“Mamonas Assassinas” (EMI-Odeon, 1995), Mamonas Assassinas


Ao longo da sua história, o rock brasileiro teve três conjuntos musicais que foram um fenômeno de massa que além de arrebatar multidões, conseguiram unir talento, criatividade e boas canções. Conquistaram o grande público, venderam milhões de discos e se apresentaram em shows com lotações esgotadas. O primeiro fenômeno foi o trio andrógino Secos & Molhados, no início da década de 1970. Na década de 1980, foi o fenômeno RPM. O terceiro fenômeno foi o quinteto Mamonas Assassinas, em meados dos anos 1990. Coincidência ou não, os três fenômenos eram paulistas, e tomaram conta do Brasil em suas épocas.

No entanto, diferente dos dois primeiros, que chegaram ao fim por causa de brigas por causa de dinheiro, os Mamonas Assassinas tiveram um final prematuro decretado por uma tragédia causada por um acidente de avião, comovendo milhões de brasileiros. O humor, as canções escrachadas e os figurinos irreverentes dos cinco membros da banda, encantaram crianças, adultos e idosos, de todas as camadas sociais. Um fenômeno musical raro na história da música brasileira que durou cerca de nove meses, entre o lançamento do álbum, em junho de 1995, e o fim trágico, em março de 1996.

Mas para chegar ao topo da fama, os Mamonas Assassinas não chegaram lá da noite para o dia, como num passe de mágica. Antes de se tonarem o quinteto debochado e nada politicamente correto, os cinco faziam parte de uma banda de rock séria, a Utopia, formada em 1989, em Guarulhos, São Paulo. Contando com Dinho (vocais), Bento Hinoto (guitarra), Samuel Reoli (baixo), Júlio Rasec (teclados e vocais de apoio) e Sérgio Reoli (bateria), irmão mais velho de Samuel, a banda Utopia tocava covers de Legião Urbana e Rush, mas também compunha suas próprias canções, de letras introspectivas, e que nada lembravam as futuras canções dos Mamonas Assassinas.

Os shows tinham poucas plateias, algumas delas hostis, e os cachês eram irrisórios, isso quando havia cachê. Como viver de música ainda era um sonho, os músicos trabalhavam em subempregos para garantir o sustento. Em 1992, a Utopia chegou a lançar um álbum, que da tiragem de mil cópias, venderam apenas cem.

Um dado curioso é que durante os shows da Utopia, os membros da banda costumavam fazer brincadeiras e piadas, contrastando com as canções sérias do grupo. Isso fez com que o público se interessasse mais pela veia humorística do quinteto do que pelas músicas que a banda tocava.

Em outubro de 1994, os cinco gravaram uma fita demo no antigo estúdio do produtor Rick Bonadio, na zona norte de São Paulo. Foram gravadas duas músicas, “Mina (Minha Pitchulinha)” – futura “Pelados Em Santos” – e “Robocop Gay”. Acreditando no potencial cômico da banda, Bonadio sugeriu que os cinco apostassem na irreverência e trocassem o nome da banda. Trocaram o sisudo Utopia pelo surreal Mamonas Assassinas.

Da esquerda para a direita: Júlio Rasec, Dinho, Samuel Reoli,
Bento Hinoto e Sérgio Reoli. O quinteto antes da fama.

Ao assumirem o humor nato que carregavam nas veias, os Mamonas Assassinas davam seguimento, conscientes ou não, à tradição da irreverência que sempre esteve presente na história do rock paulista, que já vinha desde os Mutantes nos anos 1960. Os Mutantes foram os pioneiros na esculhambação, não só nas canções, mas também nas atitudes e figurinos. Quando ainda eram um trio, Com Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Baptista, os Mutantes vestiam as roupas mais malucas possíveis como trajes de bruxos calçados com tênis, extraterrestres, humanos futuristas, roupas de plástico, valia tudo. Ficou antológica a imagem de Rita Lee vestida de noiva grávida. Além deles, outras tantas bandas paulistas seguiram a tendência do escracho como Joelho de Porco, Língua de Trapo, Ultraje a Rigor, só para citar alguns nomes.

Os Mamonas foram o último grande nome a honrar a tradição do humor no rock paulista. Eram escracho total, criativos e talentosos. As misturas musicais mais absurdas de rock, punk, bolero, música brega, heavy metal, pagode, forró, tudo num mesmo caldeirão, remetiam à fase tropicalista dos Mutantes.

