e uma discreta percussão, trazendo Billy Corgan, James Iha, D'arcy Wretzky e Jimmy Chamberlin cantando juntos versos desejando boa noite para cada hora, em cada dia.

Mellon Collie And The Infinite Sadness superou todas as expectativas dos Smashing Pumpkins. O álbum duplo foi bastante elogiado pela crítica, a tal ponto de ter sido eleito o “Álbum do ano” por revistas como a Time, Rolling Stone, Billboard e Spin.

Comercialmente, Mellon Collie And The Infinite Sadness se tornou o álbum mais vendido da carreira dos Smashing Pumpkins. Na primeira semana de lançamento nos Estados Unidos, vendeu nada menos que 1 milhão de cópias. Ao todo, o álbum chegou alcançou a marca de 10 milhões de cópias vendidas.

Mellon Collie And The Infinite Sadness gerou cinco singles: “Bullet With Butterfly Wings”, “1979”, “Zero” (1º lugar na Espanha e 3º lugar na Nova Zelândia), “Tonight, Tonight” (7º lugar no Reino Unido) e “Thirty-Three”.

Billy Corgan, Darcy Wretzky e James Iha na premiação do
MTV Video Music Awards, em setembro de 1996.

Além da boa receptividade da crítica e do bom desempenho nas vendas, Mellon Collie And The Infinite Sadness faturou vários prêmios. O videoclipe de “Tonight, Tonight” conquistou em 1996, sete prêmios do MTV Video Music Awards: “Vídeo do Ano”, “Vídeo Inovador”, “Melhor Direção”, “Melhores Efeitos Visuais”, “Melhor Fotografia”, “Melhor Direção de Arte” e “Escolha da Audiência”. A música “Bullet With Butterfly Wings” conquistou em 1997 o prêmio Grammy na categoria “Melhor Performance de Hard Rock”.

Mas em meio ao sucesso e muita exposição na grande mídia, um fato abalou a carreira dos Smashing Pumpkins e foi parar nas páginas policiais. Em julho de 1996, antes de um show da banda no Madison Square Garden, em Nova York, o tecladista contratado para a turnê, Jonathan Melvoin, morreu de overdose de heroína no quarto de hotel em que o baterista Jimmy Chamberlin estava hospedado. Chamberlin sofreu overdose, mas escapou da morte. Contudo, o baterista não escapou da prisão: foi detido por porte da droga, e depois expulso da banda. Sua expulsão teria sido para que o músico fosse se tratar de sua dependência pela heroína. Em seu lugar entrou Matt Walker. Jimmy Chamberlin retornou à banda em 1999 na Arising! Tour.

Mellon Collie And The Infinite Sadness é de longe o mais bem-sucedido álbum da carreira dos Smashing Pumpkins, e é considerado o melhor álbum da banda norte-americana, e figura entre os maiores álbuns de rock dos anos 1990. A revista Time elegeu Mellon Collie And The Infinite Sadness o melhor álbum de 1995. Em 1998, ficou em 29º lugar na lista dos maiores álbuns de todos os tempos da revista Q. Na lista dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos da revista Rolling Stone, o álbum-duplo ficou em 487º lugar. Mellon Collie And The Infinite Sadness foi incluído na lista dos 200 álbuns definitivos do Rock and Roll of Fame.

Faixas

Todas as letras compostas por Billy Corgan, exceto "Take Me Down", composta por James Iha e "Farewell and Goodnight", composta por Billy Corgan e James Iha.

 

CD/cassete

Disco 1: Dawn To Dusk

  1. "Mellon Collie And The Infinite Sadness"
  2. "Tonight, Tonight"
  3. "Jellybelly"
  4. "Zero"
  5. "Here Is No Why"
  6. "Bullet with Butterfly Wings"
  7. "To Forgive"
  8. "Fuck You (An Ode To No One)"
  9. "Love"
  10. "Cupid De Locke"
  11. "Galapogos"
  12. "Muzzle"
  13. "Porcelina Of The Vast Oceans"
  14. "Take Me Down" 

Disco 2: Twilight To Starlight

  1. "Where Boys Fear To Tread"
  2. "Bodies"
  3. "Thirty-Three"
  4. "In The Arms Of Sleep"
  5. "1979"
  6. "Tales Of a Scorched Earth"
  7. "Thru The Eyes Of Ruby"
  8. "Stumbleine"
  9. "X.Y.U."
  10. "We Only Come Out At Night"
  11. "Beautiful"
  12. "Lily (My One And Only)"
  13. "By Starlight"
  14. "Farewell And Goodnight"

 

The Smashing Pumpkins: Billy Corgan (vocal principal, vocais auxiliares, guitarra, piano, produção, mixagem, arranjos em "Tonight, Tonight", direção artística e design gráfico), James Iha (guitarra, créditos adicionais por "Take Me Down" e "Farewell And Goodnight": vocais, mixagem e produção adicional), D'arcy Wretzky (baixo, vocais em "Beautiful" e "Farewell And Goodnight") e Jimmy Chamberlin (bateria, vocais em "Farewell And Goodnight").

 

"Mellon Collie And The Infinite Sadness"

"Tonight, Tonight"  
(videoclipe original)

"Jellybelly"

"Zero" (videoclipe original)

"Here Is No Why"

"Bullet with Butterfly Wings" 
(videoclipe original)

"To Forgive"

"Fuck You (An Ode To No One)"

"Love"

"Cupid De Locke"

"Galapogos"

"Muzzle"

"Porcelina Of The Vast Oceans"

"Take Me Down"

"Where Boys Fear To Tread"

"Bodies"

"Thirty-Three" 
(videoclipe original)

"In The Arms Of Sleep"

"1979" 
(videoclipe original)

"Tales Of a Scorched Earth"

"Thru The Eyes Of Ruby"

"Stumbleine"

"X.Y.U."

"We Only Come Out At Night"

"Beautiful"

"Lily (My One And Only)"

"By Starlight"

"Farewell And Goodnight"


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