“Virgem” (Philips, 1987), Marina Lima
Por Sidney Falcão
O álbum Fullgás (1984) transformou Marina Lima (que na época assinava apenas Marina) numa grande estrela do pop rock brasileiro e numa “máquina” de fazer canções de sucesso, resultado de uma bem-sucedida pareceria entre ela e seu irmão, o poeta Antônio Cícero. Em 1985, veio o álbum Todas, que puxado pelas músicas “Eu Te Amo Você”, “Nada Por Mim” e “Difícil”, vendeu mais de 250 mil cópias, rendendo uma grande turnê que percorreu todo o Brasil. Dessa turnê saiu o primeiro álbum gravado ao vivo da cantora carioca, Todas Ao Vivo, lançado em 1986, e que também foi sucesso de vendas.
Em dezembro
de 1987, Marina lançou o seu sétimo álbum de estúdio, Virgem, produzido pelo
consagrado saxofonista e produtor, Léo Gandelman. Numa entrevista para a
revista Bizz, publicada na edição de
fevereiro de 1988, Marina disse que a sua vida havia passado por mudanças:
trocou de residência, viajou para a Europa, mudou de empresária e terminou um
relacionamento amoroso. Segundo ela, todo esse processo de transformação na sua
vida influenciou na canção que dá nome ao álbum.
Virgem mantém o direcionamento pop rock seguido
por ela a partir de Fullgás, trazendo canções com arranjos muito bem construídos e
com apelo pop certeiro para tocar no rádio. O álbum traz três canções que
Marina compôs sozinha, sem a parceria de Antônio Cícero. A princípio, mostrou-se
um tanto quanto insegura, mas contou com o incentivo do produtor Léo Gandelman
que insistiu que ela gravasse as três canções que compôs sozinha.
O álbum
começa com o som de dedilhado de violão da balada “Pseudo-Blues”, um início que
remete, ainda que sutilmente, às canções acústicas do Led Zeppelin. Mais
adiante, os outros instrumentos fazem a sua entrada.
“Zerando” é
um blues rock de Marina e Antônio Cícero, com o riff de guitarra pontuando boa parte da música, que traz Léo
Gandelman fazendo solos de saxofone incríveis. “Preciso Dizer Que Te Amo”, de
Cazuza, Bebel Gilberto e Dé Palmeira, aparece neste álbum em sua primeira
versão, com um arranjo suave e elegante, com direito ao solo de saxofone de
Gandelman que dá um toque de sofisticação à canção. “Hearts”, cover de um sucesso de 1981 de Martin
Balin (1942-2018), ex-vocalista do Jefferson Airplane, é um pop rock bem
arranjado, mas sem grandes pretensões.
O lado 1 do
álbum termina com o pop rock alegre e dançante “Prestes A Voar”, com Torcuato
Mariano fazendo solos distorcidos de guitarra que dão um pouco de agressividade
à faixa.
“Virgem”, canção
que dá nome ao álbum, é quem abre o lado 2. É um dos maiores sucessos da
carreira de Marina Lima. Conforme ela já havia dito à revista Bizz, no começo de 1988, o título que dá
nome à canção e ao álbum, refletia o processo de renovação que a sua vida
passava naquele momento, e nesse processo, estava incluído o fim de um relacionamento. A canção não só deixa a entender isso como também revela que
foi um fim libertador para a cantora, como se estivesse se libertando de alguém
autossuficiente, que acreditava que tudo girava ao seu redor: “As coisas não precisam de você / Quem disse
que eu / Tinha que precisar? / As luzes brilham no Vidigal / E não precisam de
você / Os Dois Irmãos / Também não precisam”. A letra da canção traz nomes
de lugares conhecidos da paisagem do Rio de Janeiro, a cidade natal da cantora,
como o morro do Vidigal, o Hotel Marina, o morro Dois Irmãos e o Leblon. E por
falar em Leblon, um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) “Os
Inocentes do Leblon” é citado na canção: “Os
inocentes do Leblon / Esses nem sabem de você”.
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Marina em detalhe do poster que vinha na versão LP de Virgem. |
Depois da
balada confessional “Virgem”, vem “Uma Noite e ½” para elevar o clima do álbum.
Composta pelo baixista Renato Rocketh, “Uma Noite e ½” foi a primeira música de
trabalho de Virgem, e se tornou outro grande sucesso do álbum e da carreira
de Marina Lima. “Uma Noite e ½” é um pop rock alegre, sensual, solar, e que tem
tudo a ver com o verão do Rio de Janeiro. O destaque fica para a participação
de Renato Rocketh, autor da música, fazendo dueto vocal com Marina Lima.
Na reta
final do álbum, “Confessional” inicia uma sequência três canções compostas por
Marina, sem a parceria do seu irmão poeta. “Confessional” é uma canção
romântica que trata sobre amor e desejo. “Doce Espera” chegou a ter uma
execução em rádio modesta, e chama atenção a sua longa introdução que permite
ao ouvinte perceber o talento dos músicos que acompanharam Marina na gravação
do álbum. A curta “1º de Abril (Eu Negar?!) ” encerra o álbum trazendo apenas a
voz e o violão de Marina.
Igualmente aos
três álbuns anteriores (Fullgás, Todas e Todas
Ao Vivo), Virgem foi mais um sucesso comercial na carreira de Marina.
“Uma Noite E ½”, “Virgem”, “Preciso Dizer Que Te Amo” estavam entre as músicas mais
tocadas nas rádios de todo o Brasil em 1988, levando o álbum a conquistar um
Disco de Platina por ter chegado à marca de 250 mil cópias vendidas.
Além do
sucesso de vendas, Virgem foi sucesso de crítica também. Por causa dele, Marina
venceu em três categorias do Prêmio Sharp de Música Brasileira/1988: “Melhor
Cantora Pop rock”, “Melhor Disco Pop rock” (por Virgem) e “Melhor Música
Pop Rock” (por “Preciso Dizer Que te Amo”).
Faixas
Lado 1
- "Pseudo-Blues" (Nico Rezende, Jorge Salomão)
- "Zerando" (Marina Lima, Antônio Cícero)
- "Preciso Dizer Que te Amo" (Dé, Cazuza, Bebel Gilberto)
- "Hearts" (Jesse Barish)
- "Prestes a Voar" (Marina Lima, Antônio Cícero)
Lado 2
- "Virgem" (Marina Lima, Antônio Cícero)
- "Uma Noite e 1/2" (Renato Rocketh
- "Confessional" (Marina Lima)
- "Doce Espera" (Marina Lima)
- "1° de abril (Eu negar?)" (Marina Lima)
Referências:
Revista Bizz –
fevereiro/1988 – Edição 31 – Editora Abril
Wikipedia
"Pseudo-Blues"
"Zerando"
"Preciso
Dizer Que te Amo"
"Hearts"
"Prestes
a Voar"
"Virgem"
"Uma
Noite e 1/2"
"Confessional"
"Doce
Espera"
"1° de
abril (Eu negar?)"
"Virgem"
(videoclipe original)
"Uma Noite e 1/2"
(videoclipe original)
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