Já com um novo nome e um novo direcionamento musical definidos, os Mamonas Assassinas gravaram uma nova fita demo com três canções, sob a produção de Rick Bonadio. Enviaram cópias da fita para as gravadoras PolyGram, Warner, Sony Music e BMG-Ariola, mas todas elas recusaram.

No entanto, a única que deu resposta positiva foi a EMI-Odeon, e isso graças ao apoio de um adolescente de 16 anos. É que o diretor da gravadora, José Augusto de Macedo Soares, embora tivesse ouvido a fita no seu carro, não deu muita importância. Porém, o seu filho, Rafael Ramos (que anos mais tarde se tornaria um produtor consagrado), ouviu depois a fita, convenceu o pai a contratar a banda paulista. Para ter mais certeza, João Augusto, foi a Guarulhos conferir os Mamonas Assassinas ao vivo. O diretor, mais o seu filho Rafael, e o produtor Arnaldo Saccomani, foram assistir a um show dos Mamonas Assassinas na boate Lua Nova, em Guarulhos. Ao ver o quinteto no palco, usando figurinos malucos e tocando com toda a vibração em completa sintonia com o público, Augusto saiu convencido da contratação da banda.

Após assinarem contrato, em maio de 1995, os Mamonas entraram em estúdio para gravar o seu primeiro álbum, contando com a produção de Rick Bonadio, o primeiro a apostar no potencial cômico do grupo. O que a gravadora não sabia até o começo das gravações, é que a banda só tinha três músicas. Para para gravar um álbum, seriam necessárias pelos menos, dez faixas. Dinho, Bento, Júlio, Samuel e Sérgio, não se deram por vencidos: em uma semana, compuseram cerca de doze músicas. Uma das músicas compostas, “Não Peide Aqui, Baby”, uma paródia de “Twist And Shout”, sucesso do início da carreira dos Beatles, ficou de fora porque tinha uma grande quantidade de palavrões. O processo de mixagem ocorreu no estúdio The Enterprise, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Mamonas Assassinas e o produtor Rick Bonadio (à direita), durante a
assinatura de contrato com a gravadora EMI.

A arte da capa é de autoria do ilustrador Carlos Sá, que mostra uma mulher com um par de seios que fazem alusão ao nome da banda “mamonas”, um trocadilho com mamas grandes e a planta propriamente dita, a mamona. Os grandes seios teriam sido inspirados nos da modelo Mari Alexandre. Pendurado no pescoço da mulher, um medalhão com um símbolo “VW”, da Volkswagen, de cabeça para baixo, formando as inicias “MA” de Mamonas Assassinas. A gravadora EMI exigiu que fossem inseridas na arte da capa, as imagens dos rostos dos cinco integrantes dos Mamonas Assassinas.

Intitulado apenas Mamonas Assassinas, o álbum de estreia do quinteto de Guarulhos é recheados de músicas hilárias e com um humor sarcástico e politicamente incorreto. Além da irreverência das letras, está a versatilidade musical dos Mamonas Assassinas. É incrível como a banda conseguiu neste seu primeiro e único disco, transitar com desenvoltura e muita criatividade pelos mais diversos gêneros musicais, embora a “célula mater” dos Mamonas fosse o rock.

No momento em que os Mamonas lançavam o seu primeiro álbum, o cenário do rock brasileiro passava por um processo de revigoração que trazia uma nova geração de bandas que tinham em comum as misturas musicais e o experimentalismo, após uma geração da década de 1980 toda fundamentada na new wave e no pós-punk inglês. Raimundos, Chico Science & Nação Zumbi, Skank, O Rappa e Planet Hemp, despontavam trazendo de volta a brasilidade para o rock brasileiro através das fusões musicais. Os Mamonas, embora não fizessem parte da turma, também tinha o seu “liquidificador sonoro” cheio de brasilidade, misturando heavy metal, forró, punk rock, pagode, sertanejo, música brega, e até ranchera mexicana.

O álbum abre com “1406”, uma música cujo título faz referência ao (011) 1406, o número do telefone do Teleshop, um canal de televendas que fez muito sucesso na TV na década de 1990 através de comerciais das facas Ginsu, meias Vivarina e dos aparelhos auditivos Sonic 2000. “1406” começa com Dinho contando quatro “já vais”, e que logo após a “contagem”, segue-se um funk rock contagiante bem ao estilo do Red Hot Chili Peppers e do Faith No More. A letra retrata de maneira bem-humorada os sonhos de consumo desvairados da classe média.

A o título da faixa "1406" era o  número do telefone da Teleshop, um canal de
televendas que fez sucesso da TV brasileira nos anos 1990 com comerciais
anunciando venda de produtos como as facas Ginsu.

“Vira-Vira” é um dos maiores sucessos dos Mamonas Assassinas. Foi a segunda música mais executada em 1995 no Brasil. Inspirada no ritmo folclórico português, o vira, e tendo como principal referência o cantor português radicado no Brasil, Roberto Leal, “Vira-Vira” conta a história de um português que foi convidado para uma suruba (orgia), mas não pôde ir. Em seu lugar, mandou a sua esposa Maria, que só voltou para casa uma semana depois, cheia de dores no corpo.

“Pelados Em Santos” foi a faixa mais famosa de todo o álbum, e a terceira mais tocada no Brasil em 1995. Em “Pelados Em Santos”, os Mamonas misturam ranchera mexicana com rock, e contam a história de um sujeito apaixonado que convida uma garota para um passeio pela cidade de Santos na sua Brasília amarela. Mas o gosto brega do rapaz não seduz a garota, que é boçal e lhe dá uma grande esnobada. “Pelados Em Santos” tem algumas citações, desde a linha melódica inspirada em “Crocodile Rock”, de Elton John, ao nome de marcas que eram o sonho de consumo de muita gente na época como o tênis Reebock e a calça Fiorucci.

“Chopis Center” é uma paródia hilária de “Should I Stay Or Should I Go”, do The Clash. Para cantar a música, Dinho encarna um pedreiro semianalfabeto que leva a namorada para passear no shopping center, onde o coitado se deslumbra com as maravilhas do “paraíso do consumo”.

“Jumento Celestino” é uma bem articulada fusão entre forró e rock, e que faz lembrar os Raimundos. A introdução é uma citação à música “Rock do Jegue (De Quem É Esse Jegue)”, sucesso de Genival Lacerda em 1979. A letra da música conta a história de um homem que deixa o sertão da Bahia e vai para São Paulo montado no seu jumento em busca de uma vida melhor. Mas ao chegar ao destino, o que encontra mesmo é uma desilusão. Embora engraçada, a letra da música dá o recado sobre a discriminação que o migrante nordestino sofre ao deixar a sua terra natal para tentar a sorte nas cidades do sudeste brasileiro.

Na sequência, a debochada “Sabão Crá-Crá”, uma canção curtíssima e de domínio público, que fala das qualidades do tal sabão na higienização da bolsa escrotal.

Cena do videoclipe de "Pelados em Santos". 

Com um título que satiriza o filme Uma Linda Mulher (Pretty Woman), estrelado por Julia Roberts, em 1990, “Uma Arlinda Mulher” é talvez a canção mais “romântica” dos Mamonas Assassinas. A letra faz combinações absurdas como declarações de amor com Teoria da Relatividade e os movimentos de rotação da Terra, numa tentativa de satirizar as canções de letras complexas e herméticas de alguns ícones da MPB como Belchior. Aliás, a voz anasalada do cantor Belchior é imitada pelo tecladista Júlio Rasec na segunda parte da música.

Os arranjos e os versos iniciais de “Cabeça de Bagre II”, aparentemente música sérios, remetem às canções de protesto que os Titãs faziam nos anos 1980. Mas logo o tom de aparente seriedade dá lugar a um conjunto de bobagens que traz o ouvinte de volta ao universo “mamônico”: “A polícia é a justiça de um mundo cão / Mês de agosto sempre tem vacinação / Na política o futuro de um país / Cala a boca e tira o dedo do nariz”. O riso é garantido pelos riffs de guitarra que fazem citações à risada do personagem de desenho animado o Pica-Pau e à canção “Baby Elephant”, de Henry Mancini (sucesso no Brasil nos anos 1960 numa versão em português com o Trio Esperança como “O Passo do Elefantinho”).

Em “Mundo Animal”, Dinho entra fazendo a chamada para Creuzebeck - como era chamado o produtor Rick Bonadio pelos membros da banda - para iniciar as gravações. Após a chamada de Dinho, entra um sensacional riff de guitarra de hard rock executado por Bento Hinoto, que é acompanhado depois pelo resto da banda. Mas o que parecia ser um hard rock pesado e agressivo, cede espaço para um pop brega descrevendo curiosidades da vida sexual dos animais.

“Robocop Gay” foi uma das primeiras composições dos Mamonas Assassinas, e uma das músicas mais executadas do álbum. A letra narra a história de um travesti que passou por várias mudanças no seu corpo através de cirurgias, daí a associação debochada dos Mamonas com Robocop.

Contudo, apesar da letra bastante debochada, “Robocop Gay” tem versos que acenam para a tolerância quanto às diferenças. Em “Abra sua mente / Gay também é gente”, os Mamonas Assassinas se mostram avessos à homofobia.  O quinteto toca na convivência harmônica entre os diferentes: “Você pode ser gótico / Ser punk ou skinhead / Tem gay que é Mohamed / Tentando camuflar”.

Capa do single de "Robocop Gay": seria a música um recado
anti-homofóbico dos Mamonas Assassinas? 

“Bois Don’t Cry” faz um trocadilho sacana com “Boys Don’t Cry”, grande sucesso da banda inglesa The Cure. Mas musicalmente, a canção dos Mamonas nada tem a ver com a do grupo inglês. “Bois Don’t Cry” é um bolero cafona que trata sobre Dejair, um homem que se diz feliz por ser traído pela sua própria esposa. O arranjo desta música é uma miscelânea impensável de referências que vão das canções de “dor de cotovelo” de Waldick Soriano e Lindomar Castilho às citações de riffs de “Tom Sawyer”, do Rush, e de “The Mirror”, do Dream Theater.

“Débil Metal” é a única faixa com letra em inglês e a mais pesada e agressiva do álbum. A música é um heavy metal bastante pesado, onde os Mamonas Assassinas mais uma vez surpreendem pela versatilidade musical transitar por gêneros musicais com bastante competência, e sobretudo, a habilidade do guitarrista Bento Hinoto. Dinho canta fazendo uma voz semelhante à de Max Cavalera, na época, ainda vocalista do Sepultura. A letra em inglês, mais o peso e a agressividade sonora da música, levam o ouvinte a acreditar que a música é séria. No entanto, a tradução revela que a música fala apenas de biscoito e pipoca. 

“Sábado de Sol” foi composta pela banda carioca Baba Cósmica, da qual Rafael Ramos, o adolescente que ajudou os Mamonas a serem contratados pela EMI, era baterista. Os Mamonas gravaram a música como um gesto de agradecimento pelo apoio de Rafael. Na primeira parte, os membros dos Mamonas cantam imitando o sotaque carioca, uma alusão ao fato da banda Baba Carioca ser do Rio de Janeiro. Já na segunda parte, cantam com um sotaque que é um misto de sotaque paulista com o italiano, provavelmente, imitando o sotaque da cidade de origem do quinteto que é Guarulhos.

O álbum termina em ritmo de pagode com “Lá Vem O Alemão”, com uma letra “romântica” bem ao estilo dos Mamonas Assassinas. A música narra a história de um sujeito que foi à praia com sua namorada numa Kombi, que no meio do caminho, quebrou. Enquanto ele consertava o veículo, o pobre rapaz viu a sua namorada pegar uma carona num carro conversível guiado por um homem loiro, bonito e forte. Em “Lá Vem O Alemão”, os Mamonas Assassinas contaram com a participação especial de pagodeiros Leandro Lehart, do Art Popular, tocando cavaquinho, e Fabinho, do Negritude Jr., na percussão. Destaque para Dinho que de maneira debochada, canta os versos das estrofes imitando a voz de "língua presa" de Luiz Carlos, do Raça Negra, e nos refrãos, imita o canto choroso de Netinho de Paula, vocalista da Negritude Júnior. 

Mamonas Assassinas no auge da fama. 

Mamonas Assassinas, o álbum, foi lançado em 23 de junho de 1995, e a princípio, não chamou a atenção do público. Somente após “Vira-Vira” ter grande execução na rádio 89 FM, de São Paulo, que os Mamonas Assassinas começaram a ter mais projeção. Foi então que o público descobriu que o álbum continha outras faixas que também logo caíram no gosto popular. “Pelados Em Santos” fez um enorme sucesso nas rádios assim como o seu videoclipe.

À medida que as faixas do álbum faziam sucesso, os Mamonas caíram na estrada, embarcando uma turnê gigantesca que cobriu todo o Brasil, sempre com lotação esgotada. Em pouco tempo, o cachê dos Mamonas Assassinas havia se tornado um dos mais altos dentre os artistas mais famosos da música brasileira. A média semanal de shows da banda paulista era de seis apresentações. Entre um show e outro, os Mamonas Assassinas faziam aparições em programas de TV como “Domingão do Faustão”, na Globo, ou no “Programa Livre”, de Serginho Grossman, no SBT, elevando os índices de audiência desses programas a números surpreendentes.

Apresentação dos Mamonas Assassinas no programa Domingão do Faustão
da TV Globo, em 1995. 

Entre o segundo semestre de 1995 e o primeiro semestre de 1996, os Mamonas Assassinas eram o nome mais badalado da música brasileira naquele momento. Era o maior fenômeno musical como não se via desde o RPM, em 1986.

Se os ingressos para shows da banda eram bastante disputadíssims, o álbum era como um objeto de consumo de primeira necessidade. Para se ter uma ideia, o álbum Mamonas Assassinas vendeu pouco mais de 2,4 milhões de cópias, sendo assim contemplado com um disco de diamante por ter superado a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Dentre os recordes está o de álbum de estreia mais vendido da história do rock brasileiro. Foi o álbum mais vendido em um único dia: 25 mil cópias em 12 horas. Chegou a vender 350 mil cópias em apenas uma semana. Em dezembro de 1995, com seis meses de lançamento, o álbum de estreia do quinteto paulista já havia atingido a marca de 2 milhões cópias vendidas, um fato raríssimo na história da indústria fonográfica brasileira.

Curiosamente, apesar da grande exposição midiática, a fama não parece ter subido à cabeça dos membros dos Mamonas Assassinas. Durante o auge do sucesso, eles não assinaram nenhum tipo de contrato para lançamento de produtos oficias com a marca da banda ou a imagem de seus integrantes. Não faltaram propostas, desde álbum de figurinhas a convite para terem um programa próprio na TV e estrelar um filme. Eles recusaram todas essas propostas.

Contudo, se por um lado a banda era admirada pelo grande público, os Mamonas sofriam ataques também, inclusive do próprio meio musical, mais precisamente do rock, meio esse do qual o grupo fazia parte.

A edição de dezembro de 1995 da revista Showbizz, trouxe uma matéria de capa com os Mamonas Assassinas, que traçou o perfil do fenômeno, e a opinião de alguns dos astros da música brasileira. Samuel Rosa, do Skank, afirmou: “são a continuação de uma tradição do Premê, do Língua de Trapo e dos Inimigos do Rei. São engraçados e divertidos”. Nando Reis, ainda um membro dos Titãs na época, elogiou: “Tenho dado boas risadas com eles. Eles são legítimos e meus filhos adoram”. O produtor musical, João Marcelo Bôscoli (filho de Elis Regina e de Ronaldo Bôscoli), criticou os que atacavam os Mamonas e reconheceu a batalha deles para chegar ao topo da fama.

A edição de dezembro de 1995 da revista Showbizz trouxe os
Mamonas Assassinas na capa.

Por outro lado, haviam aqueles que não viam graça alguma na banda como João Gordo, dos Ratos de Porão: “São uns sortudos que a mídia pegou para sugar e jogar fora. Acho o som deles ridículo, mas o Brasil é ridículo também”. Roger Moreira, do Ultraje A Rigor, disse: “Não acho muito engraçado. Ficam comparando os Mamonas com o Ultraje, mas não tem nada a ver”. Fred Zero Quadro, do Mundo Livre S/A: “Você ouve a piada a segunda vez e não tem mais graça. Talvez, se eu tivesse 20 anos a menos...".

Em janeiro de 1996, os Mamonas Assassinas fizeram a antológica apresentação no Ginásio Poliesportivo Paschoal Thomeu, o “Thomeuzão”, em Guarulhos, cidade natal do grupo. Aquela apresentação teve um significado muito importante para o quinteto. Cinco anos antes, a direção do ginásio recusou a banda quando ainda se chamava Utopia para abrir um show de Guilherme Arantes que iria se apresentar naquele local. No dia em que se apresentaram, agora já famosos, Dinho fez um discurso duro e forte relembrando o fato, e incentivou os fãs a não desistirem dos seus sonhos.

Três meses depois, em 2 de março de 1996, o sonho dos Mamonas Assassinas chegava ao fim de maneira trágica. O jatinho que retornava de Brasília após um show da banda, voava em direção a São Paulo. Ao sobrevoar a Serra da Cantareira, que estava encoberta por uma neblina, o jato Learjet 25D que levava a banda, chocou-se violentamente com um morro, às 23:16, e avançou sobre uma mata espessa. O acidente ocorreu a 11 km do Aeroporto de Cumbica, na grande São Paulo, onde o jato iria aterrissar. Todos os nove ocupantes do avião, entre tripulantes, segurança, assistente de palco e a banda, morreram.  Os Mamonas Assassinas tinham um voo marcado para o dia seguinte para Portugal, onde iriam se apresentar. Lá, o álbum de estreia da banda havia vendido 20 mil cópias, um índice muito bom em se tratando do mercado fonográfico português.

A morte dos integrantes da banda chocou todo o Brasil, gerando uma comoção nacional só comparada à da morte de Tancredo Neves, em 1985, e à de Ayrton Senna, em 1994.

O último show: os Mamonas Assassinas no Estádio Mané Garrincha, em Brasília,
horas antes da tragédia que tiraria a vida dos integrantes da banda.

O grande legado dos Mamonas Assassinas foi unir a música e o humor escrachado. Eles foram a conjunção perfeita do rock anárquico e debochado dos Mutantes (fase tropicalista), com o humor moleque e circense dos Trapalhões, e o escracho “boca suja” da atriz Dercy Gonçalves.

Ao assumirem o humor nato que carregavam nas veias após a fase sem graça do Utopia, os Mamonas Assassinas davam seguimento, conscientes ou não, da tradição da irreverência que sempre esteve presente na história do rock paulista e que já vinha desde os Mutantes nos anos 1960. Os Mutantes foram os pioneiros na esculhambação, não só nas canções, mas também nas atitudes e figurinos. Quando ainda eram um trio, com Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, vestiam as roupas mais malucas possíveis como trajes de bruxos calçados com tênis, extraterrestres, humanos futuristas, roupas de plástico, valia tudo. As misturas musicais mais absurdas que os Mamonas faziam, remetiam à fase tropicalista dos Mutantes.

Posteriormente, outras tantas bandas paulistas seguiram a tendência do escracho aberta pelos Mutantes, como Joelho de Porco, Língua de Trapo, Ultraje a Rigor, só para citar alguns nomes. Os Mamonas foram o último grande nome a honrar a tradição do humor no rock paulista.

Depois que os Mamonas se foram, chegou a haver o aparecimento de bandas tentando ocupar a lacuna deixada pelo quinteto, como Virguloides, Fincabaute, Pino Solto. Mas foi em vão, nenhuma delas conseguiu ter a essência, a autenticidade e o carisma dos Mamonas Assassinas.

Faixas
  1. "1406" (Dinho - Júlio Rasec)  
  2. "Vira-Vira" (Dinho - Júlio Rasec)         
  3. "Pelados em Santos" (Dinho)
  4. "Chopis Centis" (Dinho - Júlio Rasec)
  5. "Jumento Celestino" (Dinho e Bento Hinoto)
  6. "Sabão Crá-Crá" (música folclórica)  
  7. "Uma Arlinda Mulher" (Bento Hinoto - Dinho - Júlio Rasec)             
  8. "Cabeça de Bagre II” (música incidental: Baby Elephant Walk)" (Bento Hinoto - Dinho, Júlio Rasec - Samuel Reoli - Sérgio Reoli - Henry Mancini)
  9. "Mundo Animal" (Dinho)       
  10. "Robocop Gay" (Dinho - Júlio Rasec)
  11. "Bois Don't Cry" (Dinho)        
  12. "Débil Metal" (Dinho - Bento Hinoto - Júlio Rasec - Samuel Reoli - Sérgio Reoli)
  13. "Sábado de Sol" (Pedro Knoedt - Felipe Knoblitch - Rafael Ramos)
  14. "Lá Vem o Alemão" (Dinho - Júlio Rasec)      

Referências:
Revista Showbizz – dezembro/1995 – Edição 125 – Editora Azul
Revista Showbizz – março/1996 – Edição 128 – Editora Azul
Wikipedia





Ouça na íntegra o álbum 
Mamonas Assassinas


"Vira-Vira" 
(videoclipe original)


"Pelados Em Santos"
(videoclipe original)


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